Clássicos Opel Calibra. O coupé esculpido pelo vento

Glórias do Passado

Opel Calibra. O coupé esculpido pelo vento

O Opel Calibra era mestre em parecer mais do que era. Criado a partir do Vectra, este elegante coupé disfarçava muito bem as suas origens.

Opel Calibra

A decisão de substituir o Manta (distribuído por duas gerações e produzido entre 1970 e 1988) pelo Opel Calibra não foi nada fácil, pois antes de dar «luz verde» ao novo coupé, a marca alemã deparou-se com um dilema que nem os senhores do marketing conseguiam resolver.

Os coupés estavam em declínio, com o futuro a parecer pertencer apenas aos hot hatch, a modelos como o 205 GTI ou o Golf GTi a fazerem as delícias dos adeptos de emoções fortes.

No entanto, em contraponto a esta tendência, coupés nipónicos como o Honda Prelude ou o Toyota Celica estavam a conhecer bastante sucesso na Europa, o que indicava que, talvez, ainda houvesse esperança para o futuro dos coupés.

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Opel Calibra

Um bom exemplo de corte e costura

Mesmo considerando este contexto de incerteza, a Opel acabou por decidir avançar com o desenvolvimento de um coupé e assim, no Salão de Frankfurt de 1989 mostrava pela primeira o Opel Calibra.

Para reduzir os riscos e, sobretudo, os investimentos avultados que o desenvolvimento de um novo modelo obriga, a Opel recorreu a uma receita que já tinha usado no passado: a partilha de componentes.

Não seria a primeira vez que a marca o faria. O Opel Manta, que antecedeu o Calibra, por exemplo, era baseado no Ascona e até o sensual GT partilhava componentes com o Kadett.

Aproveitar componentes já comprovados em outros modelos para criar o Calibra passou a ser a regra — poupando tempo e dinheiro —, mas «embrulhados» numa pele única que acabaria por se tornar no tópico mais discutido do coupé.

Opel Calibra
Graças à partilha de componentes com outros modelos, o tempo decorrido entre o surgimento da ideia do modelo e a criação de uma pré-série foi de apenas dois anos e meio, de acordo com Jorge Ferreyra-Basso, o diretor do projeto do Calibra. Por norma, o tempo necessário para um projeto idêntico na altura estava entre os quatro e os seis anos.

No cocktail mecânico encontrávamos a plataforma e suspensões da primeira geração do Vectra e os motores de 2,0 l desenvolvidos inicialmente para o Kadett.

Ao nível da transmissão, o Calibra podia dispor de tração dianteira ou integral, recorrendo para isso ao sistema usado pelo Vectra 4×4. Já as caixas de velocidades eram as usadas pelo Kadett e pelo Vectra: manual de cinco velocidades ou automática de quatro.

Esculpido pelo vento

Tal como outros modelos da Opel daquela época — como aconteceu com o Vectra, o Omega e até o Kadett — o foco do design do Calibra estava na eficiência aerodinâmica, o que se traduziu em valores referenciais para a época.

O coeficiente de resistência aerodinâmica (Cx) era de apenas 0,26, o mais baixo num veículo de produção na altura. Este coeficiente foi conseguido, em parte, graças ao uso de formas suaves e arredondadas, e uma frente mergulhante — só possível pelos faróis com apenas 70 mm de altura que integravam uma tecnologia designada elipsoidal, que permitia obter até 40% mais de luz.

Se por fora o Calibra impressionava, por dentro não se pode dizer o mesmo. Apesar das críticas positivas sobre a sua construção que podíamos ler nas publicações da época, a política de partilha de componentes retirou ao interior qualquer possibilidade de uma identidade única, partilhando com o Vectra todo o tabliê e painel de instrumentos.

Motorizações para todos os gostos

O mesmo aconteceu com as motorizações, mas nem todos eram motivo de queixa. O Opel Calibra chegou ao mercado com motores de quatro cilindros em linha e 2.0 l, com oito e 16 válvulas. A versão de oito válvulas debitava cerca de 117 cv e a de 16 válvulas subia até aos 152 cv — baixaria para os 136 cv a a partir de 1995.

Para aqueles que procuravam mais performance chegariam alguns anos mais tarde (1992-93) as versões Turbo e V6.

O Calibra Turbo era o mais potente e rápido de todos os Calibra. O 2.0 Turbo debitava 204 cv e surgia associado a um sistema de tração integral e a uma caixa manual de seis velocidades.  permitindo ao Calibra cumprir os 0 aos 100 km/h em 6,8s e atingir elevados 245 km/h de velocidade máxima — a baixa resistência aerodinâmica a dar aqui os seus frutos.

Já o V6, com 2.5 l, debitava 170 cv e era o mais «nobre» dos Calibra, uma alternativa a outros coupés com outro estatuto no mercado.

Vendas acima das expectativas

O Calibra nunca foi suposto ser um best-seller, mas nem nas expectativas mais otimistas os responsáveis da Opel esperavam ter o sucesso que tiveram com o seu novo coupé.

As previsões da marca apontavam para uma produção de 20 mil unidades no primeiro ano, mas tal foi a procura que tiveram de subir esse valor para umas muito superiores 60 mil unidades, três vezes mais. Contas feitas, quando a produção do Calibra terminou em 1997, tinham sido produzidas 238 647 unidades, um valor notável para um modelo de imagem.

Opel Calibra
Em 1994 surgiu o primeiro e único restyling do Calibra. As mudanças? A posição do símbolo da marca, novas jantes, novo volante e pouco mais.

Sucesso também na competição

Não foi só nas estradas que o Opel Calibra convenceu. O coupé foi o modelo escolhido pela Opel para entrar no DTM, o espetacular campeonato de turismos alemão, e no seu sucessor, o ITC (International Touring Car Championship), onde se sagrou campeão em 1996.

Chegou ainda a participar no Rali de Sanremo em 1992 com Bruno Thiry aos comandos, terminando em nono lugar.

O Opel Calibra foi o último grande coupé da marca de Rüsselsheim, e um dos últimos propostos pelos construtores generalistas — chegou a ter como rivais o Volkswagen Corrado e o Fiat Coupé —, antes da chegada de modas como a dos monovolumes e, mais recentemente, dos SUV.


Sobre o “Glórias do Passado.”. É a rubrica da Razão Automóvel dedicada a modelos e versões que de alguma forma se destacaram. Gostamos de recordar as máquinas que outrora nos fizeram sonhar. Embarca connosco nesta viagem no tempo aqui na Razão Automóvel.

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