Estão a chegar os automóveis que fundem o real e o virtual

Para muitos condutores é preciso algum tempo para se habituarem às setas, linhas e sinais de trânsito que lhes vão aparecendo, cada vez mais, nos numerosos ecrãs dentro do automóvel.

A Volkswagen, por exemplo, foi um pouco radical quando decidiu dotar a família ID com um painel de instrumentos mínimo e confiar na projeção de informação no para-brisas (head-up display) para colocar toda a informação mais relevante no campo de visão do condutor.

Uma solução que depois foi seguida pela Audi e pela a Skoda nos modelos que usam a mesma plataforma MEB (Q4 e Enyaq).

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Até porque num futuro mais ou menos distante — quando os carros-robô deixarem de ser um projeto adiado —, o condutor irá transformar-se também em passageiro, mesmo que inicialmente apenas em part-time.

A Realidade Aumentada e Virtual

Já hoje, o progresso tecnológico permitiu expandir a informação de suporte à condução para um formato de Realidade Aumentada (AR) em vários automóveis. Isso quer dizer que o condutor passa a ser «sugado» para o centro da ação graças à interação de olhos, da projeção e do local onde se encontra.

Ou seja, em vez de uma aborrecida seta a apontar para a próxima mudança de direção, a seta pode agora mover-se e mudar de cor de forma a guiar o condutor até ao seu destino mais eficazmente. E assim deixa de ser necessário estar a desviar o olhar para o ecrã central ou para o painel de instrumentos para seguir as instruções visuais que levam ao destino desejado.

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Como funciona o head-up display

O componente técnico decisivo do head-up display com recursos de Realidade Aumentada (AR) é a chamada Unidade de Geração de Imagens (PGI, ou Picture Generation Unit), que se encontra escondida dentro do painel de bordo.

Através de um ecrã LCD brilhante que envia feixes de raios de luz para dois espelhos, com uma ótica especial a separar o plano mais próximo e mais distante um do outro. Estes espelhos direcionam os raios para um espelho côncavo com regulação elétrica e, a partir daí, as informações são projetadas no para-brisas, no campo de visão do condutor.

O chamado Criador de Realidade Aumentada serve como gerador de imagens e ajusta o posicionamento dos símbolos de acordo com a paisagem circundante. A câmara frontal, os sensores de radar e o mapa de navegação fornecem os dados necessários para a estrutura técnica geral.

A vida no grande ecrã

Nas últimas décadas, a humanidade habituou-se a ter grandes (e depois enormes) ecrãs nas suas salas de estar para assistir aos seus filmes e jogos preferidos: quanto maiores, melhor.

Por isso, o utilizador já está «treinado» para esta nova vaga de ecrãs cada vez maiores também dentro do automóvel, sendo já normal existirem monitores com 13” a 17” ou até mesmo de 30”, em modelos de luxo quando combinados entre si.

Nas marcas chinesas já é possível ter um vislumbre do que aí vem, mas também no Mercedes-Benz Vision EQXX, o protótipo cujo enorme head-up display se estende a toda a largura do painel de bordo (na sequência do que conhecemos nos modelos EQE e EQS, já nas nossas estradas) e que pode servir para praticamente qualquer tipo de projeção.

Para onde «caminham» os automóveis?

O Assistente Virtual MBUX da Mercedes-Benz, que será estreado na Feira de Eletrónica de Consumo de Las Vegas de 2024 (CES), deixa perceber para onde vamos.

O próprio ecrã, com tecnologia de Inteligência Artificial (AI) deixa uma ideia bastante próxima de como será a experiência ao volante da nova família Entry Luxury que começa a chegar no final de 2024.

A BMW também está a concluir o desenvolvimento de uma nova tecnologia de ecrãs para a futura família de modelos “Neue Klasse”, que irá chegar ao mercado em 2025.

Pela primeira vez, haverá um head-up display que pode ser visto tanto pelo condutor como pelos demais ocupantes do carro, a toda a largura do para-brisas, inicialmente a uma altura de cerca de 15 cm.

As diferentes funções poderão ser controladas por voz, no volante e pela função tátil nos próprios ecrãs. E já se sabe que mesmo as superfícies têxteis nos painéis das portas poderão em breve desempenhar um papel na operação das funções de conforto.

“Isto é mais do que uma visão porque vamos já usar esta inovação nos modelos que estão prestes a chegar, dentro de cerca de ano e meio.”

Oliver Zipse, CEO da BMW

No centro tecnológico em Mountainview, no Silicon Valley, na Califórnia, as ideias brotam como cogumelos selvagens e antecipam um futuro ainda mais distante. Embora seja pouco provável que o controlo por gestos dentro do automóvel se generalize, estão a ser estudados ecrãs digitais tridimensionais que permitem uma muito mais fácil orientação do condutor, mesmo sem contacto visual.

Por enquanto, a BMW entretém os passageiros da segunda fila de bancos sem óculos de VR, mas sim um grande ecrã «de cinema», que desce a partir do teto dos novos Série 5 e Série 7.

“Espero que ainda falte muito para chegar”

Também os horizontes da Realidade Virtual não se esgotam no condutor e passageiro dianteiro e até abre outras possibilidades na fila de trás.

Já há algum tempo que a Audi se associou com uma startup para proporcionar um sistema de entretenimento com VR em vários dos seus veículos.

O que dá a possibilidade a que os passageiros se divirtam mergulhados nas profundezas de um intenso videojogo ou na emaranhada narrativa de um filme de ação, com a ajuda de óculos de VR, emparelhados com o carro através de Bluetooth. Definitivamente, a recorrente pergunta “pai, falta muito para chegarmos?” dentro em breve será algo do passado.

Ao contrário de outros sistemas de jogos, neste sistema Holoride os vários conteúdos virtuais adaptam-se em tempo real aos movimentos do veículo real em que viajam. Por exemplo, se o carro fizer uma curva para a direita, a nave espacial no mundo imaginário também voa para a direita.

O desenvolvimento desta inovadora tecnologia VR ou XR (XR, de Extended Reality) foi feito em parceria com a startup tecnológica Holoride e começa agora na fase de produção em massa.

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O programa de entretenimento do futuro está disponível através da mais recente fase de expansão do sistema modular de infoentretenimento em quase toda a gama de modelos da Audi nos principais mercados da Europa, América do Norte, Japão e China.

Joaquim Oliveira

Com mais de 30 anos de carreira, Joaquim Oliveira é um dos mais reputados jornalistas do setor automóvel. Colabora com a Razão Automóvel desde 2019.

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