Ensaio Conduzimos o MG4 XPower (435 cv). Será potência a mais?

Desde 44 090 euros

Conduzimos o MG4 XPower (435 cv). Será potência a mais?

Não falta ambição ao MG4 XPower, que apresenta um rol de dados que impressionam. Mas na estrada, percebemos que os números não são tudo.

MG4 XPower

6.5/10

O MG4 XPower quer ser um «hot-hatch» 100% elétrico mas falha num ponto chave para qualquer modelo que queira pertencer a esta categoria: diversão!


Comprada em 2005 pelo grupo chinês SAIC Motor, a MG já pouco ou nada tem em comum com a marca de desportivos britânicos que muitos de nós conhecemos.

Nesta sua nova etapa, começou por ser vendida apenas na China e apostou em preços muito competitivos, o que a ajudou a destacar-se por aquelas latitudes.

Depois disso, seguiu-se uma aposta clara na eletrificação e, com ela, um «ataque» à Europa, muito assente no elétrico MG4, que tem sido uma das maiores surpresas nas tabelas de vendas europeias.

E foi precisamente com esse modelo que marcámos encontro, e logo na versão mais desportiva da gama, a MG4 XPower.

MG4 XPower traseira
© Thomas V. Esveld / Razão Automóvel O desenho da traseira é original e dá personalidade a este elétrico

A verdade é que são poucos os que se lembram da denominação XPower, mas esta não é nova. Foi usada pela MG nos seus últimos anos (antes de ser comprada pelos chineses) numa tentantiva de criar uma espécie de sub-marca, para identificar modelos desportivos. Um deles foi o MG XPower SV, um desportivo que tinha um V8 de 4.6 litros da Ford debaixo do capô.

Mas será que esta designação continua a fazer sentido na era dos elétricos? Passámos uns dias com o MG4 XPower e fomos à procura da resposta.

Interior espaçoso e versátil

Com 4,29 metros de comprimento, o MG4 apresenta-se como um rival natural de modelos como o Renault Mégane E-Tech Electric ou o Volkswagen ID.3. Mas nesta versão XPower, a potência acaba por desequilibrar as contas, pelo menos no que às performances diz respeito. E por isso mesmo, a comparação mais direta até poderá ser mesmo com o Smart #1 Brabus.

Mas o que a potência afasta, as dimensões e o interior acabam por aproximar. Quando espreitamos o habitáculo, aquilo que salta de imediato à vista é a sensação de espaço, até porque como podem ver nas imagens abaixo, não existe aqui uma consola central convencional. No seu lugar há uma espécie de prateleira, onde surge integrado o comando rotativo da transmissão e um espaço para o smartphone.

Acima disso, destaque para o ecrã tátil multimédia de 10,25’’, que tem alguns problemas: as letras são demasiado pequenas, o que dificulta a leitura, e os menus são difíceis de navegar.

Atrás do volante está uma instrumentação totalmente digital, que peca pelo tamanho demasiado compacto e, novamente, pela escolha do tamanho de letra, que é demasiado pequena.

MG4 XPower ecrã multimédia
© Thomas V. Esveld / Razão Automóvel

Materiais não impressionam

No geral, o estilo do interior é minimalista, sem impressionar. Existem alguns materiais macios, sobretudo nas zonas que estão mais à vista, mas os materiais duros surgem em maior número.

Mesmo assim, a qualidade geral é aceitável, ainda que confesso que esperasse mais de um MG com a designação “XPower”.

MG4 XPower portas
© Thomas V. Esveld / Razão Automóvel

Outra crítica está relacionada com os bancos dianteiros, que têm pouco suporte lateral. E isso, num carro com mais de 400 cv, nunca é uma boa notícia: um bom suporte lateral é fundamental num carro potente e faz toda a diferença.

Apesar disso, os bancos são confortáveis e vistosos, muito por culpa da mistura entre couro e Alcantara, bem como dos pespontos a vermelho.

MG4 XPower bancos dianteiros
© Thomas V. Esveld / Razão Automóvel

Também positivo é o volante, que não só oferece vastas regulações como tem um formato muito angular, que garante uma pega muito confortável.

E o espaço?

Também aqui o MG4 XPower se mostra em bom plano: nos lugares traseiros, há muito espaço para as pernas, cabeça e ombros.

O único ponto negativo está mesmo relacionado com o lugar central, que apesar de estar desimpedido ao nível dos pés, é estreito.

MG4 XPower bancos traseiros
© Thomas V. Esveld / Razão Automóvel

Quanto à bagageira, oferece 363 litros de capacidade, um número que fica ligeiramente abaixo dos 385 litros anunciados pelo Volkswagen ID.3 e pelo CUPRA Born e dos 389 litros reclamados pelo Renault Mégane E-Tech Electric.

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Na dianteira, sob o capô, não há qualquer espaço de armazenamento disponível, o que vulgarmente apelidamos de «frunk». A MG não aproveita assim as potencialidades que um 100% elétrico confere a este nível, sendo algo a rever no futuro.

MG4 XPower motor
© Thomas V. Esveld / Razão Automóvel

Números dignos de um desportivo

O MG4 XPower começa logo por impressionar pelos números que apresenta, uma vez que conta com dois motores elétricos (um por eixo) que juntos entregam 435 cv de potência máxima e 600 Nm de binário máximo.

São números praticamente inéditos neste segmento e que permitem que o MG4 XPower acelere dos 0 aos 100 km/h em 3,8s e chegue aos 200 km/h de velocidade máxima.

Curiosamente, quando explorei o arranque a fundo, esperava uma resposta mais dramática. É certo que o MG4 XPower nos consegue “colar ao banco”. Mas não impressiona tanto quanto o Smart #3 Brabus, por exemplo, que cumpre o sprint dos 0 aos 100 km/h praticamente no mesmo tempo (3,7s).

Mas ainda assim, o MG4 XPower convence muito rapidamente em linha reta, quer pelas acelerações quer depois pelo poder de travagem.

MG4 XPower jantes
© Thomas V. Esveld / Razão Automóvel

Os travões, além de terem um tato fácil de decifrar, cumprem com tudo aquilo o que lhes pedimos. E isso tem de merecer uma nota positiva, afinal estamos perante um elétrico que pesa 1878 kg e apresenta 435 cv.

Quando chegam as curvas…

É aqui que começam os problemas. Ou melhor, as coisas menos boas. Isto porque assim que «apanhamos» uma estrada mais revirada e tentamos explorar todo o poderio deste elétrico, percebemos que ele tem muitas limitações a esse nível.

Em curva, sentimos claramente a vetorização de binário a «trabalhar», mas ficamos sempre com a sensação de que isso vem à custa de uma redução significativa do binário que é enviado às rodas.

MG4 XPower dinâmica
© Thomas V. Esveld / Razão Automóvel

Depois, e apesar da tração às quatro rodas, sentimos também que este MG4 XPower tem quase sempre alguma dificuldade em colocar toda a força no asfalto, o que resulta muitas vezes em perdas de tração notórias.

Mas aquilo que mais acaba por fazer-se notar são mesmo os «safanões» que sentimos quanto «atacamos» um encadeado de curvas e percebemos que as transferências de massa, são bruscas e até algo violentas.

A suspensão é demasiado macia para conseguir controlar o peso de todo o conjunto e explorar com liberdade tanta potência.

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No geral, fico com a sensação de que falta fluidez a este MG4 XPower, que revela sempre dificuldades em lidar com toda a potência que «carrega».

A juntar a isso, e porque a direção se mostra sempre bastante assistida, a experiência ao volante nunca chega a ser muito divertida. É certo que, neste ponto, sentimos melhorias se selecionarmos o modo «Desporto», mas nunca conseguimos “ler” de forma clara tudo o que está a acontecer no eixo dianteiro.

E na cidade?

Apesar da potência elevada, o MG4 XPower é sempre uma proposta agradável e fácil de conduzir, mesmo em cidade, no meio de toda a confusão.

Recorrendo quase sempre ao modo «Eco», aquilo que mais me impressionou foi a função «One-Pedal», que está bastante bem calibrada (nem sempre acontece) e tem um funcionamento bastante orgânico.

MG4 XPower perfil
© Thomas V. Esveld / Razão Automóvel

Esta função permite inclusive imobilizar o MG4 XPower. Se precisarem de recorrer ao pedal do travão, posso dizer-vos que também ele exibe uma calibração muito satisfatória.

Quanto ao conforto, devo dizer-vos que os pneus de baixo perfil e a suspensão do MG4 XPower não são propriamente adeptos de pisos com irregularidades. O que não faz sentido: existem claras cedências ao conforto, que não são acompanhadas por um comportamento desportivo à altura.

Em pisos fáceis e em bom estado, o MG4 naturalmente não compromete, ao mesmo tempo que conta com uma ajuda importante por parte dos bancos.

MG4 XPower perfil
© Thomas V. Esveld / Razão Automóvel

Em autoestrada, o MG4 mostra-se sempre muito estável e está relativamente bem insonorizado. Mas mais uma vez, sinto que a direção é demasiado leve.

Autonomia real não desilude

Alimentado por uma bateria com 64 kWh de capacidade (61,8 kWh úteis), o MG4 XPower reclama 385 quilómetros de autonomia em ciclo combinado WLTP. E a verdade é que nos dias que passei com ele não andei muito longe deste registo.

Em cidade, recorrendo ao modo «Eco» e ao «One-Pedal» e sem utilizar ar condicionado, consegui valores em torno dos 17,1 kWh/100 km. A este ritmo, e usando a capacidade da bateria como referência, podemos contar com uma autonomia real de 361 quilómetros.

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Já em autoestrada, os registos não foram tão interessantes: a velocidades de 120 km/h e, novamente, sem o ar condicionado ligado, o melhor que consegui foram consumos em torno dos 24,6 kWh/100 km. A este ritmo, podem esperar cerca de 251 quilómetros com uma só carga.

MG4 XPower traseira
© Thomas V. Esveld / Razão Automóvel

No final deste teste, e fazendo uma utilização mista, que implicou incursões por autoestrada e vários quilómetros dentro da cidade, o computador de bordo assinalava 20,2 kWh/100 km de consumo combinado, o que se traduz numa autonomia a rondar os 306 quilómetros.

Quanto custa?

O MG4 XPower está disponível com preços que arrancam nos 44 090 euros, ainda que a marca que pertence à SAIC Motor tenha campanhas que permitam descer este preço para perto dos 41 000 euros.

Se olharmos para o preço/cv, a verdade é que este MG4 XPower é praticamente imbatível. E se espreitarmos o seu principal concorrente, o Smart #1 Brabus, percebemos que também leva uma vantagem importante no preço. Sem promoções ou descontos, o MG4 é 4360 euros mais barato.

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Por este preço recebem um «super elétrico» em linha reta, capaz de acelerações que nos colam ao banco e de registos que não estamos habituados a ver neste segmento. Contudo, se procuram um «hot hatch», provavelmente vão ficar desiludidos com o fator diversão, que quase nunca existe.

É que quando as curvas chegam, o MG4 XPower acusa o peso e a potência. E revela que o chassis e a suspensão têm dificuldades em lidar com o poderio oferecido pelos dois motores elétricos.

Veredito

MG4 XPower

6.5/10

Tenho que aplaudir o esforço e a coragem que a MG colocou neste MG4 XPower, que efetivamente impressiona quando pisamos o acelerador a fundo. Mas nas curvas, a dinâmica deixa a desejar. A juntar a isso, falta o fator diversão, que é sempre obrigatório em qualquer modelo com pretensões desportivas.

Prós

  • Aceleração
  • Relação qualidade/preço
  • Versatilidade

Contras

  • Acabamentos e materiais
  • Consumos
  • Comportamento dinâmico

Especificações Técnicas

Versão base:44.090€

Classificação Euro NCAP: 5/5

44.840€

Preço unidade ensaiada

  • Arquitectura:Dois motores elétricos
  • Posição:Motor Elétrico 1: Dianteira Transversal; Motor Elétrico 2: Traseira Transversal
  • Carregamento: Bateria de iões de lítio com 64 kWh
  • Potência:
    Motor Elétrico 1: 150 kW (204 cv)
    Motor Elétrico 2: 150 kW (204 cv)
    Potência Máxima Combinada: 320 kW (435 cv)
  • Binário:
    Motor Elétrico 1: ND
    Motor Elétrico 2: ND
    Binário Máximo Combinado: 600 Nm

  • Tracção: Integral
  • Caixa de velocidades:  Automática de uma relação

  • Comprimento: 4287 mm
  • Largura: 1836 mm
  • Altura: 1516 mm
  • Distância entre os eixos: 2705 mm
  • Bagageira: 363-1177 litros
  • Jantes / Pneus: 235/45 R18
  • Peso: 1878 kg

  • Média de consumo: 18,7 kWh/100 km
  • Velocidade máxima: 200 km/h
  • Aceleração máxima: >3,8s

    Tem:

    • Sistema de controlo da pressão dos pneus (TPMS)
    • Controlo de velocidade cruzeiro adaptativo (ACC)
    • Travagem de Emergencia Autónoma (AEB)
    • Controlo de Máximos Inteligente (IHC)
    • Sistema de Assistência à Velocidade (SAS)
    • Assistente de Engarrafamentos (TJA)
    • Aviso de Condução Errática(UDW)
    • Aviso de Saída de Faixa de Rodagem (LDW)
    • Assistente de Manutenção na Faixa de Rodagem (LKA)
    • Manutenção de Emergência na Faixa de Rodagem (ELK)
    • Assistente à Mudança de Faixa de Rodagem (LCA)
    • Monitorização de Ângulo Morto (BSM)
    • Alerta de Trânsito Cruzado à Retaguarda em manobras (RCTA)
    • Aviso de Colisão Traseira (RCW)
    • Sensor de estacionamento traseiro
    • Câmara 360 com vista de chassis tansparente
    • Bomba de calor
    • Ar condicionado com controlo de climatização automático
    • Volante multifunções com ajuste de 4 níveis e aquecido
    • Painel de instrumentos digital de 7 polegadas
    • Sistema de som com 6 altifalantes
    • Carregamento sem fios de dispositivos móveis
    • Ecrã central multimédia com 10,25”
    • Informação de trânsito em tempo real
    • Apple Carplay/Android Auto
    • Arranque automático (O veículo entra em funcionamento ao pressionar o pedal do travão)
    • Entrada sem chave
    • Banco do condutor com 6 níveis de ajustes elétricos
    • Banco do passageiro dianteiro com ajuste de 4 níveis
    • Vidros de privacidade traseiros
    • Grelha frontal ativa
    • Espelhos retrovisores exteriores com recolhimento automático e aquecimento
    • Jante de liga leve de 18″ de duas cores

Pintura Hunter Green — 750 €.