Desde 30 890 euros
Kia Proceed em dose dupla. Testámos a GT 1.6 T-GDI e a GT Line 1.0 T-GDI
Quis o destino… ou o calendário, que acabasse por testar não uma, mas duas Kia Proceed, precisamente as que abrem e fecham a gama: 1.0 T-GDI GT Line e 1.6 T-GDI GT.

É impossível não começar este teste sem me referir ao design e estilo da Kia Proceed, definitivamente o seu cartão de visita. É um daqueles modelos que faz girar cabeças, por bons motivos, como pude verificar enquanto fui o custodiante destas duas unidades — a vermelha 1.0 T-GDI e a branca 1.6 T-GDI.
Lamento, mas não a vou chamar de “shooting brake”, já que por muito estilo que tenha, a Proceed não é uma — já basta o abuso que a indústria fez do termo “coupé”. No entanto, como é visível, existem diferenças claras para a Ceed Sportswagon, a outra carrinha da gama.
Comparando-as, a Proceed é mais baixa 43 mm, o para-brisas tem mais 1,5º de inclinação e o óculo traseiro surge com uma acentuada inclinação, quase parecendo um fastback.
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Junte-se um volume superior delineado pelo que parece um arco ininterrupto perfeito e a Kia Proceed projeta uma aparência dinâmica que os seus muito “horizontais” e até conservadores irmãos apenas sonham. Talvez não seja pura coincidência as associações à Porsche Panamera Sport Turismo na traseira.
O estilo tem um preço
A história é comum, “puxa-se” pelo estilo, perde-se na funcionalidade — a Proceed não é diferente. A visibilidade é a primeira a ser sacrificada sobre o altar do estilo. Os pilares A mais inclinados afetam a visibilidade em algumas manobras e na aproximação a passadeiras e cruzamentos; e a visibilidade traseira é bastante reduzida devido às janelas laterais de baixa altura e o óculo traseiro é diminuto — como já referi em mais casos, a câmara traseira passou a ser uma necessidade.

Sentados aos seus comandos, apesar da familiaridade (o interior é o mesmo dos restantes Ceed), há algo que não parece estar bem. Mesmo com o (excelente) banco na posição mais baixa, a nossa cabeça fica demasiado próxima do teto, gerando a impressão de não estarmos verdadeiramente encaixados no interior da Proceed.
Confiança é aquilo que sentimos aos comandos da Proceed, graças aos muito bons canais de comunicação que são o seu chassis e direção.
Resta descobrir quem são os responsáveis por isto… Se os 43 mm a menos de altura da Kia Proceed que não tiveram correspondência direta na altura a que o banco está; se o opcional teto panorâmico (950 euros) presente nas duas unidades testadas, que rouba preciosos centímetros ao espaço disponível em altura; ou uma combinação dos dois.

A acessibilidade ao interior, sobretudo à segunda fila de bancos, é igualmente prejudicada, mais uma vez, por “culpa” das opções estéticas tomadas. O arco que define o topo da área vidrada pode gerar encontro imediatos entre a cabeça dos passageiros e a carroçaria. E por fim, a forte inclinação do volume traseiro, juntamente com a redução em altura, faz com que bagageira tenha uma altura útil algo reduzida, apesar de acusar 594 l de capacidade, um valor excelente, sem dúvida.
Parecem ser muitas críticas, mas regra geral, não comprometem assim tanto a fruição da Proceed. Além do mais, a Ceed Sportswagon é que é a verdadeira carrinha familiar da gama — a Proceed tem outra raison d’être.

Trata-se de uma proposta de caráter bem mais emocional, seja pelas suas fluídas linhas e até pela sua apurada dinâmica. Assume o lugar da anterior carroçaria de três portas, e acreditem, o espaço e a acessibilidade oferecida pelo par de portas extra batem qualquer três portas.
Um grande chassis…
Existe substância para lá do estilo? Sem dúvida, a Kia Proceed não desilude. Mas já sabia ao que ia… O efeito Biermann já se tinha feito notar no Ceed durante a sua apresentação internacional, onde estive presente, e a Proceed não lhe fica atrás.
A marca refere que a Proceed recebeu molas e amortecedores mais firmes, mas barras estabilizadoras mais finas relativamente aos restantes Ceed; nada que altere a sua personalidade dinâmica e mesmo o conforto não parece ser afetado.

A direção é o destaque, precisa e com o peso certo — a boa pega do volante em pele perfurada também ajuda —, acompanhada de um voluntarioso e preciso eixo dianteiro que segue fielmente as instruções ordenadas, sem nunca ser nervoso, mudando de direção sempre de forma decisiva.
Aumentamos o ritmo e o comportamento revela-se sempre preciso e neutro, resistindo muito bem à subviragem; não existe praticamente rolamento da carroçaria com os movimentos desta sempre muito bem controlados. Apesar de eficaz e precisa a Proceed não é unidimensional como algumas propostas do segmento; pelo contrário, é interativa e cativa e satisfaz em ritmos mais empenhados.

Mesmo com todas as ajudas desligadas — algo desnecessário, dado a muito boa calibração do ESP, não se revelando intrusivo —, a Proceed não desilude, longe disso, levando-nos a descobrir um eixo traseiro muito cooperativo e interativo. Não esperem exuberantes derivas de traseira, largando o acelerador a meio da curva ou em travagens em apoio, mas está sempre apto a intervir, mantendo o eixo dianteiro sempre na direção certa com um corretivo e progressivo rodar da traseira, enriquecendo toda a experiência de condução.
Confiança é aquilo que sentimos aos comandos da Proceed, graças aos muito bons canais de comunicação que são o seu chassis e direção.
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Independentemente de estarem ao volante da Proceed 1.0 T-GDI ou da 1.6 T-GDI, dinamicamente não há diferenças, se excetuarmos apenas o pisar mais seco da 1.6 T-GDI, talvez justificada pelas rodas de maior dimensão.
Com um chassis deste gabarito, a nossa atenção vira-se para os motores. Se o 1.0 T-GDI de 120 cv revela-se algo curto para tanto chassis, a Kia Proceed GT, com 204 cv, já demonstra “poder de fogo” adequado para acompanhá-lo. Mesmo assim, fica a faltar um motor acima deste para aproveitar todo o seu potencial. Motor do i30 N, talvez?

No entanto, a qualidade do chassis contrasta com a dos motores — são o elo mais fraco nas Proceed —, caixas de velocidades e até o tato dos pedais.
O 1.0 T-GDI tem falta de pulmão, sobretudo em baixas, o que torna a sua utilização em cidade algo desagradável. O seu ponto forte são os médios regimes, não adiantando muito visitar os regimes mais elevados do motor, não se sentindo à vontade lá. A banda sonora também revela-se mais industrial do que musical.
Falta refinamento a este propulsor, pelo menos quando comparado com propostas semelhantes na concorrência como o 1.0 EcoBoost da Ford ou 1.0 TSI do grupo Volkswagen. Os consumos também não são simpáticos — foi difícil baixar dos oito litros, e em cidade, com muito pára-arranca, nove foi a norma.
O 1.6 T-GDI é superior todos os aspetos — resposta, faixa de utilização e sonoridade —, oferecendo prestações bastante decentes, mas mesmo assim caracteriza-se por ser mais eficaz do que inspirador.
Parte da responsabilidade talvez possa ser atribuído à caixa 7DCT, de dupla embraiagem e sete velocidades. Se em ritmos moderados, pouco ou nada há a apontar ao seu funcionamento, quando em condução mais empenhada e deixada aos seus afazeres, a sua lógica deixou algo a desejar. Por vezes reduzia desnecessariamente, quando já à saída das curvas; ou mantinha-se tempo a mais nas rotações mais elevadas, não mudando de relação, quando já não havia sumo para expremer.

O modo Sport, só presente nas versões equipadas com a 7DCT, acaba por exacerbar, por vezes, estas características. Além do mais, quando ativado, também “enriquece” digitalmente o som do motor, facilmente notando-se os bits e os bytes — acabei por circular mais tempo com o modo Sport desligado.
Seria interessante experimentar uma Proceed GT com caixa manual para comparar… Até porque o modo manual da 7DCT também é rapidamente colocado de parte, com a caixa a mudar à mesma de relação quando acha que deve mudar, como por exemplo, quando nos aproximamos do limite máximo de rotações do motor; e as patilhas são demasiado pequenas.
Curiosamente, os consumos do 1.6 T-GDI, não diferem assim tanto dos conseguidos pelo 1.0 T-GDI, apesar de superiores, a rondar os nove litros.

Já tendo tido oportunidade de testar todos os motores da gama Ceed, todos eles partilhados com a Proceed, curiosamente o motor que melhor memória deixou foi o Diesel 1.6 CRDi, sendo o mais refinado e progressivo de toda a gama. O 1.4 T-GDI com 140 cv assemelha-se ao 1.6 T-GDI em caráter, pelo que recomendaria-o em alternativa ao 1.0 T-GDI, caso seja possível dar o salto.
Uma nota final para o tato do pedal do acelerador e travão de ambas as Proceed que, ao contrário da direção, parece que lhes negaram a mesma finesse de calibração.
O acelerador parece imune a um pressionar mais subtil, obrigando a um calcar mais decidido, complicando a sua modulação. Os travões não merecem crítica — potentes e aparentemente infatigáveis —, mas o mesmo não se pode dizer do pedal do travão, onde não parece existir qualquer ação sobre os travões nos seus primeiros graus de atuação, obrigando a carregar sempre mais do que aquilo que à primeira vista seria necessário.
É o carro certo para mim?
É difícil não recomendar a Proceed, mesmo como uma proposta para as famílias. Não é preciso comprar um SUV, a Proceed oferece um estilo apurado sem comprometer em demasia a sua usabilidade. Uma excelente alternativa para os que já não podem ver um crossover ou SUV à frente.

Disponível apenas no nível mais elevado GT Line ou GT (exclusivo do 1.6 T-GDI), o nível de equipamento é extremamente completo — seja ao nível do conforto, segurança ou assistentes de condução —, com muitos poucos opcionais disponíveis.
Justifica, em parte, o seu preço, mais elevado do que à partida esperaríamos. O 1.0 T-GDI começa nos 30 890 euros, com a unidade testada a chegar a uns algo elevados 33 588 euros — tem como opcionais a pintura metalizada (430 euros), o teto panorâmico (950 euros), o sistema de som JBL (500 euros), e o pacote ADAS, de assistência à condução (800 euros).
A Proceed GT começa nos 40 590 euros, com a nossa unidade a roçar os 42 mil euros — um preço difícil de justificar. Se não precisamos do espaço, existem hot hatch com potências a rondar os 270-280 cv mais baratos. Se precisamos do espaço com mais performance que os 204 cv da Proceed GT, a Skoda Octavia Break RS com o 2.0 TSI de 245 cv tem um preço base inferior, apesar de não igualar a Proceed em estilo — prioridades…

Nota: Na ficha técnica colocámos os valores correspondentes à Proceed 1.0 T-GDI GT Line entre parêntesis.

Preço
unidade ensaiada
Versão base: €40.590
Classificação Euro NCAP: N/D
- Motor
- Arquitectura: 4 cil. em linha (3 cil. em linha)
- Capacidade: 1591 cm3 (998 cm3)
- Posição: Dianteira Transversal
- Carregamento: Inj. Dir., Turbo e Intercooler
- Distribuição: 2 a.c.c., 4 válv. por cil.
- Potência: 204 cv às 6000 rpm (120 cv às 6000 rpm)
- Binário: 265 Nm entre as 1500 rpm e as 4500 rpm (172 Nm entre as 1500 rpm e as 4000 rpm)
- Transmissão
- Tracção: Dianteira
- Caixa de velocidades: Dupla embraiagem de 7 vel. (manual de 6 vel.)
- Capacidade e dimensões
- Comprimento / Largura / Altura: 4605 mm / 1800 mm / 1422 mm
- Distância entre os eixos: 2650 mm
- Bagageira: 594 l
- Jantes / Pneus: 225/40 R18 (225/45 R17)
- Peso: 1438 kg (1360 kg)
- Consumo e Performances
- Consumo médio: 6,2 l/100 km (5,4 l/100 km) — valores NEDC
- Emissões de CO2: 142 g/km (127 g/km) — valores NEDC
- Vel. máxima: 225 km/h (190 km/h)
- Aceleração: 7,5s (11,1s)
- Garantias
- Pintura e corrosão: Anti-perfuração: 12 anos
- Mecânica: 7 anos ou 150 mil quilómetros
-
Equipamento
- Sistema alerta de condutor
- Alerta colisão frontal - City
- Faróis máximo automáticos
- Assistente de manutenção faixa de rodagem
- Banco condutor e passageiro com ajuste eléctrico e memória
- Bancos desportivos em Pele e Alcantara
- Sensores de luz e chuva
- Sistema de navegação c/ ecrã de 8'' + Câmara de estacionamento traseira
- Apoio de braço dianteiro com compartimento de arrumos
- Volante e alavanca das velocidades em pele
- Volante desportivo "D-Cut" em pele perfurada
- Carregador Wireless para smartphone
- Jantes de liga leve 18''
- Faróis dianteiros Full LED
- Retrovisores com regulação elétrica / retráteis eletricamente
- Sensores de estacionamento traseiros
- Sistema de Som Premium JBL c/ 8 colunas (Amp. 320W)
- Pack ADAS PLUS (Alerta colisão frontal peões + Detetor de Ângulo Morto + Alterta Tráfego Retaguarda + Cruise Control Adaptativo + Estacionamento automático + Assistente de fila de trânsito)
Avaliação
- Comportamento eficaz e cativante
- Direção
- Equipamento de série
- Motor 1.0 T-GDI
- Consumos elevados
- Preço
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Qual a autonomia do novo Kia Soul Long Range?
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