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Citadinos a caminho da extinção? Fiat quer sair do segmento A

A Fiat, líder do segmento A na Europa, revela planos para abandonar os citadinos puros — Panda e 500 — e focar-se no segmento acima.

Fiat 500

Uma decisão que, de início, não parece fazer sentido. Afinal a Fiat domina a seu belo prazer o segmento A, o dos citadinos, ocupando os dois lugares cimeiros na tabela de vendas com o Panda e o 500.

Mas Mike Manley, CEO da FCA, na conferência dos resultados financeiros do terceiro trimestre que aconteceu a 31 de outubro, avançou com planos para re-estruturar as operações europeias para a fazer regressar aos lucros — a FCA teve prejuízos de 55 milhões de euros na Europa no último trimestre.

Entre as várias medidas, que afetam todas as marcas do grupo — Fiat, Alfa Romeo, Maserati e Jeep — surge a intenção da Fiat em abandonar o segmento A ou o dos citadinos e focar-se no segmento B, onde residem os utilitários.

VÊ TAMBÉM: Fusão FCA-PSA. Palavra de ordem: consolidar
Fiat Panda
Fiat Panda

"No futuro próximo vão ver da nossa parte um renovado foco neste segmento de maior volume e de margens superiores, e isso envolverá a saída do segmento dos citadinos."

Mike Manley, CEO da Fiat

Não deixa de ter alguma ironia esta movimentação por parte do grupo, quando o malogrado Sergio Marchionne, o antecessor de Manley, decidiu não avançar com um sucessor para o Fiat Punto, precisamente pela dificuldade em torná-lo rentável apesar do potencial de volumes elevados de vendas que o segmento permite.

Mesmo sendo a líder do segmento A, a Fiat é a mais recente marca/grupo a repensar a sua posição neste segmento. Já este ano o grupo Volkswagen pôs em causa uma nova geração do Up!, Mii, e Citigo; e o grupo PSA vendeu a sua parte da fábrica que produz o 108, C1 e Aygo à Toyota, com uma nova geração dos citadinos a não estar assegurada.

As razões por trás deste aparente abandono do segmento A por parte da Volkswagen e PSA são as mesmas que a Fiat apresentou: custos elevados de desenvolvimento e produção, margens reduzidas e volumes de vendas também eles inferiores aos conseguidos no segmento B.

Fiat Panda Trussardi

A verdade é que os citadinos não são mais baratos de desenvolver ou produzir por serem mais pequenos. Tal como qualquer outro automóvel têm de cumprir os mesmos requisitos de segurança, têm de cumprir as mesmas normas de emissões e é expetável o mesmo nível de conectividade de modelos maiores — não existe muito por onde retirar custo.

Que futuro para o Panda e 500?

Os atuais Fiat Panda e Fiat 500, apesar da idade avançada de ambos os modelos, deverão manter-se no mercado por mais alguns anos.

Está previsto receberem novas motorizações a gasolina semi-híbridas — versões dos Firefly estreados no Jeep Renegade e Fiat 500X — no próximo ano, ou quando muito em 2021. O que virá a seguir? Nem o próprio Manley avançou com um calendário.

Em 2020, no próximo Salão de Genebra, a Fiat prometeu revelar um novo 500 elétrico (não é o 500e que foi comercializado só nos EUA), assente sobre uma nova plataforma para veículos elétricos — que pudemos ver no Centoventi — e promete ser maior que o 500 que conhecemos.

Fiat 500 Collezione

Ou seja, as suas dimensões serão mais segmento B do que A, e terá, ao que tudo indica, cinco portas (duas portas traseiras do tipo suicida). Será acompanhado por uma Giardiniera (carrinha), seguindo uma estratégia idêntica ao que a Mini fez, adicionando ao original três portas, duas carroçarias de maior dimensão — a cinco portas e a carrinha Clubman.

Um pormenor chamado fusão

Como referimos, esta estratégia foi anunciada a 31 de outubro, precisamente no mesmo dia em que a fusão entre a FCA e a PSA seria confirmada.

VÊ TAMBÉM: É oficial. Os primeiros detalhes do “casamento” entre a PSA e a FCA

Ou seja, a estratégia delineada por Manley não só para os citadinos da Fiat, como para as restantes marcas da FCA na Europa para os próximos anos vai ser reavaliada devido ao novo contexto de fusão das operações dos dois grupos.

Fiat 500C e Peugeot 208

E a partir daqui tudo é possível. Será esta estratégia mantida futuramente pelo pragmático Carlos Tavares?

Especulando um pouco, e tendo uma plataforma recente como a CMP, compatível com a eletrificação, faz sentido transferir para esta todos os modelos compactos (a rondar os 4 m de comprimento), conseguindo enormes economias de escala.

Por outro lado, as mesmas economias de escala poderiam ajudar a manter a presença no segmento A. Ao juntar à Fiat, a Peugeot, Citroën e Opel, as contas poderão bater certo para o desenvolvimento de uma nova geração de citadinos de cada uma destas marcas.

Ou então, uma outra alternativa, avançada pela Citroën, é o futuro segmento A passar a ser constituído por compactos quadriciclos elétricos para serem partilhados como o seu Ami One, veículos com custos de desenvolvimento e produção bastante inferiores aos de um automóvel convencional.

Fonte: Automotive News.