Tuning
Conduzimos o «monstro português» da TIL Motorsport, o AMG GT R PRO de 850 cv
A convite da TIL Motorsport fomos até ao circuito do Estoril para testar um «super» Mercedes-AMG GT R PRO. E quando digo «super» não me refiro apenas à potência…

A potência não é tudo. Parece uma afirmação absurda, quando está em causa o teste a uma versão ainda mais «musculada» do Mercedes-AMG GT R PRO, não é?
Mas foi precisamente esse «ponto de partida» para o convite de Stéphane Galvão, CEO da TIL Motorsport — uma nova empresa de preparação automóvel, com sede em Viana do Castelo, que é na prática o «braço armado» da Opus Innovation no mercado nacional —, mostrar que os “números” não são tudo.
“Retirar potência de um V8 de última geração é fácil. Mas preservar a fiabilidade mecânica, manter uma entrega de potência linear e o carro utilizável no dia a dia já não é tão simples. Tens de experimentar”, disse-me Stéphane Galvão ao telefone.
Como devem calcular, não se nega um convite assim.
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Mais de 700 horas de desenvolvimento
Neste momento a TIL Motorsport conta com uma equipa de 18 técnicos dedicados à preparação de todos as vertentes de um desportivo: mecânica, afinação de chassis, suspensões e desenvolvimento de novos componentes.
Recursos que, em parte, são partilhados com a OPUS Automotive Gmbh que conta com mais de 20 anos de experiência no setor — e que recentemente adquiriu o antigo centro de testes da Mercedes-AMG Gmbh na Gottlieb-Daimler-Street, junto ao lendário circuito de Nürburgring.

“A cooperação entre a TIL Motorsport em Portugal e a Opus Automotive na Alemanha, vai permitir mais testes. Principalmente durante o inverno, quando as condições climatéricas junto ao castelo de Nürburg não são as melhores ” explicou-nos Stéphane Galvão — que também é proprietário de 50% do capital da empresa alemã.
Falando em concreto deste Mercedes-AMG GT R PRO, foram aplicadas mais de 700 horas no seu desenvolvimento. Destas, mais de 400 horas foram investidas em afinações de chassis e suspensão no cenário mais exigente: Nürburgring Nordschleife.

As restantes 300 horas, como já devem ter adivinhado, foram investidas no banco de potência, a testar os novos componentes e, naturalmente, a tentar encontrar a “curva de potência perfeita”, disse-nos Stéphane Galvão — que antes de dedicar-se à preparação automóvel, foi também ele gentleman driver em vários campeonatos monomarca.
A importância dos detalhes num desportivo
Stéphane Galvão explicou-nos que o interesse por track-days tem aumentado substancialmente nos últimos anos, principalmente em Portugal: “a procura por soluções especificas para utilização em pista é cada vez maior”.
E neste particular, um dos modelos «fetiche» da TIL Motorsport é precisamente o Mercedes-AMG GT. “Decidimos concentrar-nos no AMG GT R e GT R PRO, porque são modelos mais razoáveis que o Black Series, com o qual já trabalhámos”.
As alterações efetuadas pela TIL Motorsport têm tanto de substanciais como de discretas.
“Foi uma decisão consciente da nossa parte. Nas nossas empresas seguimos o lema de que a forma deve seguir a função. Além disso, quando falamos de modelos muito exclusivos, por vezes os proprietários não querem comprometer a originalidade do carro” explicou-nos este responsável antes de iniciarmos o nosso primeiro turno em pista.

Assim, o trabalho mais importante acaba por ser aquele que “não é visível a olho nu”. Por exemplo, as suspensões Öhlins TTX, que surgem de fábrica no AMG GT R PRO, foram mantidas, mas foi feito um “intenso trabalho de afinação e alteração dos componentes internos para melhor controlo do chassis e um amortecimento mais consistente para utilização em pista”.
Em termos de afinação do chassis, também pouco sobrou das especificações de fábrica.
Graças a estar alterações, o AMG GT R PRO consegue agora equipar com as jantes exclusivas dos AMG GT Black Series e, por conseguinte, com os Michelin CUP 2 R.

No motor, as alterações também foram substanciais, mas manteve-se grande parte dos componentes de fábrica. Os turbos foram «atualizados» — a TIL Motorsport não revela os pormenores —, os catalisadores foram aligeirados, os intercoolers ganharam maior capacidade de dissipação de calor e o software de controlo do motor e da caixa foi totalmente revisto.
Com estas alterações, a potência do motor V8 biturbo do AMG GT R PRO subiu para os 850 cv — a potência de série fica-se pelos 585 cv.
São quase mais 300 cv de potência face à versão de fábrica, mas isso não é o mais importante nas palavras de Stéphane Galvão: “num desportivo focado em pista, a entrega de potência é tudo. Podíamos ter retirado mais potência desta base, mas o nosso foco foi mesmo alcançar uma entrega de potência linear, o que é complexo e dispendioso. Como já disse, a potência não é tudo”.
Mais rápido. Muito mais rápido
Com o kit completo desenvolvido por esta joint venture luso-germânica, o AMG GT R é “10 segundos mais rápido que o GT R PRO de fábrica” afirma o CEO da Opus, Lukas Domogalla.
O que significa um tempo abaixo dos sete minutos para uma volta completa no Nürburgring Nordschleife.
Para o circuito do Estoril — onde eu testei este modelo — não tínhamos referência de tempo. Não sei quão mais rápido consegui ser com AMG GT R PRO, mas posso falar-vos das sensações.
O Circuito do Estoril ficou mais pequeno
Na semana em que testei o AMG GT R PRO da TIL Motosport, ainda tinha a memória fresca da experiência ao volante do Porsche 718 Cayman GT4 RS — que podem recordar neste vídeo e na ligação abaixo.
A primeira sensação que tive foi que as retas do Estoril ficaram mais pequenas.
Na reta principal, a travagem acontece a 200 metros, quando já seguimos a mais de 270 km/h.
Tivesse eu mais «coração» e acredito que podia raspar mais uns metros a esta referência. É que a estabilidade em travagem é tão grande, que nos convida sempre a esticar um pouco mais a nossa sorte. E senti-me muitas vezes com sorte…

Nomeadamente na curva 2 — para mim uma das mais delicadas do Estoril — onde o primeiro input do volante é determinante para decidir o nosso destino: ir à gravilha; perder a traseira e embater no muro interior; ou sair em tração a mais de 140 km/h em direção à curva 3.
Felizmente, as duas primeiras opções nunca se concretizaram. É que sinceramente o eixo dianteiro do AMG GT nunca me inspirou muita confiança. Sempre acreditei que esta sensação fosse motivada pela posição de condução muito recuada — quase sentado em cima do eixo traseiro.
Com esta afinação da TIL Motorsport percebi que afinal era tudo uma questão de… afinação. As alterações efetuadas pela equipa luso-germânica dão uma certeza à direção que nunca tinha experimentado neste modelo.
E bem que precisamos de uma frente eficaz. É que este modelo, por ter uma configuração de motor central dianteiro, obriga-nos a «atacar» as curvas de forma diferente de um desportivo com motor central traseiro para conseguirmos ir mais rápido.

Em vez de preservamos momento e tentar carregar o máximo de velocidade para o interior da curva — como por exemplo no Porsche 718 Cayman GT4 RS ou no Ferrari 296 GTB, que são os modelos mais frescos na minha memória —, para irmos rápido neste GT R PRO temos de travar mais tarde, apontar rápido à saída, endireitar o volante tão cedo quanto possível, e esmagar o acelerador para aproveitar toda a tração disponível. É um exercício exigente, mas muito divertido.
Com as ajudas de condução no mínimo, tudo isto é acompanhado por reações do eixo traseiro bastante vistosas para quem vê de fora. Para quem vai lá dentro, sai tudo de forma «natural».

Parte boa de tudo isto? No final do dia não precisamos de reboques nem de uma equipa de mecânicos. Podemos ir para casa ao volante do AMG GT R PRO, ainda que a experiência em pista esteja muito próxima da de um carro de competição.
É um modelo que não deixa ninguém indiferente à sua passagem. E agora, mais do que nunca, também não deixa indiferente o piloto de corridas que há dentro de cada um de nós.
Próxima paragem da Razão Automóvel, Nürburgring?
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