Primeiro Contacto ArcFox Alpha-T. Conduzimos o SUV elétrico chinês com ambições europeias

Chegará à Europa?

ArcFox Alpha-T. Conduzimos o SUV elétrico chinês com ambições europeias

O ArcFox Alpha-T, um SUV elétrico, é o primeiro modelo do gigante chinês BAIC com intenções de vir para a Europa que pudemos guiar em primeira mão.

ArcFox Alpha-T

O ArcFox Alpha-T quer atacar o segmento dos SUV médios elétricos premium, que promete ficar rapidamente bastante concorrido, mas nem por isso a BAIC recuou — pelo menos de momento — na sua intenção de entrar na Europa (anunciada em 2020) e lutar contra ferozes concorrentes como o BMW iX3, Audi e-tron ou o futuro Porsche Macan totalmente elétrico.

O Alpha-T tem 4,76 m de comprimento e começa logo a parecer uma proposta séria quando olhamos para as suas linhas exteriores (onde reconhecemos alguma influência de um ou outro Porsche e de um ou outro SEAT), muito longe de algumas propostas risíveis que alguns fabricantes chineses revelaram num passado não tão distante quanto isso.

É natural que estranhemos menos essa maturidade estilística se soubermos que a BAIC contratou o talento do “semi-reformado” Walter De Silva, que começou por ser co-autor do desportivo ArcFox GT e que logo depois ajudou a criar os traços deste Alpha-T.

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ArcFox Alpha-T

O bom prenuncio deixado pelo exterior confirma-se dentro do carro, tanto pelo generoso espaço interior, permitido pela ampla distância entre eixos de 2,90 m como pela natureza de veículo totalmente elétrico, como pela qualidade dos materiais. A bagageira tem um volume de 464 litros, o qual pode ser aumentado com o rebatimento das costas dos bancos traseiros.

O impacto do Alpha-T na sua estreia mundial, debaixo dos holofotes do debilitado Salão de Pequim no final do ano passado, só não foi mais positivo e não causou tanto impacto global por culpa da pandemia que reduziu o certame à dimensão de uma feira de automóveis regional.

Qualidade acima do esperado

Há pele, Alcantara e plásticos de elevada qualidade que deixam a impressão final de qualidade percebida nivelada pela de alguns prestigiados rivais europeus, o que é algo totalmente inesperado.

Interior ArcFox Alpha-T

Existem alguns plásticos de toque rijo na parte inferior do tabliê e também num estreito elemento dos painéis das portas, mas que estão visualmente bem “resolvidos”, além de existir a possibilidade de não se manterem nas unidades finais destinadas ao exigente cliente europeu.

Bancos, comandos e os três grandes ecrãs — o maior dos quais é o central de infoentretenimento, horizontal, que se estende até ao passageiro dianteiro — deixam uma impressão premium bem vincada. As diversas funções podem ser facilmente acionadas por toque ou gestos, há elementos que podem ser enviados para o passageiro dianteiro e a configuração dos ecrãs pode ser personalizada.

Na versão chinesa que aqui guiámos — na pista de testes da Magna Steyr, em Graz, na Áustria, e debaixo de enorme secretismo — a área exterior à frente e atrás do Alpha-T pode ser captada em imagens durante a condução. A climatização é controlada através do ecrã inferior, bastante parecido com o do Audi e-tron, tanto na forma quanto na função.

Ao contrário dos modelos alemães com que, aspiracionalmente, o Alpha-T quer concorrer, aqui não existem motorizações a gasolina ou Diesel, apenas propulsão unicamente elétrica.

Desenvolvido na Europa

O desenvolvimento do veículo foi centrado na Magna Steyr, na Áustria (e não liderado pela BAIC na China) que está a trabalhar em diferentes versões com tração dianteira, tração 4×4 (com um motor elétrico em cima de cada eixo), bem como diferentes tamanhos de bateria, de potência e de autonomia.

A versão de topo, que nos foi confiada para esta breve experiência ao volante, tem tração às quatro rodas e um rendimento máximo de 320 kW, o mesmo que 435 cv (160 kW + 160 kW de cada um dos motores elétricos) e 720 Nm (360 Nm + 360 Nm), mas que consegue por tempo limitado (pico de rendimento). O rendimento contínuo é de 140 kW ou 190 cv e 280 Nm.

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O Alpha-T consegue completar o sprint de 0 a 100 km/h em apenas 4,6s, prosseguindo depois até a uma velocidade de ponta limitada a 180 km/h, que é razoável (e normal) para um veículo 100% elétrico.

ArcFox Alpha-T

Neste caso, a bateria de iões de lítio tem uma capacidade de 99,2 kWh e o seu consumo médio anunciado de 17,4 kWh/100 km significa que poderá atingir os 600 km de autonomia máxima (a confirmar pela normativa WLTP), superior à dos seus rivais. Mas já no que diz respeito às recargas, o ArcFox não faz tão boa figura: com uma capacidade máxima de carga de 100 kW, o Alpha-T irá requerer cerca de uma hora para “encher” a bateria de 30% a 80%, no que será claramente superado pelos seus potenciais rivais alemães.

Comportamento com margem de progresso

É o momento de começar a rolar, percebendo-se imediatamente que esta versão que temos em mãos foi desenvolvida para o mercado chinês. Por isso o chassis – com esquema MacPherson na suspensão dianteira e eixo traseiro independente multibraços – dá total prioridade ao conforto, o que se nota mesmo com o avultado peso da bateria.

ArcFox Alpha-T

A afinação para uma eventual futura versão europeia deverá ser mais “seca” para favorecer mais a estabilidade, até porque os amortecedores não são adaptativos, o que significa que qualquer que seja o modo de condução escolhido (Eco, Comfort ou Sport) não existe qualquer variação de resposta. Algo parecido ocorre com a direção, muito pouco comunicativa e demasiado leve, especialmente a velocidades mais altas.

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Já as prestações são de melhor nível, mesmo considerando que estamos a guiar um SUV com 2,3 t, o que se deve agradecer aos dois motores elétricos. Não fosse pelos pronunciados movimentos transversais e longitudinais da carroçaria, e a equilibrada repartição das massas e os generosos pneus 245/45 (em jantes de 20”) teria melhores resultados.

ArcFox Alpha-T

Afinal, o ArcFox Alpha-T terá alguma possibilidade de singrar no exigente mercado europeu?

Em termos de design e de atributos técnicos (bateria, potência) não há grandes dúvidas que tem alguns trunfos interessantes, mesmo não sendo o melhor em nenhum deles.

Antes disso há que fazer todo um trabalho de marketing para tirar a marca ArcFox e o grupo BAIC do desconhecimento no nosso continente, porventura com o apoio da Magna que goza de alguma notoriedade na Europa.

ArcFox Alpha-T

De contrário será mais um SUV chinês com ambições adiadas de sucesso, ainda que o prometido preço competitivo possa causar algumas ondas, isto se se confirmar que esta versão de topo e ricamente equipada custará menos de 60 000 euros.

Uma verdadeira pechincha ao lado dos SUV elétricos das poderosas marcas alemãs, mas posicionado mais próximo de outras propostas como o Ford Mustang Mach-E.

Ficha técnica

ArcFox Alpha-T
Motor
Motores 2 (um no eixo dianteiro e outro no eixo traseiro)
Potência Contínua: 140 kW (190 cv);
Pico: 320 kW (435 cv) (160 kW por motor)
Binário Contínuo: 280 Nm;
Pico: 720 Nm (360 Nm por motor)
Transmissão
Tração Integral
Caixa de velocidades Caixa redutora de uma relação
Bateria
Tipo Iões de lítio
Capacidade 99,2 kW
Carregamento
Potência máxima em corrente contínua (DC) 100 kW
Potência máxima em corrente alternada (AC) N.D.
Tempos de carregamento
30-80% 100 kW (DC) 36 min
Chassis
Suspensão FR: Independente MacPherson; TR: Independente multibraços
Travões N.D.
Direção N.D.
Diâmetro de viragem N.D.
Dimensões e Capacidades
Comp. x Larg. x Alt. 4,77 m x 1,94 m x 1,68 m
Distância entre eixos 2,90 m
Capacidade da mala 464 litros
Pneus 195/55 R16
Peso 2345 kg
Prestações e consumos
Velocidade máxima 180 km/h
0-100 km/h 4,6s
Consumo combinado 17,4 kWh/100 km
Autonomia 600 km (estimados)
Preço Menos de 60 mil euros (estimados)

Autores: Joaquim Oliveira/Press-Inform

ArcFox Alpha-T. Conduzimos o SUV elétrico chinês com ambições europeias

Primeiras impressões

7/10
O SUV Alpha T tem um design que convence, as prestações surpreendem pela positiva, mas a versão europeia terá que melhorar o comportamento em estrada (mais estável e uma direção com melhor resposta) que experienciámos nesta versão destinada ao mercado chinês. Inesperada foi a impressão final de qualidade percebida que está nivelada pela de alguns prestigiados rivais europeus. Poderá chegar à Europa durante 2022.

Prós

  • Qualidade percebida acima do esperado
  • Design evoluído
  • Prestações de bom nível

Contras

  • Comportamento a melhorar
  • Velocidade máxima de carregamento
  • Marca desconhecida