Carrinhas
A eterna discussão… Onde anda a carrinha do Giulia? E será que faz falta?
A carrinha do Giulia é um tema recorrente em qualquer discussão sobre a Alfa Romeo desde que conhecemos o Giulia em 2015.

A carrinha do Giulia é um sucesso… nas discussões virtuais e/ou de café. A notícia recente sobre o fim do Giulietta, que terminará a produção este ano tendo como substituto o Tonale (um crossover/SUV), foi o suficiente para reavivar esta discussão, entre outras que ocorrem ininterruptamente sobre os destinos de tão desejada marca, mas constantemente a debater-se com a sua própria sustentabilidade.
Basta recordar que a moribunda Lancia, que apenas comercializa o Ypsilon em Itália, vendeu mais que toda a Alfa Romeo na Europa em 2019…
É opinião unânime, ou assim parece, de que foi um erro por parte da marca (ainda) não ter lançado uma carrinha do Giulia — e de momento, ao que tudo indica, não a lançará, pelo menos durante esta geração. Afinal, faria assim tanta diferença para as fortunas da Alfa Romeo ter uma carrinha do Giulia? Ou são só os desejos e anseios dos fãs da marca a vir ao de cima?
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Podemos analisar esta questão através de dois pontos de vista. Um primeiro, mais pessoal, e um segundo, mais objetivo, do ponto de vista do negócio.
Assim, pessoalmente, e sendo fã do sedã, não podia deixar de estar no campo dos “pró” carrinha do Giulia. Combinar tudo o que o Giulia tem de bom com a versatilidade adicional de uma carrinha parece-me uma combinação vencedora. Como é que ainda não a lançaram quando parece estar mesmo a pedir uma? Para mais, nós, europeus, temos uma apetência grande por carrinhas, sendo até, em várias gamas, a carroçaria mais vendida.
A argumentação a favor fica mais tremida quando analisamos o tópico carrinha do Giulia sob a natureza crua dos números e, colocando as preferências pessoais de parte, acabamos por (pelo menos) compreender a decisão da Alfa Romeo em não a fazer.
Razões
Em primeiro lugar, mesmo que houvesse uma carrinha do Giulia não significaria automaticamente mais vendas — que são bastante modestas, de qualquer forma. O risco de canibalização seria sempre elevado e, na Europa, poderíamos assistir a uma parte substancial das vendas do sedã serem transferidas para a carrinha — aconteceu o mesmo com o bem sucedido 156, por exemplo, que ganhou uma carrinha três anos após o seu lançamento sem que se tivesse refletido no volume de vendas.

Em segundo, “culpem” os SUV — quem mais poderia ser? Os SUV são hoje em dia uma força dominante, bem maior até do que em 2014, quando ficámos a conhecer o primeiro de vários planos de recuperação da Alfa Romeo através do malogrado Sergio Marchionne, CEO da FCA na altura. E já nessa altura não havia uma carrinha do Giulia planeada.
No seu lugar haveria um SUV, que hoje conhecemos como Stelvio, para todos os efeitos, a “carrinha” do Giulia. Decisão idêntica tomada, por exemplo, pela Jaguar após lançar o XE, que foi complementado com um F-Pace.

Em retrospetiva, pareceu a decisão correta, independentemente da opinião que tenhamos sobre os SUV. Não só o preço de venda ao público de um SUV é superior em relação a uma carrinha — logo, maior rentabilidade para a marca por unidade vendida —, como tem um potencial superior de vendas.
Recordemos que as carrinhas são um fenómeno essencialmente europeu, enquanto os SUV são um fenómeno global — na altura de canalizar fundos para o desenvolvimento de novos produtos para alimentar uma expansão global da marca, certamente apostariam em modelos com o maior potencial de vendas e retorno.
Além do mais, mesmo na Europa, o último bastião das carrinhas (o “Velho Continente” absorve 70% de todas as vendas das carrinhas), também estão a perder a guerra contra os SUV:
VÊ TAMBÉM: Culpem os SUV. Carrinhas também em queda
O cenário só não é mais sombrio porque os mercados europeus mais a norte e a leste ainda compram carrinhas em elevado número. Felizmente, entre eles está a Alemanha, o maior mercado europeu. Não fosse assim, e já teríamos visto uma razia similar à que aconteceu com os MPV.
Em terceiro, o problema de sempre da Alfa Romeo em particular, e da FCA no geral: fundos. O plano ambicioso de Marchionne para a Alfa Romeo implicou o desenvolvimento de uma plataforma de raiz (Giorgio), algo necessário, mas, como deves imaginar, nada barato — até o muito bem sucedido spin-off da Ferrari teve de contribuir para financiar o relançamento da Alfa Romeo.
VÊ TAMBÉM: De Lisboa ao Algarve no Alfa Romeo 4C SpiderMesmo assim, o espaço de manobra sempre foi reduzido e simplesmente não ia dar para fazer tudo. Dos oito modelos previstos nesse primeiro plano de 2014, onde também se incluía um sucessor para o agora terminado Giulietta, só obtivemos dois, o Giulia e o Stelvio — pouco, muito pouco para as ambições da Alfa Romeo.

Por fim, no último plano que conhecemos para a marca, no final de outubro do ano passado, foi revelado que no futuro (até 2022) da Alfa Romeo apenas haverá espaço para mais um SUV. Nada de carrinhas, sucessor direto para o Giulietta, ou até um coupé…
Por muito que gostasse de ver uma carrinha do Giulia, ou até um novo coupé ou um Spider, primeiro precisamos de uma Alfa Romeo forte e saudável (financeiramente). Numa marca que move tanta emoção como a Alfa Romeo, terá de ser a mais fria e brutal racionalidade a liderar o seu destino… Sinónimo aparente de mais SUV.
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