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ACEA: “O benefício ambiental da Euro 7 é muito limitado e aumenta fortemente o custo dos veículos”

As reações à norma Euro 7 proposta pela Comissão Europeia foram imediatas. As associações ACEA e Transport & Environment não estão satisfeitas.

Skoda Octavia teste de emissões
© Skoda

As reações à publicação da proposta da Euro 7 não se fizeram esperar. Com a Associação Europeia de Construtores de Automóveis (ACEA) a liderar as críticas.

A maior associação de construtores de automóveis da Europa aponta duas fragilidades principais a esta proposta para a norma Euro 7 — que ainda terá de passar pelo crivo do Conselho de Ministros da UE e Parlamento Europeu. Por um lado os  benefícios ambientais são muito limitados, e por outro, o impacto no preço dos automóveis novos será demasiado grande.

Em comunicado, a ACEA não poupa criticas à proposta da União Europeia para a norma Euro 7.

O ano passado elaborámos uma proposta muito construtiva para a nova Euro 7. A nossa proposta traria uma enorme redução nos poluentes cruciais e, portanto, representava um incremento na qualidade do ar. Infelizmente, o benefício ambiental da proposta da Comissão Europeia é muito limitado, enquanto aumenta fortemente o custos dos veículos. Isto porque foca-se em cenários de condução extremos que, na realidade, têm pouco relevância.

Oliver Zipse, Presidente da ACEA e diretor executivo da BMW.

Comissão Europeia e ACEA discordam

Segundo a Comissão Europeia, até 2035, esta norma terá contribuído para reduzir as emissões totais de NOx (óxidos de azoto) em 35% para os veículos ligeiros (em relação à Euro 6) e em 56% para os veículos pesados (Euro VI).

A ACEA discorda e revela outros números. Os estudos apresentados pela ACEA apontam para uma redução de apenas 5% nas emissões de NOx dos veículos ligeiros e 2% nos veículos pesados.

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trânsito ACEA Euro 7
É nas cidades onde o impacto das emissões NOx e partículas, prejudiciais à saúde humana, mais se faz sentir. A Comissão Europeia refere que a Euro 7 terá um impacto substancial na sua redução até 2035, mas a ACEA discorda.

A ACEA sugere que para maximizar o impacto da redução das emissões NOx — aquelas que são prejudiciais à saúde humana — devia apostar-se sobretudo na renovação do parque automóvel.

Por outras palavras, ao invés de endurecer ainda mais as normas de emissões, a Comissão Europeia e a indústria automóvel devia concentrar-se em reduzir a idade média dos automóveis na Europa.

Para a ACEA, o «inimigo nº1» no combate às emissões é o envelhecimento galopante dos automóveis a circular na Europa.

Uma media que segundo a ACEA, em conjunto com a eletrificação em curso — as vendas de carros elétricos continua a aumentar — contribuiria para uma redução de 80% das emissões NOx em 2035, tendo por referência os valores de 2020.

Em relação ao impacto da Euro 7 no custos dos veículos, a Comissão Europeia e a ACEA voltam a estar em desacordo.

A Comissão prevê um aumento entre 90 euros e 150 euros no custo dos veículos ligeiros e de cerca 2600 euros para veículos pesados (mercadorias e passageiros). A ACEA não é tão otimista e prevê fortes constragimentos, principalmente nos segmentos mais acessíveis — onde é mais difícil diluir o impacto no preço final.

Impacto mais pesado… nos pesados

É precisamente sobre o impacto da Euro 7 nos veículos pesados (sobretudo de mercadorias) que a ACEA levanta mais críticas, revela em comunicado:

A proposta da Euro 7 é particularmente severa para os camiões. Negligencia completamente a aceleração rápida de mudança para veículos zero emissões, e ignora também o efeito das futuras metas de CO2 para veículos pesados.

SEAT mega-camião
© daniaznar
A ser aprovada, com a nova norma Euro 7 passará a haver um conjunto único de regras de limites de poluentes, independentemente do tipo de veículo ou combustível. Esses limites foram alinhados com os já existentes (Euro 6) para os motores a gasolina de veículos ligeiros, que são os mais exigentes.

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Por isso, Martin Lundstedt, diretor executivo do Grupo Volvo e membro do conselho da ACEA para veículos comerciais, deixa um alerta: “os fabricantes de camiões vão ter de desviar recursos financeiros e de engenharia substanciais dos veículos a bateria e fuel cell de novo para o motor de combustão interna”.

O que por sua vez, conclui este responsável, terá um “impacto severo na transição para  veículos de zero emissões”.

"Os legisladores deveria focar-se em medidas que acelerem a renovação da frota, dando prioridade aos investimentos em veículos zero emissões, que terão um muito maior impacto, tanto na qualidade do ar como na redução das emissões de CO2".

Martin Lundstedt, diretor executivo do Grupo Volvo e membro do conselho da ACEA para veículos comerciais

Por fim, a ACEA considera as datas de implementação da Euro 7 — julho de 2025 para os veículos ligeiros e julho de 2027 para os veículos pesados — são “irrealistas”. Justifica-o pelo elevado número de modelos e variantes que necessitam de ser “desenvolvidos, testados e certificados antes disso”, o que agrava os riscos de complexidade e custos elevados.

“Chocantemente fracas”

Se do lado da ACEA, representando a indústria, a Euro 7 merece críticas, as associações ambientais não lhe ficam atrás, ainda que por motivos distintos. É o que podemos depreender das declarações do comunicado da Transport & Environment, um dos principais grupo de defesa do meio ambiente associados aos transportes.

Começam logo por afirmar que a “Comissão Europeia deu prioridade aos lucros dos fabricantes automóveis num falhanço histórico para reduzir a poluição tóxica dos automóveis e camiões”.

Emissões Diesel
Além dos limites aos gases poluentes, a Euro 7 também vai elevar a exigência dos testes de emissões.

Reforçam o argumento dizendo que a Comissão rejeitou o conselho dos seus próprios especialistas — um consórcio de especialistas designado CLOVE (Consortium for ultra Low Vehicle Emissions) — para as novas regras que limitam as emissões que não sejam CO2 dos automóveis.

Recordamos que o CLOVE tinha proposto reduzir as emissões NOx em 50% e das partículas em 80%.

"A Comissão Europeia pôs-se do lado dos lobistas automóveis num movimento que fará uma «lavagem verde» de 100 milhões de automóveis altamente poluentes que serão vendidos na década até 2035 (a começar a julho de 2025, data da entrada em vigor da Euro)."

Transport & Environment

A Transport & Environment afirma ser “agora crítico que o Parlamento Europeu (que ainda tem de aprovar a proposta da Comissão Europeia) reforce estas regras chocantemente fracas ou simplesmente as rejeite”.

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Outras associações, como a de fornecedores CLEPA ou a de fabricante de catalisadores AECC, reorientam as suas preocupações para que sejam definidos o mais rápido possível os detalhes técnicos associados a estas regras, de modo a haver tempo para desenvolver e testar as tecnologias necessárias.