Desde 102 530 euros
e-tron S Sportback com 3 motores e 503 cv. O que vale o primeiro Audi “S” elétrico?
O Audi e-tron S Sportback é o primeiro "S" elétrico da marca dos anéis e revelou ser uma proposta… intrigante. Descubram as razões.

O Audi e-tron S Sportback (e e-tron S “normal”) não só é o primeiro “S” da marca totalmente elétrico como, mais interessante, é o primeiro a vir com mais do que dois motores elétricos motrizes: um no eixo dianteiro e dois no eixo traseiro (um por roda) — antecipou-se, inclusive, à Tesla na chegada ao mercado de tal configuração, com o Model S Plaid.
Nenhum dos três motores está fisicamente ligado entre si, com cada um a ter acoplado a sua própria caixa redutora (de uma relação só), estando a comunicação entre os três apenas a cargo da software.
No entanto, ao volante não damos conta das “conversas” que possam ocorrer entre os três: carregamos no acelerador e o que obtemos é uma resposta decidida e linear, como se de um motor apenas se tratasse.
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Porém, o facto de cada uma das rodas traseiras ter o seu próprio motor abre um mundo de possibilidades dinâmicas, podendo explorar ao máximo o potencial da vetorização do binário e conseguir um controlo extremamente preciso sobre quanto binário chega a cada roda, que nenhum diferencial consegue replicar.
Por fim, os dois motores traseiros dão ao Audi e-tron S Sportback um claro protagonismo ao eixo traseiro, que soma mais newtons metro e quilowatts que o eixo dianteiro, algo que não é habitual na marca dos quattro anéis — só o R8 tem tanto foco sobre o eixo motriz traseiro.
Potência não falta
Ter mais um motor que os outros e-tron trouxe também mais potência ao S. No total, são 370 kW (503 cv) e 973 Nm… mas só se estiverem com a transmissão em “S”, e só estão disponíveis… 8s de cada vez. Na posição normal “D”, a potência disponível desce para os 320 kW (435 cv) e 808 Nm — ainda assim superior à potência de pico de 300 kW (408 cv) do e-tron 55 quattro.

Com tanto poder de fogo eletrões, a performance impressiona — de início. Os arranques são poderosos, sem roçarem o desconfortável como nalguns elétricos que nos esmagam, sem apelo nem agravo, contra o banco uma e outra vez.
Os credíveis 4,5s oficiais até aos 100 km/h surpreendem ainda mais, quando constatamos que estamos ao volante de praticamente 2700 kg de SUV — merece até ser escrito por extenso… praticamente dois mil e setecentos quilos… É mais pesado que, por exemplo, o ainda maior e recente Tesla Model X Plaid, o tal de mais de 1000 cv, em mais de 200 kg.

É certo que a intensidade da aceleração começa a desvanecer quando a velocidade está para lá dos três dígitos, mas a resposta imediata ao mais leve pressionar do acelerador está sempre lá, sem nunca hesitar.
Ao volante
Se a superior performance disponível é um dos pontos de atração do “S”, a minha curiosidade em relação ao e-tron S Sportback era mais sobre a experiência de condução. Com o protagonismo dado ao eixo traseiro, e sendo um “S”, a expectativa é a de que encontraria uma experiência de condução distinta dos restantes e-tron 55, consequência da sua configuração mecânica.

Rapidamente constatei que não, não é. Numa condução normal, a haver diferenças ao volante do “S” em relação aos e-tron 55, são subtis — nota-se o amortecimento mais firme, mas pouco mais que isso. Só a sua capacidade superior de aceleração o distingue verdadeiramente, mas não me interpretem mal, não há nada de errado com a condução do e-tron, qualquer que seja a versão, bem pelo contrário.
A direção é leve (disfarçando bem a substancial massa em movimento), mas muito precisa (ainda que pouco comunicativa), característica presente nos vários comandos do veículo.

O refinamento a bordo é simplesmente soberbo e nada tenho a apontar ao conforto, sempre em níveis elevados, seja no meio urbano onde o piso nem sempre está no melhor estado, seja em autoestrada, a velocidades de cruzeiro elevadas.
VEJAM TAMBÉM: Até 785 km de autonomia. Já nos sentámos no Mercedes-Benz EQS e sabemos quanto vai custarParece até magia a forma como os engenheiros da Audi conseguiram erradicar os ruídos aerodinâmicos e de rolamento (mesmo tendo em conta que as rodas são enormes, com jantes de 21”) e a suspensão pneumática (de série) lida eficazmente com todas as imperfeições do asfalto e até podemos ajustar a distância ao solo de acordo com as necessidades.

Persiste uma percepção geral de elevada integridade quando em movimento e quando combinada com a cuidada insonorização, fazem deste SUV elétrico um companheiro fenomenal para longas viagens — ainda que limitado pela autonomia, mas já lá iremos… —, ou seja, o que esperamos de qualquer Audi a este nível.
À procura do “S”
Mas, confesso, estava à espera de um pouco mais de “picante”. É preciso aumentar o ritmo — bastante — e apanhar um encadeado de curvas para perceber o que faz deste e-tron S Sportback mais especial que um e-tron 55 Sportback.

Selecionem o modo Dynamic (e “S” na transmissão), carreguem no acelerador com firmeza e preparem-se para atacar a próxima curva que se aproxima vertiginosamente rápido ao mesmo tempo que tentam ignorar são 2,7 t a mudar rapidamente de direção… Pé no travão (e notam que falta alguma “mordedura” inicial), apontem a frente na direção desejada e maravilhem-se como o “S” muda de direção, sem hesitações.
VEJAM TAMBÉM: A bordo do novo Audi RS 3. Até é capaz de “andar de lado”Notam que a carroçaria adorna pouco e agora voltem a pisar o acelerador… com convicção… e aí, sim, os dois motores elétricos traseiros fazem-se “sentir”, com o eixo traseiro a “empurrar” progressivamente o dianteiro, eliminando qualquer vestígio de subviragem, e caso continuem a insistir sobre o acelerador, a traseira até dá um “ar de sua graça” — uma atitude a que não estamos habituados a ver nos Audi… mesmo os muito rápidos RS.

A questão é que para chegar a este ponto, temos de estar a mover-nos muito depressa para “sentir” os efeitos desta incomum configuração motriz. Abrandando um pouco o ritmo, mas ainda elevado, regressa a eficácia e neutralidade que são típicas da marca. O “S” perde o seu fator de distinção e a capacidade em influenciar a experiência de condução, só mostrando todo o seu potencial em modo “faca nos dentes”.
Dito isto, acreditem, o e-tron S Sportback curva melhor que qualquer SUV tão grande e pesado como este não deveria ter direito de o fazer, demonstrando uma agilidade que surpreende.

Cheio de apetite
Se impressionou a curvar, é em estrada aberta e longas distâncias que os Audi a este nível costumam deslumbrar. É como se tivessem sido concebidos com o único propósito de ir ao fim do mundo e voltar, de preferência a velocidades de cruzeiro muito elevadas numa qualquer autobahn.
VEJAM TAMBÉM: Testámos o Volkswagen ID.4 GTX, o elétrico para as famílias apressadasO Audi e-tron S Sportback não é exceção, impressionando pelo refinamento e insonorização, como já tinha referido, e também pela elevada estabilidade. Mas nesse exercício os consumos registados limitam bastante esse propósito. O e-tron S Sporback tem um apetite bastante grande.

Em autoestrada, à velocidade legal em Portugal, 31 kWh/100 km foi o normal, um valor bastante elevado — só posso imaginar nas autobahns alemãs, o seu habitat natural, sobretudo nos troços sem restrições. Pode obrigar a fazer algumas contas antes de iniciarmos uma viagem com algumas centenas de quilómetros.
Sempre podemos optar por ir pelas nacionais, a 90 km/h, mas mesmo assim, o computador de bordo registou sempre perto de 24 kWh/100 km. Durante a minha estadia com ele nunca vi menos do que 20 kWh/100 km.

A bateria de 86,5 kWh líquidos é grande q.b., mas com a facilidade com que os consumos sobem, os 368 km de autonomia anunciados parecem ser algo otimistas e vai obrigar a carregamentos com mais frequência que outros elétricos equivalentes.
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Como referi no início deste texto, o Audi e-tron S Sportback é um dos modelos mais intrigantes que conduzi da marca dos anéis. Seja pela sua configuração mecânica ou pelo potencial da sua atitude dinâmica. No entanto, o que promete no papel parece não encontrar eco na realidade.

Se por um lado esperava encontrar um e-tron com mais “atitude” do que os outros e uma experiência de condução distinta, essa só aparece numa condução mais agressiva e a velocidades muito elevadas; em tudo o resto pouco ou nada se distingue dos e-tron 55 quattro.
Por outro lado, apesar das excelentes características estradistas que possui, os seus consumos elevados limitam-no, pois não vamos chegar muito longe.
O Audi e-tron S Sportback parece ficar assim numa espécie de limbo, apesar de todas as excelentes qualidades com que nos brinda. Fica difícil recomendá-lo sabendo que existe um mais capaz e-tron 55 Sportback.

Ainda há que ter em conta o preço, a começar a norte dos 100 mil euros (mais 11 mil euros que o e-tron 55 Sportback), mas a nossa unidade, fiel à tradição “premium”, adiciona ainda mais de 20 mil euros em opções — e mesmo assim detetei lacunas como a ausência de um cruise control adaptativo.

Preço
unidade ensaiada
Versão base: €102.530
Classificação Euro NCAP:
- Motor
- Arquitectura: 3 motores (1 à frente, 2 atrás)
- Posição: Dianteiro Transversal e Traseiro Transversal
- Carregamento: Bateria de iões de lítio: 95 kW (86,5 kWh líquidos)
- Potência: Motor 1 (Fr.): 150 kW (204 cv); Motor 2 (Tr.): 132 kW (179 cv); Motor 3 (Tr.): 132 kW (179 cv); Potência máxima combinada: 370 kW (503 cv);
- Binário: Motor 1 (Fr.): N.D.; Motor 2 (Tr.): N.D.; Motor 3 (Tr.): N.D.; Binário máximo combinado: 973 Nm;
- Transmissão
- Tracção: Integral
- Caixa de velocidades: Caixa redutora 1 vel. (uma caixa por motor)
- Capacidade e dimensões
- Comprimento / Largura / Altura: 4901 mm / 1976 mm / 1615 mm
- Distância entre os eixos: 2928 mm
- Bagageira: 555-1665 l; Mala dianteira: 60 l
- Jantes / Pneus: 285/40 R21
- Peso: 2695 kg
- Consumo e Performances
- Consumo médio: 28,1–25,8 kWh/100 km; Autonomia: 368 km
- Emissões de CO2: 0 g/km
- Vel. máxima: 210 km/h (eletronicamente limitada)
- Aceleração: 4,5s
- Garantias
- Mecânica: 4 anos ou 80 000 km
-
Equipamento
- Tampa do compartimento de bagagem com abertura e fechamento elétrico
- Cabo para Sistema de carregamento e-tron
- Ar condicionado estacionário
- Potência de aquecimento standard
- Audi virtual cockpit plus
- Navegação MMI plus com MMI touch response
- Sistema de estacionamento visual com indicação do ambiente
- Sistema regulador de velocidade com limitador de velocidade
- Adaptive air suspension sport
- Direção progressiva
- Extensão de garantia 2 anos, máx. 80 000 km
- Indicação de controle da pressão dos pneus
Avaliação
- Refinamento a bordo soberbo
- Performance elevada
- Agilidade surpreendente
- Comportamento eficaz e elevada estabilidade
- Consumos elevados (autonomia curta)
- Alguns opcionais deviam ser de série
- Não é "S" o suficiente
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