Crónicas Será verdade que nunca deveremos conhecer os nossos heróis de quatro rodas?

Heróis de quatro rodas

Será verdade que nunca deveremos conhecer os nossos heróis de quatro rodas?

Certamente já ouviste a expressão de que nunca devemos conhecer os nossos heróis pois a desilusão será grande. Sobretudo se forem heróis de quatro rodas.

Ferrari F40
Theodore W. Pieper ©2017 Courtesy of RM Sotheby's

Todos nós os temos. Heróis, pois claro… E se estás a ler estas palavras é porque também, quase de certeza, tens heróis de… quatro rodas.

Heróis de quatro rodas são aquelas máquinas que, fosse qual fosse a razão, criaram em nós, ainda mentes jovens e influenciáveis, uma forte e duradoura impressão que permaneceu até hoje. Máquinas que, aos nossos olhos, parecem já só existir num plano mitológico, inatingíveis, colocadas num pedestal acima de todos os outros.

Conseguirá alguma máquina de quatro rodas “sobreviver” a tão elevadas expetativas quando, finalmente, temos aquela oportunidade única de a poder experienciar? O mais provável é… NÃO! A realidade é assim, por vezes cruel e uma desmancha-prazeres.

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Um dos meus “heróis”… Talvez um dia o possa conhecer.

Mas há esperança… como veremos mais à frente.

Há (uns bons) tempos publicámos um vídeo de Davide Cironi, um conhecido youtuber italiano, onde o próprio se deparou com essa oportunidade rara de conhecer um dos seus heróis de quatro rodas.

Tratava-se do Mercedes-Benz 190 E 2.5-16 Evolution II, o mais extremista e extravagante dos baby-Benz. Um carro que marcou uma geração, Cironi incluído, graças aos seus feitos no DTM e, porque não, pela sua aparência — como é que aquela agressiva e fascinante criatura “alada” podia ser um Mercedes?

Bem… O encontro de Cironi com o seu herói de quatro rodas não correu como o esperado; o 190 E 2.5-16 Evolution II foi uma… desilusão. Recorda esse momento no seu vídeo:

Para quê recordar tão desapotante momento? Mais uma vez, por causa de Davide Cironi e de um outro seu encontro com outro dos seus heróis de quatro rodas. E não podia ser “animal” mais reverenciado, o Ferrari F40.

O último Ferrari a ser supervisionado por Enzo, uma máquina diabólica e paradoxal que tanto servia de montra tecnológica, como não parecia ter considerações de qualquer espécie pelo mundo civilizado — o contraste para o também tecnologicamente avançado Porsche 959, nascido na mesma altura, não podia ser mais gritante.

O F40 apaixonou tanto como intimidou, impressionou e fascinou muitos (eu incluído), alimentou sonhos, cresceu como lenda e como que se tornou quase mitológico, inalcançável. Um ser analógico, mecânico, visceral que ainda hoje é considerado uma das derradeiras experiências de condução. Será que o F40 é mesmo tudo isso do qual temos lido e visto ao longo das décadas? Davide Cironi teve oportunidade de responder a essa pergunta:

Sim, conhecer os nossos heróis de quatro rodas será sempre um risco, e quando acontece, o confronto com a realidade poderá ser desapontante, um destruidor de sonhos e fantasias, de uma realidade idealizada. Mas como Cironi nos mostra neste último vídeo, também pode ser muito mais do que estávamos à espera… A descoberta, entusiasmo, a emoção são verdadeiramente e positivamente contagiantes!

Devemos conhecer os nossos heróis (sejam de quatro rodas ou não)? O bom senso talvez nos diga que é melhor não… Mas também só se vive uma vez…