Fórmula 1
Da Boavista ao Algarve. Os 4 circuitos que receberam o GP de Portugal de Fórmula 1
O Autódromo Internacional do Algarve é o mais recente circuito nacional a receber o "grande circo" da Fórmula 1, mas a história do GP de Portugal começou no norte do país, na Boavista.

Em 2020 voltou a haver, excepcionalmente e por culpa da pandemia do Covid-19, um GP de Portugal de Fórmula 1, no Autódromo Internacional do Algarve (AIA), em Portimão, naquele que foi o regresso da classe rainha do automobilismo a um circuito nacional, 24 anos depois.
Pelos mesmos motivos, o mesmo volta a acontecer este ano (2021), com o circuito algarvio a servir novamente de palco ao GP de Portugal de Fórmula 1. Mas a história da Fórmula 1 em Portugal vai muito além do moderno traçado algarvio.
Uma história que obriga a visitar outros circuitos, diferentes eras e claro, outros protagonistas, entre eles o mítico Ayrton Senna, que conquistou no nosso país, no Estoril, a primeira vitória da carreira. Mas já lá vamos.
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Tudo começou em 1958, no circuito da Boavista, na cidade do Porto. Seguiu-se o circuito de Monsanto, em Lisboa, e um novo regresso ao norte, à Boavista, em 1960. Daí em diante, um hiato “roubou” o espetáculo da F1 aos adeptos portugueses, que tiveram de esperar até 1984 para voltar a ver (e ouvir!) um monolugar de F1 em Portugal, desta vez no Autódromo do Estoril, que ficou como “casa” da Fórmula 1 em Portugal até 1996.
No total, foram quatro os traçados portugueses que acolheram aquele que é considerado um dos desportos motorizados mais relevantes do planeta. Também foram quatro os pilotos portugueses que chegaram à Fórmula 1.
Circuito da Boavista
Foi lá, a 24 de agosto de 1958, que se disputou a primeira corrida de Fórmula 1 em Portugal, precisamente no ano em que a FIA criou um Campeonato do Mundo de Condutores em moldes muito próximos dos atuais.
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Durante muitos anos o circuito da Boavista já tinha recebido corridas internacionais com o nome de Grande Prémio de Portugal, mas apenas reservadas a carros de Sport. Só em 1958 se disputou o primeiro GP de Portugal de Fórmula 1, um evento que de acordo com a Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting (FPAK) atraiu mais de 100 000 espetadores.

Foi a nona de 11 provas de um campeonato disputado entre Mike Hawthorn, da Ferrari, e Stirling Moss, da Vanwall, num traçado rápido que passava pela Foz do Douro, pela avenida da Boavista e pela Circunvalação, e que reunia piso empedrado e carris de elétricos.
O circuito do GP de Portugal de 1958 tinha um perímetro de 7500 m, para percorrer 50 vezes, perfazendo um total de 375 km, e foram dominados quase por completo por Stirling Moss, que chegou mesmo a ganhar uma volta ao quarto classificado, Lewis-Evans, seu colega de equipa.

A vitória de Moss foi relativamente fácil, mas nem por isso deixou de ter contornos mais dramáticos, uma vez que poderia ter sido decisiva para a conquista do título mundial, não fosse a manifestação de desportivismo do piloto da Vanwall.
Na última volta, Hawthorn teve problemas elétricos no seu Ferrari e fez um pião, o que obrigou o piloto da scuderia italiana a sair do carro e a empurrá-lo, para que o motor ligasse de novo e ele conseguisse terminar a corrida em segundo.
RELACIONADO: Sir Stirling Moss morre aos 90 anos. Um campeão não se faz apenas de títulosHawthorn conseguiu ligar o motor do seu Ferrari, mas percorreu alguns metros na direção contrária do traçado, o que o levou a ser desclassificado e a perder os sete pontos que tinha conquistado.
Moss, que viu de perto o incidente que causou a desclassificação do rival, dirigiu-se à direção de prova e pediu que a decisão fosse revertida, já que Hawthorn estava fora da pista quando tentava voltar a ligar o carro.

A punição acabou por ser retirada e Hawthorn garantiu sete pontos, que lhe permitiram manter a liderança do campeonato com quatro pontos de vantagem para Moss, a duas corridas do final da temporada.
Hawthorn acabou por vencer o título mundial por apenas um ponto de avanço sobre Moss, mas esta lição de desportivismo nunca mais foi esquecida.
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O GP de Portugal manter-se-ia no calendário do Mundial de Fórmula 1 em 1959, mas agora no circuito de Monsanto, em Lisboa.

A prova realizou-se a 23 de agosto de 1959, num traçado que tinha início na estrada de Queluz, passava pela autoestrada do Estádio Nacional (a atual A5 ), pela estrada do Alvito, estrada de Montes Claros, estrada do Penedo e terminava na estrada dos Marcos.
No total, o percurso tinha uma extensão de 5440 m, para percorrer durante 62 voltas, num total de 337 km.
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Tal como tinha acontecido em 1958, no circuito da Boavista, Stirling Moss (agora num Cooper-Climax) apresentou uma condução dominadora e impôs-se perante Masten Gregory (Cooper-Climax) e Dan Gurney (Ferrari).
“Nicha” Cabral (Cooper-Maserati), o piloto português que nesse dia se estreou na Fórmula 1, terminou em 10.º, numa corrida onde chegou a causar um acidente com Jack Brabham.

No ano seguinte, em 1960, o GP de Portugal regressava ao Porto, ao circuito da Boavista, antes de uma longa espera que só terminaria em 1984, ano em que a Fórmula 1 regressaria a Portugal, desta feita no circuito permanente do Estoril.

Autódromo do Estoril
Tal como em 2020, num regresso ditado pela pandemia de Covid-19, também em 1984 o regresso da Fórmula ao nosso país se deu em circunstâncias atípicas.

O GP de Portugal substituiu já a maio da época o GP de Espanha, que nesse ano se deveria ter realizado no circuito urbano de Fuengirola, junto ao mar.
A prova acabou por transitar para Portugal e para o Autódromo Fernanda Pires da Silva, popularmente conhecido como Autódromo do Estoril, construído 12 anos antes, curiosamente o mesmo período de tempo que o Mundial de Fórmula 1 acabaria por ficar — de forma ininterrupta — no nosso país e nesse traçado.

O GP de Portugal de 1984, a última prova da temporada, ficou marcada pela luta entre Niki Lauda e Alain Prost, colegas de equipa na McLaren, que chegaram a Portugal com a possibilidade de conquistar o título.
Lauda terminou em segundo, atrás de Prost, mas foi campeão do mundo, naquela que seria a diferença mais curta da história entre o primeiro e segundo classificados do Mundial, apenas meio ponto.
A NÃO PERDER: Ayrton Senna, o puto brasileiro que deu uma tareia aos melhores do mundoAyrton Senna (Toleman), que nesse ano se estreava na Fórmula 1, conquistou o lugar mais baixo do pódio, mas deixava o aviso para o que viria a acontecer no ano seguinte, numa das corridas mais fantásticas de sempre no circuito do Estoril.
Em 1985, o GP de Portugal passou de outubro para a primavera, e no dia da corrida, 21 de abril, o Autódromo do Estoril foi alvo de um dilúvio quase bíblico, confirmando o provérbio: “Em abril, águas mil”.
Mas por entre os lençóis de água que ocupavam quase todo o traçado, Ayrton Senna confirmava aquilo que muitos já tinham antecipado: o brasileiro, então com 25 anos, era especial.

Senna liderou do início ao fim e não só garantiu a vitória — a sua primeira na F1 — como dobrou quase todos os rivais. Apenas nove carros chegaram ao fim e Senna, que estava no seu ano de estreia com a Lotus, dobrou todos menos Michele Alboreto (Ferrari), que acabou em segundo.
LEIAM TAMBÉM: Do Estoril ao Mónaco num McLaren Senna. Melhor viagem de sempre?Foi a primeira de 41 vitórias de Ayrton Senna na Fórmula 1, numa prova onde também conquistou a volta mais rápida e num fim de semana onde alcançou a primeira pole-position da carreira — muitas mais viriam…

Jacques Villeneuve (Williams), na época de 1996, acabaria por tornar-se o último vencedor do GP de Portugal disputado no circuito do Estoril, numa temporada que acabou com o título mundial a ser entregue a Damon Hill (Williams).
A prova portuguesa ainda esteve no calendário de 1997, mas os trabalhos de renovação das infra-estruturas da pista não foram concluídos a tempo e a corrida acabou por ser mudada para Espanha, mais propriamente para o circuito de Jerez de la Frontera.
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Foi preciso esperar 24 anos até ver novamente o “grande circo” da Fórmula 1 por terras portuguesas, com o regresso da classe rainha do automobilismo a Portugal a fazer-se no Autódromo Internacional do Algarve, em Portimão, que se tornou no quarto circuito a acolher a Fórmula 1 no nosso país.

O 17.º Grande Prémio de Portugal, disputado a 25 de outubro de 2020, só aconteceu porque a pandemia provocada pelo novo coronavirus obrigou a uma reorganização do Mundial de Fórmula 1, mas nem por isso foi menos interessante.
Lewis Hamilton (Mercedes-AMG Petronas) venceu a corrida portuguesa e entrou (mais uma vez) para os livros da história da Fórmula 1, tornando-se no piloto com mais vitórias de sempre (92) em Grandes Prémios, ultrapassando Michael Schumacher (91).
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A somar a tudo isto, a corrida de Portimão — que viu Valtteri Bottas (Mercedes-AMG Petronas) terminar no segundo posto e Max Verstappen (Red Bull Racing) em terceiro — foi a segunda mais vista da temporada de 2020, com uma audiência televisiva de 100,5 milhões de espetadores em todo o mundo, sendo apenas superada pelo Grande Prémio da Hungria.
Este ano, 2021, escreve-se uma nova página da história do Grande Prémio de Portugal, com a F1 a regressar ao Algarve e a um circuito que também acolheu (recentemente) o GP de Portugal em MotoGP.
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