Clássicos Pocket Rockets do séc. XXI. Os primeiros 10 anos foram assim

Pocket Rockets

Pocket Rockets do séc. XXI. Os primeiros 10 anos foram assim

Os pocket rocket estão sob ameaça e são cada vez menos, mas nem sempre foi assim. Recordamos a diversidade de propostas na primeira década deste século.

Renault Twingo R.S. a curvar, com roda traseira interior no ar

Parece haver cada vez menos pocket rockets à venda e, infelizmente, o futuro não está a seu favor: em poucos anos deverão bastar os dedos de uma só mão para os contar.

Isto porque reina forte a «febre» por SUV/Crossover, há uma mudança de paradigma de mobilidade a decorrer e as próprias marcas, depois de fazerem «contas à vida», decidiram apontar o seu negócio para cima (posicionamento das gamas) em nome da rentabilidade.

Hoje (à data de publicação deste artigo), ainda temos uma interessante, mas algo curta, variedade de escolha: do mais modesto Volkswagen Up! GTI, até uma das inúmeras versões do Abarth 595, passando pelo Suzuki Swift Sport.

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Abarth 500
Desde 2008, que podemos contar com a Abarth para dar muita cor ao nicho dos pocket rockets.

Subindo um patamar de potência — acima dos 200 cv — e «seriedade» encontramos os MINI Cooper S e JCW, Volkswagen Polo GTI e os muito elogiados Hyundai i20 N e Ford Fiesta ST.

E não, não me esqueci do Toyota GR Yaris. Apenas não o considero um pocket rocket, seja pela performance avassaladora, pelo preço de «arregalar os olhos» e até pela radical transformação do modelo base, que faz dele um «animal» à parte dos outros todos — não deixa de ser um «monstro» de hot hatch e, mais que isso, um desportivo «a sério».

A receita

«Sou do tempo» em que quando se falava em pocket rockets — um subgrupo dos hot hatch —, falava-se em máquinas relativamente simples e modestas, capazes de conjugar maior performance e (sobretudo) atitude com custos muito razoáveis (de aquisição e utilização). Mesmo os que mencionei com mais de 200 cv, já parecem fazer parte de outra categoria.

E é por isso que ao reunir este grupo de pocket rockets da primeira década (até 2010) deste séc. XXI, decidi concentrar-me nas propostas com até (modestos) 150 cv, deixando muitos outros de fora — o número de pequenos hot hatch com potências entre 150 cv e 200 cv «explodiu» nesta primeira década. Tratarei deles noutra ocasião, num novo artigo.

Up! GTI, 595, Swift Sport, Fiesta ST: conheçam os antecessores

Abrimos as hostilidades com os antecessores dos pocket rockets hoje ainda à venda: Volkswagen Lupo GTI, Abarth 500 e Suzuki Swift Sport.

O Lupo GTI, equipado com um quatro cilindros naturalmente aspirado com 1,6 l de 125 cv, era visto na altura (lançado no 2000) como uma espécie de sucessor do primeiro Golf GTI.

Parece ter resultado, pois fez esquecer que existia um Polo GTI equipado com o mesmo motor — e mesmo o Polo GTI seguinte, lançado em 2006, «colado» à imagem do excelente Golf GTI V, agora com um mais potente 1.8 Turbo, mas (modestos) 150 cv, também não convenceu.

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O «eterno» Abarth 500, lançado em 2008, ainda hoje se vende (como 595 e 695). Contudo, a receita não mudou desde então: lá à frente está um motor 1.4 Turbo — «coração veterano» e o último sobrevivente da família de motores FIRE —, tendo começado com 135 cv (e subiu até aos 190 cv).

Abarth 500
Abarth 500, 2008: 1,4 l turbo; 135 cv; 0-100 km/h em 7,9s; vel. máx. de 205 km/h.

Precisa de uma estrada lisa como uma mesa de bilhar para brilhar e a posição de condução não convence ninguém, mas é um concentrado de caráter e diversão, muito graças ao seu motor, talvez o motor turbo com mais voz e cativante de «puxar» a este nível.

O Suzuki Swift Sport também tem sido uma presença constante — distribuída por três gerações — e emblemática entre os pocket rockets desde 2006.

O primeiro deles vinha equipado com um 1,6 l naturalmente aspirado de 125 cv, com fama… e proveito de ser «à prova de bala» — algo que posso atestar, pois já há quase 10 anos que tem sido o meu «bólide» do dia a dia.

É bastante firme, mas compensa com um chassis interativo e leveza e, três gerações depois, ainda se vende. Hoje recorre aos préstimos de um 1.4 Turbo — infelizmente, sem a «garra» mecânica dos antecessores…

Já que estamos na Suzuki, temos de referir, obrigatoriamente, o Ignis Sport (2003), o pocket rocket que abriu o caminho para o Swift Sport. É menos conhecido, mas não menos merecedor de pertencer a este grupo: os genes que fizeram do Swift Sport aquilo que é «nasceram» no Ignis Sport.

Quando saltamos para o grupo seguinte, já falámos do Volkswagen Polo GTI e o i20 N é o primeiro do género da Hyundai nesta classe, logo, não tem antecessor.

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No caso dos MINI, os primeiros Cooper S, ao terem 163 cv, já ultrapassam o auto-imposto limite de 150 cv desta lista. Mas o primeiro Ford Fiesta ST de todos, lançado em 2005, ainda o podemos incluir.

Ford Fiesta ST
Ford Fiesta ST, 2005: 2,0 l NA; 150 cv; 0-100 km/h em 8,4s; vel. máx. de 208 km/h.

Antes de se tornar a referência entre os pequenos hot hatch, o primeiro Fiesta ST pautou-se pela discrição. A equipá-lo estava um 2,0 l naturalmente aspirado de 150 cv, e apesar dos atributos dinâmicos, já não tinha «pulmão» para os rivais.

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Abaixo do Fiesta ST, podíamos contar com o SportKa, a variante mais aguerrida do original citadino da Ford. O seu simples 1600 tinha somente 95 cv, mas tal como o seu «irmão» maior compensava com um chassis excelente — o rival certo para o próximo e invulgar pocket rocket.

Ford SportKa
Ford SportKa: 1,6 l NA; 95 cv; 0-100 km/h em 9,7s; vel. máx. de 174 km/h.

Vindo de Itália e nunca — incompreensivelmente — vendido em Portugal, o Fiat Panda 100HP conquistou muitos fãs por toda a Europa, graças ao seu mix muito atrativo de atributos.

Estes iam da sua aparência mais robusta, ao nervoso 1,4 l naturalmente aspirado de 100 cv, passando pela sua atitude dinâmica bastante vivaz — e também com fama de «partir» costas de tão firme que era…

Fiat Panda 100HP
Fiat Panda 100HP, 2006: 1,4 l NA; 100 cv; 0-100 km/h em 9,5s; vel. máx. de 185 km/h.

Mesmo o «monstro» GR Yaris teve antepassados… modestos. O Toyota Yaris 1.5 TS, de 2001, foi o primeiro Yaris com genes desportivos e, com apenas 106 cv, não podia estar mais longe em performance que o seu mais recente sucessor.

Dito isto, apesar de não ter conquistado tantos fãs como alguns dos pocket rockets já mencionados, era elogiado pelo seu voluntarioso motor, ligeireza e condução cativante.

Toyota Yaris TS
Toyota Yaris TS, 2001: 1,5 l NA; 106 cv; 0-100 km/h em 9,0s; vel. máx. de 190 km/h.

Houve quem lhe visse mais potencial e, apenas e só na Suíça, o Yaris TS ganhou um turbo e ficou com 150 cv — muito mais prometedor, não?

E onde andam os franceses?

Sim, hoje, para grande tristeza do universo petrolhead, não há pocket rockets franceses — e os hot hatch de classes acima gauleses já quase todos desapareceram —, mas nos anos 90 e durante a primeira década deste século, diversidade não faltava e alguns deles eram o derradeiro «alvo a abater».

E se não podemos incluir nesta primeira lista “a” referência da altura chamada de Renault Clio R.S., pois há muito que tinha ultrapassado a barreira dos 150 cv, a Renault Sport deu-nos, como patamar de acesso, um brilhante Twingo R.S., lançado em 2008.

Renault Twingo R.S.
Renault Twingo R.S.: 1,6 l; 133 cv; 0-100 km/h em 8,7s; vel. máx. de 201 km/h.

O Twingo R.S. surge na segunda geração do citadino e não o fez por menos. Leve e com um estridente quatro cilindros naturalmente aspirado de 1,6 l e 133 cv de potência, o Twingo R.S. rapidamente se tornou um favorito de todos graças também ao seu chassis fantástico (derivado da segunda geração do Clio).

Saltando para a arquirrival Peugeot, pelo contrário, depois de uma década de 90 cheia de modelos inesquecíveis, parecem ter perdido o rumo na primeira década do séc. XXI.

Os enfants terribles 106 GTI e Rallye estavam de saída em 2003, mas os Peugeot 206 e 207 nunca conseguiram ocupar devidamente esse espaço… Desde o 206 S16 e o especial de homologação GT com 136 cv, até aos mais potentes 206 RC e 207 RC, ficaram sempre uns «furos abaixo» dos rivais.

Peugeot 206 GT
Lembram-se do Peugeot 206 GT (1999)? O especial de homologação destacava-se, só, pelos para-choques e rodas maiores. De resto mantinha o 2.0 de 136 cv do S16 e caráter… benigno.

Também a Citroën mostrou ter algumas dificuldades na elaboração da sequela do Saxo Cup.

O C2 VTS, lançado em 2004, era mais íntegro e seguro, mas acabou por perder muita da efervescência do antecessor — consequência também dos 100 kg a mais —, apesar de ainda fazer uso do mesmo motor (ainda que evoluído), agora com 125 cv.

Citroën C2 VTS
Citroën C2 VTS, 2004: 1,6 l; 125 cv; 0-100 km/h em 8,3s; vel. máx de 202 km/h.

Ainda não acabou

Como já deu para perceber, fomos «mimados» na primeira década do séc. XXI com muitas e variadas propostas que ofereciam algo com mais caráter, performance e diversão ao volante, sem «estoirar» a carteira.

Houve espaço até para surgir um pocket rocket em formato MPV, o Mitsubishi Colt CZT (2005) que adotaria a designação Ralliart (2008) depois do seu restyling.

Não se deixem levar pelo seu formato — foi lançado inicialmente com uma mais apelativa carroçaria de três portas, mas ficaria disponível também como cinco portas.

A conjugação de um agressivo motor turbo de 150 cv com um chassis «danado» para a brincadeira, foi uma das agradáveis surpresas da década, ainda que não atingisse a notoriedade de outros membros da classe.

Mais modesto era o compatriota Nissan Micra 160SR de 2005. A designação era enganadora: 160 não se referia ao número de cavalos, mas sim à capacidade do motor de 1,6 l.

Nissan Micra 160SR
Nissan Micra 160SR, 2005: 1,6 l NA; 110 cv; 0-100 km/h em 9,8s; vel. máx. de 183 km/h.

Contudo, apesar dos modestos 110 cv, um pouco como o Yaris TS, compensava com um motor nervoso q.b. e um chassis muito competente e interessante de explorar.

Pocket rockets… Diesel?

A febre Diesel que assolou a Europa nesta primeira década do séc. XXI também teria de chegar aos pocket rockets e outros hot hatch. Será que os podemos considerar verdadeiros pocket rocket e hot hatch? — o debate continua aceso após estes anos todos… 

O que é certo é que não houve falta de tentativas para implementar os motores Diesel nestes pequenos desportivos, e o Grupo Volkswagen foi quem fez a aposta mais forte.

Em Portugal foi o fenómeno, ainda nos anos 90, chamado de SEAT Ibiza GT TDI. E continuaria com a geração seguinte (a terceira, lançada em 2002), na forma do Ibiza FR 1.9 TDI de 130 cv — e houve ainda um mais radical CUPRA TDI de 160 cv. Havia, contudo, um FR a gasolina, com o mesmo 1.8 Turbo de 150 cv do Polo GTI.

SEAT Ibiza FR
SEAT Ibiza 1.9 TDI FR, 2002: 1,9 l turbo Diesel; 130 cv; 0-100 km/h em 9,3s; vel. máx. de 207 km/h.

Também a Skoda não resistiu a explorar esta fórmula de pocket rocket com motor Diesel, tendo lançado em 2003 o Fabia RS TDI, equipado com o mesmo 1.9 TDI de 130 cv do Ibiza.

As críticas foram muito positivas a esta intrigante proposta do modelo checo, graças também a um chassis muito bem resolvido. Na geração seguinte, contudo, o Fabia RS (2010) viraria as costas ao Diesel e faria uso do 1.4 TSI de 180 cv — houve quem lamentasse a perda…

Skoda Fabia RS TDI
Skoda Fabia RS TDI, 2003: 1,9 l turbo Diesel; 130 cv; 0-100 km/h em 9,2s; vel. máx. de 205 km/h

Mais «morno» que «quente»

Por fim, deixamos uma lista de modelos que nem sempre são fáceis de «encaixar» numa ou outra categoria. Não costumam ser considerados hot hatch, logo, também não os podemos classificar de pocket rockets.

Por norma são versões que ficam um patamar abaixo das mais «picantes» e até apresentam valores de potência e performance bastante interessantes — até melhores do que alguns dos modelos listados acima —, mas acabam por ser mais carros rápidos do que máquinas para conduzir com a «faca nos dentes».

Claro que os britânicos tinham de «inventar» um nome para os definir. Depois de hot hatch e pocket rocket, cunharam o termo warm hatch. Ou seja, em vez de desportivos “quentes” (hot), estes são apenas “mornos” (warm).

Já listámos alguns acima, como os Peugeot 206 S16 e GT, mas aqui fica mais uma «fornada»:

Sabe esta resposta?
Qual era a potência do Daihatsu Charade GTti?
Oops, não acertou!

Pode encontrar a resposta aqui:

Glórias do Passado. Daihatsu Charade GTti, o mil mais temido