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“Empréstimos tradicionais têm os dias contados”. Stéphane Priami, CEO do Crédit Agricole

A banca poderá ser a «peça que faltava» no puzzle da indústria automóvel e Stephané Priami, CEO da Crédit Agricole, quer ter as peças todas.

Stéphane Priami Crédit Agricole
© Razão Automóvel

Quase um ano depois da primeira entrevista, voltámos a encontrar-nos com Stéphane Priami, diretor executivo adjunto da Crédit Agricole e diretor executivo do CA Consumer Finance (CACF). Um dos impulsionadores de algumas das maiores movimentações no setor automóvel nos últimos anos.

Este executivo, que gere quase 24 mil milhões de euros em ativos no setor automóvel, através da CA Autobank, e que detém, em carteira, mais de 800 mil carros através da Leasys, revelou-nos os planos do grupo francês para os próximos anos.

Uma entrevista que decorreu à margem do Salão de Munique (IAA Mobility 2023), onde a Crédit Agricole — do qual faz parte, por exemplo, o banco Credibom em Portugal — anunciou o «terceiro pilar» da sua estratégia.

Drivalia IAA 2023
A forte presença da Crédit Agricole em Munique não foi um acaso. A Alemanha é o mercado mais importante na Europa e foi este o local escolhido para anunciar a entrada da Drivalia também no mercado germânico.

Uma estratégia. Três pilares

A CAFC antevê um setor automóvel cada vez mais assente em instrumentos de aluguer de longo prazo e subscrição de serviços. Perante esta visão, a estratégia apresentada por Stéphane Priami até 2026 está assente em três pilares.

O primeiro é construir uma empresa que ofereça soluções de aluguer de longa duração. Fizemos isso com o grupo Stellantis e criamos o Leasys. Com esta empresa já temos 846 000 carros, incluíndo Portugal.

Stéphane Priami, CEO da CAFC

O segundo pilar é um objetivo antigo da administração da Crédit Agricole, à qual Priami deu um novo ímpeto: “estabelecer uma forte presença europeia. Para isso assumimos o controlo do banco FCA, que no início de abril passou a chamar-se CA Auto Bank”.

O terceiro pilar, anunciado pela primeira vez no Salão de Munique (IAA Mobility 2023) é talvez o mais ambicioso e o que mais se afasta da génese de uma instituição como a Crédit Agricole.

O terceiro pilar é a manutenção. Porque quando se compra ou aluga um carro elétrico é preciso um ecossistema totalmente novo de serviços. Queremos estar também neste tipo de oferta.

Stéphane Priami, CEO da CAFC
Stéphane Priami
“Em todo o CA Autobank vendemos no 1.º semestre 346 mil viaturas. Se pudermos cobrir isso com os melhores serviços de garantias, será muito importante para os clientes”.

Comprar, comprar, comprar

Para concretizar as ambições deste terceiro eixo de atuação, a CAFC entrou no mercado à procura de empresas para juntar ao seu universo.

Por isso, depois da aquisição do FCA Bank à Stellantis — que desde abril passou a denominar-se CA Auto Bank — a Crédit Agricole anunciou em Munique a aquisição de mais duas empresas: a Opteven e a Hiflow.

A primeira é dedicada à oferta de serviços de extensão de garantia e manutenção, e a segunda, uma scaleup francesa, dedicada a serviços de transporte e entrega de automóveis. Ambas vão operar sob a chancela da Crédit Agricole Mobility Services. Uma nova marca que, tal como o nome indica, estará totalmente dedicada aos serviços de mobilidade.

Drivalia Portugal IAA 2023
© Drivalia Aquisições a que devemos somar outras, já concretizadas este ano, como a ALD Automotive e a Leaseplan, através da Drivalia — a empresa de aluguer e serviços de mobilidade da CA Auto Bank.

Há alguns anos, estas aquisições seriam «improváveis» para uma entidade do setor financeiro, mas agora são consideradas fundamentais no puzzle (cada vez mais complexo) que Stéphane Priami está a tentar montar.

Todos vemos que a mobilidade verde impõe a necessidade de um novo sistema financeiro. Para mim, os empréstimos tradicionais têm os dias contados. Será necessário oferecer novas formas de financiamento, como o aluguer de longo prazo, modelos de subscrição, etc.

Stéphane Priami, CEO da CAFC

Segundo este responsável, “Estamos a transitar de uma lógica de propriedade para uma lógica de subscrição”, algo que já tinha afirmado anteriormente em entrevista à Razão Automóvel.

Questionado se não está a perder o «foco» daquele que é o core business da sua empresa, Stéphane Priami foi taxativo:

É por isso que fazemos parcerias ou compramos empresas: não queremos perder o foco no nosso core business. Temos uma grande tradição de fazer parcerias, por isso compramos 65% da HiFlow e celebrámos a joint venture com a Opteven. Queremos com isto crescer nestas três áreas: garantias, manutenção e entregas.

“Queremos estar em todas as fases do negócio”

Dos novos aos usados, da aquisição à subscrição, e agora nos serviços de garantia e manutenção. Stéphane Priami que estender a influência da CAFC a todas as fases do ciclo de vida de um automóvel.

Nós temos de estar presentes em todos os sentidos: crédito tradicional, aluguer de longo e curto prazo, subscrição, etc. Temos todas as soluções agora e no futuro para sermos o 3.º pilar no mercado automóvel global.

Stéphane Priami, CEO da Crédit Agricole Consumer Finance

Quanto aos custos de todos estes serviços, que têm vindo a aumentar de forma significativa desde 2020, o responsável máximo da CAFC, afirma que o «segredo» é acompanhar o cliente.

“Se pudermos levar um cliente jovem a comprar o primeiro carro em segunda mão e pedirmos 150 €/mês, três anos depois ele quer um carro melhor e pedimos 200 €/mês por um novo. Entretanto, já casado e com filhos, talvez ele precisa de um SUV maior… a ideia é alcançar a fidelização. Somos um banco universal que quer dar ao cliente as melhores soluções”, terminou.

Quanto a movimentações futuras, a Crédit Agricole já fez saber que não ficará por aqui: até 2026 anunciará 20 novos serviços sob a marca CA Mobility Services, a divisão relacionada com todos os serviços de mobilidade.