Notícias Dos camiões elétricos e autónomos à Uber dos camiões. É este o futuro do setor?

Web Summit 2023

Dos camiões elétricos e autónomos à Uber dos camiões. É este o futuro do setor?

A Razão Automóvel esteve no Web Summit 2023, onde foi também discutido o futuro da indústria logística, que promete sofrer uma revolução.

Tesla Semi
© Tesla

A transformação tecnológica — da eletrificação à digitalização — a que estamos assistir nos automóveis de passageiros começa a chegar a outros setores, como o da indústria logística, em particular aos veículos pesados de mercadorias.

Esta transformação promete afetar não só os camiões em si como também o modelo de negócio do setor, que procura novas soluções para os desafios de sempre.

camião do futuro VERA Volvo
Poderá ser assim o camião do futuro? Este é o camião autónomo VERA da Volvo

Um deles passa pela falta de motoristas e pelo envelhecimento desta classe profissional: estima-se que só na Europa sejam precisos, hoje, entre 400 mil a 500 mil novos motoristas. Em 2026 esse número poderá subir até aos dois milhões, devido à dificuldade em atrair os mais jovens para esta profissão, que apresenta condições de trabalho pouco atrativas.

Outro desafio a ultrapassar passa, previsivelmente, pelo impacto ambiental dos camiões, que continua a ser a principal forma de transportar mercadorias na Europa. Hoje circulam nas estradas europeias 6,2 milhões de camiões, o que corresponde a 2% do parque circulante. Contudo, estes são responsáveis por 23% das emissões totais de CO2 dos transportes rodoviários.

Há soluções?

A Razão Automóvel esteve no Web Summit 2023 para descobrir duas soluções que querem resolver ou mitigar estes problemas.

Uma delas foi apresentada por Hendrik Kramer, co-fundador e CEO da FERNRIDE, que falou da possibilidade das frotas comerciais passarem a ser feitas com camiões 100% elétrico e autónomos, ao contrário dos camiões com motor Diesel de hoje, que tão bem conhecemos.

Web Summit palco principal 2023
©Razão Automóvel

Hendrik Kramer quer acelerar a transição para camiões elétricos e autónomos, de modo a potenciar a sustentabilidade, a segurança e a eficiência do transporte de mercadorias.

A outra solução foi a proposta por David Nothacker, CEO da Sennder, que sugere um modelo de negócio do setor diferente do atual.

Ao invés de se concentrar no camião em si, Nothacker apresenta-nos uma plataforma digital onde as empresas de transportes podem «alugar» os camiões ao invés de comprá-los. Ou seja, uma espécie de Uber para camiões.

O CEO da Sennder declara que apesar dos camiões elétricos serem o futuro, estes ainda são muito dispendiosos para pequenas empresas — duas a três vezes mais que os Diesel. Basta referir que 70% dos camiões pertencem a empresas que têm frotas com 10 ou menos camiões, pelo que estas dificilmente dispõem dos meios para investir em camiões elétricos.

O que eles propõem é um sistema pay-per-use (pagamento ao quilómetro) que dá a estas empresas acesso aos camiões elétricos sem terem de lidar com uma série de custos. O acesso aos camiões em si é providenciado por parcerias como a que a Sennder estabeleceu com a Scania, formando uma joint venture a que chamaram JUNA.

David Nothacker, CEO da sennder; Hendrik Kramer, Co-fundador & CEO da FERNRIDE, e Marta Rodriguez, Jornalista da Euronews
“Freight shock: The electric logistics revolution”, Web Summit 2023

Obstáculos a ultrapassar

Para que estas soluções tenham um futuro alargado no setor, há obstáculos a ultrapassar. Desde o custo muito mais elevado dos camiões elétricos — em grande parte devido às baterias gigantes que precisam —, até à relutância da adoção de novas tecnologias por parte de algumas empresas de transporte.

Como o CEO da Sennder refere, depararam-se com empresas onde nem um simples smartphone havia para correr a sua aplicação. Um desafio que obrigou a encontrar novas soluções para contornar essa lacuna, como a oferta de outras modalidades de pagamento, em dias de uso e não por quilómetro.

Mas, talvez, um dos maiores impedimentos ao desenvolvimento desta indústria esteja na falta de uma infraestrutura de carregamento específica para camiões elétricos — um problema que também afeta os ligeiros de passageiros elétricos. Estes requerem potências mais elevadas de carregamento, assim como é necessário alargar a oferta de carregadores nos principais eixos viários europeus.

Transformação radical do setor e do motorista

A eletrificação e integração da tecnologia de condução autónoma nos veículos pesados de mercadorias promete não só reestruturar todo o setor logístico como transformar a profissão do camionista em si.

A aposta da FERNRIDE em camiões autónomos, por exemplo, não implica o fim da profissão de motorista. Este terá de ganhar novas competências, como as de um gestor de camiões autónomos, com possibilidade de os poder operar à distância quando necessário. Serão precisos menos motoristas de camiões no futuro? Muito provavelmente.

Como a FENRIDE antecipa, esses motoristas terão condições de trabalho mais favoráveis. Deixará de ser necessário, por exemplo, dormir várias noites fora, longe da família, uma vez que deixa de ser necessário que o camionista efetue essas viagens. Poderá estar aqui uma forma de atrair as gerações mais jovens para esta profissão?