Primeiro Contacto Testámos o Mercedes-Maybach GLS 600. Superluxo em forma de SUV

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Testámos o Mercedes-Maybach GLS 600. Superluxo em forma de SUV

O primeiro SUV da Mercedes-Maybach, o GLS 600, tem uma qualidade geral tal que torna qualquer viagem, em si mesmo, num destino.

Mercedes-Maybach GLS 600

O Mercedes-Maybach GLS 600 4MATIC é a aposta renovada da (agora) submarca no segmento de superluxo, quase duas décadas depois de ser recriada.

Não será por falta de história que a Maybach tem dificuldades em ombrear com marcas de superluxo como a Rolls-Royce ou a Bentley.

E, na verdade, as três contam com a renomada engenharia automóvel alemã (a Rolls-Royce pertence à BMW e a Bentley à Volkswagen) debaixo dos seus muito exclusivos mantos para ajudar a criar uma auréola de supremacia para qualquer outro automóvel com que se cruzem na estrada.

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Mercedes-Maybach GLS 600

Um pouco de história
Depois de ter sido criada em 1909 (como fabricante de motores para Zeppelins) e de, há exatamente 100 anos, ter fabricado um automóvel que, à data, se afirmou como o expoente máximo da tecnologia sobre quatro rodas, a Maybach dedicou-se a fazer motores para tanques militares durante a Segunda Guerra, tendo desaparecido assim que a paz voltou. A Mercedes-Benz ressuscitou-a em 2002 (depois de não ter conseguido comprar a Rolls-Royce) com dois modelos (57 e 62) de pouco sucesso na Europa. Seria encerrada outra vez em 2013, mas reavivou-a em 2015, agora como submarca de luxo, a Mercedes-Maybach.

A nova tentativa de fazer a marca Maybach singrar, em 2015, surge numa época bem diferente, em que o mercado chinês de superluxo se tornou, com grande diferença, o maior do mundo (desde 2015 que o Mercedes-Maybach Classe S tem vendido a um ritmo anual de 12 000 unidades, a maioria das quais nesse que é o maior mercado automóvel a nível global).

A Mercedes-Benz procura abrir ainda mais esta nova janela de oportunidade para a Maybach, para já com os modelos Classe S e este GLS, que passa a constituir o primeiro SUV de sempre desta marca, num segmento de mercado de SUV de superluxo que, de 7500 unidades em 2018, a nível global, se prevê que possa triplicar até 2023.

E mesmo que uma mente europeia tenha alguma dificuldade em aceitar que um automóvel Mercedes-Benz de nome próprio e Maybach de apelido possa roubar clientes aos aristocráticos pesos-pesados britânicos, é muito provável que a marca alemã matricule quase três em cada quatro GLS 600 precisamente na China, onde a sua imagem de marca é insuperável.

Com a mira na Rolls-Royce e na Bentley

A base rolante e a carroçaria partem da recente terceira geração do GLS, mas nos dois casos são acrescentados pozinhos perlimpimpim para elevar a qualidade geral e a excelência do rolamento para níveis que ameaçam até os seus principais rivais com genes de SUV-limusina, os sumptuosos Rolls-Royce Cullinan ou Bentley Bentayga.

Salta logo à vista a grelha específica com barras verticais proeminentes a combinar com os frequentes cromados na zona envolvente dos para-choques e a estrela da Mercedes de pé sobre a ponta do capô (em estreia num SUV, agora que saiu de todos os Mercedes-Benz “normais”).

Mercedes-Maybach GLS 600

Temos de referir os estribos cromados, que estão recolhidos para não estragar a silhueta elegante do GLS 600, mas que se estendem automática e silenciosamente assim que a porta que está por cima abre, para facilitar as entradas e saídas dos excelentíssimos ocupantes (voltam a recolher automaticamente quando é iniciada a marcha assim que os 15 km/h são superados).

Para tornar o mise-en-scéne ainda mais especial, a carroçaria desce três centímetros nesse momento e o estribo metálico – que aguenta 200 kg – é iluminado, para que possa conservar a sua utilidade de noite.

Os logótipos Maybach nos pilares traseiros marcam também a diferença, mesmo que de forma muito mais discreta do que a pintura da carroçaria em dois tons (um opcional com um custo faraónico na ordem dos 17 500 euros).

Mercedes-Maybach GLS 600

Requintes de malvadez

Se o exterior é sedutor, por dentro o Mercedes-Maybach GLS 600 é quase lascivo tal a proliferação de pele de vaca massajada, que passou a infância a ouvir a 5ª sinfonia de Beethoven para aliviar os nervos, combinada com metal e madeira sempre com níveis de design e qualidade próprios de mobiliário de luxo.

Mas existem diferenças importantes face ao que conhecemos num GLS “normal”: o Maybach tem apenas duas filas de bancos (o GLS transporta até sete pessoas em três) em configuração de cinco ou quatro lugares, sendo esta última a que mais procura deverá ter.

As duas amplas poltronas elétricas traseiras definem novos padrões em termos de conforto, fazendo com que os seus ocupantes (que serão, quase sempre, os mais importantes que viajam dentro do Mercedes-Maybach GLS 600) se sintam a voar por entre nuvens (com a ajuda da suspensão, como veremos).

São aquecidos, refrigerados, têm massagem e podem reclinar até uma posição mais horizontal, além de disporem de apoio extensível de pernas e se juntarmos a possibilidade de escolher um de 64 tons da iluminação ambiente, de colocar uma playlist de chillout no sistema de som 3D da Burmester e de pulverizar o ar com uma fragrância de osmanto perfumado então a qualidade de vida a bordo roça a perfeição.

Na consola que serve estes dois lugares pode haver uma mesa retrátil, um mini-frigorífico premium (a troco de uns 1000 euros) e base para flutes cromados para champanhe (750 euros) e um tablet amovível de 7” ao centro, que se junta aos dois monitores de 11,6” nas costas dos bancos dianteiros.

Menos passageiros e menos bagagem

Como existe menos uma fila de bancos, os da segunda fila foram montados 12 cm mais atrás e 3 cm mais para dentro para afastar “suas senhorias” dos painéis das portas.

É uma maneira original de “criar” um Maybach SUV com distância entre eixos longa (carroçarias muito apreciadas pelos chineses e americanos), apesar desta ser a mesma do GLS “normal” (o Rolls e o Bentley também não têm versão XL, ao contrário do Range Rover que existe com distância entre eixos esticada).

Mercedes-Maybach GLS 600

O banco do passageiro dianteiro também pode ser chegado à frente a partir da segunda fila de bancos, com um comando elétrico, para gerar um espaço para pernas de 1,34 m para o passageiro traseiro direito relaxar por completo. Ahhhhhh…

A bagageira tem um volume de 520 l, muito menos do que os 890 l disponíveis no Mercedes-Benz GLS com configuração de cinco lugares, porque foi criada uma divisória fixa entre a segunda fila e a bagageira, que os alemães dizem melhorar o isolamento acústico e térmico desta “sala de estar”.

Não trará grandes inconvenientes à maior parte dos futuros clientes que, pelo contrário, vão ter mais dificuldade em aceitar que o conceito do tabliê/sistema operativo (com dois ecrãs de 12,3” lado a lado) pareça “datado” quando comparado com o do novo Mercedes-Maybach Classe S (W223) – afinal de contas, o Mercedes-Maybach GLS deriva do GLS que deriva do GLE…

Ou que, apesar de custar o mesmo que alguns apartamentos de três assoalhadas, seja necessário pagar principescamente pelo pacote de pele Designo (15 000 euros), pelo head-up display mais sofisticado (com Realidade Aumentada), pelos jatos de água aquecida para o para-brisas, pelo sistema de fecho assistido das portas ou por alguns sistemas de assistência à condução.

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V8 em vez de V12

Outro campo em que o Mercedes-Maybach GLS 600 pode desiludir alguns potenciais clientes que exigem o melhor é o da motorização, neste caso um V8 de 4,0 l biturbo, com hibridização “leve”, ou seja, um pequeno motor elétrico de 22 cv e 250 Nm com funções de motor de arranque/alternador, para ajudar nos arranques, acelerações e permitir recuperar alguma da energia nas desacelerações e travagens, além de desligar metade dos cilindros (no modo Comfort entre as 800 e as 3250 rpm).

Mercedes-Maybach GLS 600

Se estes dois últimos recursos técnicos são ecologicamente muito corretos, a verdade é que poderão não chegar para compensar a inexistência de um motor V12, ao contrário do que acontece com o Rolls-Royce Cullinan e o Bentley Bentayga e, quase certo, o próprio Mercedes-Benz Classe S dentro de alguns meses.

Esta “desilusão” não terá tanto a ver com os níveis de prestações que o Mercedes-Maybach GLS 600 é capaz de rubricar (mesmo com as suas três toneladas de peso, incluindo condutor e um passageiro, dispara até aos 100 km/h em 4,9s e atinge 250 km/h) como com a condução mais quotidiana, uma vez que se nota menor fulgor nas acelerações intermédias, especialmente quando guiamos em estradas sinuosas de uma única faixa em cada sentido e há necessidade de fazer frequentes ultrapassagens.

Um “tapete” voador

Essa desvantagem relativa para os motores V12 não impede que o binário de 730 Nm pareça não acabar, também com a ajuda do bom funcionamento da caixa automática de nove velocidades que consegue extrair o melhor do V8 biturbo desde os mais baixos regimes e até às 6200 rpm. Deixar as rotações irem além disso poderia gerar demasiado ruído, apesar dos vidros duplos do habitáculo, quando tudo o que se quer é um leve ronco de fundo a assinalar a sua presença.

Mercedes-Maybach GLS 600

É rápida nas passagens de caixa quando se impõe, suave quando é o que conta e se escolhemos o programa de condução Maybach, esta caixa arranca sempre em 2ª, ao mesmo tempo que o sistema stop/start é desativado, a resposta do acelerador é suavizada (tudo para reduzir ao mínimo quaisquer vibrações ou solavancos passíveis de incomodar a “preciosa carga”) e a suspensão pneumática passa ao seu funcionamento mais suave.

Ativando o Controlo em Curva, o Mercedes-Maybach GLS inclina-se ativamente (até 3º) para o interior da curva da mesma forma que um motociclista o faria, para tornar as forças laterais ainda menos percetíveis. Haverá condutores que não apreciem esta contrapressão das forças centrífugas que ocorrem em curva (cria uma sensação contranatura por o seu corpo não se inclinar para o exterior da mesma) e, para esses casos, é naturalmente bom que o sistema se possa desligar.

A esse propósito há que enaltecer a maneira como os movimentos (transversais e longitudinais) da carroçaria são contidos, principalmente tendo em conta o peso, a altura e a suspensão suave deste super SUV.

Mercedes-Maybach GLS 600

E também a capacidade de a suspensão “engolir” até as irregularidades mais grosseiras na estrada, mesmo tendo em conta as jantes de 22” e os pneus de baixo perfil (40 à frente e 35 atrás). Tudo mérito da boa coordenação entre o trabalho da câmara que faz o rastreamento da estrada, da suspensão pneumática com três câmaras e dos amortecedores eletrónicos variáveis, com a particularidade de possibilitar que a mola e as forças de amortecimento sejam definidas individualmente em cada roda.

E porque o Mercedes-Maybach GLS não deixa de ser um SUV 4×4, há ainda a mencionar a capacidade de reboque de 3,5 toneladas e o modo de condução específico que eleva a suspensão para passar algum obstáculo mais saliente e regula a resposta do acelerador e do controlo de tração para melhorar a condução fora do asfalto.

Há ainda o “bounce mode” (modo de saltitar) dentro do programa Off-road que serve para permitir que o carro se liberte a si mesmo se ficar preso na areia. Como? A suspensão sobe e desce automática e continuamente o que faz com que a pressão dos pneus no piso diminua e aumente repetidamente, melhorando a tração. Mesmo que venha a ser mais usado para fazer filmes para o Instagram do que outra coisa, poderá ter utilidade quando algum sheik ficar atascado enquanto se diverte nas dunas do Dubai…

Mercedes-Maybach GLS 600
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Autores: Joaquim Oliveira/Press-Inform.

Testámos o Mercedes-Maybach GLS 600. Superluxo em forma de SUV

Primeiras impressões

7/10
NOTA: 7,5. Sem a aristocrática imagem dos SUV rivais da Rolls-Royce e da Bentley, nem o motor V12 destes dois super SUV ingleses, o Mercedes-Maybach GLS 600 pode ter algumas dificuldades para se impor entre a sua exigente clientela (mais na Europa do que na China, para onde serão exportadas, a partir da fábrica no Alabama, EUA, 2/3 das unidades produzidas). A qualidade geral (materiais, construção) é insuperável, mas o conceito do painel de bordo e de experiência do utilizador já parecem um pouco datados, se o comparamos com o do novo Classe S. O requinte a bordo é difícil de igualar e a muito evoluída tecnologia ao serviço do chassis/suspensão apenas reforça essa sensação de que a viagem pode ser, em si mesma, um destino. Não terá versão híbrida plug-in, o que se lamenta, não porque o cliente-alvo precise de poupar na sua fatura energética, mas por a proteção ambiental preocupar cada vez mais os clientes afluentes (em alguns casos mais por uma questão de imagem).

Data de comercialização: Março 2021

Prós

  • Luxo e qualidade interior
  • Conforto de rolamento
  • Exclusividade em forma de SUV

Contras

  • Sem motor V12, nem híbrido plug-in
  • Painel de bordo “datado” em relação ao Classe S
  • Falta de “cachet” da submarca Maybach