Ford Bronco. A história do «Mustang dos jipes»

Membro do «Olimpo» dos jipes puros e duros no qual se encontram modelos como o Land Rover Defender, o Jeep Wrangler ou o Toyota Land Cruiser, o Ford Bronco é, provavelmente, o mais desconhecido destes todos para o público europeu.

Lançado em 1965, o Bronco veio dar continuidade a uma experiência da Ford cujas origens remontam ao contexto da Segunda Guerra Mundial e ao concurso lançado pelo governo norte-americano para a criação de um veículo 4×4 ligeiro para o exército.

Derrotada pela Willys-Overland, a Ford viu bastantes soluções do seu protótipo serem incorporadas naquele que viria a ser o Willys MB. A mais curiosa delas? A grelha com sete barras verticais que hoje é a imagem de marca da Jeep proveio da… Ford.

Com o avançar da guerra e face à dificuldade da Willys-Overland em corresponder à procura do exército, a Ford acabou por também produzir uma versão do Willys, conhecida como Ford GPW, tendo saído da linha de produção perto de 280 mil unidades.

Estudar para melhor responder

Com o fim da guerra, foram muitos os soldados que compraram os veículos excedentes do Exército. A Willys-Overland rapidamente percebeu o potencial comercial do MB como veículo civil e não só (o primeiro uso civil foi uma adaptação do MB como máquina agrícola).

Um ano antes do fim da Segunda Guerra Mundial, 1944, lançava o primeiro CJ ou “Civilian Jeep”, o Jeep Civil. Ainda que só a partir de 1945, o primeiro CJ estivesse disponível para o grande público, já na sua segunda evolução, o CJ-2A.

Durante os anos seguintes, a Willys-Overland não perdeu tempo a evoluir rapidamente o CJ, respondendo aos pedidos do mercado, e o seu sucesso despertaria o interesse de outros na indústria. Em 1961 seria conhecido o seu primeiro verdadeiro rival, o International Harvester Scout, de aspeto mais sofisticado que o CJ, um verdadeiro percursor dos SUV de hoje em dia.

Todo o terreno

Anti-Wrangler. Conduzimos o Ford Bronco, o verdadeiro todo o terreno da Ford

8/10

Regressa um dos maiores ícones da Ford com a recuperação do nome Bronco e dos seus valores. Guiámos a versão de duas portas com motor V6 turbo de 2.7 l.

Joaquim Oliveira

Face ao sucesso destes dois modelos, a Ford decidiu também entrar nesta «luta». Para ter a certeza de que o seu futuro modelo correspondia a tudo o que os clientes procuravam, em 1962 a Ford foi ter com os proprietários dos CJ e Scout para perceber o que estes tinham de bom e de mau.

As conclusões a que chegaram não podiam ser mais claras: apesar das suas reconhecidas e aclamadas qualidades aqueles modelos eram barulhentos, desconfortáveis e vibravam demasiado.

Isto mostrou à Ford que havia espaço para um modelo todo o terreno com maior foco no conforto dos seus ocupantes e assim dá-se início ao projeto do que seria o Bronco, cujo memorando tinha como título “1966 G.O.A.T”, acrónimo para “Goes Over Any Terrain” (“Passa por cima de qualquer terreno”).

Um novo tipo de veículo

Com um chassis completamente novo, o Ford Bronco foi lançado em agosto de 1965 e apresentava-se em três formatos de carroçaria: Roadster (no qual as portas e o tejadilho eram opcionais), Sports Utility (com uma caixa de carga como as pick-up) e Wagon (com duas portas, e um portão da bagageira).

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Sempre equipado com tração integral, inicialmente o Bronco estava disponível apenas com um seis cilindros em linha que debitava 105 cv e caixa manual de três relações. Em março de 1966 chegou o «obrigatório» V8, mas a direção assistida e a caixa automática só chegariam em 1973.

Com uma extensa lista de opcionais, o Bronco chegou a ser comparado ao extremamente bem sucedido Mustang, com Don Frey, Vice-presidente da Ford Motor Company e diretor geral da divisão Ford, a afirmar no seu lançamento “como seu «irmão mais velho», o Mustang, o Bronco terá uma ampla gama de opções e acessórios que permitirão que seja muitas coisas para muitas pessoas”.

Durante os 11 anos em que foi comercializado, a primeira geração do Ford Bronco acabou por se tornar numa das referências entre os modelos todo o terreno, “sobrevivendo” à crise petrolífera de 1974 e sendo uma das peças chave para lançar as bases dos SUV modernos.

A evolução da espécie

A segunda geração surgiu em 1978, quatro anos mais tarde que o originalmente previsto devido à crise petrolífera de 1973. Com a crise ultrapassada, a nova geração abdicava do seis cilindros, surgindo no seu lugar dois motores V8.

Os mais potentes V8 eram uma necessidade, pois ao passar a usar a plataforma da pick-up Ford F-Series, o Bronco cresceu generosamente em todos os sentidos, assim como a sua massa, subindo de posicionamento, tornando-se mais confortável e espaçoso, e trazendo consigo “luxos” como ar condicionado ou o rádio AM/FM.

Como que a provar o sucesso desta evolução, agora apenas disponível com uma carroçaria (duas portas com hardtop removível), a segunda geração do Bronco viu rolar da linha de produção nos seus primeiros dois anos “de vida” 180 mil unidades, três das quais acabaram por desempenhar as funções de papamóvel.

Apenas dois anos depois, em 1980, o Ford Bronco voltou a renovar-se. Ainda assente sobre a plataforma da F-150, no entanto, esta nova geração «encolheu» por fora, ficou mais leve e mais aerodinâmico e, consequentemente, mais económico.

De regresso estava um bloco de seis cilindros como acesso à gama, para complementar o V8. Pela primeira vez, o eixo dianteiro deixava de ser rígido e passava a ter suspensão independente, para melhorar as suas «maneiras» sobre o asfalto.

Em 1987 o Bronco conheceu a sua quarta geração e, uma vez mais, a aerodinâmica foi melhorada, enquanto no capítulo mecânico a grande novidade foi a estreia de injeção eletrónica, caixa manual de cinco relações e o ABS nas rodas traseiras.

A quinta geração do Ford Bronco surgiu em 1992 e apesar do visual algo próximo ao do antecessor (e a frente idêntica à F-150), trazia bastantes novidades, principalmente no campo da segurança, onde se destacavam os airbags e os cintos de três pontos.

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Contudo, o modelo produzido até 1996 havia de ficar célebre, não tanto pelas suas qualidades, mas sim pela famosa fuga de O.J. Simpson, que a bordo de um Bronco de 1993 fugiu à polícia e “prendeu” cerca de 95 milhões de espectadores às televisões enquanto a perseguição a baixa velocidade era transmitida em direto.

Seria o último Ford Bronco, justificando-se a sua saída do mercado em 1996 com o sucesso do mais pequeno e conhecido Explorer. Para quem precisava de algo maior e com mais capacidade, a Ford introduziu no mesmo ano o maior Expedition, também baseado na F-150.

Além do Ford Bronco “normal”, a história do jipe norte-americano conta ainda com mais um membro: o Bronco II. Mais pequeno e económico, este baseava-se na plataforma da Ford Ranger e estava disponível com quatro motores V6. Produzido entre 1984 e 1990, viria a ser substituído pelo já mencionado Ford Explorer em 1991.

Podemos afirmar que o seu papel é hoje representado pelo Bronco Sport (derivado da plataforma C2, a mesma do Focus e Kuga).

Um ícone cultural

Com 1 148 926 de unidades produzidas durante 31 anos, o Ford Bronco conquistou um lugar especial não só na história e cultura automóvel norte-americana, como na cultura popular. Ao todo apareceu em mais de 1200 filmes e 200 músicas.

Desde que a Ford deu por terminada a produção em 1996 (na linha de montagem de Wayne, em Detroit), a sua popularidade não parou de crescer entre colecionadores e entusiastas. Com o anúncio, em janeiro de 2017, do regresso do Bronco (13 anos depois de ter sido mostrado um primeiro protótipo), a cotação dos veículos originais disparou.

De acordo com leiloeira Barrett-Jackson, o preço médio de venda do modelo da primeira geração quase duplicou, passando de 40 000 dólares (36 000 euros) para 75 000 dólares (70 000 euros) em apenas três anos.

O guia de avaliação da Hagerty classifica o Bronco de 1966 a 1977 como um dos modelos com maior valorização (75,8%) entre todos os SUV de coleção nos últimos três anos nos Estados Unidos.

Além disto a celebração dos 50 anos da vitória do Bronco na Baja 1000 de 1969 e a revelação do protótipo R – nos dois casos em 2019 – apenas aguçaram o apetite dos potenciais clientes nos Estados Unidos, mas não só…

João Delfim Tomé

Apaixonado por automóveis desde sempre, o João divide os seus dias entre as teclas da Razão Automóvel e a chave de parafusos do Lada Niva que está a recuperar.

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