Notícias Entrevistámos Henrik Fisker. “Desenvolvemos o elétrico mais sustentável do mundo”

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Entrevistámos Henrik Fisker. “Desenvolvemos o elétrico mais sustentável do mundo”

Em 2022 chega ao mercado europeu uma nova marca de automóveis: a Fisker Inc. Falámos com Henrik Fisker, o seu fundador, sobre os planos desta nova marca que até 2025 pretende lançar quatro novos modelos.

Henrik Fisker, Guilherme Costa e Fisker Ocean

Inconformado. É talvez o adjetivo que melhor define Henrik Fisker, um dos mais conceituados designers de automóveis a nível mundial.

No seu portfólio constam modelos como o BMW Z8, a primeira geração do BMW X5 e alguns dos mais belos Aston Martin de sempre. Com este historial, seria de esperar que Henrik Fisker estivesse satisfeito com o seu legado. Não é o caso.

Este designer de origem dinamarquesa quer desafiar a indústria automóvel numa mudança que o próprio definiu como “inevitável” em entrevista à Razão Automóvel.

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Estivemos à conversa com este responsável, à margem do lançamento do Fisker Ocean na Europa, onde nos revelou a estratégia da marca para os próximos anos.

Henrik Fisker. Segunda tentativa

Não é a primeira vez que Henrik Fisker tenta «desafiar a indústria automóvel». Em 2007, fundou a Fisker Automotive, porém, as coisas não correram bem. O único modelo que viu a «luz do dia» foi o Fisker Karma.

Diferendos com a administração ditaram o seu afastamento do projeto e posteriormente a falência da marca.

Agora está de regresso ao mercado com a Fisker Inc., uma marca automóvel totalmente nova, mas com a mesma missão: transformar a indústria automóvel e electrificar o setor automóvel.

Fisker Ocean
O primeiro modelo desta nova marca é o Fisker Ocean. Um SUV 100% elétrico cujo preço se iniciará em torno dos 41 000 euros na Alemanha.

“Precisamos de meter as pessoas a andar de carro elétrico, o setor precisa desta transformação. Não é só uma questão ambiental, é também uma questão de saúde pública”, disse-nos Henrik Fisker. Mas até aqui nada de novo.

Onde a Fisker é verdadeiramente disruptiva é na forma como pretende produzir e comercializar os seus automóveis.

Estratégia da Apple aplicada aos automóveis

“Sim, podem olhar para Fisker como a «Apple dos automóveis»”, respondeu-nos este responsável enquanto nos explicava a estratégia industrial e comercial da marca.

“Tal como a Apple, nós também não fabricamos os nossos próprios produtos. Desenhamos, desenvolvemos e comercializamos, mas não fabricamos. Entregámos essa missão a Magna Steyr e à sua fabrica na Áustria, onde são produzidos automóveis para outras marcas europeias”, entre elas a Mercedes-Benz, BMW e Jaguar, explicou-nos este responsável.

Guilherme Costa e Henrik Fisker
Guilherme Costa durante a entrevista com Henrik Fisker, CEO da Fisker.

Segundo Henrik Fisker, esta decisão estratégica assenta em dois pilares: redução dos custos de investimento e qualidade.

“Construir uma fábrica de raiz é um investimento massivo. Faz sentido alocar recursos na construção de uma fábrica quando já temos essa capacidade instalada e a podemos contratar? Creio que não. Não é racional, mesmo do ponto de vista ambiental. Além disso, podemos aproveitar o know-how dos nossos parceiros para oferecer um produto de qualidade”, disse-nos o CEO da Fisker.

A importância do preço

Depois, há um terceiro pilar muito importante na estratégia delineada por Henrik Fisker: o preço. “Ao reduzirmos apenas ao essencial a nossa estrutura de custos a nível industrial, podemos refletir nos nossos clientes esses ganhos através de preços mais competitivos”.

Henrik Fisker dá o exemplo do primeiro modelo da marca, o Fisker Ocean. “O nosso SUV terá um valor base de 41 000 euros na Europa. É um valor muito competitivo olhando às especificações técnicas, equipamento e design proposto pelo nosso produto”, explicou-nos.

Porém, a procura pela máxima eficiência na Fisker não se limita ao plano industrial.

Fisker Ocean

Também na vertente de vendas e pós-venda a estratégia da marca norte-americana é disruptiva: “Queremos que as vendas dos nossos modelos aconteçam sobretudo online e de forma direta. Não queremos estar reféns de importadores ou concessionários, que nos aumentam os custos da operação”.

“Vamos ter lojas nas principais cidades europeias onde os nossos clientes podem experimentar e ver os nossos produtos, mas queremos sobretudo uma experiência online. É o futuro, alias é o presente. O COVID-19 só veio acelerar esta transformação”, concluiu.

Relativamente à assistência pós-venda e reparação, a Fisker está a selecionar redes de oficinas a nível europeu para dar assistência aos seus modelos: “estamos a falar com redes de oficinas conceituadas em todos os mercados. O objetivo é que os nossos modelos tenham uma cobertura territorial homogénea em termos de reparação. Além disso, vamos ter equipas de assistência que se deslocam ao local para diagnóstico e reparação dos nossos modelos”, explicou-nos Henrik Fisker.

Fisker Ocean

“É o somatório destas decisões que nos faz acreditar que o Fisker Ocean é o elétrico mais sustentável do mundo”, afirma o fundador da marca.

O desenvolvimento da Fisker

Como podemos ver, a estratégia da Fisker está muito centrada no desenvolvimento do produto.

Henrik Fisker acredita que esta concentração de recursos também trará benefícios no tempo de desenvolvimento: “estamos a mostrar à indústria que não são necessários quatro anos para desenvolver um novo modelo. O novo Fisker Ocean demorou dois anos e meio a ser projetado, e só escolhemos a tecnologia para o seu interior há oito meses. Isto permite-nos lançar modelos mais atuais que os nossos concorrentes”.

Para Henrik Fisker, dois anos e meio é o tempo mínimo possível para o desenvolvimento de um automóvel. “Não podemos esquecer os períodos de testes e homologação. Nesses não há muito mais que possamos fazer”.

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Até 2025 a Fisker pretende ter à venda quatro modelos 100% elétricos. O Fisker Ocean é o primeiro modelo da família, a que se seguirá um citadino. “Vamos mostrar que é possível fazer um 100% elétrico com estilo e acessível”, afirma Henrik Fisker.

Será desta que a Fisker vence?

O fundador da marca afirma que aprendeu muito com “os erros do passado”. Até ao momento o Fisker Ocean já contabiliza mais de 30 000 encomendas.

Os planos são audazes, mas para já, falta superar o primeiro desafio: iniciar a produção.

Fisker Ocean

O Fisker Ocean começará a ser produzido na Áustria, na fábrica da Magna Stery, no segundo semestre de 2022. As primeiras unidades serão comercializadas na Europa ainda este ano nos principais mercados.

A chegada a mercados secundários — como é o caso do mercado português — acontecerá apenas em 2023. A expectativa da marca norte-americana é que também no nosso país os preços se situem em torno dos 41 000 euros para a versão base do Fisker Ocean.