Crónicas Mais respeito que sou mecânico

Mecânicos

Mais respeito que sou mecânico

A profissão de mecânico é uma das que gera maior desconfiança. Devíamos trocar a desconfiança por admiração.

Mecânico a trabalhar por baixo de um Carocha
© Ryan McGuire

A fama dos mecânicos não é boa. É um setor onde a reputação dos maus profissionais (que são a exceção) supera injustamente o esforço, a dedicação e a seriedade da maioria.

Eu não sou mecânico — já tentei e até expliquei os motivos neste artigo da Razão Automóvel —, mas nutro uma enorme admiração pelos seus profissionais. Uma ida recente a uma oficina com o MINI do Diogo Teixeira, que precisava de fazer a revisão, fez crescer ainda mais essa admiração.

Há coisas que é preciso ver para acreditar

Os exemplos são mais que muitos, mas acho que este é paradigmático. No meio de muitos modelos da BMW e MINI, havia um que estava parado por um motivo absurdamente simples: um conector qualquer, não sei especificar qual, junto à caixa de velocidades.

Mecânico a trabalhar por debaixo do automóvel
© Jimmy Nilsson

A simplicidade do problema contrastava com a complexidade da reparação. Foi preciso desmontar bancos, consola e mais um sem fim de pequenas peças (todas acompanhadas por parafusos e molas de todas as nacionalidades e feitios) para dar com a solução do problema.

Imaginem um quebra-cabeças complexo, sem manual de instruções, com parafusos de difícil acesso e dezenas de recantos e espaços que parecem ter sido projetados para entalar dedos. Agora tentem montá-lo de joelhos, mal apoiados, com as costas dobradas e pescoço meio torto. É disto que estamos a falar.

Mecânico. Uma profissão complexa

Perante este cenário que se desenrolava diante dos meus olhos, não pude deixar de soltar um desabafo. “Isso não está nada fácil, pois não?”, ao qual o mecânico — do qual não vou revelar e identidade — respondeu:

“Agora como é que explico ao cliente as horas que passei de volta disto por causa desta peça? Não vou poder debitar as horas todas”.

Percebi que muitas daquelas horas de trabalho que testemunhei, em má posição e com um risco grande de danificar outros componentes (rasgar um banco ou partir um plástico) iam ficar por pagar. Isto porque em muitos casos é difícil justificar as horas que se gastam a resolver problemas aparentemente simples.

Quero acreditar — e acredito! — que são mais os exemplos de mecânicos que se prejudicam para deixar o cliente satisfeito do que o oposto. Ser mecânico é uma profissão difícil, complexa e sobretudo incompreendida.

Incompreendida pelos clientes, que receiam sempre o pior. E incompreendida pelos engenheiros que desenvolvem os carros. Que parece que colocam algumas peças em locais de difícil acesso propositadamente para estragar o dia a um mecânico.

Depois há outras «armadilhas» pelo meio do processo. As peças que não existem em stock, os imprevistos durante a reparação e os problemas que atrasam a conclusão do trabalho. Algo que, segundo me disseram, por azar acontece sempre no carro dos clientes que querem tudo para ontem. Talvez seja o karma…

Mas é também uma profissão bonita. Onde a solução dos problemas é uma enorme fonte de satisfação. Requer calma, dedicação e experiência. Nenhum dia é igual ao anterior e exige inteligência para superar todos os desafios.

Por isso, este texto acaba como começou: mais respeito pelos mecânicos. Eles merecem e os nossos carros também.