Opinião Alfa Romeo mexeu no “scudetto” e quase fez esquecer o Milano

Scudetto sagrado

Alfa Romeo mexeu no “scudetto” e quase fez esquecer o Milano

O Milano é o primeiro 100% elétrico da história centenária da Alfa Romeo. Mas desde que foi apresentado, só se fala no "scudetto"…

Alfa Romeo Milano dianteira
© Alfa Romeo

Depois do duplo rim da BMW, há outra grelha a gerar polémica, desta vez na Alfa Romeo. O scudetto do novo Milano tem dado que falar. Não quero ser o advogado de ninguém, mas sinto que isto não podia ser ignorado.

Noutras marcas a grelha também serve de elemento identificativo e estilístico, ainda que na Alfa Romeo o scudetto seja elevado ao nível de quase reverência, como se este elemento concentrasse os seus mais de 100 anos de história.

Por isso mesmo, foi (praticamente) sempre tratado com pinças, apesar das evoluções que foi sofrendo. Ao longo dos anos foi ficando gradualmente mais pequeno e simples, mantendo sempre, no topo, a Biscione Visconteo, a famosa serpente que integra o logótipo da marca italiana fundada em 1910.

Alterar isto exige coragem e arrojo, porque mexer no scudetto da Alfa é, praticamente, mexer numa religião.

Foi precisamente isso que a marca fez com o novo Milano, que viu a Biscione passar para o capô (já tinha acontecido algo semelhante com o 33 Stradale) e o scudetto sofrer a maior alteração de sempre.

Alfa Romeo 33 Stradale frente com portas abertas
© Alfa Romeo Alfa Romeo 33 Stradale

Nas versões ditas «normais», o scudetto do Milano adota uma base totalmente plana e conta com uma grelha com a inscrição «Alfa Romeo». Este recupera o tipo de letra cursivo — e centenário —, que chegou a identificar modelos no passado distante e foi usado em materiais promocionais.

Nas versões Speciale (edição de lançamento) e Veloce, o scudetto é escuro e parcialmente fechado, além de contar, em grandes dimensões, com a serpente e a cruz de São Jorge que vemos no logótipo da marca.

Quero acreditar que os responsáveis de design da Alfa Romeo sabiam perfeitamente o que estava a fazer e que esta iria ser sempre uma decisão polarizadora. E não é preciso ser um académico da área do marketing para perceber que isso é, efetivamente, uma prática comum.

Contudo, há outra coisa que me parece óbvia. É que esta revolução do scudetto parece estar a conseguir roubar protagonismo a coisas bem mais importantes, tal como o facto de este ser o primeiro 100% elétrico da Alfa Romeo ou de marcar o regresso da marca milanesa ao popular segmento B.

Era disso que devíamos estar todos a falar e não de um apontamento de estilo. Mas mais uma vez digo: na Alfa Romeo, o escudo dianteiro não é só um detalhe estilístico, é território sagrado.

Apesar disso, pergunto uma coisa: é preciso vaticinar o insucesso de um modelo apenas com base na sua… grelha? Óbvio que não.

Alfa Romeo Milano dianteira
© Alfa Romeo

A minha opinião vale o que vale e eu sei que o estilo é bastante discutível. Mas depois de ver o Alfa Romeo Milano ao vivo, durante a revelação mundial, acho mesmo que o novo scudetto não é um problema, sobretudo na versão escurecida das versões Veloce e Speciale.

Isto porque reforça o caráter desportivo do carro e lhe dá identidade, que é precisamente o que falta a muitos modelos da sua classe. E para mim, isso é e será sempre mais importante do que qualquer grelha.