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Crescimento em causa. Os desafios da indústria nacional de componentes

José Couto, presidente da Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel, desafia a Autoeuropa a comprar mais componentes em Portugal.

Componentes Audi
© André Mendes / Razão Automóvel

José Couto, presidente da AFIA (Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel), afirmou estar “receoso” relativamente ao futuro da indústria nacional de componentes automóveis, em entrevista recente ao ECO.

Apesar do valor recorde registado em 2023 — cerca de 14,6 mil milhões de euros (dos quais 12,433 mil milhões de euros provenientes de exportações), é expectável que a faturação da indústria nacional de componentes automóveis conheça um recuo em 2024.

José Couto, presidente da AFIA
© Razão Automóvel José Couto, presidente da AFIA, foi um dos convidados do episódio 33 do Auto Rádio

Segundo José Couto, são muitos os desafios a enfrentar, desde os conflitos que se registaram no Mar Vermelho até à diminuição efetiva da procura. O presidente da AFIA garante que as empresas estão a preparar-se para “adaptar o chão-de-fábrica” ao abrandamento das encomendas.

“Estamos um pouco receosos”

Na hora de traçar um cenário para 2024, José Couto reitera que é expectável “que a produção de automóveis encolha”, o que vai tornar, também, o mercado de componentes mais pequeno.

O mercado está a encolher, há uma diminuição, nalguns casos, até da produção de automóveis elétricos, que baixaram as vendas.

José Couto, presidente da AFIA

Assim, depois do crescimento a dois dígitos em 2023, o líder da AFIA diz que “a melhor expectativa neste momento é que em todo o ano se possa crescer à volta de 5%”.

Em janeiro só crescemos 0,3% e estamos um pouco receosos”, afirmou José Couto ao ECO, antes de dizer: “Mas 0,3% é 0%. Não nos anima”.

Recorde-se que a diminuição da procura já se regista desde outubro de 2023, sendo que em dezembro do último ano chegou a registar-se um valor negativo (-2,8% em termos homólogos).

Existem postos de trabalho em risco?

A manter-se a expectativa de crescimento em torno dos 5% para este ano, será possível proteger os cerca de 63 mil postos de trabalho do setor.

“A não ser que exista uma queda significativa (nas encomendas), seremos capazes de manter este número entre os 62 e os 63 mil trabalhadores”, garante José Couto, que afirma que será possível “manter o aparato industrial, quer ao nível da mão-de-obra quer dos equipamentos”.

Acreditamos neste momento que somos capazes de manter esse nível de empregabilidade e encontrar soluções para mitigar esses custos que vêm por diminuição da produção.

José Couto, presidente da AFIA

Sobre o capital humano desta indústria, José Couto afirma que “é importante que se mantenha porque o investimento destas 350 empresas em recursos humanos é significativo. É muito exigente do ponto de vista da formação”.

“Isto é um investimento não tangível que gostaríamos de guardar porque é isto que nos dá a mola para enfrentarmos os novos desafios tecnológicos propostos pelos clientes. A partir do momento em que se perde, é difícil de recuperar”, reforça, citado pelo ECO.

Descida das exportações pode não ser problema

Em janeiro de 2024, registaram-se quebras significativas nas encomendas provenientes de Espanha (-5,8%) e de França (-23,1%), o que ganha especial importância por se tratar do primeiro e terceiro mercado mais importantes para a indústria nacional de componentes automóveis.

No caminho inverso, as encomendas provenientes da Suécia têm vindo a aumentar de forma consistente nos últimos meses e em janeiro deste ano a Alemanha aumentou as compras a Portugal em 11,6% e o Reino Unido em quase 14%.

Mesmo assim, “só no final do primeiro trimestre” será possível “ver as tendências e ter uma noção mais exata e global”, como explica o presidente da AFIA, antes de dizer, de forma peremptória:

Gostávamos até que o nosso valor de exportações pudesse cair, por ser utilizada (a produção) em Portugal.

José Couto, presidente da AFIA

Segundo o próprio, isso “significaria que estávamos a oferecer mais componentes às empresas que estão instaladas em Portugal ou que se instalavam aqui novas OEM (Original Equipment Manufacturer), novos construtores automóveis”.

Autoeuropa pode ajudar

A Autoeuropa, que representa cerca de 1,5% de todo o PIB nacional, pode ter um papel decisivo para a indústria nacional de componentes automóveis, compensando a quebra nas encomendas externas e, por consequência, a descida esperada nas exportações.

Autoeuropa vista de cima
© Volkswagen Autoeuropa Volkswagen Autoeuropa, em Palmela

Já manifestámos à Autoeuropa que gostaríamos que aumentasse a compra de componentes nacionais, que houvesse um reforço importante aí porque é um valor reduzido. Achamos que é pouco para aquilo que está instalado em Portugal.

José Couto, presidente da AFIA

De acordo com José Couto, este foi um tema que a AFIA já desenvolveu durante 2023, por altura da suspensão da produção da Autoeuropa por falta de peças de um fornecedor esloveno. “Precisamos de voltar a esse tema”, garante.

Fonte: ECO

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