Primeiro Contacto O MPV elétrico que faltava? Conduzimos o Mercedes-Benz EQT

Chega no verão

O MPV elétrico que faltava? Conduzimos o Mercedes-Benz EQT

O Mercedes-Benz EQT promete espaço e locomoção elétrica a um preço relativamente acessível. Já o conduzimos para saber se cumpre o prometido.

Mercedes-Benz EQT 200

Primeiras impressões

7/10

Data de comercialização: Julho 2023

A Mercedes-Benz eletrificou o Classe T. Será o EQT uma proposta mais apetecível?

Prós

  • Funcionalidade 2.ª fila de bancos
  • Consumo
  • Carregamento AC (22 kW)
  • Portas traseiras leves e de ampla abertura

Contras

  • Tabliê pobre (dimensão, tecnologia e materiais)
  • Performances modestas 
  • Piso da bagageira não fica plano quando se rebatem bancos traseiros
  • Preço vs versão de combustão

O Mercedes-Benz EQT nasce de um cruzamento de genes e quer chegar a famílias com necessidades de espaço e lugares, e com vontade de entrarem na era da propulsão totalmente elétrica sem terem que vender a casa ou hipotecar a ida dos filhos para a universidade para esse efeito.

Podemos resumir o EQT como parte Renault, parte Mercedes — os dois são produzidos na mesma fábrica francesa de Maubeuge —, 100% elétrico, mas com uma plataforma derivada de veículos com motor de combustão, e carroçaria de veículo comercial, mas interior similar ao de um monovolume.

Mercedes-Benz EQT traseira 3/4
© Mercedes-Benz

Quem esperava uma imagem mais próxima do concept revelado há cerca de um ano vai ficar desiludido. Visualmente nem sequer são muitas as diferenças para os Classe T «fumarentos» (combustão). Aliás, a ausência de tubos de escape na traseira do EQT é mesmo uma das principais diferenças.

A outra diferença surge na dianteira, onde a grelha é agora um painel negro, com entradas de ar mais estreitas, precisamente porque as necessidades de refrigeração são menores do que nas versões a combustão.

Segunda fila é onde tudo acontece

Os maiores atributos da Mercedes-Benz EQT surgem no seu interior. As portas deslizantes em ambos os lados geram uma ampla abertura e facilitam imenso o acesso.

E vou acreditar que darão fácil acesso também à terceira fila da versão longa que será apresentada antes do final deste ano.

© Mercedes-Benz As portas deslizantes laterais permitem uma abertura de 1,06 m de altura e 61 cm de largura.

Quando abri e fechei as portas laterais deu para verificar que o seu peso é muito baixo, sendo apenas necessário abrir o trinco e dar um muito leve empurrão para que estas completem o movimento por inteiro.

Os bancos da segunda fila têm uma partição 1/3-2/3 e podem ainda avançar e recuar alguns centímetros, o que não é possível nas versões com motor de combustão.

Segunda fila de bancos
© Mercedes-Benz Cada um dos bancos da segunda fila pode receber uma cadeira de bebé — o do meio só pode receber um banco elevatório e não uma cadeirinha integral —, o que é um importante argumento neste segmento. Vidros elétricos atrás e mesas nas costas dos bancos dianteiros são de série.

Curiosamente é o lugar central o mais cómodo para um adulto porque o assento é mais suave e também porque nos dois bancos exteriores é fácil bater com o ombro no plástico do pilar traseiro. E não existe apoio de braços nas portas deslizantes.

Nesta versão de cinco lugares que conduzi os bancos da segunda fila não podem ser retirados, mas vamos poder fazê-lo no Mercedes-Benz EQT longo, assim como os dois bancos da terceira fila.

Espaço para quase tudo

A oferta de espaço é aceitável em comprimento (60 cm na segunda fila dão bem para um passageiro de 1,85 m de altura), enorme em altura (110 cm) e limitado em largura (136 cm).

O facto de o piso na segunda fila de bancos ser totalmente plano e de existirem saídas de ventilação diretas para esses passageiros (sem ajuste de fluxo ou temperatura) favorece o bem-estar de quem aqui se senta.

Tal como o evidente efeito de anfiteatro que resulta do facto de os assentos da segunda fila estarem bem mais elevados do que os da primeira — em parte (5 cm) pela colocação das baterias debaixo da metade posterior do piso do carro.

Quando um adulto se senta nestes lugares parece estar num trono, mas as pernas ficam muito altas e facilmente os joelhos podem entrar em contacto com as mesinhas nas costas dos bancos dianteiros, caso as estejamos a usar. Mas crianças até 1,65 m de altura vão adorar a vista desobstruída para a frente.

O Mercedes-Benz EQT (elétrico) tem, contudo, uma desvantagem em relação ao Classe T (combustão). Caso os bancos dianteiros estejam na sua posição mais baixa não é possível colocar os pés dos ocupantes da segunda fila por baixo.

Aquém do esperado

O habitáculo é dominado pela cor negra e aplicações em plástico com aspeto metalizado e pela posição elevada do seletor da transmissão.

Interior do Mercedes-Benz EQT
© Mercedes-Benz Saídas de ar redondas com aspeto de turbina em preto brilhante ajudam a identificar o EQT como um Mercedes-Benz. Também o volante multifuncional com botões hápticos é tipico da marca.

O painel de instrumentos é analógico, com grandes mostradores redondos nas extremidades, mas digital ao centro (5,5”) — no «irmão» Renault é 100% digital.

O sistema de infoentretenimento pode ser controlado através do ecrã tátil central de 7” — algo pequeno, no «irmão» Kangoo é de 8” —, pelos botões no volante ou, opcionalmente, através do assistente de voz “Hey Mercedes”.

Parte superior do tabliê
© Mercedes-Benz Todos os revestimentos de tabliê e painéis das portas são de toque duro, como é normal no segmento, mas há um tecido aveludado na zona central superior do painel de bordo.

A impressão do interior deixa algo a desejar, seja pelos revestimentos na maioria duros e por alguns equipamentos abaixo do «irmão» francês.

O que é algo difícil de «aceitar» num veículo cujo preço de entrada se situa acima dos 50 000 euros e também ser pouco comum num Mercedes-Benz.

Um motor, uma bateria

Ao contrário de outros elétricos de segmentos de mercado mais elevados, o Mercedes-Benz EQT apenas dispõe de um motor elétrico — 90 kW (122 cv) e 245 Nm —, e de uma bateria de 45 kWh (com oito módulos e células de bolsa).

O motor síncrono de íman permanente está posicionado à frente. O condutor pode escolher entre dois modos de condução — Eco e Comfort — e três níveis de recuperação (D-, D, D+), neste caso empurrando o seletor da transmissão para a direita e de seguida para cima ou para baixo, consoante o nível desejado.

Mercedes-Benz EQT frente 3/4
© Mercedes-Benz O Mercedes-Benz EQT pode ter um carregador de corrente alternada (AC) de 22 kW, mais potente que os 11 kW da maioria dos outros elétricos. Em corrente contínua (DC) a potência é de uns modestos 80 kW. De série, traz ainda bomba de calor.

Ao volante

Percebe-se que o Mercedes-Benz EQT 200 tem acelerações moderadas e nem poderia ser de outra forma com 122 cv e duas toneladas de peso.

Em cidade é, contudo, bastante ágil graças à entrega instantânea dos 245 Nm, mas em vias rápidas será melhor evitar a faixa da esquerda, até pela velocidade máxima baixa (132 km/h).

Joaquim Oliveira ao volante do Mercedes-Benz EQT
© Mercedes-Benz

Uma particularidade do Mercedes-Benz EQT é ter um eixo traseiro rígido com barra Panhard, enquanto o Classe T a combustão de passageiros, conta com uma suspensão traseira independente. Uma solução mais básica, mas neste caso necessária para fazer face ao peso mais elevado da bateria.

Uma diferença que só se nota nos maus pisos, mas de resto o EQT mostrou ser estável, com o peso da bateria a contrabalançar o efeito da inclinação lateral.

leiam também: Ford Grand Tourneo Connect Active. A alternativa aos SUV de sete lugares

No caso desta unidade contava ainda com a ajuda adicional dos pneus 205/55 R17 (de série são mais estreitos e montados em jantes de 16″). A direção cumpre a sua função sem merecer especiais elogios.

Mercedes-Benz EQT traseira
© Mercedes-Benz

O pedal do travão é mais progressivo e reativo na fase inicial do curso do que em vários modelos elétricos da Mercedes e os travões usam discos ventilados tanto nas rodas dianteiras como nas traseiras, o que é de louvar.

Poupada, mas o percurso ajudou

Havia pouco trânsito na cidade de Gotemburgo (Suécia) e arredores — onde decorreu este primeiro contacto dinâmico — num trajeto que também passava por um pequeno trecho de autoestrada.

No entanto, os apertados limites de velocidade forçaram uma toada muito moderada: 90 km levou quase duas horas (47 km/h de média) a fazer.

EQT de traseira 3/4, em paisagem cénica junto ao mer
© Mercedes-Benz

O consumo médio foi, assim, de uns muito bons 16,8 kWh/100 km, mais baixo do que a média homologada (19 kWh/100 km). E isto apesar da temperatura ambiente ser baixa, em torno dos 10 ºC.

Descubra o seu próximo automóvel:

Não é assim tão acessível

Apesar da promessa de um preço relativamente acessível, quando o preço começa nuns estimados 53 mil euros, torna-se difícil de aceitar tendo em conta o que o EQT oferece — mesmo quando comparando-o com «irmão» Kangoo E-Tech — e sendo um Mercedes-Benz.

Também as especificações da própria cadeia cinemática — potência, performance, autonomia —, deixam algo a desejar para o preço pedido.

Veredito

Mercedes-Benz EQT 200

Primeiras impressões

7/10
O Mercedes-Benz EQT é uma solução para famílias numerosas com propulsão elétrica por um preço abaixo de 60 000 euros. Ainda assim bastante alto para as performances, comportamento e qualidade geral no interior, abaixo do que estamos habituados num Mercedes. O consumo foi bastante baixo, permitindo chegar à autonomia prometida.

Data de comercialização: Julho 2023

Prós

  • Funcionalidade 2.ª fila de bancos
  • Consumo
  • Carregamento AC (22 kW)
  • Portas traseiras leves e de ampla abertura

Contras

  • Tabliê pobre (dimensão, tecnologia e materiais)
  • Performances modestas 
  • Piso da bagageira não fica plano quando se rebatem bancos traseiros
  • Preço vs versão de combustão

Especificações Técnicas

Mercedes-Benz EQT
Motor
MotorUm em posição dianteira
Potência90 kW (122 cv)
Binário245 Nm
Transmissão
TraçãoDianteira
Caixa de velocidadesCaixa redutora de relação fixa
Bateria
TipoIões de lítio
Capacidade45 kWh (líquidos)
Carregamento
Pot. máxima em DC80 kW
Pot. máxima em AC22 kW
Tempo 10-80% 100 kW (DC)38 minutos
Tempo 0-100% 22 kW (AC)2h30min
Chassis
SuspensãoFR: Independente MacPherson; TR: Eixo rígido com barra Panhard
TravõesFR: Discos ventilados; TR: Discos ventilados
DireçãoAssistência elétrica
Diâmetro de viragem11,2 m
Dimensões e Capacidades
Comp. x Larg. x Alt.4498 mm x 1819 mm x 1859 mm
Distância entre eixos2716 mm
Capacidade da mala551-1979 litros; Comprimento máx.: 1804 mm
PneusFR/TR: 205/55 R17
Peso1874-2015 kg
Prestações e consumos
Velocidade máxima132 km/h
0-100 km/h12,6s
Consumo combinado19,0 kWh/100 km
Autonomia282 km