Ensaio Resistir-lhe é inútil. Testámos o Mercedes-AMG GT Night Edition, o «lado negro da força»

Desde 199 200 euros

Resistir-lhe é inútil. Testámos o Mercedes-AMG GT Night Edition, o «lado negro da força»

Prestes a fazer a sua despedida (vem aí uma nova geração), o Mercedes-AMG GT Coupé fez-nos uma última visita e até veio com «fato» de gala "Night Edition". E ainda bem que o fez…

Mercedes-AMG GT
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel

Prestes a fazer a sua despedida, o Mercedes-AMG GT Coupé regressou à garagem da Razão Automóvel — vestido a preceito, com a «roupagem» Night Edition — para uma espécie de «última dança» e eu aproveitei todos os minutos que tive com ele.

No mercado desde 2014 (ainda que com várias atualizações pelo meio), o Mercedes-AMG GT Coupé já vê o seu sucessor — Mercedes-AMG GT 63 — no espelho retrovisor, mas isso não lhe tira o sono.

Seguro de si, confiante e com uma imagem imponente, que se faz acompanhar por um ronco grave e rouco (culpem o V8), o Mercedes-AMG GT Coupé continua a carregar como ninguém o título de «modelo bandeira» da casa de Affalterbach.

A NÃO PERDER: Mercedes-AMG GT 63. Fotos-espia antecipam nova geração do coupé
Mercedes-AMG GT
A silhueta deste Mercedes-AMG GT não passa despercebida em lado nenhum, certo? © Thom V. Esveld / Razão Automóvel

O «rei da noite»

Testei o degrau de acesso à gama AMG GT Coupé e estava equipada com o pacote opcional — custa 7682 euros — Night Edition. E isso tem um impacto direto no visual deste superdesportivo germânico, que se apresenta com vários elementos exclusivos.

Falo do tejadilho em fibra de carbono, da grelha dianteira com a estrela da Mercedes-Benz ao centro e das jantes AMG — 19” à frente e 20” atrás — escurecidas.

Mercedes-AMG GT
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel

No interior, um emblema especial na consola central que identifica esta versão e acabamentos em “preto piano” que contrastam na perfeição com o volante em Alcantara e com os bancos AMG Performance.

A NÃO PERDER: GT Track Series. A derradeira «arma» de pista da AMG para celebrar 55 anos de vida

A unir todos estes elementos, uma pintura preto mate (graphite grey magno de acordo com a designação oficial) que transforma este AMG GT Coupé numa espécie de «rei da noite», com um «olhar» rasgado e agressivo, que coloca qualquer um em sentido.

Mercedes-AMG GT
Os bancos AMG Performance oferecem-nos um encaixe perfeito. © Thom V. Esveld / Razão Automóvel

E para os mais céticos que não ficam convencidos à primeira, basta «acordar» o motor. Aí, as apresentações ficam feitas, e de imediato se percebe que este AMG é uma espécie de hooligan que não segue tendências ou… «rebanhos»!

Obrigado, AMG por este V8

A imagem deste supercarro dispensa apresentações. O motor também. Mas seria impossível não dedicar umas linhas — dava para escrever um livro de poemas — ao V8 biturbo que dá vida a este carro.

LEIAM TAMBÉM: Já sabemos quanto custa o novo Mercedes-AMG SL em Portugal

Felizmente já tive oportunidade de sentir o pulso a este V8 biturbo de 4,0 l em vários modelos da Mercedes-AMG e a reação é sempre a mesma: que obra de arte.

Mercedes-AMG GT
Nobre, poderoso e encorpado. É assim o V8 deste AMG GT! © Thom V. Esveld / Razão Automóvel

Atravessamos uma transição energética que nos encaminha (a nós e à indústria) cada vez mais rumo à eletrificação. Por isso mesmo, e para os petrolhead como nós, é um privilégio gigante continuar a poder desfrutar de um motor como este.

Como sabem, todos os motores que saem de Affalterbach têm uma chapa com a assinatura do engenheiro responsável pela sua montagem. E ainda bem que assim é. Assim podemos agradecer individualmente à pessoa responsável por cada uma destas obras-primas.

Mercedes-AMG GT
No interior, na consola central, o emblema exclusivo desta “Night Edition”. © Thom V. Esveld / Razão Automóvel

Nesta configuração o V8 — montado em posição longitudinal central dianteira— entrega 530 cv de potência entre as 5500 rpm e as 6750 rpm e 670 Nm de binário máximo entre as 2100 rpm e as 5250 rpm.

A NÃO PERDER: Mercedes-AMG cria barco com cinco motores V8 inspirado no AMG GT Black Series

Todo este poderio é enviado, naturalmente, para as duas rodas traseiras através de uma caixa automática com dupla embraiagem de sete velocidades, que é auxiliada por um diferencial traseiro eletrónico autoblocante.

Mercedes-AMG GT
A consola central reúne comandos rápidos que permitem selecionar os modos de condução, o acerto da suspensão, a «nota» do escape, a posição do spoiler traseiro, entre outros… © Thom V. Esveld / Razão Automóvel

Um «soco» no estômago

Não é (de longe) o modelo mais rápido que podem comprar nesta faixa de preço, mas é muito rápido: 312 km/h de velocidade máxima e 0 aos 100 km/h em 3,8s.

LEIAM TAMBÉM: Mercedes-AMG EQE. Tudo sobre o segundo 100% elétrico da AMG

Mas mais do que os tempos importa focar nas sensações. E neste tópico, este AMG GT Coupé tem trunfos importantes face a grande parte da concorrência.

Mercedes-AMG GT
Não existe um ângulo onde este AMG GT não seja agressivo e musculado. © Thom V. Esveld / Razão Automóvel

Isto porque tudo acontece de forma dramática e agressiva. O que de certa forma faz com que tudo pareça ainda mais rápido e emocionante.

Chega quase a parecer  uma «criatura» bipolar. Isto porque consegue ser dócil e mais elegante, um trato que se revela muito útil numa viagem maior em autoestrada. Mas vira um «monstro» quase sem regras quando lhe damos oportunidade para tal.

Percebemos em segundos que é assim que ele é «feliz». Sem amarras, mais selvagem e a lembrar-nos, a cada curva que passa, que os momentos de emoção vêm sempre acompanhados de um coração a bater forte.

Mercedes-AMG GT
Ecrã central tem uma excelente leitura, mas infelizmente não é tátil. Mas isso é «só»num pormenor que o barulho deste V8 faz esquecer em segundos… © Thom V. Esveld / Razão Automóvel

É simplesmente impossível andar com este carro e não sentir nada. Sejam amantes de carros ou adeptos da mobilidade individual sustentável.

Não há mal nenhum em não ser perfeito

Ao contrário do que acontece com alguns modelos da Mercedes-AMG, com o A 45 S, no outro extremo da escala, logo à cabeça, este GT Coupé não é perfeito. E atenção, não estou a falar da qualidade geral de nenhum destes dois produtos.

Conduzi o A 45 S e senti que ele fazia tudo demasiado bem. Parece que curva sobre carris e é sempre eficaz… Sempre!. É tão bom a fazer tudo que quase parece artificial.

Com o AMG GT não sinto isso, bem pelo contrário… Sinto que conduzir este «monstro» alemão é uma experiência mais crua. Mais difícil. Mais analógica. Mas por isso é, também ela, mais recompensadora.

Mercedes-AMG GT
Não é tão ágil quanto um Porsche 911 e não tem uma direção tão direta e tão precisa quanta a do seu «irmão» mais radical, o AMG GT R. © Thom V. Esveld / Razão Automóvel

Mas a direção é previsível e tem o peso certo (para mim, pelo menos). Ainda assim, o longo capô faz com que seja muito difícil perceber onde o carro acaba (ou começa) e é necessária algum tempo de habituação para percebermos ao certo a melhor forma de apontar as rodas à entrada da curva.

Continuando a comparação com o Mercedes-AMG GT R, sinto que a traseira está mais bem assente na estrada, o que se traduz numa maior sensação de estabilidade.

Mercedes-AMG GT
No modo “Race” o V8 biturbo de 4.0 litros está autorizado a dar-nos o melhor que sabe e consegue. © Thom V. Esveld / Razão Automóvel

Quanto ao motor e à sua força e potência, está tudo lá. A resposta é imediata, o motor é muito cheio e a banda sonora que sai do escape dispensa qualquer música, ainda que esta unidade estivesse equipada com um poderoso sistema de som surround Burmester (opcional) de 1300 euros.

Pode ser usado no «dia a dia»?

Quando se pensa em comprar um desportivo deste calibre, este é um «campo» que merece ser visitado. Afinal de contas, nem só de estradas fantásticas e track days se faz a vida de um petrolhead.

LEIAM TAMBÉM: Conduzimos o Porsche 911 GTS (992). A versão que faz mais sentido?

Também existem compromissos no meio da confusão da cidade, passagens em sítios mais apertados e aventuras por estradas em pior estado. É impossível contornar todos estes obstáculos.

Mercedes-AMG GT
O longo capô requer alguma habituação, porque é difícil ter noção onde o carro começa (ou acaba). Mas é um dos motivos para este AMG GT ter uma presença em estrada tão forte. © Thom V. Esveld / Razão Automóvel

E quando as estradas pioram, a suspensão firme deste AMG GT vem ao de cima e quase faz parecer que estes bancos desportivos têm sistema de massagens incorporado.

A enorme largura deste modelo também não ajuda a «navegar» em cidade, tal como a visibilidade praticamente inexistente a partir do óculo traseiro. Isto já não para não falar do facto de irmos sentados tão baixos que grande parte do nosso campo de visão se resume ao capô.

A NÃO PERDER: 700 cv para o último Aston Martin V12 Vantage de sempre. E já esgotou

Mas ultrapassando tudo isto, este é um carro que podemos usar no dia a dia. E aqui, também importa falar de consumos.

Mercedes-AMG GT
O painel de instrumentos digital é totalmente personalizável a nosso gosto. Esta foi a opção que usei durante grande parte do tempo, com o conta-rotações bem ao centro! © Thom V. Esveld / Razão Automóvel

23 l/100 km? Uma «brincadeira de crianças» quando apertamos o ritmo. Por outro lado, em cidade, não fui além dos 17,8 l/100 km. Já em autoestrada é relativamente fácil ficar em torno dos 15 l/100 km.

Quando vamos para estradas mais secundárias e contemos a impetuosidade deste motor, até conseguimos registos de 14 l/100 km.  Mas acreditem, não é fácil resistir ao “lado negro da força” ao volante deste coupé.

Mercedes-AMG GT
Dramática. É assim que vejo a imagem exterior deste Mercedes-AMG GT. © Thom V. Esveld / Razão Automóvel

É o carro certo para si?

Como já referi acima, existem propostas mais rápidas e com uma dinâmica mais apurada numa faixa de preço semelhante. Mas este AMG GT é muito mais do que andar rápido ou fazer tudo bem.

É uma experiência quase analógica num mundo cada vez mais digital. É o lado mais «bruto» e agressivo da AMG combinado com a qualidade a que a Mercedes-Benz sempre nos habituou.

Mercedes-AMG GT
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel

É caro, consegue ser demasiado firme e nem sempre é prático, mas há uma coisa que ele nos garante sempre: uma experiência dramática. E sempre acompanhado de uma imagem que põe em sentido quem se cruza connosco na estrada.

Descubra o seu próximo carro:

Cheira a despedida

Provavelmente esta foi a última vez que um Mercedes-AMG GT Coupé passou pela garagem da Razão Automóvel para ser testado.

Como vos disse acima, a sucessão está para breve, sob a forma de um, por agora chamado, Mercedes-AMG GT 63, que deverá manter o V8 biturbo de 4.0 litros, mas que poderá adotar um inédito sistema de tração integral, tal como vimos no novo Mercedes-AMG SL, com o qual irá partilhar a base, mecânica e tecnologia.

Mercedes-AMG GT
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel

Só o tempo dirá se este AMG GT vai deixar saudades ou se o novo AMG GT 63 se vai impor de imediato. Mas uma coisa é certa, se esta foi a sua despedida, então ficámos os dois com todos os nossos assuntos (muito bem) resolvidos.

Resistir-lhe é inútil. Testámos o Mercedes-AMG GT Night Edition, o «lado negro da força»

Mercedes-AMG GT Night Edition

8/10

Nota: 8,5. Não é perfeito, é caro e nem sempre é prático. Mas isto são «defeitos» que quase todos os supercarros têm. Mas aquilo que afasta este Mercedes-AMG GT da concorrência é o seu nobre V8, o habitáculo de grande qualidade e a imagem exterior muito dramática, que sai reforçada com o pack exterior Night Edition. E tudo isto vem acompanhado de uma experiência de condução nem sempre refinada, a puxar para o lado mais analógico, que, sinceramente, acho que encaixa muito bem com o ADN deste modelo, respeitando as melhores tradição da «casa» de Affalterbach.

Prós

  • Motor V8
  • Posição de condução
  • Performances

Contras

  • Visibilidade traseira
  • Consumos
  • Ausência de comandos táteis no ecrã central multimédia

Versão base:€199.200

IUC: €918

Classificação Euro NCAP: 0/5

€215.610

Preço unidade ensaiada

  • Arquitectura:V8
  • Capacidade: 3982 cm3 cm³
  • Posição:Central dianteira longitudinal
  • Carregamento: Injeção direta + turbo+ intercooler
  • Distribuição: 2 a.c.c., 4 válvulas por cilindro
  • Potência: 530 cv entre as 5500 e as 6750 rpm
  • Binário: 670 Nm entre as 2100 e as 5250 rpm

  • Tracção: Traseira
  • Caixa de velocidades:  Automática de dupla embraiagem com sete velocidades AMG SPEEDSHIFT DCT

  • Largura: 4544 mm
  • Comprimento: 1939 mm
  • Altura: 1287 mm
  • Distância entre os eixos: 2630 mm
  • Bagageira: 350 litros
  • Jantes / Pneus: 265/35 19'' (FR) e 295/30 20'' (TR)
  • Peso: 1665 kg

  • Média de consumo: 13 l/100 km (NEDC2)
  • Emissões CO2: 289 g/km (NEDC2)
  • Velocidade máxima: 312 km/h
  • Aceleração máxima: >3,8s

    Tem:

    • Apple CarPlay
    • Active Distance Assist DISTRONIC
    • AMG Track Pace
    • AMG electronic rear-axle limited-slip differential
    • Sistema reconhecimento sinais de trânsito
    • Bancos AMG Performance
    • Climatização THERMOTRONIC
    • Faróis adaptativos Highbeam
    • Bancos dianteiros aquecidos
    • Sistema de luz ambiente
    • Depósito de combustível com capacidade aumentada (75 litros)
    • Parking Package
    • Mirror package
    • AMG Exterior Night package
    • AMG Interior Night package (volante AMG Performance)
    • Sistema de escape AMG Performance
    • Bateria de iões de lítio

Pintura designo graphite grey magno — 2276 €
Sistema de som Burmester® surround — 1300 €
AMG Dynamic Plus pack (Suspensão AMG Ride Control) — 1869 €
Pack Night Edition — 7682 €.

Sabe esta resposta?
Qual a potência total do Mercedes-Benz EQB 350?
Oops, não acertou!

Pode encontrar a resposta aqui:

Mercedes-Benz EQB 350 testado. O único SUV elétrico do segmento com 7 lugares