Ensaio Abarth 500e. Testámos o elétrico com «ronco» de motor a gasolina

Desde 41 030 euros

Abarth 500e. Testámos o elétrico com «ronco» de motor a gasolina

O Abarth 500e é venenoso, entusiasmante e divertido. Será que consegue dar o nível de ligação homem/máquina dos Abarth a gasolina?

Abarth 500e Cabrio Turismo

7.5/10

O primeiro Abarth 100% elétrico entusiasma e até surpreende, mas (ainda) não é o escorpião que eu gostava de ter na garagem.

Prós

  • Imagem exterior
  • Direção precisa
  • Posição de condução
  • Gerador de som dá-lhe caráter

Contras

  • Preço
  • Espaço nos bancos traseiros
  • Falta botão para ligar/desligar altifalante exterior

O Abarth 500e é o primeiro escorpião 100% elétrico de sempre e a fórmula não podia ser mais diferente daquela que levou Carlo Abarth a fundar esta empresa.

Esta popularizou-se muito por culpa das icónicas Marmitta, que davam aos Fiat da época uma sonoridade bastante distinta. Agora, no seu lugar temos um gerador acústico (um altifalante, se preferirem) capaz de simular o «ronco» de um motor a gasolina.

Para muitos, esta evolução é quase uma afronta para aquilo que Carlo Abarth construiu e alcançou. Eu prefiro ser menos dramático e aceitar que é este é o resultado dos tempos e que, provavelmente, é a única forma de «salvar» uma empresa que ainda tem tanto para dar.

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Mesmo assim, reconheço que haviam poucos desafios maiores do que este no que toca à transição para uma era 100% elétrica. E isto leva-me a uma pergunta capital: será que o primeiro Abarth elétrico continua a ser um… Abarth? Fomos conduzi-lo para descobrir a resposta.

Abarth 500e escorpião
© Thomas V. Esveld / Razão Automóvel Um escorpião a ser atravessado por um raio, para que não existam dúvidas de que este é o primeiro 100% elétrico da Abarth

O que muda para o «irmão» da Fiat?

Como acontece com quase todos os Abarth destinados às estradas, o modelo que serviu de base a este projeto é um Fiat, mais concretamente o Fiat 500e.

Basta olhar para o Abarth 500e para o perceber, apesar das novas vestes: saias laterais, difusores de ar e o para-choques dianteiro são novos.

A somar a isso, e além dos vários escorpiões em verde ácido espalhados pela carroçaria, destacam-se as novas jantes de 17”, que na versão Turismo — a que testámos —, crescem até às 18″.

Abarth 500e
© Thomas V. Esveld / Razão Automóvel A versão que testámos estava equipada com jantes de 18” que ajudam a vincar o caráter mais robusto e agressivo deste modelo

Podem parecer detalhes pequenos, mas chegam para que este Abarth 500e se afaste do seu homónimo da Fiat, sobretudo quando associado a este tom de verde específico para a carroçaria, que faz com que este pequeno elétrico nunca passe despercebido.

Há uma coisa melhor do que nos Abarth «a gasolina»

No interior, as semelhanças com o Fiat 500e continuam: o desenho do tabliê é exatamente o mesmo, tal como o da consola central e das laterais das portas.

Porém, este Abarth adota vários acabamentos em Alcantara, bancos com maior suporte lateral e um volante de corte mais desportivo, também ele forrado a Alcantara.

Se quiser ver o Abarth 500e em maior detalhe, por fora e por dentro, convido-o a ver (ou rever) o vídeo que gravámos quando estivemos com este elétrico pela primeira vez:

https://youtu.be/Q6F-hPKVHR0?si=zJH6jym3clNGv_t0

Contas feitas, o que posso dizer é que apesar de semelhante, a percepção do interior do Abarth 500e é bem mais premium do que aquela do interior do Fiat 500e.

Continua a ser muito limitado no espaço que oferece nos bancos traseiros e na bagageira (apenas 185 litros), mas parece-me que não é por isso que alguém olha para ele.

O que conta é mesmo a posição de condução. E essa é irrepreensível, bem melhor e mais agradável do que nos Abarth 595 e 605 a combustão.

Gostava só que que os botões da transmissão (P,R, N e D) que surgem na consola estivessem dispostos noutro local. Ou melhor, noutra solução, seja numa alavanca junto ao volante ou num seletor em posição central.

Abarth 500e Cabrio ecrã central multimédia
© Thomas V. Esveld / Razão Automóvel Os menus do ecrã central são em tudo semelhantes aos que encontramos no Fiat 500e

Esta é uma das poucas coisas que não gosto no Fiat 500e, que é para mim uma das melhores propostas do segmento. E os dias que passei com este Abarth só vieram confirmar isso.

Parece mesmo um Abarth

O motor elétrico é exatamente o mesmo que encontramos no Fiat 500e, mas mais potente, com uma gestão diferente e com uma relação final mais curta.

A potência passou dos 87 kW (118 cv) para os 114 kW (155 cv) e o binário «cresceu» dos 220 Nm para os 235 Nm. Ao contrário do que muitos inicialmente pensavam, são números que não ultrapassam os 180 cv e 250 Nm do Abarth 695 a gasolina.

No que toca às acelerações, o escorpião elétrico (na configuração testada Cabrio) cumpre o sprint dos 0 aos 100 km/h em 7s e acelera até aos 155 km/h de velocidade máxima.

Mais uma vez, estes registos não chegam para superar os do Abarth 695 Cabrio, que reclama 6,7s e 225 km/h, respetivamente. No entanto, como já aqui escrevi muitas vezes — a última foi no ensaio do MG4 XPower, por motivos diferentes —, os números não são tudo.

Na verdade, assim que me sentei ao volante deste 500e e fiz os primeiros quilómetros, a primeira coisa que pensei foi: “Ok, isto parece mesmo um Abarth”.

A potência é suficiente?

Mesmo quando fiz um arranque a fundo, com Launch Control, a potência do Abarth 500e não impressiona. Sinceramente, não esperava outra coisa: são «só« 155 cv e mais de 1500 kg.

Contudo, quando aparecem as estradas mais sinuosas e reviradas, a conversa é muito diferente. As recuperações são mais rápidas do que no Abarth 695 e isso sente-se à saída das curvas.

Abarth 500e Cabrio motor elétrico
© Thomas V. Esveld / Razão Automóvel O motor elétrico é exatamente o mesmo que encontramos no Fiat 500e, ainda que com mais alguns «truques»

É claro que para isso também contribuem muito as alterações que os técnicos da Abarth fizeram ao chassis. Por comparação com o Fiat 500 elétrico, este escorpião tem uma altura ao solo 9 mm mais baixa, vias 60 mm mais largas, amortecedores 15% mais firmes e molas mais duras. Os pneus da Bridgestone são também específicos (205/40 R18).

Além disso, a direção tem uma calibração distinta e travões de disco nas quatro rodas (tambores nas rodas traseiras do Fiat 500 elétrico).

Abarth 500e frente
© Thomas V. Esveld / Razão Automóvel

O tato que esta suspensão nos proporciona faz lembrar outras propostas recentes da marca e, sinceramente, ajuda a dar identidade a este modelo, que surpreende bastante em estrada e… em pista.

Muito divertido em circuito

Apesar de acusar 1510 kg na balança (mais 345 kg face ao Abarth 695 Cabrio), quase todos justificados pela bateria com 42,2 kWh de capacidade, o Abarth 500e tem um centro de gravidade relativamente baixo e uma distribuição de peso bem mais equilibrada: 57% à frente e 43% atrás.

A juntar à boa calibração da suspensão, sobretudo no eixo posterior, dá a confiança para atacar as curvas a velocidades mais elevadas, até porque sente-se a traseira do carro a rodar para ajudar a virar.

Curiosamente, a direção parece menos direta do que nos Abarth 595 ou 695, mas em contrapartida, parece menos brusca e mais precisa. É muito fácil manter a trajetória e colocar todo o binário no asfalto.

Fiquei com essa ideia em estrada e pude confirmá-la em pista, no Circuito do Estoril. Neste traçado pude fazer «a prova dos nove» aos travões, que não tiveram problemas em lidar com o peso deste elétrico. Mesmo nas travagens mais fortes, tudo aconteceu de forma bastante orgânica, sem que a estabilidade ficasse comprometida.

Abarth 500e Cabrio volante
© Thomas V. Esveld / Razão Automóvel O volante com secções laterais em Alcantara proporciona uma excelente pega, mesmo em circuito

Na reta da meta do Estoril, os 155 km/h de velocidade máxima foram «curtos». Tirando isso e o facto de não haver patilhas no volante para ajustar a regeneração, este escorpião surpreendeu pela positiva.

E na estrada?

Seria de pensar que, por ser tão competente em pista, isso viria com um preço a pagar na estrada, sobretudo porque a suspensão tem uma afinação firme. Mas não.

Mesmo nos pisos mais mal tratados, a suspensão faz um trabalho muito interessante a filtrar todas as irregularidades da estrada e a absorver os impactos mais fortes.

Abarth 500e Cabrio dinâmica
© Thomas V. Esveld / Razão Automóvel Coupé ou Cabrio? Se fosse eu a escolher ia sempre para a versão «a céu aberto»

Aliás, apesar do perfil mais desportivo, o Abarth 500e Cabrio é um bom companheiro para o dia a dia, sobretudo quando selecionamos o modo de condução “Turismo”. Em circuito recorri sempre ao modo “Scorpion Track”, que não tem função “One Pedal” e torna o ESC mais permissivo.

É certo que aqui a potência está limitada aos 100 kW (136 cv) e a resposta do acelerador não é tão imediata, mas quer a afinação do pedal do travão quer a função “One Pedal” (capaz de imobilizar o carro) tornam a experiência de condução mais tranquila e civilizada.

Abarth 500e Cabrio painel instrumentos
© Thomas V. Esveld / Razão Automóvel

O «elefante» na sala: o som falso

O tópico que mais deu que falar nos dias que passei com este elétrico foi o som artificial que sai do escape, perdão, do altifalante.

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Altifalante? Como assim? Bem, numa espécie de homenagem ao famoso escape Record Monza usado nos Abarth a gasolina, os engenheiros da marca italiana desenvolveram um «ronco» artificial para dar voz a este 500 elétrico. Pode ouvi-lo no vídeo abaixo:

Audível a uns bons metros de distância — o altifalante está colocado por baixo do carro, logo atrás da roda traseira do lado esquerdo —, este som varia de acordo com a velocidade a que estamos a andar e dá, a meu ver, alguma personalidade a este modelo.

Bem sei que os fãs mais puristas da Abarth consideram esta solução um verdadeiro ultraje, mas depois de experimentar este elétrico durante alguns dias, posso dizer-lhe que ajuda a melhorar a experiência ao volante.

Em autoestrada, por exemplo, a velocidades estabilizadas, não faz qualquer sentido usar este som artificial, que rapidamente se torna monótono e irritante. Mas numa estrada mais revirada ou em circuito, é um «toque» engraçado e com caráter, e que acima de tudo permite ligar este inédito Abarth 500e às raízes do escorpião.

A minha maior crítica acaba por estar relacionada com o facto de não ser rápido e simples ligar e desligar esta funcionalidade. Para já, só podemos ligar/desligar este gerador de som com o carro parado. Depois, temos que fazê-lo num dos submenus do computador de bordo. Não faz sentido. Era assim tão difícil criar um botão «on/off» no volante?

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Alguém quer saber dos consumos?

Deixei os consumos e a autonomia deste 500e Cabrio para o fim porque, convenhamos, isso não é nem nunca foi prioridade num Abarth. Apesar de elétrico, este 500e não é diferente.

Nos 466 km que percorri com este modelo, consegui uma média final de 17,3 kWh/100 km, mesmo com muitas dezenas de quilómetros feitos em autoestrada e a andar normalmente, sem grandes preocupações.

Abarth 500e Cabrio ecrã central
© Thomas V. Esveld / Razão Automóvel

A este ritmo, e tendo em conta a capacidade da bateria (37,3 kWh úteis), posso dizer-vos que é possível percorrer até 216 km com uma só carga.

Naturalmente, em ambientes urbanos, consegui fazer consumos bem melhores, abaixo dos 16 kWh/100 km. Mas em autoestrada é difícil não ultrapassar os 20 kWh/100 km.

Quanto custa?

O novo Abarth 500e tem preços a começar nos 38 030 euros em Portugal para a versão base e nos 42 030 euros para a versão Turismo, bem mais equipada.

Contudo, a unidade testada, por se tratar de uma versão Cabrio e por estar decorada com a pintura metalizada «Verde Acid», está disponível por 45 580 euros.

Tendo em conta o que oferece, está longe de ser barato, sobretudo quando o colocamos lado a lado com a sua principal concorrência, que está «dentro de portas».

Abarth 500e Cabrio traseira
© Thomas V. Esveld / Razão Automóvel

O Abarth 595 a gasolina começa nos 31 230 euros (ou 33 732 euros para a versão Cabrio) e o Abarth 695 arranca nos 34 781 euros (37 283 euros para o Cabrio).

O mesmo é dizer que há muitos milhares de euros a separar os Abarth 595 e 695 a gasolina deste inédito Abarth 100% elétrico, o que naturalmente obriga a fazer contas.

O Abarth que eu escolhia?

Não consigo dizer que o 500e é melhor, porque não é, mas devo dizer que me surpreendeu pela positiva, sobretudo em circuito.

Apesar de um bom primeiro esforço, ainda sinto que os «velhos» 595 e 695 (vão sair de cena ainda este ano) nos oferecem uma experiência mais completa e, acima de tudo, que apela mais aos sentidos.

Por isso mesmo, ao dia de hoje, o Abarth que eu levava para casa ainda tinha que ter o famoso bloco 1.4 turbo debaixo do capô.

Mas uma coisa posso garantir-lhe: a era elétrica da Abarth vai ser tudo menos aborrecida.

Veredito

Abarth 500e Cabrio Turismo

7.5/10

A Abarth conseguiu fazer um pequeno desportivo elétrico. Entusiasma nas curvas, surpreende em circuito e tem «poder de fogo» suficiente para nos deixar com um sorriso na cara. Mas não é barato. E quando vemos os «irmãos» Abarth 595 e 695 a custar bem menos, a vitória ainda vai para a gasolina.

Prós

  • Imagem exterior
  • Direção precisa
  • Posição de condução
  • Gerador de som dá-lhe caráter

Contras

  • Preço
  • Espaço nos bancos traseiros
  • Falta botão para ligar/desligar altifalante exterior

Especificações Técnicas

Versão base:41.030€

IUC: -1€

Classificação Euro NCAP: 4/5

45.580€

Preço unidade ensaiada

  • Arquitectura:Um motor elétrico
  • Posição:Dianteira transversal
  • Carregamento: Bateria de iões de lítio com 42,2 kWh (37,8 kWh úteis)
  • Potência: 114 kW (155 cv)
  • Binário: 235 Nm

  • Tracção: Dianteira
  • Caixa de velocidades:  Caixa redutora (1 relação)

  • Comprimento: 3673 mm
  • Largura: 1682 mm
  • Altura: 1518 mm
  • Distância entre os eixos: 2322 mm
  • Bagageira: 185 litros
  • Jantes / Pneus: 205/40 R18
  • Peso: 1510 kg

  • Média de consumo: 18,8 kWh/100 km; Autonomia: 252 km (ciclo combinado WLTP)
  • Velocidade máxima: 155 km/h
  • Aceleração máxima: >7s

    Tem:

    • Jantes de liga leve com 18”
    • Soleiras das portas cromadas
    • Vidros traseiros escurecidos
    • Pedais desportivos
    • Tabliê em Alcantara
    • Volante com inserções em Alcantara
    • Sistema de áudio Premium
    • Gerador de som Abarth
    • Para-brisas aquecido
    • Bancos dianteiros aquecidos
    • Câmara de estacionamento traseira com linhas dinâmicas
    • Sensores de estacionamento vista 360 graus
    • Monitorização de ângulos mortos
    • Estofos em Alcantara e Pele com escorpião em verde acid
    • Compatibilidade com Android Auto e Apple CarPlay sem fios
    • Ecrã central multimédia 10,25”
    • Sistema de navegação TomTom
    • Painel de instrumentos a cores TFT com 7”
    • Ar condicionado automático
    • Abertura/fecho da capota remotamente
    • Faróis Full LED Infinity
    • Faróis traseiros/laterais em LED
    • Reconhecimento de sinais de trânsito
    • Sensor de deteção de fadiga
    • Travagem autónoma de emergência com deteção de peões e ciclistas
    • Aviso de transposição de faixa e assistente de velocidade inteligente

Pintura Metalizada Verde Acid — 550 €.