Notícias Eletrificação gera 80 mil despedimentos na indústria automóvel

Indústria

Eletrificação gera 80 mil despedimentos na indústria automóvel

O investimento massivo da indústria automóvel nos veículos elétricos, torna-o na principal causa para a perda já anunciada de 80 mil postos de trabalho.

Ford Mustang Mach-E

Nos próximos três anos cerca de 80 mil postos de trabalho na indústria automóvel serão extintos. O motivo principal? A eletrificação do automóvel.

Só na passada semana, a Daimler (Mercedes-Benz) e a Audi anunciaram o corte de 20 mil postos de trabalho. A Nissan anunciou este ano o corte de 12 500, a Ford 17 000 (dos quais 12 000 na Europa), e outros construtores ou grupos já anunciaram medidas nesse sentido: Jaguar Land Rover, Honda, General Motors, Tesla.

A maioria dos cortes de postos de trabalho anunciados estão concentrados na Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos da América.

VÊ TAMBÉM: Oficial. Elétrico da Ford recorrerá à MEB, a mesma base do Volkswagen ID.3
Audi e-tron Sportback 2020

No entanto, até na China, o maior mercado automóvel do mundo e o que concentra a maior força de trabalho global associada à indústria automóvel, o cenário não se afigura risonho.

O construtor chinês de veículos elétricos NIO anunciou o corte de 2000 postos de trabalho, mais de 20% da sua força de trabalho. A contração do mercado chinês e o corte nos subsídios à aquisição de veículos elétricos (originou uma quebra de vendas de elétricos na China este ano), estão entre os principais motivos para a decisão.

Eletrificação

A indústria automóvel está a passar pela sua mudança mais significativa desde que… bem, desde que surgiu no início do séc. XX. A mudança de paradigma do automóvel com motor de combustão para o automóvel com motor elétrico (e a baterias) obrigam a investimentos massivos por parte de todos os grupos automóveis e construtores.

Investimentos que a garantir retorno, só mesmo a longo prazo, caso todas as previsões otimistas do sucesso comercial dos veículos elétricos se concretizem.

O resultado é a previsão da descida nas margens de rentabilidade nos próximos anos — as margens de 10% das marcas premium não resistirão nos próximos anos, com a Mercedes-Benz a estimar que caiam para 4% —, pelo que a preparação para a próxima década está a ser ao ritmo de múltiplos e ambiciosos planos para reduzir custos para atenuar o impacto da queda.

Além do mais, prevê-se que a anunciada menor complexidade dos veículos elétricos, sobretudo a relacionada com a produção dos motores elétricos em si, significará, apenas na Alemanha, a perda de 70 mil postos de trabalho ao longo da próxima década, colocando em risco um total de 150 mil postos.

Contração

Como se não fosse suficiente, o mercado automóvel global também dá os primeiros sinais de contração — as estimativas apontam para 88,8 milhões de automóveis e comerciais ligeiros produzidos globalmente em 2019, uma redução de 6% quando comparado com 2018. Em 2020 o cenário de contração mantém-se, com previsões a colocarem o total abaixo dos 80 milhões de unidades.

Nissan Leaf e+

No caso específico da Nissan, que teve um annus horribilis em 2019, podemos adicionar outras causas, ainda consequência da detenção do seu ex-CEO Carlos Ghosn e da posterior e atribulada relação com a Renault, a sua parceira na Aliança.

VÊ TAMBÉM: Eletrificação rampante? Não agradeçam à Tesla, mas sim ao… Dieselgate

Consolidação

Considerando este cenário de avultados investimentos e contração do mercado, é de prever mais uma ronda de parcerias, aquisições e fusões, como temos assistido nos últimos tempos, com o maior destaque a ir para a anunciada fusão entre a FCA e PSA (apesar de tudo indicar que acontecerá, carece ainda de confirmação oficial).

Peugeot e-208

Além da eletrificação, a condução autónoma e a conetividade têm sido o motivador por detrás de múltiplas parcerias e joint ventures entre os construtores e até empresas tecnológicas, na tentativa de reduzir os custos de desenvolvimento e maximizar as economias de escala.

No entanto, o risco de que esta consolidação que a indústria necessita para ter uma existência sustentável, possa tornar dispensáveis mais fábricas e, consequentemente, operários é bem real.

VÊ TAMBÉM: Hyundai e Audi unem esforços

Esperança

Sim, o cenário não é otimista. No entanto é de esperar que, durante a próxima década, a emergência de novos paradigmas tecnológicos na indústria automóvel dê azo também a novos tipos de negócio e até ao surgimento de novas funções — algumas que poderão estar ainda por inventar —, o que poderá significar uma transferência de postos de trabalho das linhas de produção para outro tipo de funções.

Fontes: Bloomberg.