Ensaio “É o novo normal”. Testámos o Opel Corsa-e… o Corsa 100% elétrico

Desde 32 610 euros

“É o novo normal”. Testámos o Opel Corsa-e… o Corsa 100% elétrico

"É o novo normal" tem sido uma das expressões que mais temos ouvido nos dias que correm, consequência da disruptiva pandemia. Expressão que encaixa também que nem uma luva ao Opel Corsa-e.

Opel Corsa-e
© Fernando Gomes / Razão Automóvel

Porquê classificar o Opel Corsa-e de “novo normal” quando os 100% elétricos ainda são uma tão pequena parte do mercado, apesar de os seus números — em modelos e vendas — continuarem a crescer?

Bem… Resumidamente, entre os muitos elétricos que já conduzi e testei — desde o balístico (em linha reta) Tesla Model S P100D ao diminutivo Smart fortwo EQ —, o Corsa-e foi o primeiro elétrico que me pareceu como o mais… normal, e… não, não é uma crítica negativa.

Há ainda um efeito novidade sobre tudo o que é elétrico, mas o Corsa-e entra tão de mansinho no nosso dia a dia que não é preciso muito tempo para nos sentirmos totalmente à vontade com ele — é “apenas” mais um Corsa, mas com um motor elétrico. O Corsa-e não obriga a digerir linhas futuristas ou quanto muito… dúbias e não obriga a reaprender como interagir com o interior.

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Opel Corsa-e
© Fernando Gomes / Razão Automóvel

Conduzir o Corsa-e…

… é como conduzir um automóvel com caixa automática, com a vantagem de ser ainda mais suave na sua ação, pois não há passagens de caixa. Como a quase totalidade dos elétricos, também o Corsa-e tem apenas uma relação só.

A única diferença é o modo B, que podemos ativar no manípulo da transmissão. Este aumenta a intensidade da travagem regenerativa e rapidamente nos habituamos a usá-lo e a depender dele em condução urbana, permitindo recuperar o máximo de energia em desaceleração e estender a autonomia possível.

Consola central
Apesar do interior de design distinto, é fácil encontrar componentes de outros modelos PSA, como o manípulo da caixa ou o seletor dos modos de condução, que podia estar melhor posicionado. © Fernando Gomes / Razão Automóvel

De resto é a suavidade que marca a experiência de condução deste elétrico. O Corsa-e tem prestações céleres, mas não são entregues abruptamente, sendo antes muito agradáveis na sua disponibilidade. Os 260 Nm de binário máximo estão sempre disponíveis à pequena distância de um premir de acelerador,

Também não esperes ficar colado ao banco ao esmagar o acelerador — são 136 cv, mas também são mais de 1500 kg.

Em condução normal, no entanto, nem sentimos esses quilos todos. Mais uma vez a disponibilidade do motor elétrico disfarça a elevada massa do Corsa-e, com este a caracterizar-se por um trato leve e até ágil. Só que quando o levamos para uma estrada mais serpenteante e enrugada, rapidamente atingimos os limites dessa ilusão.

Opel Corsa-e
© Fernando Gomes / Razão Automóvel
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Zona de conforto

Mesmo com os reforços estruturais anunciados para lidar com os 300 kg a mais que o separam do equiparável 1.2 Turbo de 130 cv, o Corsa-e fica fora da sua zona de conforto quando exploramos de forma mais urgente o seu potencial dinâmico — algo que não acontece com os Corsa com motor de combustão.

Parte da “culpa” advém do acerto dinâmico orientado para o conforto e também da aderência algo limitada que os Michelin Primacy providenciam — 260 Nm instantâneos e um pisar mais abrupto do acelerador faz com que o controlo de tração tenha de trabalhar com mais afinco.

É, no entanto, possível de manter uma progressão rápida em qualquer estrada. Temos é de adotar um estilo de condução mais suave e menos impetuoso, sobretudo em relação às ações sobre a direção e acelerador.

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Refinado q.b.

Não é a mais acutilante proposta do mercado, mas por outro lado temos à disposição um companheiro refinado q.b. para o dia a dia. O isolamento acústico está num bom plano, sem ser referencial. Nota-se um ruído aerodinâmico a velocidades mais elevadas com origem no pilar A/retrovisor, e o ruído de rolamento é também, por vezes, percetível em demasia. Neste último ponto poderá ter a ver com a nossa unidade em específico, que trazia as opcionais e maiores rodas de 17″ e pneus de perfil 45 — de série vem com jantes de 16″.

Jantes de 17"
O nosso Corsa-e vinha com as opcionais jantes de 17″ © Fernando Gomes / Razão Automóvel

O motor elétrico faz-se ouvir através de um zumbido (não incomodativo) que mais parece vir do universo Star Wars e o conforto a bordo é elevado, seja pelos bancos, seja pelo acerto da suspensão. Apenas as irregularidades mais abruptas provocam dificuldades à suspensão em digeri-las, resultando em batidas um pouco mais fortes e sonoras que o desejado.

Apesar da autonomia máxima anunciada algo limitada de até 337 km, o Corsa-e reúne, assim, fortes argumentos como estradista graças ao conforto proporcionado e ao refinamento demonstrado.

Bancos dianteiros
Os bancos dianteiros são confortáveis, mas podiam oferecer mais suporte ao corpo quando em condução mais empenhada. © Fernando Gomes / Razão Automóvel

Vem ainda equipado com assistentes à condução que facilitam essa tarefa, como o cruise control adaptativo. Este acelera e desacelera automaticamente de acordo com os limites de velocidade ou caso haja um veículo mais lento à nossa frente. No entanto, fica um reparo para a sua atuação, pois quando desacelera, é algo pronunciado.

Não é difícil extrair 300 km reais por carga com uma condução despreocupada. Os consumos oscilaram entre os 14 kWh/100 km a velocidades moderadas e os 16-17 kWh/100 km num uso misto, entre cidade e autoestrada.

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Mais simples

Ao contrário dos seus “primos” gauleses, como o Peugeot 208 com o qual partilha a base e cadeia cinemática, no interior do Opel Corsa-e deparamos-nos com soluções mais convencionais na forma e operação. Se, por um lado, não consegue “encher o olho” como alguns desses modelos, por outro o interior do Corsa é mais fácil de navegar e interagir.

Temos comandos físicos para a climatização e teclas de atalho bem visíveis e posicionadas para o infoentretenimento. E apesar da integração perfetível do painel de instrumentos digital e dos seus gráficos mais simplistas, a legibilidade não merece reparos. Tudo, ou quase tudo no interior do Corsa-e parece simplesmente estar no sítio certo e funcionar como o esperado.

Se a diferenciação do Corsa em relação ao “primo” 208 é em grande parte bem sucedida, acaba por herdar algumas características deste menos desejáveis. Em destaque, a acessibilidade aos lugares traseiros, prejudicada por uma abertura estreita. Assim como a visibilidade traseira que podia ser melhor, até por se tratar de um veículo que deverá passar maior parte da sua vida na selva urbana.

Bagageira com banco rebatido
Não parece, mas a bagageira do Corsa-e é mais pequena do que dos restantes Corsa, devido às baterias. São 267 l em vez de 309 l. © Fernando Gomes / Razão Automóvel
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É o carro certo para mim?

É muito fácil apreciar o caráter suave e acessível do Opel Corsa elétrico. Caso a tua condução seja maioritariamente urbana, um elétrico como o Corsa-e é a melhor opção para enfrentar o caos urbano — nada bate um elétrico em suavidade e facilidade de uso, além de ser menos stressante.

Mas para ser verdadeiramente o “novo normal” é impossível ignorar dois pontos. O primeiro é o elevado preço pedido por ele, e o outro advém de ser um elétrico, mesmo que pareça ser o mais “normal” deles todos.

Faróis LED
Os faróis LED são de série, mas este Corsa-e trazia os opcionais e excelentes LED Matrix, com assistência automática de controle dos máximos anti-encadeamento e auto-nivelamento. © Fernando Gomes / Razão Automóvel

No primeiro ponto, são mais de 32 mil euros pedidos pelo Corsa-e Elegance testado. São 9000 euros a mais em relação ao Corsa 1.2 Turbo de 130 cv com caixa automática de oito velocidades — é… a tecnologia faz-se pagar. A nossa unidade, para mais, com todos os opcionais que trazia, empurra esse valor acima dos 36 mil euros.

Mesmo sabendo que não paga IUC e que o custo por carregamento será sempre inferior ao de um depósito de combustível, o preço de aquisição pode ser demasiado elevado para conseguir dar o salto para entrar no mundo da mobilidade elétrica.

No segundo ponto, ser um elétrico, obriga ainda a lidar com alguns incómodos que, espero, desapareçam durante o decorrer da década que se avizinha.

Bocal de carregamento
Não engana… Só podia ser elétrico © Fernando Gomes / Razão Automóvel

Entre eles, ter de andar, obrigatoriamente, com um volumoso e pouco prático cabo de carregamento na bagageira — para quando cabos integrados em todos os postos de carregamento ou até carregamento por indução? Ou então conseguir ver uma árvore crescer enquanto esperamos que a bateria carregue (o tempo mínimo de carregamento do Corsa-e é de 5h15min, o máximo de… 25 horas). Ou ainda, consequência do tempo de carregamento, ter de planear onde e quando carregar o carro — nem todos temos uma garagem onde o podemos deixar a carregar durante a noite.

Quando estas questões tiverem respostas apropriadas, aí sim, os elétricos no geral e o Corsa-e no particular, que já mostra eficazmente como será o “novo normal” em condução e operação, terão definitivamente tudo para se impôr como o proclamado “carro do futuro”.

“É o novo normal”. Testámos o Opel Corsa-e… o Corsa 100% elétrico

Opel Corsa-e Elegance

7/10

Bastou passar uns dias aos comandos do Opel Corsa-e para que o dia a dia com um elétrico parecesse a coisa mais natural do mundo, como se fosse uma realidade já instituída. Se estás a considerar o Corsa-e como o teu primeiro elétrico é, sem dúvida, aquele que parece ser de mais fácil e rápida adaptação para quem vem do mundo da combustão. Para todos os efeitos continua a ser "apenas" um Corsa, só que elétrico.
Mais difícil de aceitar é o seu elevado preço — contingências da tecnologia em si e ainda dos baixos volumes de vendas dos elétricos —, apesar das poupanças permitidas em utilização (IUC, carga e manutenção). Os 300 km de autonomia são suficientes para não andarmos sempre ansiosos. Para muitos poderá apenas ser necessário carregar a bateria ao fim de semana.
De resto, é um Corsa, com tudo o que tem de bom e menos bom — montagem em bom plano, confortável e até refinado, peca por acomodações traseiras apenas suficientes e até um diminuído espaço para bagagens em relação aos restantes Corsa.

Prós

  • Performance acessível
  • Refinado q.b.
  • Conforto

Contras

  • Preço
  • Peso excessivo limita aptidões dinâmicas
  • Acessibilidade traseira
  • Bagageira diminuída em relação ao Corsa a combustão

Versão base:€32.610

Classificação Euro NCAP: 4/5

€36.350

Preço unidade ensaiada

  • Posição:Dianteira Transversal
  • Carregamento: Bateria de iões de lítio com 50 kWh
  • Potência: 136 cv
  • Binário: 260 Nm

  • Tracção: Dianteira
  • Caixa de velocidades:  Caixa redutora (uma velocidade)

  • Largura: 4060 mm
  • Comprimento: 1765 mm
  • Altura: 1435 mm
  • Distância entre os eixos: 2538 mm
  • Bagageira: 267-1042 l
  • Jantes / Pneus: 205/45 R17
  • Peso: 1530 kg

  • Média de consumo: 16,6 kWh/100 km; Autonomia máxima de 337 km
  • Emissões CO2: 0 g/km
  • Velocidade máxima: 150 km/h (limitada)
  • Aceleração máxima: >8,1s

Faróis de matriz de LED IntelliLux — 600 €
Pack Câmara Traseira (inclui câmara traseira 180º, sensores de estacionamento, espelhos retrovisores rebatíveis e alerta de ângulo cego) — 700 €
Pack Radar (inclui programador de velocidade adaptativo) — 490 €
Pack Style Preto (inclui tejadilho pintado de preto e vidros traseiros escurecidos) — 400 €
Pack Premium — 1200 € (inclui Rádio IntelliLink com MirrorLink, navegação, ecrã 10", sistema de fechadura sem chave, carregador de telemóvel por indução)
Jantes em liga leve (17” 7J, 205/45 R17 88H) — 350 €.