Crónicas Carros que são mais bonitos hoje do que quando foram lançados: BMW Série 5 E60

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Carros que são mais bonitos hoje do que quando foram lançados: BMW Série 5 E60

O design da BMW anda pelas bocas do mundo, nem sempre pelas melhores razões. Não é a primeira vez, como o BMW Série 5 E60 nos faz recordar.

BMW Série 5 E60

Há uns anos, o Guilherme Costa escreveu uma crónica de título idêntico sobre o Citroën C6. Como o título deixava adivinhar, tratava do desenho alternativo e nada consensual do C6, e em como o sentimento de estranheza inicial deu lugar, com o passar dos anos, a uma apreciação muito mais positiva da sua parte. Recupero a temática para falar do BMW Série 5 E60 (2003-2010), mas não só.

Quero explorar, sobretudo, o possível paralelismo entre o período tumultuoso e fortemente criticado na altura (e, em parte, hoje) do design da BMW, com aquele de hoje, igualmente fonte de controvérsia, até nos fãs mais acérrimos da marca do (cada vez maior) duplo rim.

Se recuarmos até 2003, quando o BMW Série 5 E60 foi revelado ao mundo, já o design da marca bávara andava nas bocas de todos e nem sempre pelas melhores razões.

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BMW Série 5 E60

Chris Bangle, então diretor de design do Grupo BMW, tinha encetado anos antes uma enorme revolução no desenho dos modelos da marca, motivado, em parte e curiosamente, pelas críticas de que os BMW eram todos iguais e aborrecidos de olhar, só mudando o tamanho entre eles — nunca estamos contentes com nada, aparentemente…

O choque aconteceu em 2001, com a revelação do Série 7 E65 e o seu infame Bangle butt (“rabo do Bangle”) — na realidade, o derrière do E65 é da autoria de Adrian van Hooydonk, o atual diretor de design do Grupo BMW. Foi um corte radical com o passado, trocando o mix de elegância/dinamismo e algum clacissismo formal do antecessor (E38) por uma nova linguagem formal, mais expressiva, ainda que carente de graciosidade.

Rapidamente foi apelidada pelos media de flame surfacing ou superfícies flamejantes pela sua expressividade, que encontraria no primeiro Z4 a sua mais pura interpretação, lançado um ano depois — eram estes os dois extremos visuais da nova linguagem determinada por Bangle.

O mundo (automóvel) e os fãs da BMW estavam em polvorosa… certamente esta “loucura” não podia continuar e foram muitas as vozes a pedir a demissão de Chris Bangle. O terceiro ato, o Série 5 E60, não apaziguou os protestos.

BMW Série 5 E60
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O BMW Série 5 E60 (felizmente) dispensava o Bangle butt e era melhor proporcionado, tinha superfícies mais tensas, linhas de aspeto mais dinâmico e até elegante que o Série 7 E65. Mas o corte para o E39, o antecessor, não podia ser maior — convém recordar que quando o E39 foi lançado em 1995, foi considerado por muitos como um dos desenhos mais “sem sal” da BMW, mas hoje é consensualmente apreciado pela sua discrição e elegância.

Ao contrário da opinião do Guilherme sobre o Citroën C6, que foi mudando com o tempo, a minha nunca mudou sobre o Série 5 E60… Continuo a considerá-lo um dos melhores exemplares da era Bangle, juntamente com o Z4. Sou da opinião até que a BMW deveria ter insistido numa segunda geração de modelos com esta linguagem, para refiná-la (sobretudo injetar-lhe uma dose de elegância, que tanto lhe fez falta) ao invés de abandoná-la — basta ver o sucessor do Série 5 E60, o discreto e “inofensivo” F10.

BMW Série 5 E60 Touring

O Série 5 E60 envelheceu bem, como um bom vinho. É como se tivesse sido lançado, tal e qual o C6 (um contemporâneo do E60), antes do tempo devido, com meio mundo a precisar de quase década e meia de exposição ao modelo para o conseguiar apreciar devidamente. Hoje em dia parecem ser mais as opiniões positivas e apreciadoras sobre o E60 do que o contrário.

Hoje o design da BMW continua a ser um tópico quente…

Desde o Série 1 F40 ao restyling do Série 7 G11/G12, passando pelo X7 (G05) e, mais recentemente, os novos Série 4 (G22, G23, G26) e iX (I20), as opiniões têm sido mais inflamadas que menos. O maior responsável pelo “desatino popular”? O duplo rim, elemento máximo da identidade BMW, parece não parar de crescer de modelo para modelo, dominando de forma contundente as suas faces.

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Além do mais, temos visto o diluir de certos elementos visuais que tradicionalmente associamos à identidade da marca, onde destaco o Hoffmeister Knick (do original em alemão) — o corte ou truncagem do canto da área vidrada no pilar C ou D — do qual só parecem sobrar vestígios nos mais recentes modelos.

Tal como aconteceu há duas décadas, o departamento de design da BMW, agora liderado por Adrian van Hooydonk (Grupo BMW) e Domagoj Dukec (marca BMW), procura lançar o design da marca em direção ao futuro. Tal como aconteceu há duas décadas, a mudança tem sido alvo de enorme resistência e controvérsia, com as opiniões negativas a sobreporem-se em larga escala às positivas.

Será que daqui a duas décadas conseguiremos olhar para trás e apreciar positivamente o desenho de um Série 4 Coupé ou de um iX, como aconteceu com o Série 5 E60? Ou será que existem diferenças fundamentais e concetuais a separar o que Chris Bangle fez há duas décadas e o que Adrian van Hooydonk faz agora?

BMW M5 E60