Clássicos Diva. O supercarro que a Alfa Romeo ignorou durante 14 anos

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Diva. O supercarro que a Alfa Romeo ignorou durante 14 anos

A história do Alfa Romeo Diva dava um filme. E agora, quando a "Alfa" está prestes a lançar um novo supercarro, resolvemos recuperá-la.

Alfa Romeo Diva
© Alfa Romeo

Existem protótipos que parecem «gritar» por uma chapa de matrícula que lhes dê liberdade para irem finalmente para a estrada: o Alfa Romeo Diva é um desses casos.

Equipado com o lendário 3.2 V6 Busso em posição central traseira e com uma imagem que presta homenagem ao 33 Stradale — «apenas» um dos carros mais belos de sempre —, o Diva tinha tudo o que desejávamos num supercarro da Alfa Romeo

Apesar de ter sido apresentado no já longínquo ano de 2006, continuo a pensar que este supercarro merecia ter sido construído.

Agora, com a revelação do novo supercarro da Alfa Romeo iminente (estreia marcada para o dia 30 de agosto), inspirado também no incontornável 33 Stradale, parece ser a altura ideal para revisitar o Diva.

O Diva parece ter sido esquecido pela marca italiana durante muitos anos e só mais recentemente, em 2020, teve o reconhecimento merecido: passou a estar exposto no museu da Alfa Romeo, em Arese.

O final de uma história que dava um filme. Ou dois.

Um projeto mal recebido dentro da Alfa Romeo

Já muito se disse e escreveu sobre o Alfa Romeo Diva, mas pouco se sabia sobre a sua história até Juan Manuel Díaz, o designer que deu os últimos retoques ao protótipo antes da sua revelação, ter falado sobre o assunto.

Quem é Juan Manuel Díaz?
Além de ter participado no desenvolvimento do Diva, Díaz foi ochefe de design dos Alfa Romeo Mito e Giulietta, e diretor de design da Audi Motorsport. Hoje é o chefe de designe exterior da BeyonCa, uma construtora chinesa.

Em 2020, em declarações ao jornal argentino Infobae, Juan Manuel Díaz, disse mesmo que o Diva é um dos projetos que mais recorda, “pelo bizarro que foi o processo de construção do carro”.

“É um carro que esteve proibido”, afirmou Díaz, citado pelo Infobae, lembrando que todo o seu desenvolvimento foi feito em sigilo, devido ao receio deste projeto ser vetado. Foi um processo visto sempre com alguma desconfiança dentro da Alfa Romeo, que acabou por ignorar este carro quase até ao limite, até durante a sua apresentação.

Alfa Romeo Tipo 33 Stradale
Alfa Romeo 33 Stradale, a musa que inspirou o Diva e o 4C e inspirará o novo supercarro da marca

Isto porque em 2006, quando foi revelado pela primeira vez ao público, no Salão Automóvel de Genebra, o Diva não recebeu «honras» de stand da Alfa Romeo, tendo sido relegado para o espaço da Sbarro no certame helvético. Mesmo assim, não passou despercebido.

Afinal era um verdadeiro «Alfa» ou uma criação da Sbarro?

Juan Manuel Díaz, que também desenhou o interior do belíssimo Alfa Romeo 8C Competizione, confirma que apesar de não ter sido desejado e do “departamento de marketing não querer que fosse construído”, o Diva é, e sempre foi, um Alfa Romeo.

Alfa Romeo Diva
© Alfa Romeo É fácil encontrar pontos em comum entre o Diva e o 4C, que surgiu alguns anos mais tarde

Díaz contou que o desenho original do Diva é da autoria do italiano Filippo Pierini, que a meio do projeto saiu para a Lamborghini e não o conseguiu completar.

Foi aqui que Díaz — juntamente com o polaco Zbigniew Maurer (agora designer sénior no Centro Stile Alfa Romeo) — entrou no projeto, depois de lhe pedirem para ir para a Suíça, para um atelier da Sbarro, perto de Yverdon, onde o carro começou a ser feito e acabou por ser finalizado.

O designer argentino, juntamente com Maurer, recebeu a difícil missão de acabar o Diva, que entre a saída de Pierini e a falta de dinheiro na Alfa Romeo — Díaz conta que “não havia dinheiro para o construir”, antes de lembrar que durante o tempo em que esteve na marca italiana “sempre tivemos que rapar no fundo da panela como loucos para conseguir levar adiante um desenvolvimento” —, estava esquecido e abandonado há um ano. Estávamos em novembro 2005.

“O carro tinha muitas linhas e pediram-me para o deixar mais suave. E com esse objetivo pusemos mãos à obra”, confessou Díaz.

Continuou, dizendo ao jornal argentino que tiveram apenas quatro dias para trabalhar: “Era tudo muito estranho. Trabalhámos com gesso. Passámos quatro dias a modificar uma lateral, a traseira estava incompleta e o tejadilho teve que ser refeito porque tinha uma janela com um corte distinto. Começámos na segunda-feira e tínhamos até quinta-feira ao meio-dia para concluí-lo”.

Não tinha a qualidade que se esperava

O projeto foi supervisionado por Wolfgang Egger, que na época era o diretor de design de Alfa Romeo (atualmente é designer chefe do BYD Group), mas não foi concluído com a qualidade e com o detalhe que se exigia a um modelo de um construtor automóvel.

Alfa Romeo Diva traseira
© Alfa Romeo Não parece, mas o Diva foi construído sobre o chassis muito muito modificada do Alfa Romeo 159

Talvez por isso, o Diva tenha sido apresentado ao mundo no Salão de Genebra, em março de 2016, inserido no stand da Sbarro e não da Alfa Romeo, por entre protótipos criados pelos estudantes da École Espera Sbarro.

“Foi apresentado com uma qualidade bastante baixa, sem estar de acordo com uma fábrica de automóveis, mas essa foi a forma que tivemos de trabalhar nele, em segredo. E foi exposto no stand da Sbarro porque não permitiram fazê-lo no da Alfa. Não tinha sequer o interior acabado e por isso esteve sempre fechado”, contou Díaz, lembrando que “mesmo assim foi um sucesso em Genebra”.

A redenção em Villa D’Este

Terminado o certame helvético, não seria o fim do Diva. O protótipo foi enviado para as oficinas da Carrozzeria Touring, em Milão, que o reconstruiu com os níveis de qualidade merecidos, em preparação para a sua segunda aparição pública.

Alfa Romeo Diva perfil
© Alfa Romeo Desde fevereiro de 2020 que o Diva «vive» no Museu Storico Alfa Romeo, em Arese, nos arredores de Milão

E não podia ser em palco mais nobre: o aclamado Concorso D’Eleganza Villa D’Este, que todos os anos se realiza nas margens do Lago Como.

Depois disso, ficou sob a alçada do Elasis, um centro de engenharia e pesquisa da Fiat, no sul de Itália, servindo como uma espécie de laboratório sobre rodas. Foi aqui, por exemplo, que a família de motores FIRE foi desenvolvida e testada,

Para tristeza de muitos, o Diva acabou por nunca ser produzido, mas olhando para ele, é impossível não reparar em como pode ter influenciado o 4C revelado uns anos depois, em 2013, no Salão de Genebra.

As proporções foram mais ou menos mantidas (cerca de 3,9 m de comprimento para apenas 1,2 m de altura), assim como a configuração de motor em posição central traseira e tração traseira, com apenas dois lugares.

Contudo, em vez do motor 3.2 V6 Busso «puxado» até aos 290 cv de potência («pedido emprestado» a um 147 GTA) que equipava o Diva, a Alfa Romeo optou por dar ao 4C um bloco bem mais pequeno: quatro cilindros em linha, turbo, com 1,75 l de capacidade e 240 cv de potência.

Finalmente no lugar que merece

O reconhecimento do Diva pela Alfa Romeo aconteceria bem mais tarde, em 2020, quando decidiu colocá-lo no seu museu, em Arese.

O Diva volta a ganhar relevância quando estamos a pouco tempo de conhecer o novo supercarro da Alfa Romeo:

Não sabemos ainda tudo sobre o supercarro que a Alfa Romeo vai apresentar, mas terá sempre que encarar o Diva como família.

Apesar de ter sido “um filho não reconhecido” durante 14 anos, como o designer Juan Manuel Díaz o descreve, ele incorpora na perfeição aquilo que todos esperam que um «super Alfa» seja.

Fonte: Infobae