Antevisão
Modelos de segmento B da FCA mudam para plataforma PSA antes do tempo
A FCA parou o desenvolvimento de cinco modelos de segmento B para que estes mudem para a plataforma CMP do Groupe PSA ainda antes da fusão estar terminada.

“Caro fornecedor, queremos informá-lo, em nome da FCA Itália e FCA Polónia, que o projeto em relação à plataforma (para modelos) de segmento B da Fiat Chrysler foi interrompido devido a uma mudança tecnológica que ocorre. Por isso, pedimos-lhe que pare imediatamente toda a pesquisa, desenvolvimento e atividades de produção, de modo a evitar custos e despesas adicionais.”
Foi este o conteúdo da carta que a FCA (Fiat Chrysler Automobiles) enviou no final de julho aos seus fornecedores, revelando a passagem esperada, ainda que prematura, para a plataforma CMP (Peugeot 208/2008, Opel Corsa/Mokka, Citroën C4, DS 3 Crossback) do Groupe PSA para os seus modelos de segmento B.
Faz sentido. Afinal a FCA e o Groupe PSA vão fundir-se num novo gigante, batizado de Stellantis. Se o principal objetivo da fusão passa por obter economias de escala, mais vale começar a trabalhar mais cedo do que tarde para as obter.
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Porém, a história não é assim tão simples.
Acordo à parte
O processo de fusão entre a FCA e a PSA só estará terminado no primeiro trimestre de 2021. Só após o facto consumado e serem uma entidade só, é que poderão beneficiar dos menores custos de desenvolvimento (partilhando plataformas e mecânicas), e do maior poder de negociação sobre os fornecedores (maiores volumes previstos, preços mais baixos).
Até lá, a FCA e PSA continuam a ser concorrentes e têm de atuar como tal. Daí a previsão, até há pouco, que os modelos de segmento B em desenvolvimento pela FCA assentassem sobre uma plataforma interna do grupo italo-americano, com data de lançamento prevista a começar em 2022.
Ora, isso significaria que uma mão cheia de modelos de segmento B, com um potencial de volume muito significativo, não contribuiriam para as economias de escala do novo e futuro gigante automóvel durante a próxima década. A Stellantis, após formada, continuaria a ter a este nível (segmento B) duas plataformas distintas em desenvolvimento/produção — um desperdício de recursos.
Para evitar esse tipo de desperdício, a FCA e a PSA contornaram o problema firmando um acordo de colaboração paralelo, à margem da fusão, para o desenvolvimento e produção de veículos com base na plataforma CMP do Groupe PSA. Assim conseguem evitar problemas legais e questões relacionadas com práticas anti-concorrenciais.

Tychy, a mais afetada
A carta enviada pela FCA afeta, sobretudo, a sua fábrica de Tychy, na Polónia, que produz atualmente o Fiat 500 e o Lancia Ypsilon. Será esta fábrica uma das principais responsáveis pela produção dos novos modelos de segmento B da FCA.
De acordo com alguns meios italianos, prevê-se que a produção em Tychy possa atingir até 400 mil unidades por ano, com os novos modelos a serem a mais importante parte desse volume. Agora, todos os trabalhos que já ocorriam foram parados para se iniciarem novos de adaptação da fábrica à plataforma CMP da PSA.

Os cinco modelos de segmento B previstos
De tudo o que se tem ouvido e lido por parte de responsáveis da FCA, estão previstos, pelo menos, cinco modelos de segmento B que transitarão, agora, para a plataforma CMP da PSA.
São eles um novo Jeep, mais pequeno que o Renegade; um novo B-SUV para a Alfa Romeo; um novo Lancia, sucessor do Ypsilon e provavelmente com formato crossover; e dois novos Fiat, que passam por um 500 de cinco portas e a versão de produção do Centoventi que tomará o lugar do Panda.
As declarações de Mike Manley, CEO da FCA, no final de outubro do ano passado, em que a Fiat abandonaria (progressivamente) o segmento A (que lidera), na procura de ainda mais volume e melhores margens, são assim confirmadas.

Déjà vu
Inicialmente, a maior parte destes modelos tinha lançamento previsto no mercado durante 2022, mas a mudança de hardware vai empurrar os lançamentos mais para a frente.
Uma situação que recorda aquela pela qual o Opel Corsa F, atualmente em comercialização, passou. Após a aquisição da Opel por parte do Groupe PSA, e com um novo Corsa praticamente pronto, mas com base GM, foi tomada a decisão de não o lançar.

O Groupe PSA, liderado por Carlos Tavares, decidiu passar o Corsa, um modelo de volumes significativos, para a plataforma CMP (estreada pelo DS 3 Crossback), de modo a evitar custos adicionais durante o ciclo de vida do utilitário, onde se inclui o pagamento de licenças pelo uso de tecnologia GM. Resultado: o lançamento foi adiado 18 meses para que essa “transferência” pudesse ser efetuada.
Será que o lançamento no mercado dos modelos de segmento B da FCA serão também adiados? Muito provavelmente. Se tivermos em consideração o que aconteceu com o Opel Corsa, só veremos os novos modelos de segmento B da FCA, já assentes sobre a plataforma francesa, chegar no final de 2023 ou mesmo em 2024.
Nessa altura, e já sob o signo da Stellantis, as estimativas dos seus responsáveis apontam para que em 2025 estejam a ser produzidos ao ano 2,6 milhões de veículos com base CMP.
Fontes: Automotive News, Corriere de la Sera.
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