Notícias Na hora do «adeus». Entrevistámos Torsten Müller-Ötvös, CEO da Rolls-Royce

Entrevista

Na hora do «adeus». Entrevistámos Torsten Müller-Ötvös, CEO da Rolls-Royce

Torsten Müller-Ötvös é o CEO da Rolls-Royce há quase 15 anos e já assistiu a diversas mudanças, tanto nos automóveis como nos clientes.

Torsten Müller-Ötvös com Rolls-Royce Spectre
© Rolls-Royce

Com 63 anos de idade e 13 anos na liderança da Rolls-Royce, Torsten Müller-Ötvös está prestes a passar o testemunho. Depois de uma carreira em ascensão dentro do Grupo BMW, deixa para trás uma marca financeiramente sã e em plena transição para um futuro 100% elétrico.

Mas este responsável prefere não medir o sucesso do seu mandato em números, ainda que estes falem por si. O recorde absoluto de vendas em 2022 — com 6021 unidades vendidades —, deverá voltar a ser superado este ano e são várias as razões para otimismo nas instalações de Goodwood.

Nesta entrevista, Torsten Müller-Ötvös fala-nos sobre o passado, o presente e o futuro de uma das marcas mais exclusivas da indústria automóvel.

Quando assumi a liderança da Rolls-Royce, o preço médio de venda de um Rolls-Royce novo rondava os 250 mil euros. Hoje é o dobro.

Torsten Müller-Ötvös, CEO da Rolls-Royce
Torsten Müller-Ötvös
© Rolls-Royce

Preside aos destinos da Rolls-Royce Motor Cars há quase década e meia. Muito mudou desde então…

TMÖ: Em primeiro lugar, os nossos clientes mudaram muito. Quando assumi esta posição, a idade média dos nossos clientes era de 56 anos, agora é de 42 anos. Mas os clientes não se tornaram apenas mais jovens, o perfil de utilizador de um Rolls-Royce hoje é completamente diferente.

Naquela época tínhamos 80% dos nossos veículos a ser guiados por um motorista e hoje vemos que apenas um em cada cinco delegam essa função. Ou seja, houve uma total inversão dessa realidade.

O que motivou essa enorme alteração de comportamento? O aumento do número de clientes dos mercados asiáticos — China, principalmente — ou uma mudança de comportamento geral neste segmento de luxo?

TMÖ: A perceção do que é luxo mudou muito nos últimos 10 anos. Isso reflete-se também no nosso atual portfólio de modelos, precisamente para oferecer ao cliente aquilo que ele deseja.

Depois de o Grupo BMW ter adquirido a Rolls-Royce Motor Cars (em 1998), apenas o Phantom esteve disponível durante alguns anos. Só depois começámos a alargar substancialmente a nossa oferta, com modelos como o Ghost, o Dawn ou o Wraith, que seduziram muitos clientes/condutores quase sempre mais jovens.

A introdução da gama de modelos Black Badge também foi responsável por um grande rejuvenescimento da nossa carteira de clientes, como era nossa intenção.

Rolls-Royce Black Badge Ghost

Chegámos a avaliar a possibilidade de que esses modelos mais desportivos pudessem afastar alguns dos clientes existentes, mas percebemos, com o tempo, que nada disso aconteceu, muito pelo contrário.

Aliás, se os nossos estudos de mercado nos indicavam que os modelos Black Badge representariam cerca de 15% do total das vendas, hoje vemos que, dependendo do modelo, em alguns casos chega mesmo aos 40%.

O primeiro SUV da Rolls-Royce

A Rolls-Royce entrou no segmento dos SUV de luxo bastante tarde com o lançamento do Cullinan. Uma marca de automóveis como a Rolls-Royce necessitava mesmo de um SUV?

TMÖ: Um SUV é hoje fundamental para se ter sucesso no mercado, mesmo no segmento de luxo absoluto. Caso contrário, os clientes iriam comprar um veículo com essas caraterísticas noutra marca, como aconteceu durante muito tempo.

Sem dúvida que não fomos os primeiros, mas o Cullinan chegou ao mercado exatamente quando deveria ter chegado e conquistou clientes totalmente novos.

Torsten Müller-Ötvös
© Rolls-Royce

O Cullinan é um SUV familiar que pode ser conduzido todos os dias, mas é também um Rolls-Royce que «não se importa» de ficar sujo de vez em quando. Podemos levá-lo sem preocupações para a quinta dos amigos, mas também pode ser o transporte para uma reunião de trabalho ou para levar os miúdos à escola.

E se acha que este tipo de narrativa é demasiado marketing, deixo-lhe um número esclarecedor: um em cada dois Rolls-Royce que vendemos hoje é um Cullinan.

Recorde de vendas em 2022

Em 2022, a Rolls-Royce registou o melhor ano de vendas da sua história. Este crescimento é para continuar?

TMÖ: Enquanto marca de superluxo, as vendas não são a nossa única medida de sucesso e nunca seremos um fabricante de volume. Os Rolls-Royce feitos de encomenda e com um elevado nível de personalização também atingiram valores recorde no ano passado.

Além disso, as solicitações dos nossos clientes estão a tornar-se cada vez mais imaginativas e tecnicamente exigentes. As possibilidades quase infinitas de personalização resultaram em veículos que foram vendidos a uma média de meio milhão de euros.

Essas encomendas especiais de veículos únicos chegam-vos de todo o mundo?

TMÖ: O Médio Oriente é a região líder da marca no que diz respeito a encomendas personalizadas, com muitas criações únicas de personalização particularmente extensa e individual.

O ano passado, a Rolls-Royce abriu um escritório privado no Dubai, onde apenas recebemos clientes por convite (o primeiro fora de Goodwood). Outros escritórios privados serão inaugurados em todo o mundo ao longo dos próximos meses.

Ligação ao BMW Group

Qual a importância de ter um construtor como a BMW por detrás de uma marca britânica como a Rolls-Royce?

TMÖ: Digo-o taxativamente, sem a BMW, a Rolls-Royce Motor Cars não existiria na sua forma atual. A BMW permite-nos utilizar tecnologias que, de outra forma, não conseguiríamos aceder.

Rolls-Royce Spectre, MINI Cooper SE, BMW i4 e BMW mota elétrica, com edifício sede da BMW em Munique de fundo
© Rolls-Royce Rolls-Royce, MINI, BMW e BMW Motorrad. Modelos das quatro marcas do Grupo BMW posam com o edifício sede da BMW em Munique, Alemanha, ao fundo

No entanto, é importante perceber que um Rolls-Royce não é um BMW com um aspeto diferente, porque desenvolvemos e produzimos veículos de maneira totalmente independente.

Os nossos clientes apreciam isso e pedem que assim seja porque, afinal, as duas marcas têm posicionamentos de preços totalmente diferentes. Quando assumi a liderança da marca, o preço médio de venda de um Rolls-Royce novo rondava os 250 mil euros. Hoje, esse valor chegou ao dobro.

Parte dessa valorização resulta também das mais-valias dos conteúdos técnicos, caso contrário seria impossível implementar estes preços.

Um exemplo: os nossos clientes sabem que o motor V12 é feito pela BMW, mas também têm plena consciência de que foi adaptado ao respetivo veículo de uma forma completamente diferente e específica, além de dispor de uma cilindrada única, de 6,75 l.

Rolls-Royce e as outras marcas de luxo

Ao contrário de outras marcas, a Rolls-Royce não apostou na cooperação com outras marcas de luxo fora da indústria automóvel. Poderá ser algo que vá mudar no futuro?

TMÖ: É claro que também cooperamos com outras marcas de luxo, há muitos anos. Só que de uma forma muito exclusiva e apenas mediante uma solicitação individual mais especial.

Por exemplo, se um cliente deseja que um relógio de uma marca específica seja instalado a bordo do seu Rolls-Royce, podemos tornar isso possível, sem fazer alarido. O nosso grau de personalização não conhece limites.

Torsten Müller-Ötvös
© Rolls-Royce

Além disso, há muito tempo que inúmeras marcas mais luxuosas demonstraram interesse em trabalhar connosco, por exemplo, em séries especiais. Mas como Rolls-Royce, somos a marca de luxo definitiva. E essa equidade de marca é algo que não queremos diluir.

Futuro da Rolls-Royce é 100% elétrico

Que futuro vê para a Rolls-Royce dentro de 10 a 15 anos?

TMÖ: Estabelecemos o caminho que consideramos ser o mais adequado para o nosso futuro, que será visível nos novos produtos da marca, ao longo dos próximos anos. A Rolls-Royce Motor Cars irá ser uma marca elétrica, com veículos totalmente elétricos e sem híbridos plug-in.

Um Rolls-Royce tem de proporcionar uma condução que só é possível num Rolls-Royce, independentemente de ser movido por um motor de combustão ou elétrico. O nosso primeiro modelo elétrico, o Spectre, superou todas as expectativas e mostra como essa conversão pode ser feita na perfeição.

Rolls-Royce Spectre visto 3/4 de frente
© Rolls-Royce

Na Rolls-Royce Motor Cars, a perfeição significa mais do que apenas fabricar os melhores produtos. É uma cultura, uma atitude e a nossa filosofia orientadora. As palavras são do nosso fundador, Sir Henry Royce: “Procure a perfeição em tudo que faz”. O Spectre foi desenvolvido com essa filosofia em mente.

É um estado de espírito, mas com implicações práticas?

TMÖ: Define a direção do futuro da nossa marca e é a resposta certa para as expectativas dos mais exigentes clientes do mundo, quando decidirem comprar um automóvel elétrico.

O Spectre é, primeiro, um Rolls-Royce e só depois um automóvel elétrico, sendo que isso só é possível seguindo os critérios de qualidade na produção na fábrica de Goodwood. Os clientes vêm até nós e envolvem-se intensamente na montagem do seu próprio veículo.

Cria-se uma espécie de ligação «umbilical» entre cliente e carro, «pré-parto»?

TMÖ: Goodwood é o lar físico e espiritual da Rolls-Royce; o único lugar no mundo onde projetamos e fabricamos os nossos produtos de luxo exclusivos, com uma ligação única e pessoal com a nossa rica história.

Torsten Müller-Ötvös
© Rolls-Royce

Muito mais do que apenas uma instalação fabril de última geração e a sede da empresa, oferece aos visitantes uma introdução imediata à nossa marca: bela, elegante e impressionante, mas também criativa, vibrante e em constante evolução.

No seu design e construção, incorpora os nossos valores fundamentais de precisão, atenção ao detalhe e orgulho nesta grande instituição britânica. É o nosso próprio universo privado e, ainda assim, conectado ao mundo.

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Pode encontrar a resposta aqui:

Dawn despede-se como o descapotável mais vendido da Rolls-Royce