Chega em setembro
Fomos buscar a nova carrinha SEAT Leon Sportstourer à fábrica de Barcelona
Para assinalar a chegada da mais vendida das suas carroçarias, a SEAT Leon Sportstourer, decidimos ir ao encontro de uma das primeiras unidades produzidas na fábrica de Martorell.

Chega em setembro e que melhor forma de assinalar a chegada da SEAT Leon Sportstourer, a mais vendida das carroçarias do Leon, do que ir ao encontro de uma das primeiras unidades produzidas na fábrica de Martorell, o seu berço, nos arredores de Barcelona.
Depois, em jeito de despedida de verão e aproveitando a ampla bagageira, trouxemo-la para Lisboa, com passagem pela canícula de Madrid, descida até à ociosa Marbella e um salto final pelas refrescantes praias algarvias, antes da entrada em Lisboa.
Portugal deve mais à Catalunha do que muitos podem pensar. Corria o século XVII e o reino de Portugal estava sob domínio dos Filipes, que se iniciara em 1580, até que uma espécie de golpe de estado em Lisboa, em 1640, iniciou as hostilidades para expulsar os hermanos que não eram lá muito nuestros.
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O timing foi o certo porque Castela estava demasiado entretida a defender as incursões francesas pelo corredor de entrada da Catalunha e pouco mais faziam do que limitar-se a, passivamente, repelir as incursões dos lusos nas imediações fronteiriças da Estremadura. 28 anos mais tarde (1668) Afonso VI de Portugal e Filipe II de Castela puseram a independência de Portugal preto no branco.
Se o brilhantismo da vitória retumbante de Aljubarrota (em que a nossa infantaria de 4000 homens vergou o exército espanhol de mais de 30 000) dois séculos e meio antes lançara as bases para a época dos Descobrimentos para Portugal, a independência assinada no Tratado de Lisboa definiu muito do que somos e foi determinante para que na escola todos tivéssemos lido Camões em vez de Cervantes.

Recolha na linha de montagem
Fast forward até 2020 com alguns destes pensamentos a saltitar na mente à chegada a Martorell, a super fábrica da SEAT 40 km a noroeste de Barcelona, que desde 1993 já produziu qualquer coisa como 11 milhões de automóveis. 2,2 milhões dos quais do Leon, o mais vendido SEAT de sempre, e cuja mais recente geração chegou ao mercado nesta atribulada primavera, no caso em formato de cinco portas.

Mas tendo em conta que, no nosso país, a carrinha, Leon ST, é a silhueta mais comprada (61% dos clientes portugueses preferiram-na o ano passado), não quisemos continuar à espera que a logística atolada no Covid-19 fizesse a Sportstourer atrasar a sua entrada, pacífica, por Badajoz, e a solução foi mesmo ir buscá-la à fábrica.
Depois de um périplo pela zona de produção (de que vos falarei noutro artigo), os diretores da linha de montagem e do controlo de qualidade entregaram-me as chaves do carro (senti-me como um afortunado vencedor de um automóvel no Preço Certo, com direito a fotografia da praxe e tudo, só que aqui teria que ser devolvido à chegada) que pouco depois me servia de montada para abandonar as instalações de Martorell, rumo a Lisboa.

Barcelona-Madrid-Marbella-Faro-Lisboa… 2100 km
Bom… mais ou menos. Em tempos de pandemia foram muitos os portugueses que preferiram fazer as suas férias de verão de carro este ano, tanto pelo país, como por Espanha, e esta experiência com a SEAT Leon Sportstourer podia replicar uma dessas viagens.

Com saída de Barcelona até Madrid no primeiro dia — 591 km em cerca de cinco horas, com passagens ao largo de Lérida, Tarragona e Saragoça —, rumando depois a sul até à capital do ócio da Andaluzia — Marbella, mais 590 km e outras cinco horas de estrada, passando perto de Granada, Málaga e Torremolinos —, para no terceiro dia cobrir a distância até Lisboa — mais 690 km e umas boas sete horas de trajeto, passando Sevilha, Huelva e entrada em Portugal por Vila Real de Santo António, no reino dos Algarves.
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Definido o itinerário, o que temos em mãos? Uma SEAT Leon Sportstourer azul, com motor 1.5 TSi de 150 cv (a gasolina, portanto), equipado com caixa manual de seis velocidades, a escolha mais popular em 2019 no nosso país (90% preferiram-na… ou pelo menos compraram-na, talvez por custar menos 2800 euros do que a homóloga automática de dupla embraiagem de sete velocidades).
Não foi, até ao ano passado, a principal motorização escolhida pelo cliente nacional (o Diesel ainda pesou 64% do total), mas é de prever que os clientes de gasóleo continuem a diminuir devido à espada de Damocles que sobre eles pende.

E, nesse caso, este bloco de quatro cilindros e 1,5 l poderá ganhar relevo, já que não só o acréscimo de peso da carrinha face ao cinco portas (cerca de 90 kg), como a superior carga que potencialmente transportará desaconselha a opção pelo motor de três cilindros e 1,0 l.
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Comecemos pelo que diferencia a nova carrinha Leon da antecessora. Neste caso o motor é o mesmo, tal como a caixa, mas as diferenças são bastantes e começam pelo design — mais repleto de arestas, mais afilado, moderno e elegante — e também pelas dimensões exteriores, principalmente no que diz respeito a comprimento total (cresceu 10 cm) e distância entre eixos (mais 5 cm).

Os benefícios em termos de espaço interior e capacidade da mala, dois dos mais relevantes trunfos da Leon Sportstourer face aos rivais, são evidentes. Largura e altura ficaram praticamente na mesma.
A base técnica modular (MQB) do Leon permite que o Grupo Volkswagen jogue com as proporções dos carros quase como se de kits de Lego se tratassem. A distância entre eixos do Leon é 5 cm maior do que no antecessor (similar à do novo Skoda Octavia e Volkswagen Golf Variant, que está a dias de ser revelado), o que favorece o espaço para pernas na segunda fila de bancos, que passa a ser uma das mais generosas — em comprimento — da sua classe.

A altura atrás é suficiente para ocupantes até 1,90 m (e o facto de haver muito comprimento livre permite ajustar a bacia no caso de ser de algum jogador de basquete), existindo 2 cm adicionais face à variante de cinco portas, uma vez que o tejadilho é prolongado até descer no final da bagageira, mas isso acontece “muito mais lá para trás”.
Já lá vamos depois de lhe dizer que, em largura, dois passageiros traseiros viajam muito bem e um terceiro é, como sempre com esta plataforma, incomodado pelo volumoso túnel no piso ao centro. Saúda-se o facto de existirem saídas de ventilação diretas para trás, com regulação própria de temperatura com visor digital.

Que grande malão!
Por vezes não é fácil conciliar linhas desportivas de carroçaria com volumes de carga amplos, mas a Leon Sportstourer consegue-o. Esteticamente os novos faróis traseiros, a banda ótica a toda a largura da carroçaria e o rebordo imediatamente por cima seduzem e se essa é uma avaliação subjetiva, esse já não é o caso do tamanho do porta-bagagens: 620 a 1600 litros de volume (o anterior era ia de 587 a 1470).
Dá para levar tudo e mais um par de botas além do gato e do periquito e permite que a Leon Sportstourer supere a esmagadora maioria dos concorrentes — Peugeot 308 SW, Ford Focus SW, Volkswagen Golf Variant, Hyundai i30 SW, Opel Astra ST, Renault Mégane ST… e a lista continua —, sendo apenas superado pela “prima” Skoda Octavia Combi (640 l) e marginalmente também pela Kia Ceed SW (625 l).

As formas do porta-bagagens são muito regulares e aproveitáveis e existe uma bandeja de fundo que pode ser colocada numa altura mais elevada para que seja criada uma zona de carga quase plana (quando as costas dos bancos são rebatidas fica uma pequena elevação na transição para a zona da mala).
Outros pontos positivos: existem duas patilhas nas paredes da bagageira para soltar e descer automaticamente as costas dos bancos da segunda fila (para subir há que fazê-lo manualmente, pelas portas laterais), podendo ser especificada uma tomada de 230 V e ganchos para melhor prender a bagagem. Além de existir uma portinhola que se abre para permitir aceder à bagageira a partir do habitáculo, que serve primordialmente para fazer passar objetos mais compridos como uma cana de pesca, por exemplo.

Com amplas bolsas nas portas e espaço entre os dois bancos da frente para copos/latas, só quem quiser é que cria desordem neste interior, o que esteve longe de ser o caso (ainda que tenha ajudado o facto de só seguirem dois adultos a bordo, mas mesmo os mais pequenos poderão ter tudo arrumado à sua volta).
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Familiarizo-me com o tabliê antes de arrancar, voltando a encontrar materiais e acabamentos que inspiram confiança pela solidez e qualidade tátil (mais evidente nos lugares dianteiros, enquanto nos traseiros os revestimentos das portas são mais duros), enquanto os bancos são suficientemente amplos e confortáveis, com apoio lateral suficiente.
Aqui estão elementos recentemente estreados na família de modelos compactos da Volkswagen e com a tendência de redução de comandos físicos que vão dando lugar a instruções dadas pelos menus do ecrã digital de infoentretenimento, ao mesmo tempo que é libertado espaço na zona central do tabliê e entre os bancos dianteiros.

Esse ecrã, aqui de 10” (8,25” em versões menos recheadas) permite controlar quase tudo e mais alguma coisa, podendo a climatização ser regulada abaixo do mesmo — pelo mesmo pouco intuitivo sistema de barra tátil (e que ainda mais se vê mal à noite) dos demais modelos do Grupo Volkswagen que usam esta mesma nova plataforma eletrónica MIB3).
Sendo indiscutível que a configuração geral e o princípio de funcionamento são muito mais modernos do que no Leon III, o ecrã central poderia estar mais bem integrado no painel de bordo (no modelo anterior isso acontecia), ao contrário do que vemos nos Golf e A3, que são da mesma geração do Leon.

Já na questão do direcionamento para o condutor — que achei insuficiente quando guiei o cinco portas — mudei de opinião e sinto que é o bastante para permitir uma utilização sem desviar muito o olhar da estrada, ao mesmo tempo que não exclui o passageiro dianteiro de algumas operações que poderão ser por si executadas. Esta habituação uma das vantagens de fazer mais de 2000 km em poucos dias, comparando com testes mais curtos — ou seja, quase todos…
A instrumentação digital (de série nos níveis de equipamento mais elevados) e o novo volante com secção inferior horizontal ajudam a projetar uma imagem e uma convivência mais modernas, tal como os veios de iluminação e os pontos de iluminação que tornavam a condução noturna desta versão especialmente agradável.

Mais estável, mais confortável… é escolher
Tenho consciência de que à saída de Martorell, a caminho de uma visita rápida a Barcelona, é onde poderia encontrar algumas das estradas sinuosas mais interessantes para avaliar o comportamento da SEAT Leon Sportstourer 1.5 TSi, tanto mais que o facto de dispor de amortecimento eletrónico variável (DCC) era um bom prenúncio de bons momentos ao volante. E, de facto, assim é.

Escolhendo uma regulação mais desportiva não há indícios de rolamento excessivo da carroçaria mesmo quando aceleramos o ritmo, ao mesmo tempo que o conforto não é beliscado pela maioria dos asfaltos, sendo necessário encontrar um bastante maltratado para se sentirem um ou outro solavanco, especialmente na segunda fila.
Por baixo da segunda fila existe um eixo de torção simples, ao contrário das versões acima de 150 cv, que já recebem um eixo traseiro de rodas ligadas de forma independente. A direção, por seu turno, ganha um pouco de peso em Sport, o que se alia ao facto de ser bastante direta (2,1 voltas de topo a topo) para merecer uma boa nota no seu desempenho e os travões têm desempenho satisfatório, com uma boa “mordida” inicial e sempre progressivos.

A resposta do motor sente-se mais viva logo acima das 1500 rpm, momento em que ficam “ao pé de semear” os 250 Nm de binário máximo, que não caem até às 3500 rpm. A caixa manual de seis velocidades tem um seletor preciso e rápido, q.b., sem deslumbrar.
Recebeu ainda um escalonamento mais curto para a 1ª e 2ª velocidades, para cooperar na locomoção quando a inércia do movimento da carrinha ainda não ajuda à sua agilidade, compensando depois com uma 5ª e uma 6ª ligeiramente mais longas, para ajudar a reduzir os consumos tendo em conta o peso extra, Que também deve ser responsabilizado pelo facto das prestações terem piorado um pouco face ao antecessor com este mesmo motor (mais meio segundo de 0 a 100 km/h, menos 6 km/h de velocidade de ponta).

Sobre os modos de condução disponíveis (nome científico da espécie: SEAT Drive Profile) é possível optar por Eco, Normal, Comfort e Sport, os quais alteram a resposta da direção, caixa (automática) e som do motor, além da dureza da suspensão quando o Leon está, como neste caso, dotado de suspensão de amortecimento variável. Aqui, o modo Individual dispõe de um comando de deslizar (“slider”) para um mais amplo leque de (14) afinações da suspensão.
Na condução urbana, passo para uma regulação mais confortável e a qualidade de filtragem melhora, ao mesmo tempo que a direção se sente mais leve nos estacionamentos. A este propósito diga-se que a nova carrinha requer um pouco mais de espaço para as manobras do que o cinco portas, por o vão traseiro ser 27 cm mais comprido (enquanto a largura é igual). Mas, ainda assim, o diâmetro de viragem não aumentou mais de 20 cm (de 10,3 m para 10,5 m, entre passeios).

Shiuuuuuu!
Deixada para trás a Cidade Condal, para os primeiros de quilómetros de viagem, a caminho de Madrid (onde apanhámos 40 ºC às nove da noite), as bem asfaltadas e retilíneas autoestradas (além de menos “populadas” do que é normal, por culpa do coronavírus) confirmam as impressões que o Leon de cinco portas já tinha deixado com este motor.
É bastante silencioso e mesmo a velocidades a arriscar a multa a insonorização do habitáculo permite que se mantenha uma conversa sem elevar minimamente o tom de voz, ao mesmo tempo que esse silêncio geral de rolamento torna qualquer viagem, mesmo como esta bastante longa em jornadas sucessivas, bastante tranquila.

Sobre os consumos esta viagem terminou com uma média de 7,5 l/100 km, o que quer dizer 1,1 l acima do limite superior da média homologada oficialmente.
Mas deve ser considerado um valor normal, pois apesar de dois dos cilindros se desligarem sempre que era aliviada a pressão do acelerador (voltando-se a ligar quando reacelarava e sempre de forma impossível de detetar), a verdade é que a maior parte do tempo a velocidade era considerável (deixemos a coisa assim…) e mesmo nas zonas de estradas secundárias houve tentação natural para avaliar o comportamento do chassis da nova carrinha Leon, nos dois casos, formas de conduzir contrárias às de obtenção de um consumo recordista.

A opção pela caixa automática de dupla embraiagem não ajudaria a reduzir o consumo (ao contrário do que acontece noutros casos com este tipo de transmissão) porque essa versão, o Leon eTSi, é um híbrido “suave”, com mais componentes como um motor elétrico e uma bateria maior, que acabam por tornar essa versão 50 kg mais pesada (ainda que ajudando bastante na retomas de velocidade).
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A nova SEAT Leon Sportstourer chega a Portugal já durante o mês de setembro, com preços a começar nos 31 606 euros e a subirem até aos 36 706 euros, quando equipada com o 2.0 TDI 150 cv e caixa DSG.

Especificações Técnicas
SEAT Leon Sportstourer 1.5 TSI | |
---|---|
Motor de combustão | |
Posição | Dianteira, Transversal |
Arquitetura | 4 cilindros em linha |
Distribuição | 2 a.c.c./16 válvulas |
Alimentação | Inj. direta, Turbo, Intercooler |
Capacidade | 1498 cm3 |
Potência | 150 cv entre as 5000-6000 rpm |
Binário | 250 Nm entre as 1500-3500 rpm |
Tração | Dianteira |
Caixa de velocidades | Manual de 6 vel. |
Chassis | |
Suspensão | FR: Independente — MacPherson; TR: Semi-rígida, Barra de torção |
Travões | FR: Discos ventilados; TR: Discos maciços |
Direção | Assistência elétrica |
Nº voltas do volante | 2,1 |
Diâmetro de viragem | 10,5 m (entre passeios) |
Dimensões e Capacidades | |
Comp. x Larg. x Alt. | 4642 mm x 1799 mm x 1448 mm |
Distância entre eixos | 2686 mm |
Capacidade da mala | 620-1600 l |
Capacidade do depósito | 50 l |
Rodas | 205/55 R16 |
Peso | 1366 kg |
Prestações e consumos | |
Velocidade máxima | 221 km/h |
0-100 km/h | 8,7s |
Consumo misto | 5,6-6,4 l/100 km |
Emissões CO2 | 127-145 g/km |
Primeiras impressões
Tamanho bagageira
Qualidade geral
Espaço interior
Tecnologia Grupo Volkswagen
Eixo traseiro (semi-rígido)
Monitor central pouco integrado
Data de comercialização: Setembro 2020
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