Notícias “In memoriam” 2022. É o fim da linha para estes 20 modelos

In memoriam 2022

“In memoriam” 2022. É o fim da linha para estes 20 modelos

Ano novo, vida nova… mas não para todos. Fiquem com a lista (extensa) de modelos automóveis que nos deixaram em 2022 sem que se adivinhem sucessores diretos.

Nissan GT-R a ir em direção ao sol poente

Nada – exceção feita, talvez, aos diamantes — é eterno, e muitos modelos automóveis de grande sucesso na Europa, que somam décadas de vida, vêem-se confrontados em 2022 com o fim da linha…

Um fim da linha que pode ser justificado em grande parte pela transformação que a indústria automóvel passa — eletrificação, digitalização, conectividade —, condenando modelos emblemáticos aos livros de história.

O que ajuda também a justificar o aumento substancial de modelos que desaparecem em 2022 em comparação com 2021: se no ano passado desapareceram 15 modelos sem deixar sucessores, este ano são (pelo menos) 20. Uma tendência que será reforçada nos próximos anos.

EM 2021 FOI ASSIM: “In memoriam” 2021. Estes modelos dizem adeus para não mais voltar

Ford Fiesta ST Line
Já começámos a preparar o obituário para o final de 2023 e tem perdas pesadas. A Ford já anunciou o fim do Fiesta… © Razão Automóvel
Fora com o velho e que entre o novo? Parece que é o novo modus operandi da indústria: deixa-se para trás as tipologias que já foram populares e outras, outrora de nicho ou inexistentes, passam para a ribalta, garantindo os volumes e a rentabilidade necessários. O mesmo para modelos e nomes que já foram a espinha dorsal de um construtor, mas que hoje não justificam o seu peso em investimento.

Classe em vias de extinção?

E estes argumentos não podiam ser mais verdadeiros quando falamos das berlinas tradicionais de três volumes (e carrinhas) do segmento médio (D), dominado pelo trio alemão premiumSérie 3, Classe C, Audi A4 — e… pelo norte-americano e elétrico Model 3, que foi o líder europeu em 2021.

Um domínio que não parece deixar espaço às propostas das ditas marcas generalistas que, em 2022, perdeu de uma só vez quatro representantes, alguns deles a ostentar nomes emblemáticos.

Volkswagen Passat na estrada, traseira 3/4
Volkswagen Passat berlina.

O Volkswagen Passat, por norma o líder da classe entre os generalistas, deixa de ter uma berlina na gama — produção terminou em 2022 — só se mantendo a carrinha.

Haverá uma nova geração do Passat em 2023, mas só como carrinha, o que não deixa de ser uma saída pela «porta pequena» para o histórico modelo lançado em 1973 — desenhado por Giorgetto Giugiaro.

Quem quiser uma berlina Volkswagen terá de se «contentar», por enquanto, com o mais estilizado Arteon, pelo menos até chegar o ID.7, a berlina 100% elétrica que ocupará verdadeiramente o lugar do Passat.

Ford Mondeo berlina e carrinha, frente 3/4
Ford Mondeo.

Desde 1993 que o Ford Mondeo é um dos principais concorrentes do Passat, e a sua carreira europeia, que se estende por quatro gerações, reflete o quão o mercado mudou. Em 1997 teve o seu melhor ano de sempre, com 323 mil unidades vendidas; desde 2009 que não chega às 100 mil unidades, coincidindo com o aumento da relevância dos SUV, sobretudo os do segmento abaixo.

O Mondeo sai da Europa — produção terminou em março de 2022 —, mas continuará a existir na China onde, em 2022, viu ser lançada uma nova geração. A Ford na Europa quer concentrar os seus esforços apenas nos modelos que contribuem de forma visível para os lucros da empresa, traduzindo-se, sobretudo, em mais SUV/Crossover.

Opel Insignia carrinha e berlina
Opel Insignia.

O Opel Insignia vê a sua carreira também terminar mais cedo que o previsto, após duas gerações (primeira em 2008 e segunda em 2017). Em parte devido à crise dos chips, em parte devido a ser o único Opel que mantém o «cordão umbilical» ligado à General Motors (e que obriga a pagar licenças pelo uso das tecnologias proprietárias da GM).

Apesar de não ter encontrado muito sucesso na Europa, acabou por ser relevante para a GM noutras partes do mundo: como Buick Regal nos EUA e China, e Holden Commodore na Austrália. Mas a Opel mudou, não só de mãos (PSA comprou-a em 2017, fazendo hoje parte da Stellantis), como de estratégia.

O que levará a ter um novo topo de gama distinto, que assumirá uma abordagem similar à que vimos no Peugeot 408 e Citroën C5 X, e para mais, poderá ser eletrificado.

Por fim, mas não menos importante, também o Renault Talisman (2015) sai de cena em 2022, sem conseguir grandes resultados comerciais, bem longe dos conseguidos pelas três gerações do Laguna que o antecederam.

Renault Talisman, berlina e carrinha, frente e traseira
Renault Talisman.

A Renault não fechou a porta ao segmento D, mas será ocupado por SUV ou Crossover e não tradicionais berlinas de três volumes e carrinhas.

MPV RIP

Se a classe das berlinas médias executivas parece estar condenada, o que dizer dos MPV ou monovolumes? Em 2022 mais quatro representantes desta classe abandonam os palcos — onde já restavam poucos —, mas para os que procuram o máximo de espaço e funcionalidade num automóvel, há alguns sinais de esperança.

Renault Scénic e Grand Scénic
Renault Scénic e Grand Scénic. O primeiro termina produção em 2022, enquanto o Grand Scénic continuará a ser produzido mais algum tempo, mas está previsto terminar no início de 2023

O fundador e — durante muito tempo — rei dos MPV compactos, o Renault Scénic, «atira a toalha ao chão», após anos e anos de vendas cada vez menores. Das 2,8 milhões unidades da primeira geração, esta última geração (quarta, lançada em 2016) dificilmente chegará às 400 mil unidades.

A última geração trouxe muito mais estilo para a «mesa», rodas de grandes dimensões (20″) e até altura ao solo acrescida como um crossover, mas parece ter sido tudo em vão, não conseguindo desviar as atenções dos SUV.

“Se não os podes vencer junta-te a eles”, diz o ditado. O MPV Scénic despede-se para dar as boas vindas ao… SUV Scénic, a lançar em 2024. Já conhecemos ao vivo o protótipo que o antecipa:

O compatriota Citroën Grand C4 SpaceTourer também diz “adeus”, depois da versão curta já o ter feito em 2019.

O MPV de sete lugares perdeu a designação “Picasso” em 2018 e agora, para quem deseja um Citroën com mais de cinco lugares, ficará limitado às versões de passageiros da Berlingo e da Jumpy… que assume a designação SpaceTourer, disponíveis apenas como elétricos.

O próximo MPV a dizer adeus para sempre fica mais perto de casa. Foi em outubro de 2022 que terminou a produção da Volkswagen Sharan, produzido continuamente na Autoeuropa, em Palmela, desde 1995, por duas gerações.

A segunda geração já levava 10 anos de vida e, com a chegada da nova Multivan, desenvolvida pela Volkswagen Veículos Comerciais, a Sharan deixou de ter razão de ser. O fim de uma era na Autoeuropa que agora dedica-se em exclusivo à produção do SUV T-Roc.

O Fiat 500L (2012) é um dos últimos resistentes entre os MPV compactos, segmento que liderou, praticamente, desde que foi lançado.

Verdade seja dita, hoje o 500L é rei de um segmento que já praticamente não existe.

Fiat 500L na estrada de perfil
Fiat 500L.

Não terá sucessor direto, com a Fiat a prometer, por um lado, um novo crossover compacto — «irmão» do novo Jeep Avenger — e um novo 500X mais crescido para preencher o vazio deixado pelo MPV.

Compactos não escapam

Nos segmentos de mercado mais acessíveis (A e B, o mesmo que citadinos e utilitários) também estamos no início de uma substancial razia. A pressão é forte devido ao investimento que os fabricantes têm que fazer para que os seus motores possam cumprir as cada vez mais exigentes normas de emissões.

O que faz subir os custos ao ponto de não ser rentável estar presente nestes segmentos e são cada vez mais as marcas que já anunciaram a sua saída destes, mesmo quando isso implica terminar com modelos históricos, que nos acompanham há muitas décadas.

Ford Fiesta ST 2021
Ford Fiesta ST três portas. Um dos últimos resistentes a oferecer esta opção.

Talvez o mais emblemático seja o Ford Fiesta, cujo fim de produção já foi anunciado para 2023, mas o seu fim começou em 2022, com o fim de produção da carroçaria de três portas. Brevemente, o degrau de acesso à Ford na Europa será feito com o Puma — já há vários anos que a Ford não está representada nos citadinos.

Ainda na oval azul também temos de nos despedir do Ford EcoSport, um pequeno SUV que começou por ser desenvolvido para os mercados sul-americano e indiano e que chegou à Europa em 2012.

O EcoSport chegou a ter volumes muito interessantes de vendas e a Ford esforçou-se para o elevar aos padrões europeus, tendo recebido duas importantes renovações ao longo destes 10 anos. O Puma, naturalmente, passa a ocupar sozinho este espaço.

O fim de produção da Skoda Fabia Break (a primeira surgiu em 1999) significa praticamente o fim das carrinhas compactas — sobra a Dacia Jogger, de sete lugares, mas de dimensões bem mais vastas.

Estava inicialmente previsto que a nova geração do Fabia (2021) recebesse também uma Break, mas esta foi cancelada, muito por culpa da Euro 7, cujos custos adicionais não justificam o desenvolvimento.

Entre os mais pequenos, uma menção ao fim de produção do emblemático Fiat Panda 4×4a produção dos outros Panda continua, até 2026, mas… —, um modelo de culto que se estende por três gerações e que certamente vai deixar saudades.

Performance «perde gás»

Saltando para uma classe de automóveis totalmente distinta, a dos desportivos e supercarros, também 2022 é o fim para alguns deles.

Nissan GT-R
Nissan GT-R (R35).

O veterano Nissan GT-R (R35) — foi lançado no longínquo ano de 2007 — viu a sua carreira terminar em 2022 na Europa (irá continuar ainda por algum tempo mais noutros mercados), mas a culpa, curiosamente, não é atribuída às emissões. Fiquem a conhecer a real razão para o «velho» GT-R deixar o «velho continente»:

TÊM DE LER: Oficial. Nissan GT-R despede-se da Europa e já sabemos porquê

O compatriota Honda NSX — ainda que com costela norte-americana, tendo sido concebido e produzido nos EUA para servir, sobretudo, a Acura — também deixou de ser produzido, finalizando com chave de ouro uma carreira… discreta: o NSX Type S.

Honda NSX Type S a curvar em pista
Honda NSX Type S.

Quando foi revelado em 2015, a sua motorização híbrida mostrava o que esperar do futuro dos desportivos e supercarros, mas seria completamente ofuscado pelo espetacular Ford GT, revelado no mesmo evento em Detroit.

O Ford GT surgiu como um supercarro sofisticado, mas também analógico, esculpido no túnel de vento e feito para vingar nos circuitos — conquistaria as 24 Horas de Le Mans na sua categoria em 2016.

Ford GT a curvar em pista
Ford GT.

Um supercarro que recentemente recordámos em como foi a nossa primeira experiência aos seus comandos e que se despediu com duas edições especiais: uma para estrada e uma, mais espetacular, exclusiva para as pistas. Fiquem a conhecê-las:

Nenhum destes supercarros tem um sucessor previsto a breve prazo, mas a Honda já deu pistas de que poderá surgir uma espécie de sucessor do NSX mais para o final da década… 100% elétrico.

Menções ainda ao Lamborghini Aventador e ao Mercedes-AMG GT coupé. Ambos terminam as suas carreiras em 2022 e ambos têm sucessores diretos nos planos — um supercarro V12 híbrido no caso do Lamborghini e um coupé gran turismo «clássico» no caso do AMG.

Porém, o nome Aventador «morre» com o modelo que agora cessa funções, mas restam dúvidas sobre se o sucessor do AMG GT mantém o dele. Afinal, o GT Roadster quando desapareceu em 2021, deu lugar ao novo SL, o primeiro da linhagem SL a ser desenvolvido totalmente pela AMG.

Os «verdes» também se abatem

Nestes tempos que vivemos a obsolescência acontece a um ritmo cada vez mais rápido e até os elétricos — os automóveis do futuro — deixaram de ter argumentos técnicos para continuarem no ativo.

Hyundai Ioniq EV
Hyundai Ioniq EV. © Thom V. Esveld / Razão Automóvel
O Hyundai Ioniq, a primeira geração, termina a sua produção em 2022. O modelo «verde» foi lançado como híbrido, híbrido plug-in e elétrico em 2016 e lançou as bases para a revolução elétrica na marca sul-coreana.

O modelo desaparece, mas deixa um enorme legado: o seu nome é hoje uma submarca que identifica uma nova geração de elétricos «de ponta» da Hyundai — por exemplo, tem arquiteturas de 800 V, argumento único entre os seus concorrentes —, com designs que têm deslumbrado e dado muito que falar: IONIQ 5, IONIQ 6 e o futuro IONIQ 7 (antecipado pelo concept Seven).

BMW i3 de portas abertas rodeado de vegetação
BMW i3. © Thomas V. Esveld / Razão Automóvel

Outro elétrico emblemático que sai de cena é o BMW i3. Lançado em 2013, foi aquele que mais tentou reinventar o automóvel para o futuro elétrico que se avizinhava, desde a sua construção exótica — separada em duas partes com base em alumínio e «esqueleto» em fibra de carbono — para garantir o menor peso possível (ajudando a «esticar» a autonomia permitida pela sua pequena bateria); ao seu design que, apesar de ter pouco ou nada de BMW, ainda permanece atual e futurista.

O exotismo das soluções técnicas e a tecnologia elétrica puxaram o preço para cima e condenaram a sua carreira comercial, tendo vendido cerca de 250 mil unidades — pouco para nove anos de carreira. Contudo, um pouco como o seu antecessor espiritual, o… Audi A2, é provável que venha também a ser um modelo de culto no futuro. 

Lexus CT 200h
Lexus CT 200h.

Muitos não devem ter dado conta, mas 2022 significa igualmente o fim da linha para o Lexus CT 200h (2010), o modelo híbrido que servia de degrau de acesso à marca japonesa. Tentou vingar, inicialmente, num segmento dominado pelos Diesel e… perdeu.

O Lexus UX, um crossover híbrido e elétrico, tomou o seu lugar como o ponto de entrada na gama japonesa.

E mais?

Duas últimas menções. A primeira para o Renault Kadjar (2015), o C-SUV gaulês que é agora substituído pelo muito mais competitivo — e espera-se mais bem sucedido — Renault Austral; e a segunda para um modelo lendário que nos esquecemos de referir em 2021: o Mitsubishi Pajero.

O lendário todo o terreno japonês, nascido em 1981, é uma espécie de «dinossauro» de um mundo automóvel que já não existe, mas foi preciso chegar a 2021 para finalmente ser «extinto». Não é um insulto: quem não gosta de dinossauros? Uma opinião partilhada pelo nosso Miguel Dias:

IMPERDÍVEL: Não trocava o meu Mitsubishi Pajero de 1993 por nada…