Notícias CEO da Bentley: “A atual tecnologia das baterias não nos serve, (e) vejo mais futuro para um segundo SUV…”

Entrevista

CEO da Bentley: “A atual tecnologia das baterias não nos serve, (e) vejo mais futuro para um segundo SUV…”

Depois do tão perseguido regresso aos lucros em 2019, o CEO da marca britânica, Adrian Hallmark, em entrevista à Razão Automóvel, projeta o futuro. Explicou-nos porque razão não existe ainda um Bentley 100% elétrico e aborda as probabilidades de ser produzido um segundo SUV.

Adrian Hallmark, CEO da Bentley

Depois de uma passagem pela Saab (onde foi diretor global de vendas) e pela Jaguar Land Rover, onde se tornou diretor da estratégia global, Adrian Hallmark regressou, em fevereiro de 2018, ao Grupo Volkswagen de onde saíra uma dúzia de anos antes, mas agora como CEO da Bentley.

A missão do britânico, hoje com 58 anos, não podia ser mais clara: no final de 2017 as famílias Porsche/Piech estavam insatisfeitas com o rumo que a Bentley estava a tomar, dado que, desde 2013, as margens de lucro não paravam de cair, de 10% nesse ano para 3,3%, e a decisão não se fez esperar.

Adrian Hallmark aceitou liderar a marca de luxo inglesa, mas os primeiros meses foram difíceis e o que o próprio Hallmark definiu como “uma tempestade perfeita” acabou por resultar em prejuízos financeiros no final de 2018, de 55 milhões de euros, os primeiros desde a crise financeira global de 2008-2009.

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Adrian Hallmark, CEO da Bentley
Adrian Hallmark, CEO da Bentley

O atraso nas homologações de consumos WLTP e na adaptação da caixa de velocidades de dupla embraiagem (ndr: original da Porsche) fizeram com que ficássemos sem carros para o mercado”, foi explicando Hallmark durante a segunda metade de 2018, quando era já evidente que o ano encerraria “no vermelho”.

E, de facto, os 18 meses de atraso na chegada ao mercado do Continental GT aos Estados Unidos — à data o best-seller da Bentley no seu maior mercado — e também (em menos tempo) do Bentayga foram determinantes para que uma marca de luxo que deveria gerar margens de lucro confortáveis levantasse alguns sobrolhos na sede da Volkswagen, que já tinha manifestado descontentamento por margens de lucro tão baixas — apenas uma vez com dois dígitos, e não mais de 10,3%, nos 12 anos anteriores ao regresso de Hallmark.

Gama Bentley

Regresso aos lucros

Em 2019, já com disponibilidade de carros para abastecer o mercado, o ano terminou com o regresso aos lucros, que terão sido na ordem dos 100 milhões de euros (os únicos números oficiais foram libertados pela casa-mãe no final do 3º trimestre e eram de quase 60 milhões de benefícios).

11 006 carros matriculados (+5% do que em 2018), o 7º ano consecutivo acima das 10 000 unidades, com as Américas (2913 unidades), a Europa (2676 unidades) e a China (1914 unidades) como principais clientes.

Mas isto só depois de um emagrecimento do número de funcionários — menos 10%, a maioria dos quais à custa de reformas antecipadas —; uma otimização da produção — “entre outros progressos, passámos de 12 para nove minutos o tempo de paragem dos carros em produção em cada estação da linha de montagem”, explica Hallmark —; e o veto do CEO ao projeto de um Bentley elétrico — “ainda não existe a tecnologia de baterias válida para que um Bentley elétrico respeite os valores da marca”, justifica.

Bentley Mulsanne
O Mulsanne tem sido o topo de gama da Bentley na década que agora termina.

A Bentley continua a adaptar a sua gama à evolução do perfil de cliente e por isso mesmo decidiu já este ano “matar” o Mulsanne, uma decisão difícil porque a berlina de topo esteve com a marca desde a sua fundação, há 101 anos, como admite Hallmark:

A decisão prendeu-se com a frieza dos números: na entrada do novo milénio o Arnage vendia 1200 unidades por ano e no mundo existiam seis milhões de indivíduos com ativos superiores a um milhão de dólares, mas enquanto esse número triplicou, as vendas do Mulsanne caíram para pouco mais de 500 carros o ano passado”.

O Mulsanne que, recorde-se, era o carro mais caro da Bentley e o que mais tempo demorava a produzir (400 horas vs apenas 130 horas necessárias para produzir um Bentayga).

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Bentayga à frente

Aliás, adaptar a oferta à evolução do cliente é uma das preocupações da Bentley nestes dias, como nos explica o seu CEO:

O Bentayga está destinado a ser o Bentley mais vendido do mundo, à frente do Continental GT que foi o nosso best-seller durante década e meia”.

Bentley Bentayga Speed
O Bentayga é responsável por quase metade das nossas vendas”. Se surgir um novo Bentley no médio/longo prazo, será um SUV ou crossover

E quando lhe perguntamos se o Mulsanne será substituído por outro modelo na gama, a sua resposta é elucidativa:

“Vejo mais futuro para um segundo SUV ou um crossover do que para outro tipo de carroçaria mais tradicional”.

Já se sabe que a Bentley irá ter uma versão híbrida em cada um dos seus modelos até 2023, com um sistema que utilizará componentes do Grupo Volkswagen e que depois serão ajustados aos requisitos destes modelos, como explica Adrian Hallmark:

“Não nos limitamos a usar o que já existe porque temos exigências maiores para os nossos híbridos plug-in que, no entanto, não são suficientes para garantir o futuro da marca, antes constituindo uma tecnologia de transição, para cumprir normativas”.

Bentley Bentayga hybrid
A tecnologia das baterias de hoje ainda não respeita os requisitos da Bentley para um SUV totalmente elétrico.

Para depois concluir: “só quando tivermos o nosso primeiro modelo 100% elétrico iremos chegar a um tipo de cliente que até hoje nunca pensou comprar um carro da nossa marca”.

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Primeiro elétrico depois de 2025

Mas isso não deverá acontecer antes de 2025-26, já com uma evolução da plataforma PPE  — a nova plataforma dedicada para elétricos que está a ser desenvolvida pela Porsche em colaboração com a Audi —, mas cuja adoção Hallmark preferiu adiar:

“Temos que esperar que a tecnologia de baterias evolua o suficiente para poder preencher os requisitos de um veículo 100% elétrico com o nosso logótipo. Em 2020 as baterias têm uma capacidade máxima de 100-120 kWh, mas um Bentley precisa de mais do que esse conteúdo energético para poder assegurar a dinâmica de condução e a autonomia que temos que proporcionar, nunca abaixo de 500-600 km”.

Hallmark acredita que só “a próxima geração de baterias de iões de lítio de estado sólido permitirá que isso seja realidade”.

Bentley Flying Spur
Com o adiar dos planos do primeiro Bentley elétrico, significa também mais tempo de vida para o exótico W12.

E é muito provável que essa seja a ocasião perfeita para juntar uma nova silhueta à família Bentley, mais crossover do que SUV, algo que o líder da marca não confirma, nem desmente… ”para podermos produzir um SUV Bentley respeitando os nossos valores de marca ainda teremos que esperar mais e nem com a primeira geração de bateria de iões de lítio em estado sólido será viável… é por isso que a Tesla fez o Model X e a Jaguar o I-Pace, que têm formas de carroçaria muito aerodinâmicas, mais crossover que SUV”.

Seja como for, os planos para o primeiro Bentley 100% elétrico, crossover e SUV, estão em marcha, como o parece provar o facto de terem sido avistados Mercedes-Benz EQC e Audi e-Tron nos terrenos do quartel-general da Bentley em Crewe.

Adrian Hallmark tem perfeita consciência de que o futuro da Bentley passa por uma equilibrada simbiose entre modernidade e tradição: “se olhar paras os concept-cars EXP 100GT e Bacalar terá uma ideia bem precisa de como iremos definir o luxo no futuro, com sustentabilidade de materiais e combinação de tecnologia digital e de perícia artesanal”.

Algo que já se vê na gama atual, que parecia estar a colocar a Bentley na rota certa, em vendas e lucros, como o seu próprio líder admitia antes da situação de pandemia mundial se ter instalado: “será difícil não bater recordes de vendas e de lucros em 2020”. E o que era difícil passou a ser mais do que improvável.

Bentley EXP 100 GT
O EXP 100 GT antevê o que será o Bentley do futuro: autónomo e elétrico. Características que demorarão mais tempo a ser introduzidas do que o originalmente planeado.
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