Opinião Rimac Nevera é o elétrico mais rápido no Nürburgring. Mas só 7min05s?

Elétricos

Rimac Nevera é o elétrico mais rápido no Nürburgring. Mas só 7min05s?

O recorde conquistado pelo Rimac Nevera em Nürburgring mostra o quanto os elétricos precisam de… emagrecer.

Rimac Nevera Nurburgring
© Rimac

O Rimac Nevera obliterou o recorde de volta mais rápida no Nürburgring-Nordschleife entre os elétricos, tendo completado os 20,832 km em 7min05,298s.

Um tempo excelente (a qualquer nível) e 20 segundos menos que o Tesla Model S Plaid, o anterior recordista — o que dá quase um segundo a menos por quilómetro. E não podia ser de outra forma.

Afinal o Nevera adiciona quase 900 cv (!) aos 1020 cv do Tesla e é um hipercarro largo e «rasteirinho» concebido de raíz para o ser, ao contrário da berlina norte-americana.

A Rimac deixou no ar que há margem para fazer melhor, pois as condições nesta tentativa estavam longe de ser as ideais…

… mas, mesmo assim, não deveria ter feito muito melhor?

Não deixa de ser um feito notável, mas talvez o seja menos quando comparamos o elétrico Nevera com outros a combustão.

Por exemplo, o Porsche 911 GT3 (992), com «apenas» 510 cv — quase quatro vezes menos que os 1914 cv dos quatro motores elétricos do Nevera —, é cinco segundos mais rápido (6min59,927s). E não estamos a falar do «monstro» de downforce GT3 RS

O feito conseguido pelo Rimac Nevera fica ainda mais «tremido» quando o comparamos com o atual detentor da volta mais rápida no «inferno verde», o (híbrido) Mercedes-AMG One.

O hiperdesportivo germânico não impressionou muitos em linha reta quando foi (finalmente) lançado — muito por culpa de máquinas como o Nevera —, mas completou uma volta ao Nürburgring em 6min35,183s. Meio minuto mais rápido com menos 850 cv!

É verdade que em linha reta o Nevera não dá hipótese… a praticamente nada. É o carro de produção mais rápido a acelerar do planeta — num dia só bateu 23 recordes, ainda que um ou outro desses recordes já tenham, entretanto, sido reclamados por outros.

Juntem curvas e travagens ao mix, combinado com um asfalto longe de ser perfeito, como é o do circuito alemão, e nem a capacidade incrível de aceleração do Nevera é capaz de anular a diferença para outros supercarros ou até desportivos mais «modestos» como o 911 GT3.

Potência não é tudo

Muitas vezes diz-se que “potência não é tudo” e haverá melhor exemplo do que este? A «lentidão» do Nevera não está na falta de competência dos seus engenheiros — bem pelo contrário… —, mas sim no facto de ser o que é: um elétrico que, como todos os outros, sofre de excesso de peso.

Rimac Nevera Nurburgring
© Rimac

A bateria de 120 kWh que equipa o hipercarro croata, por si só, ultrapassa os 700 kg, um valor superior até aos já de si excessivos 560 kg correspondentes ao corpulento 8.0 W16 tetraturbo e respetiva transmissão de dupla embraiagem do peso-pesado Bugatti Chiron(!).

No total, são 2150 kg de Nevera, um valor manifestamente elevado para este tipo de exercícios. O Porsche 911 GT3 fica-se pelos 1435 kg e mesmo o bem mais pesado Mercedes-AMG One declara 1695 kg.

A diferença é enorme e faz-se sentir onde mais importa: nas travagens e na capacidade de curvar. As leis da física são imperdoáveis. Não há centro de gravidade, vetorização do binário ou downforce que o salve.

Há muito trabalho a fazer

O resultado obtido no Nürburgring pelo Rimac Nevera demonstra que há ainda muito a fazer nos elétricos. Sobretudo em encontrar uma forma mais eficaz de armazenar a energia elétrica que precisam.

As melhores baterias de iões de lítio hoje têm uma densidade energética ridícula- E a prevista para as de estado sólido, apesar de superior, reduzirão apenas numa pequena parte a diferença para a dos combustíveis líquidos como a gasolina.

Enquanto não se reduzir significativamente esse fosso, os elétricos vão continuar a sofrer de excesso de peso. Isto apesar de, ironicamente, terem motores muito mais compactos e leves, com densidades de potência que os de combustão apenas podem sonhar.

Até lá, mesmo os melhores e mais exóticos representantes dos elétricos de alta performance, como o Rimac Nevera, vão continuar a ser batidos em muitos circuitos por esse mundo fora por máquinas a combustão mais modestas.