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Mirai vende pouco mas Toyota não desiste dos elétricos a hidrogénio

O desenvolvimento da tecnologia da pilha de combustível a hidrogénio (fuel cell) não vai parar, só que a Toyota vai reorientá-la para outro tipo de veículos.

Toyota Mirai na estrada, frente 3/4
© Toyota

Os automóveis elétricos com pilha de combustível a hidrogénio (FCEV, o mesmo que Fuel Cell Electric Vehicle) tem sido uma das grandes apostas da Toyota como alternativa aos elétricos a bateria e aos esforços de alcançar a neutralidade carbónica.

Só que é impossível escapar à frieza dos números: o Mirai, a berlina elétrica a pilha de combustível a hidrogénio da Toyota, vendeu apenas 3924 unidades globalmente em 2022. Apesar de estar a fazer melhor este ano, está muito longe de contribuir para o objetivo do construtor em vender anualmente 200 mil veículos fuel cell até 2030.

O diretor técnico da Toyota, Hiroki Nakajima, confirmou os números de vendas muito aquém das expectativas em declarações à britânica Autocar, por ocasião do Salão de Tóquio deste ano:

“Tentámos, mas o Mirai não tem sido bem sucedido”

Hiroki Nakajima, diretor técnico da Toyota
Toyota Mirai Fuel Cell
© Razão Automóvel A cadeia cinemática do Toyota Mirai: o motor elétrico está instalado atrás e os tanques de hidrogénio ficam por debaixo do habitáculo.

O insucesso da vasta berlina é justificado por Nakajima pela rede deficitária de abastecimento de hidrogénio: “há poucas estações de hidrogénio e são difíceis de concretizar, por isso, o Mirai é pequeno (em volume)”.

Reorientar esforços

Apesar dos resultados comerciais desapontantes, a Toyota não tem intenções de desistir da tecnologia da pilha de combustível a hidrogénio. Por isso, o gigante japonês decidiu reorientar o desenvolvimento da tecnologia para os veículos comerciais.

A Toyota não é a única na indústria que vê nos comerciais e pesados de mercadorias os veículos em que esta tecnologia faz mais sentido — Hyundai e Stellantis, por exemplo, também o estão a fazer.

É fácil de compreender o porquê. Deixa de ser preciso encher os veículos com caras, pesadas e volumosas baterias e a previsibilidade das rotas associadas a este tipo de veículos permite conceber uma rede de abastecimento mais eficaz.

Hiroki Nakajima reforça estes argumentos: “Para os camiões de tamanho médio é mais fácil conseguir uma rede de abastecimento, já que são sobretudo viagens do ponto A ao B. Um grande número de camiões vão de A a B e por isso as estações de abastecimento podem operar com maior estabilidade”.

Por isso reafirma que “os veículos comerciais são a área mais importante para experimentar e prosseguir com o hidrogénio”. Vê ainda um uso potencial da tecnologia da pilha de combustível a hidrogénio nas pick-up, como o protótipo já revelado da Hilux deixa antecipar.

Para mais, a China e a Europa estão a acelerar os investimentos no hidrogénio direcionados para a descarbornização do transporte de mercadorias. Na União Europeia, o objetivo é o de ter uma estação de abastecimento de hidrogénio gasoso a cada 200 km na TEN-T (rede de transporte trans-europeia) até 2031.

Tecnologia sempre a evoluir

A segunda geração do Mirai representou um salto significativo na tecnologia fuel cell na Toyota, mas a evolução continua.

CaetanoBus hidrogénio
© CaetanoBus O CaetanoBus H2.City Gold, construído em Portugal, usa a tecnologia fuel cell da Toyota

A Toyota afirma que está a desenvolver uma nova geração da tecnologia da pilha de combustível a hidrogénio, especialmente para veículos comerciais. O custo será metade da atual e melhorará a durabilidade em 2,5 vezes mais que a de um motor Diesel. Além disso promete ser 20% mais eficiente, traduzindo-se em custos de abastecimento inferiores, um fator de peso na operação de veículos comerciais.

A partir desta nova pilha de combustível, a Toyota está a desenvolver outra com metade do tamanho. O que permite manter em aberto a possibilidade de equipar futuramente automóveis ligeiros de passageiros, assim como outro tipo de máquinas no setor da construção e medicina.

Além da pilha de combustível em si, a Toyota está a desenvolver novos tanques de hidrogénio, que se afastam do formato cilíndrico atual (construídos em fibra de carbono e capazes de suportar 700 bar de pressão). O objetivo é o de conseguir um melhor aproveitamento do espaço, ocupando menos espaço no veículo.

A Toyota já chegou a duas soluções: tanques planos e em forma de “sela”. Estes últimos permitem que um veio de transmissão passe por cima e estão a ser concebidos para ocupar diretamente o espaço de uma bateria num automóvel elétrico.

Será desta vez que a aposta da Toyota na pilha de combustível a hidrogénio vingará? O objetivo de 200 mil veículos por ano fuel cell até 2030 é já «amanhã».

Enquanto isso, os elétricos a bateria também parecem estar a passar por algumas dificuldades, com uma desaceleração na procura, que Akio Toyoda, o ex-diretor executivo da Toyota e atual presidente não executivo, fez questão de evidenciar:

Fonte: Autocar