Primeiro Contacto Limitado a 400 unidades. Conduzimos o Toyota Yaris GRMN

Ao volante

Limitado a 400 unidades. Conduzimos o Toyota Yaris GRMN

Conduzimos em estrada e em circuito o novo Toyota Yaris GRMN. Inspirado pelo regresso da Toyota ao Mundial de Ralis e limitado a 400 unidades, todas vendidas, é o primeiro Toyota GRMN a ser construído e vendido na Europa.

É cada vez mais difícil construir um automóvel para os apaixonados. As restrições ambientais, a condução autónoma, a tecnologia, são tudo pesos importantes que têm de ser colocados obrigatoriamente na balança dos carros modernos. Pressupostos que parecem querer afastar das estradas os novos modelos mais… puros!

Uma pureza cada vez mais entregue ao nosso imaginário, aos clássicos, ao que foi e ao que não regressa mais. Lancia Delta Integrale, Renault Clio Williams, Toyota AE86, you name it…A Toyota garantiu-nos que este Toyota Yaris GRMN seria um regresso às origens. Fomos até Barcelona para descobrir até que ponto não eram apenas promessas.

Era uma vez, numa pequena garagem…

Só a história do desenvolvimento do Toyota Yaris GRMN dava um artigo interessante (talvez um dia Toyota, o que vos parece?). Mas vamos aos detalhes principais.

Durante vários meses uma pequena equipa de engenheiros e pilotos, entre os quais Vic Herman, master driver da Toyota (piloto que tive oportunidade de conhecer neste primeiro contacto), testaram o Toyota Yaris GRMN no Nürburgring e nas estradas que circundam o mítico circuito alemão. Eram só estes homens e um objetivo: produzir um «pocket-rocket» para verdadeiros apaixonados pela condução. Enfim, um desportivo analógico às portas da eletrificação massiva dos automóveis.

Fiquei impressionado como numa marca da dimensão da Toyota ainda há lugar para projetos quase pessoais, pensados e executados por verdadeiros petrolheads.

Este pequeno grupo passou meses numa pequena garagem, afinando o carro de acordo com o feedback que iam recebendo dos pilotos — foi assim durante dias, noites, semanas e meses a fio. No total, o projeto demorou dois anos a passar da fase de conceito à produção.

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Vic Herman, piloto de testes que ajudou a desenvolver o Toyota Yaris GRMN, revelou-me que deu mais de 100 voltas ao Nürburgring ao volante deste modelo, sem contar com os milhares de quilómetros percorridos em estradas públicas. Segundo Herman, é mesmo nas estradas mais reviradas que o Toyota Yaris GRMN revela todo o seu potencial. É um carro para apaixonados pela condução.

A ficha técnica

Debaixo do capot está o conhecido 1.8 Dual VVT-i (com compressor Magnuson e rotor Eaton), a debitar 212 cv às 6.800 rpm e 250 Nm às 4.800 rpm (170 g/km CO2). Podemos encontrar este motor, por exemplo, no Lotus Elise — é disto que estamos a falar. Quanto à transmissão, estamos servidos por uma caixa manual de 6 velocidades encarregue por entregar a potência às rodas dianteiras.

"O meu Toyota Yaris tem o motor de um Lotus Elise..." - só por isto já valia a pena comprar o carro. Estudásses Diogo, já estão todos esgotados.

Se o processo de desenvolvimento foi complexo, o que dizer da produção? A Toyota constrói este motor no Reino Unido. Depois envia-o para o País de Gales, onde os engenheiros da Lotus ficam responsáveis pelo software. Daí parte finalmente para França, onde é instalado no Toyota Yaris GRMN pela Toyota Motor Manufacturing France (TMMF), na fábrica de Valenciennes. Para comprovar a sua exclusividade é colocada uma placa numerada no bloco. Pequeno? Só mesmo no tamanho (e ainda não conhecem o preço…).

Na fábrica de Valenciennes são montados os outros Yaris “normais”, mas há uma equipa de 20 funcionários treinados e dedicados somente aos 400 exemplares do Toyota Yaris GRMN que vão ver a luz do dia.

Potência já temos, agora falta o resto. O peso, com líquidos e sem condutor é de referência: 1135 kg. Um verdadeiro peso-pluma com uma relação peso/potência de 5,35 kg/cv.

Existem duas versões: com autocolantes e sem autocolantes. O preço é o mesmo, 39.425€.

O tradicional sprint dos 0-100 km/h é cumprido em 6,4 seg e a velocidade máxima é de 230 km/h (limitada eletronicamente).

É claro que com números destes a Toyota teve de dotar o Yaris GRMN de equipamento específico. Se até aqui as coisas estavam interessantes, agora prometem abrir-nos os olhos de expectativa. Já se aperceberam que do Yaris só sobrou o nome, certo?

Equipamento especial, claro.

No Toyota Yaris GRMN encontramos uma barra antiaproximação montada nas torres da suspensão dianteira, um diferencial autoblocante Torsen, suspensão desportiva com amortecedores Sachs Performance e pneus Bridgestone Potenza RE50A (205/45 R17).

Alterações significativas
Foi necessário arrumar o compressor, a unidade de refrigeração e a entrada da admissão numa única unidade, devido ao pouco espaço disponível. Encarregues da refrigeração estão um intercooler para o compressor e um refrigerador de óleo do motor, montado à frente do radiador, juntamente com uma nova entrada de ar aumentada. Foi instalado ainda um novo sistema de injeção de combustível, recorrendo a componentes originalmente desenhados para um motor V6.

O escape, cuja saída está colocada ao centro da carroçaria, como nos Yaris WRC, foi completamente reformulado, sempre com o problema do pouco espaço disponível a dificultar a tarefa dos engenheiros da Toyota. Para além do pouco espaço, era necessário gerir ainda o calor por debaixo da carroçaria. Os responsáveis pelo projeto tiveram de reduzir a contrapressão dos gases de escape e simultaneamente garantir o controlo das emissões e do ruído — ser rebelde nos dias de hoje não é fácil. A Toyota confessou-nos que nos primeiros testes o barulho do motor, dentro e fora do habitáculo, era muito superior, algo que tiveram de rever até que ficasse “no ponto”.

Dinâmica apurada

Entre as várias alterações efetuadas para melhorar as credenciais dinâmicas, o chassis teve de ser reforçado para aumentar a rigidez da carroçaria. Foi instalada uma braçadeira lateral no topo das torres da suspensão dianteira e ainda houve tempo para reforçar o eixo traseiro.

Sabias que?
O Toyota Yaris GRMN é produzido na fábrica do Yaris “normal”, em Valenciennes, França. No entanto, apenas 20 funcionários treinados para o efeito estão envolvidos neste processo. A produção do Yaris GRMN é limitada a um turno diário, onde serão produzidos, ao ritmo de 7 unidades por dia, 600 exemplares. Para o mercado europeu serão produzidas 400 unidades do Yaris GRMN e outras 200 do Vitz GRMN. O Toyota Vitz é o Yaris japonês.

A base da suspensão é a do Yaris “normal”, estando o GRMN equipado com uma evolução da suspensão dianteira MacPherson e traseira com barra de torção. A barra estabilizadora é diferente e tem 26 mm de diâmetro. Já os amortecedores são da Sachs Performance e têm molas mais curtas, resultando num decréscimo de 24 mm na altura ao solo em relação ao modelo normal.

Para travar o Toyota Yaris GRMN foram instalados discos dianteiros, com ranhuras, de 275 mm com pinças de quatro pistões, fornecidos pela ADVICS. Na traseira encontramos discos de 278 mm.

A direção é eletrica, com duplo pinhão e cremalheira e foi reajustada nesta versão, apresentando 2,28 voltas ao volante de topo a topo. Falando do volante, a Toyota instalou no Yaris GRMN o volante do GT-86, no qual foram operadas ligeiras alterações estéticas que permitem identificar um modelo GRMN. Tanto o software da direção, como o software do controlo de estabilidade foram modificados.

Portugal vai receber 3 unidades do Yaris GRMN. A produção (400 unidades) esgotou em menos de 72 horas.

No interior, a simplicidade.

Se por um lado o interior do Toyota Yaris GRMN parece demasiado simples nos dias que correm, por outro foi uma agradável surpresa.

No interior encontramos dois botões que alteram o comportamento do veículo: o botão START personalizado com a sigla “GR” (que liga o motor…foi uma piada…) e o botão para desligar o controlo de tração e de estabilidade (desliga mesmo tudo). Não há botões Race ou Sport, modos de condução para meninos, etc. O Toyota Yaris GRMN é o mais analógico dos hatchback desportivos no mercado e nós adorámos isso.

Controlo de Qualidade
Não foi só acrescentar material ao Yaris e criar esta versão GRMN. Foram produzidos testes de controlo de qualidade especificos para todas as peças diferentes, pontos de soldagem adicionais, sistema de travagem, reforços do chassis, bancos e até mesmo da aplicação dos autocolantes. No final da montagem, também foram introduzidos requisitos de inpecção final renovados, que verificam desempenho do motor, comportamento do chassis e travagem, tendo em conta de que se trata de um modelo com prestações especiais.

Os bancos são exclusivos desta versão (e que bancos!). Produzidos pela Toyota Boshoku, oferecem, segundo a marca nipónica, o melhor apoio lateral da classe. São revestidos a Ultrasuede, garantindo excelente respiração para o corpo e um conforto acima da média do segmento.

O volante, de reduzido diâmetro, é o mesmo do Toyota GT-86, com modificações ligeiras a nível estético. A caixa tem um curso curto q.b e é de fácil manuseamento, mesmo em situações limite onde a precisão é fundamental. O quadrante também é específico desta versão e o pequeno ecrã TFT a cores conta com uma animação de arranque exclusiva.

Prego a fundo

Quando entro pela primeira vez no Toyota Yaris GRMN, no circuito de Castellolí, a primeira coisa que sinto é o conforto dos bancos. Durante as curvas e contra curvas do circuito e na via pública revelaram-se um excelente aliado em duas frentes: conforto e apoio.

Sim, é um tração dianteira.

Apesar de potencial peça de colecionador, o Toyota Yaris GRMN consegue logo aqui reunir os primeiros argumentos para ser um verdadeiro daily drive. Com quase 286 litros de capacidade de bagageira até à chapeleira, até têm espaço para as malas de fim de semana…

O resto do interior, simples, com tudo no sítio certo, dispensa apresentações. É básico, não tem filtros, é o que é preciso para nos proporcionar boas doses de diversão.

“Têm 90 minutos, divirtam-se e respeitem as regras” ouve-se no rádio. Foi uma espécie de Good Morning Vietname! versão petrolhead.

À porta do circuito ficou o “nosso” Toyota Yaris GRMN que tivemos oportunidade de conduzir em estradas (soberbas!) nos arredores de Barcelona. Com eles ficaram também os pneus de série, a Toyota optou por colocar nos Yaris destinados aos testes em pista um jogo de semi-slicks da Bridgestone.

Nas primeiras mudanças a fundo o som do motor que invade o habitáculo de forma vigorosa é tudo menos artificial, aqui não existe som a sair das colunas. As rotações sobem de forma linear até às 7000 rpm, o compressor volumétrico garante que a potência está sempre presente, num regime muito mais amplo do que nos motores turbo. É impossível não esboçar um sorriso nas primeiras centenas de metros.

A caixa de 6 velocidades é precisa, está bem escalonada e tem aquele um bom feeling mecânico como seria de esperar. O curso da caixa tem a altura limite recomendada pelas regras da ergonomia, devido à posição de condução ligeiramente elevada do Toyota Yaris.

Sim, nem tudo são rosas. Não era viável para a Toyota alterar a coluna de direção, isso implicava voltar a submeter o modelo a novos testes de segurança e a uma série de procedimentos obrigatórios. O custo? Incomportável.

A reter
  • Motor
    1.8 Dual VVT-iE
  • Potência Máxima
    212 cv/6.800 rpm-250 Nm/4.800 rpm
  • Transmissão
    Manual de 6 velocidades
  • Acel. 0-100 km/h - Vel. máx.
    6,4 seg - 230 km/h (limitada)
  • Preço
    39.450€ (esgotado)

Por isso ficamos com a posição de condução do Toyota Yaris, que sendo a que se espera de um utilitário, não é a melhor para um desportivo. É o calcanhar de aquiles do Toyota Yaris GRMN? Sem dúvida. Todo o restante package transpira paixão pela condução.

O diferencial autoblocante torsen faz um excelente trabalho a colocar a potência no chão à saída das curvas. O chassis é equilibrado, muito eficaz e em conjunto com os amortecedores confere a rigidez necessária para que o Toyota Yaris GRMN se apresente às curvas com a postura correta. Um lift-off aqui e ali e temos um verdadeiro driver´s car a fazer relembrar que afinal, aqueles tempos gloriosos, ainda podem voltar.

As jantes BBS de liga leve, forjadas, de 17 polegadas ajudam a reduzir o peso (são 2kg mais leves do que umas jantes convencionais equivalentes), ao mesmo tempo que permitem utilizar travões maiores. Nos travões a Toyota optou por discos mais pequenos mas mais grossos, que estão à altura do desafio.

Em estrada é ainda mais interessante e tendo em conta que é lá que mais de 90% dos proprietários o vão utilizar, esta qualidade não podia ser mais importante.

É capaz de digerir bem as imperfeições do piso, ao mesmo tempo que proporciona a condução acutilante que procuramos numa proposta desportiva como esta. A direção é comunicativa, o Yaris “normal” tem inveja de tanta conversa que este GRMN é capaz de estabelecer com o seu piloto.

Sem suspensões adaptativas, “alterações de humor” ao toque de um botão ou afinadores digitais de voz, estamos perante um excelente trabalho de engenharia japonesa. O Toyota Yaris GRMN é analógico, simples, como um hothatch com pedigree deve ser. Ainda que seja só para alguns, e que sortudos que são esses “alguns”.

Limitado a 400 unidades. Conduzimos o Toyota Yaris GRMN

Primeiras impressões

8/10
Se este é o primeiro GRMN na Europa, então que venham mais. Com o Toyota Yaris GRMN entraram com o pé direito, palavra de petrolhead.

Prós

  • Prestações
  • Exclusividade

Contras

  • Posição de condução
  • Preço

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