Só elétrico
Testámos o novo Fiat 500C, exclusivamente elétrico. Mudança para melhor?
Uma decisão precoce? Fomos descobrir os méritos desta «mudança eletrizante» ao volante da versão especial e limitada Fiat 500C "La Prima".

Demorou, mas foi. Ao fim de 13 anos o fenómeno Fiat 500 conheceu, finalmente, uma nova geração (apresentada em 2020). E esta nova geração, aqui na forma do (quase) descapotável 500C e na edição especial e limitada de lançamento “La Prima”, trouxe como novidade o facto de ser exclusivamente elétrica.
Um salto demasiado precoce em direção ao futuro? Talvez…Afinal, a segunda geração do modelo, agora equipada com uma motorização mild-hybrid que também já testámos, continua à venda e continuará a ser vendida em paralelo com a nova mais alguns anos.
E é essa convivência que nos permite constatar mais facilmente o salto gigante que houve de uma geração para outra. E não podia ser de outra forma, dado a idade do antecessor: 14 anos e a contar (lançado em 2007), sem alterações significativas.
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Parece um 500 por fora, mas não por dentro
Apesar de ser 100% novo, olhando para o 500 não podia ser outra coisa que não… um Fiat 500. Não parece mais que um restyling — apesar de ter crescido em todas as dimensões —, mas os designers da Fiat aproveitaram a oportunidade para estilizar mais o icónico modelo, aprimorar os detalhes e até dar à sua imagem geral uma maior sofisticação.

Goste-se ou não, os resultados são eficazes e, pessoalmente, considero serem uma muito boa evolução das premissas introduzidas pela segunda geração, ainda que a familiaridade das formas possam retirar-lhe algum efeito novidade ou até longevidade.
Maior estilização e sofisticação também parecem ter sido transpostas para o interior, onde o design mudou de forma mais drástica — afastando-se mais das referências retro da segunda geração —, refletindo não só a digitalização que, entretanto, «invadiu» o interior dos automóveis, como também o facto de ser apenas e só elétrico, o que permitiu algumas «liberdades».

Falo, por exemplo, da ausência do manípulo da transmissão, substituído por botões ao meio do tabliê, libertando espaço à frente, ou o facto da maioria das funcionalidades estarem agora concentradas num novo e muito mais completo sistema de infoentretenimento (UConnect), que acedemos via um generoso ecrã tátil com 10,25″.
Ainda há comandos físicos, como os que controlam o ar condicionado, o que se agradece. Mas tendo a Fiat optado por usar teclas de dimensão e tato uniforme, também «obrigam», tal como num ecrã tátil, a olhar para carregarmos no botão certo.

O ambiente interior é bastante convidativo — para mais sendo o “La Prima”, que vem com «todos os molhos» — e o cuidado posto no desenho, e nalguns revestimentos (sobretudo os usados nos principais pontos de contacto), fazem e muito para elevar o habitáculo do Fiat 500C acima dos seus potenciais rivais.
A montagem não é referencial, mas convence, e só acaba por destoar alguns revestimentos em plástico, nem sempre os mais agradáveis à vista ou ao toque.
Mais espaço
O aumento de dimensões exteriores do novo Fiat 500 refletiu-se no espaço disponibilizado no interior, sobretudo à frente, onde se nota um maior desafogo.
Também vamos melhor sentados do que antes: há mais amplitude nos ajustes do banco e o volante é agora regulável em profundidade. Dito isto, a posição de condução ainda é elevada, mas a sensação de conduzir no «primeiro andar» foi bastante atenuada.

Atrás o espaço continua a ser limitado, assim como o acesso à segunda fila de bancos não é o mais fácil.
Por lá, se o espaço em altura é bastante razoável (mesmo tratando-se do 500C, que tem um teto retrátil), assim como em largura (só para dois passageiros), o espaço para as pernas deixa a desejar. Curiosamente, a bagageira tem exatamente a mesma capacidade do antecessor.

Mais ágil e célere do que o esperado
Se tirarmos os mais desportivos Abarth da equação, o novo 500 elétrico é o mais potente e forte de sempre, garantindo 87 kW (118 cv) e 220 Nm. Números generosos que ajudam e muito a tornar espevitado este citadino de… 1480 kg (EU).
TÊM DE VER: Testámos e fomos “picados” pelo Abarth 595C Monster Energy YamahaA entrega instantânea de binário e o posicionamento por baixo do piso do habitáculo da bateria de 42 kWh (quase 300 kg) criam a ilusão de ser muito mais leve do que é — os 9,0s conseguidos nos 0-100 km/h também contribuem nesse sentido.

Aliás, a agilidade e celeridade do pequeno 500C surpreenderam-me positivamente, tendo em conta a quase tonelada e meia que acusa.
O 500C muda de direção prontamente, e apesar da atitude dinâmica neutra — sempre segura e previsível —, acabou por entreter nas curvas mais do que estava à espera, até porque temos sempre reservas de binário e potência para saídas rápidas. Mesmo quando abusamos mais do acelerador, mostra ter muito bons níveis de motricidade e até o tato dos travões surpreendeu (superior ao de outros elétricos maiores e mais caros).
Peca apenas pela direção, que está longe de ser comunicativa e é sempre muito leve, independentemente do contexto.

Já em vias rápidas e autoestradas, mesmo tendo um teto em «lona», o ruído a bordo é contido, notando-se a velocidades mais elevadas alguns ruídos aerodinâmicos no teto e algum ruído de rolamento, com as rodas 205/45 R17 (as maiores disponíveis) a terem, quase certamente, alguma culpa no cartório.
Como «peixe na água»
Se o à vontade fora da cidade surpreendeu, é precisamente na cidade onde ele mais brilha. O conforto e o refinamento a bordo estão alguns patamares acima do antecessor, a direção muito leve faz mais sentido neste contexto e as suas dimensões (ainda) contidas, assim como a sua manobrabilidade, fazem do 500C o veículo ideal para serpentear por qualquer ruela ou arrumá-lo em qualquer «buraco».

Há espaço para melhoramentos. A visibilidade está longe de ser brilhante — os pilares A «chateiam» em demasia, o óculo traseiro do 500C é muito pequeno e o pilar C bastante largo —, e a curta distância entre eixos, em conjugação com o eixo traseiro semi-rígido, fazem com que a transposição de algumas irregularidades seja mais agitada do que seria de esperar.
TÊM DE VER: Dacia Spring em autoestrada e estrada «aberta». Prova superada?É também na cidade que faz sentido experimentar os vários modos de condução disponíveis: Normal, Range e Sherpa. Os modos Range e Sherpa intensificam a recuperação de energia em desaceleração, com o Sherpa a ir mais longe e a desligar até itens como o ar condicionado para «esticar» a carga da bateria o mais possível.

No entanto, a ação destes dois modos, que permite conduzir o 500C praticamente apenas com o pedal do acelerador, está longe de ser a mais suave, tendo gerado até um ou outro solavanco antes de o carro se imobilizar.
Quanto gasta?
Porém, usando o modo Range no para-arranca citadino, o 500C consegue consumos comedidos, na casa dos 12 kWh/100 km, o que permite ultrapassar os (praticamente) 300 km de autonomia oficiais com facilidade.

Numa utilização mista, registei consumos alinhados com os oficiais, cerca de 15 kWh/100 km, enquanto em autoestrada estes sobem para os 19,5 kWh/100 km.
Descubra o seu próximo carro:
É o carro certo para si?
A mudança do novo Fiat 500 para exclusivamente elétrico convence em toda a linha. «Encaixa que nem uma luva» no caráter do citadino (bem mais sofisticado nesta nova geração), além de providenciar uma condução fácil, agradável, e também célere e ágil no dia a dia. Para os que pensam mudar para um elétrico, o novo Fiat 500 faz, sem dúvida, um bom trabalho em convencer-nos dos méritos deste tipo de motorização.

No entanto, os 38 mil euros pedidos por este 500C “La Prima” são manifestamente exagerados. Mesmo não optando por esta versão especial e limitada, o 500C Icon (a especificação mais elevada de série) ascende aos 32 650 euros, ao nível de outros elétricos um segmento acima, que oferecem mais espaço, performance e autonomia — mas não o charme…
Um preço elevado nunca foi impedimento para a excelente carreira comercial do 500 (a par do Fiat Panda lidera o segmento no continente europeu), mas mesmo assim… é difícil de justificar.

Preço
unidade ensaiada
Versão base: €38.000
Classificação Euro NCAP:
- Motor
- Posição: Dianteira transversal
- Carregamento: Bateria de iões de lítio; Capacidade total: 42 kWh; Capacidade útil: 37,3 kWh
- Potência: 87 kW ou 118 cv
- Binário: 220 Nm
- Transmissão
- Tracção: Dianteira
- Caixa de velocidades: Redutora de uma relação
- Capacidade e dimensões
- Comprimento / Largura / Altura: 3632 mm / 1683 mm / 1527 mm
- Distância entre os eixos: 2322 mm
- Bagageira: 185 l
- Jantes / Pneus: 205/45 R17
- Peso: 1480 kg
- Consumo e Performances
- Consumo médio: 14,9 kWh/100km; Autonomia: 299 km (ciclo combinado WLTP)
- Emissões de CO2: 0 g/km
- Vel. máxima: 150 km/h (limitado)
- Aceleração: 9,0s
- Garantias
- Mecânica: 4 anos de garantia sem limites de quilómetros; Bateria: 8 anos ou 160 000 km
-
Equipamento
- Rádio com ecrã tátil NAV 10,25" com Uconnect Service
- Apple CarPlay e Android Auto
- Carregador sem fios para Smartphones
- Ar condicionado automático
- Retrovisores elétricos com desembaciamento e sensor temperatura
- Sensores de luz e chuva
- Apoio de braço dianteiro
- Câmara de estacionamento traseira com linhas dinâmicas
- Keyless Entry e Keyless Go
- Faróis em LED
- Placa dedicada Portugal 1 de 500
- Jantes em liga leve adiamantadas de 17"
- Reconhecimento de sinais de trânsito com Assistente Inteligente de Velocidade
- Sensor de deteção de fadiga
- Regulação automática de máximos
- Travagem Autónoma de Emergência com deteção de peões e ciclistas
- Monitorização dos ângulos mortos
- Aviso de transposição de faixa
- Sensores de estacionamento Drone View 360°
- Fiat Co-Driver - Condução Assistida de Nível 2 com Cruise Control adaptativo inteligente e manutenção no centro da faixa de rodagem
- Cabo de carregamento Modo 2 e Modo 3
- EasyWallbox
Avaliação
- Salto qualitativo e tecnológico
- Equipamento ("La Prima")
- Comportamento
- Performance
- Facilidade de condução
- Preço elevado
- Visibilidade melhorável
- Direção excessivamente leve
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