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Li Shufu, o chinês «dono disto tudo»

Esta é a história de Li Shufu. Dono da Volvo, o maior accionista individual da Mercedes-Benz e um dos nomes mais poderosos da indústria automóvel.

Li Shufu, ceo GEELy

Chama-se Li Shufu e é um dos homens mais importantes da indústria automóvel mundial. Apesar de ser um nome pouco familiar para a maioria — está longe da notoriedade de figuras como Carlos Tavares, CEO da Stellantis, ou de Elon Musk, fundador da Tesla.

Porém, se o apresentarmos como dono da Geely — a empresa asiática que em 2010 comprou a Volvo — a história provavelmente muda de figura. Foi este negócio que catapultou a sua notoriedade e hoje é uma das figuras centrais da indústria automóvel mundial.

Esta é a história de Li Shufu, o chinês «dono disto tudo». Poderá ser uma figura de estilo exagerada, mas este empresário parece determinado em torná-la real.

Segundo a revista Forbes, Li Shufu tem uma fortuna avaliada em 21 mil milhões de dólares. Números que fazem deste empreendedor asiático o 14.º homem mais rico da China e o 62.º mais rico do planeta.
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As origens humildes

Filho de agricultores da região de Taizhou, província chinesa de Zhejiang, Li Shufu teve uma infância humilde. Mas com os automóveis sempre presentes.

Em 2014 contou à edição asiática da revista Forbes que já em criança, na praia, enquanto os seus amigos faziam castelos na areia ele preferia usar este elemento para criar automóveis: “Vivíamos numa aldeia agrícola, não tínhamos dinheiro para comprar brinquedos”, disse, lembrando que nunca imaginou, nessa altura, poder vir a “fabricar um carro verdadeiro”.

E foi precisamente na praia que «montou» o seu primeiro negócio: fotografar turistas. Com um empréstimo do seu pai, Li Shufu — com apenas 19 anos — comprou uma câmera fotográfica e começou aí a sua ascensão no mundo dos negócios.

Li Shufu adolescente a andar bicicleta
© Zhejiang Geely Holding Group Um jovem Li Shufu e a sua inseparável bicicleta.

Em pouco meses já tinha um estúdio, pelo que decidiu começar a diversificar o negócio. Da fotografia passou para o desenvolvimento e produção de acessórios para máquinas fotográficas. Foi o primeiro indício do seu engenho e espírito empreendedor.

O início da Geely

Depois da fotografia veio a universidade. Formou-se em engenharia pela universidade de Yanshan, e manteve-se ligado a este negócio até aos 23 anos, altura em que fundou a Geely. Foi também nessa altura que tudo verdadeiramente começou.

A Geely, fundada em 1986, iniciou a sua atividade produzindo componentes para electrodomésticos.

Só seis anos mais tarde é que a Geely abandonou os eletrodomésticos e começou a dedicar-se aos veículos: nomeadamente motocicletas, outra das paixões de Li Shufu.

Em 1998 seguiu-se o início da produção de pequenos veículos comerciais e um ano mais tarde, a Geely acabou mesmo por receber a tão ambicionada autorização para produzir automóveis, o que acabaria por acontecer em 2002, já sob a designação de Geely Auto.

Li SHufu e um dos primeiros automóveis da Geely
© Zhejiang Geely Holding Group Foi um marco histórico, não só para Li Shufu como para a China. A Geely tornou-se a primeira marca privada de veículos da China.

Os primeiros automóveis da marca eram inspirados nos pequenos Daihatsu Charade. Até podiam ser «cópias» de baixa qualidade, mas eram suficientemente competentes para convencer os consumidores e isso deu força ao jovem empreendedor asiático para continuar a apostar nas quatro rodas.

Em 2003 a Geely passou a ser cotada na bolsa de valores de Hong Kong, tornando-se na primeira fabricante de veículos a fazê-lo.

Tudo mudou com a Volvo

Por tradição, as marcas chinesas procuram alianças junto dos gigantes europeus, mas Li Shufu tinha outra abordagem em mente.

Em 2010 apresentou-se ao Ocidente, adquirindo — através da Geely — a Volvo Cars à Ford, num negócio que rondou 1,7 mil milhões de euros.

Esta aquisição transformou a Volvo numa marca chinesa? Os factos provam que é uma marca mais sueca do que nunca. Os centros de decisão mantiveram-se na Suécia e a Volvo recorre a tecnologias e plataformas próprias — algo que nem sempre aconteceu.

Depois de adquirida pela Geely, assistimos a um renascimento e crescimento da Volvo Cars, que teve início com o lançamento da segunda geração do Volvo XC90, que estreou a plataforma SPA.

À conquista da Europa

Em 2013, através do consórcio Zhejiang Geely Holding Group — da qual é fundador e presidente — Li Shufu continuou a conquistar a Europa. Depois da Volvo Cars veio outra companhia de relevo: a London EV Company (LEVC), empresa que produz o icónico táxi londrino.

O interesse pelas marcas inglesas manteve-se. Em 2017 passou a ser o accionista maioritário da Lotus, tendo assegurado simultaneamente o controlo de 49,9% da fabricante malaia Proton.

Com exceção do próprio Li Shufu, ninguém podia antever o sucesso da Geely. Em 2021 a Zhejiang Geely Holding Group produziu um total de 2,2 milhões de automóveis.

lotus Eletre
O Eletre é o primeiro SUV 100% elétrico da Lotus e aponta um caminho (bastante diferente) da histórica marca britânica para o futuro. Será fabricado integralmente na China. Os desportivos pela qual a Lotus é conhecida vão continuar a ser produzidos no Reino Unido, mas também serão elétricos.

No ano seguinte, em 2018, a Geely investiu 3,25 mil milhões de euros no Volvo Group — a antiga empresa-mãe da Volvo Cars — sobretudo pelo interesse nos camiões e nas máquinas do fabricante sueco, garantindo uma fatia de 8,2% das ações da empresa.

Uma surpresa chamada Daimler

Por esta altura, já ninguém devia duvidar da capacidade financeira da Geely — e na verdade, ninguém duvidava. Mas o empresário chinês conseguiu voltar a surpreender o mercado. Nesse mesmo ano, em 2018, decidiu comprar a título particular, uma participação de 9,69% da Daimler AG, que na época era proprietária da Mercedes-Benz e da Smart.

Li Shufu Dieter Zetsche Daimler
Li Shufu e Dieter Zetsche, CEO da Daimler, agora denominada Mercedes-Benz Group AG, que no total conta com 19,67% de capital chinês: 9,69% pertence a Li Shufu e 9,98% pertence ao BAIC Group.

Um ano depois, em 2019, a Daimler e a Zhejiang Geely Holding Group Co. estreitaram ainda mais as relações. Anunciaram a formação de uma joint venture para desenvolver e gerir a Smart. Cada empresa ficou com 50% da marca.

O primeiro produto desta nova fase já é uma realidade. O novo Smart #1:

Uma influência que não pára de crescer

Apesar de continuar sediada na China, a Zhejiang Geely Holding Group é cada vez mais global. A influência de Li Shufu é cada vez maior e tudo indica que vai continuar a crescer. Basta recuarmos alguns meses.

Em setembro de 2022, este Grupo adquiriu uma posição de 7,6% na Aston Martin Lagonda Global Holdings, depois de em maio desse mesmo ano ter comprado 34,02% do capital social da Renault Korea Motors.

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No total, Li Shufu controla mais de uma dezena de fabricantes: Geely Auto, Maple, Jidu Auto, Farizon, Geometry, Radar, Zeekr, Proton, Lynk & Co, Lotus, Smart, LEVC, Volvo e Polestar. E a sua importância também já se faz notar noutras áreas.

Lynk & Co 01
A Lynk & Co foi uma marca criada em 2016 pela Geely e pela Volvo. Oferece já uma ampla gama de modelos, a maioria eletrificados e tem um modelo de vendas direto, maioritariamente por subscrição.

Dos carros voadores às motos

Em dezembro de 2017 adquiriu a totalidade da Terrafugia, um fabricante norte-americano que está a tentar tornar os carros voadores numa realidade.

Em setembro de 2019 voltou a apostar neste negócio, liderando uma ronda de investimento que gerou 55 milhões de dólares (50,78 milhões de euros) para a Volocopter, uma empresa alemã focada no desenvolvimento de “táxis voadores”.

Volocopter
Volocopter 2X em testes

E nem as origens da Geely, que antes de produzir automóveis produziu motociclos, foram esquecidas. Através da Qianjiang Motorcycle a Geely controla ainda a Keeway Motors e a Benelli — esta última, uma conhecida marca italiana.

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Resta agora saber qual será o próximo passo de Li Shufu, cada vez mais o «dono disto tudo». Algo que, como referimos no início deste artigo, é cada vez menos uma figura de estilo.

Li Shufu. Infografia com todos os fabricantes de veículos integrados na Geely e com os outros onde detém participações.