Notícias Falámos com o responsável de UX da Volvo: “O Volvo EX90 será o mais revolucionário de sempre”

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Falámos com o responsável de UX da Volvo: “O Volvo EX90 será o mais revolucionário de sempre”

A poucos dias da estreia do EX90, estivemos à conversa com Jorge Furuya, responsável pela experiência do utilizador (UX) dos carros Volvo.

O futuro Volvo EX90 marcará o início de uma nova era em termos de segurança na marca sueca, prometendo afirmar-se como uma das propostas tecnologicamente mais avançadas da atualidade.

A revelação final só está marcada para o dia 9 de novembro, mas a Volvo tem vindo a dá-lo a conhecer aos poucos, em especial o interior, que pode ser visto como uma revolução face às propostas atuais da marca.

O design minimalista e acolhedor, típico da região escandinava, continuará a caracterizar o interior, mas será a experiência de utilização, mais simples, que marcará a diferença. Os automóveis atuais têm cada vez mais funcionalidades e tecnologias e o EX90 — que partilha a plataforma SP2 com o Polestar 3 — não será exceção.

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Volvo EX90
Já falta pouco para conhecer o futuro Volvo EX90.

Contudo, para a Volvo é fundamental saber quando mostrar todas essas possibilidades ao condutor, para que de facto elas sejam uma mais valia. E por isso mesmo, só a informação estritamente necessária será mostrada ao condutor, com o sistema de infoentretenimento em si a omitir tudo o que é supérfluo. O objetivo é criar uma experiência de condução mais segura e focada.

De forma a perceber melhor o que o EX90 — e os futuros modelos da Volvo — nos reserva a este nível, estivemos à conversa com Jorge Furuya, responsável pela experiência do utilizador (UX) dos automóveis Volvo, que nos contou (quase) todos os «segredos» acerca da tecnologia que está na base do futuro topo de gama da marca.

Jorge Furuya
Jorge Furuya, responsável pela experiência do utilizador (UX) dos automóveis Volvo

Volvo EX90, o mais revolucionário de sempre

Razão Automóvel (RA): Temos obrigatoriamente que começar por falar no Volvo EX90. Este é o automóvel mais revolucionário que a Volvo alguma vez construiu?

Jorge Furuya (JF): Sim, absolutamente. Acho que é um enorme salto para a empresa. Nós forçamos sempre o design com base nos valores escandinavos da empresa, com as pessoas no centro. Mas o que estamos a tentar trazer é uma enorme quantidade de novos facilitadores de tecnologia para nos ajudar a fornecer uma experiência completamente diferente.

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As equipas estão a forçar os limites, a trabalhar de muito perto com os nossos parceiros, com a Nvidia, com a Google, para tentar que todos esses facilitadores possam chegar da forma mais agradável possível.

E tudo para que quando as pessoas entram no automóvel possam apreciar o interior, a música e possam conduzir de forma agradável sem estar a pensar em todo o poder computacional que está debaixo do capô.

Volvo Unreal Engine
Os ecrãs dos Volvo do futuro vão contar com grafismos desenvolvidos com base no Unreal Engine da Epic Games.

RA: O automóvel está a tornar-se cada vez menos automóvel e mais um objeto versátil que podemos usar para viajar, para entretenimento e para quase tudo, na verdade. É isso?

JF: Sim, é exatamente isso. Muito do trabalho que fazemos é, por um lado, garantir que é o melhor automóvel possível e que tem as tecnologias certas. Mas por outro fazemos muito trabalho a tentar perceber, sobretudo com os elétricos, o que as pessoas podem vir a fazer com estes automóveis e o que na verdade estão a fazer já.

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Uma das coisas boas e que nos mostram que estamos a fazer as coisas bem, é que as pessoas não param de experimentar coisas novas com os seus automóveis. Elas usam-nos para fazer tudo o que possam imaginar. Usam-nos como um Volvo. E isso é muito promissor, no sentido em que as pessoas não se sentem limitadas por ter um automóvel elétrico.

Volvo Concept Recharge Exterior front view
O Concept Recharge antecipa o desenho do EX90

“O automóvel é muitas vezes a sala mais requintada que temos”

RA: Concorda com o facto de que para muitas pessoas o automóvel é o melhor sítio para ouvir música, podcasts e no fundo «consumir» entretenimento? Porque em muitos casos o sistema de som que temos no nosso automóvel é melhor do que o que temos em casa…

JF: Sim, completamente. E nós sabemos pelas conversas que temos com os nossos clientes e através de estudos que fazemos que o automóvel é muito mais do que um meio de transporte. É basicamente uma extensão das nossas casas. Por vezes é a nossa sala mais requintada. E como disseste, por vezes pode ter o (nosso) melhor sistema de som e o computador mais poderoso.

O que nós sabemos é que as pessoas não só desfrutam de música e do facto de terem os seus serviços conectados lá, como o Spotify por exemplo, como também vão para os seus automóveis quando precisam de atender uma chamada importante. Por isso ter um sistema de som fantástico só contribui para essa experiência.

“Os automóveis são um dos objetos mais complexos que fazemos enquanto humanidade”

RA: Tendo em conta que a tecnologia e a experiência de utilização são mais importantes do que nunca, quando estão a desenvolver um novo modelo em que pensam primeiro? No conceito para o interior e tudo o que envolve a tecnologia e a experiência de utilizador, ou em tudo o que está relacionado com a mecânica?

JF: Os automóveis neste momento são provavelmente um dos objetos mais complexos que nós fazemos enquanto humanidade. E algo que é muito único dentro da cultura Volvo é o facto de termos uma política de comunicação aberta.

É muito comum noutras fabricantes automóveis haver equipas isoladas, certo? Do género, a equipa do design exterior não fala com a equipa do interior, que não fala com as pessoas da experiência de utilização. Na Volvo temos uma política de porta aberta. Se visitares os nossos escritórios encontras pessoas a falar sobre têxteis, materiais e acabamentos com as pessoas de experiência de utilização e a tentar perceber o que podíamos estar a fazer.

Obviamente a mecânica do automóvel e a construção feita na fábrica é algo que temos sempre em consideração. Temos sempre que responder a questões fundamentais para o produto físico começar a andar. Quando chega à tecnologia e à experiência de utilização isso é muito importante.

Um dos erros que eu acho que muitas empresas fizeram no passado foi achar que os automóveis estavam isolados do resto do mundo. Nós sabemos que as pessoas já têm que lidar com diversas contas Google para o email e para todas essas coisas. Aquilo que nós sabemos é que as pessoas querem que o seu automóvel esteja simplesmente conectado e que não seja preciso lidar com isso (registos em apps e serviços) uma e outra vez.

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Essa é uma conversa recorrente e algo que é muito único na Volvo é a possibilidade de conversa e desafio constante se houver novas ideias ou melhores formas de fazer as coisas.

Infotainment Volvo
O sistema operativo do Volvo EX90 vai adaptar-se de acordo com a utilização de cada condutor.

Condução autónoma? “Nada de esconder o volante ou de truques de magia elaborados”

RA: A condução autónoma no futuro pode ser vista como uma espécie de contra senso, porque o condutor não estará a conduzir o automóvel e deixa de ser protagonista, mas ao mesmo tempo estará tudo mais centrado nele do que nunca, porque vai ter mais tempo disponível do que antes. Este é um enorme desafio, não?

JF: Sim, absolutamente. Uma das coisas que a Volvo faz de forma única é pensar nestes novos casos de utilização pelos olhos das pessoas que vão usar o veículo. Mas como dizes, é um pouco contra-intuitivo. A parte mais interessante é que a maioria das pessoas no mundo que tem acesso a um automóvel já sabe como é a condução autónoma.

Se alguma vez apanhaste um táxi ou um automóvel, então já conheces a sensação de condução autónoma. E foi aí que começámos, com essa base: se tiveres oportunidade de ser conduzido por um condutor realmente bom, é isso que vais sentir. Sentes-te confortável e seguro ao ponto de dormires ou de começares a fazer outras coisas.

No caso da condução autónoma baseada num computador, temos que nos assegurar que as pessoas percebem quem está a controlar o veículo e se precisam de dar alguma assistência ou não. Por isso muito do nosso trabalho vai para essa área.

Nós acreditamos mesmo que se as pessoas acham que devem assumir o controlo do automóvel nós devemos entregá-lo imediatamente. Nada de esconder o volante ou de truques de magia elaborados. A segurança é o nosso pilar principal e nós queremos que continue a sê-lo.

Câmara interior deteção condutor
Volvo EX90 terá um sistema no interior que utiliza duas câmaras que são capazes de detetar sinais precoces de que o condutor não estará nas suas melhores condições, através da observação dos seus padrões do olhar.

RA: Nesse cenário as pessoas vão sempre conseguir ver o que o automóvel está a fazer no painel atrás do volante, certo?

JF: Sim, uma das coisas que o EX90 vai começar a trazer para o mundo é esse nosso ponto de vista. Nós sabemos que normalmente o maior desafio em torno da condução autónoma é a comunicação entre o veículo e as pessoas que estão no seu interior. Por isso, uma das coisas que vamos começar a ver mais é como nós podemos fazer isto da forma mais simples possível.

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Volvo EX90 terá sistema que «aprende» com a utilização

RA: E sobre o novo sistema de infoentretenimento do EX90. Vai ser capaz de aprender e adaptar-se ao longo do tempo?

JF: É essa a visão e é isso que estamos a tentar alcançar. Esse é um dos benefícios da forma que nós estamos a tentar desenhar este veículo e os que se seguem. Nós estamos a pensar neles como plataformas. É quase como quando vais para casa e tens uma coluna inteligente. Falas para a coluna o que tu queres e «sabe» qual o teu serviço favorito.

Volvo sensores

Nós vemos isso e queremos fazer melhor, porque este (o automóvel) é o teu espaço, certo? Tu entras neste compartimento e queres ter a tua multimédia e os teus contactos. O que nós podemos acrescentar do ponto de vista do automóvel é a dinâmica do veículo e as preferências de cada um.

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Se tens um conjunto específico de preferências e estás constantemente a mudar de automóvel, uma das coisas que vamos fazer é ser contextualmente mais reactivos. E vamos tentar apresentar isso e ir atualizando (ao longo do tempo). Por isso, se os teus hábitos mudarem e se começares a conduzir mais com um só pedal e quiseres ativar e desligar essa funcionalidade, nós vamos assegurar-nos de que isso te será apresentado quanto tu precisares.

Terceiro ecrã? Só se houver uma função clara para ele…

RA: Eu sei que a Volvo está focada no minimalismo, mas há uma nova tendência na indústria: um terceiro ecrã diante do passageiro dianteiro. O que pensa disso? Podemos ver a Volvo a fazer isso no futuro?

JF: O que posso dizer-te é que nós não começamos pela tecnologia em si. Nós começamos por perceber o que as pessoas realmente querem e o que não queremos é acabar numa situação onde simplesmente imitamos outras soluções tecnológicas.

Nós queremos ter a certeza que percebemos quando há um desejo das pessoas e não queremos apenas “colocar um ecrã”. Porque colocar um ecrã diante das pessoas é a parte mais fácil. Então, o que queremos fazer é que quando colocamos um novo display no automóvel temos que ter a certeza de que o conteúdo é único e acrescenta valor para as pessoas.

Painel instrumentos volvo ex90
Atrás do volante teremos um pequeno ecrã que vai mostrar informações simples e apenas relacionadas com a condução, tais como velocidade, autonomia, sinais de trânsito e dados relativos aos sistemas de auxílio à condução.

RA: A Volvo continua a apostar apenas nos ecrãs centrais verticais. Será que a Volvo poderá vir a oferecer uma solução com um ecrã que pode rodar e ficar horizontal para que possamos ver filmes por streaming nos nossos automóveis?

JF: Infelizmente não posso falar do futuro, mas posso dizer que estamos constantemente em diálogo e que passamos o máximo tempo possível a observar como as pessoas usam os nossos produtos e a perceber aquilo que é uma oportunidade para nós.

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O que quero dizer é que o problema não se resume à orientação do ecrã. O problema que temos de perceber, caso as pessoas comecem a usar os seus automóveis como uma sala de cinema, é: como criamos a melhor experiência de cinema para eles?

Os ecrãs dos Volvo do futuro vão contar com grafismos desenvolvidos com base no Unreal Engine da Epic Games.

Smartphone enquanto chave? Talvez…

RA: Será possível aceder ao Volvo EX90 apenas com o nosso smartphone?

JF: Sem entrar em muitos detalhes, posso dizer-te que uma das coisas que queremos fazer é dar várias opções para aceder ao automóvel. E voltamos ao mesmo. Nós não olhamos para o problema e questionamos “será que um telefone pode fazer isto?” ou “será que um automóvel pode fazer isto?” Não.

O problema que nós sabemos que existe é que as pessoas querem ser reconhecidas pelos seus automóveis o mais rápido possível e querem entrar nos seus automóveis da maneira mais tranquila possível.

Então, nós estamos a olhar para todas as tecnologias que nos possam ajudar a oferecer isso às pessoas. E algumas delas podem obrigar a usar o smartphone como chave digital. Mas estamos a tentar perceber o que mais pode resolver esse problema.

Experiência passada na Amazon

RA: Vi no seu currículo que foi Senior Design Manager no projeto Alexa, da Amazon. Que lições aprendeu que agora pode aplicar a um automóvel?

JF: Essa é uma pergunta muito boa. Algumas das lições que eu trago do meu passado são sobre como perceber melhor como a tecnologia realmente funciona, como é construída e o que podes fazer com ela.

Volvo Google
O EX90 vai permitir integração com o assistente da Google

No que toca a experiências passadas, uma informação muito boa que trouxe comigo é que se começas a usar voz num contexto de um produto digital, as pessoas tendem a assumir que há muito mais inteligência (no produto) do que na verdade há e isso pode gerar confusão.

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Então, para mim, foi uma experiência de aprendizagem para agora dizer “eu sei quando isto funciona e eu sei quando é a melhor opção ou não”. Por isso sim, ajudou imenso a perceber como trazer novas tecnologias para uma nova plataforma.

Volvo rima com segurança

RA: A Volvo dá sempre prioridade à segurança e o foco do futuro EX90 é o de melhorar a experiência de utilização e tornar tudo mais simples, intuitivo e direto, mas são muitos os acidentes que acontecem porque as pessoas estão distraídas com os seus ecrãs. Concorda?

JF: Absolutamente. A segurança é um dos nossos três pilares. Nós falamos sempre de segurança, sustentabilidade e personalização como sendo os três pilares da empresa. Mas obviamente temos um grande legado na parte da segurança.

Volvo EX90 sensores
O Volvo EX90 vai contar com um conjunto de sensores que inclui oito câmeras, cinco radares, 16 sensores ultrassónicos e um sensor LiDAR

Por isso, quando as pessoas nos perguntam coisas como “e então os botões físicos?” ou “e os ecrãs?”, nós não estamos apenas a decidir no momento um ou outro. Nós realmente fazemos as nossas diligências para perceber se tivermos um ecrã, qual é a forma mais segura de apresentar a informação? E se tivermos botões, qual é a forma mais segura possível de utilizar esses botões?

Por exemplo, havia telemóveis táteis antes do iPhone. A tecnologia estava lá, mas a maneira como era usada não era tão atraente para que as pessoas a começassem a adotar. E para nós é a mesma coisa. Não queremos apenas pegar na tecnologia, queremos ter a certeza de que ela acrescenta valor e ajuda a manter as pessoas o mais seguras possível.

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