Ensaio Testámos o Hyundai i10 N Line. Mini “pocket rocket” ou será algo distinto?

Desde 17 100 euros

Testámos o Hyundai i10 N Line. Mini “pocket rocket” ou será algo distinto?

À primeira vista parece um pequeno "pocket rocket", mas acabei por descobrir que a essência do novo Hyundai i10 N Line reside noutro conjunto de argumentos.

Hyundai i10 N Line
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel

É um N Line, não é um N, é um N Line não é um N… É algo que acabei por repetir várias vezes para mim próprio para moderar as expetativas acerca do Hyundai i10 N Line e do que esperar deste aguerrido citadino.

Isto porque, bem, olhem para ele… Quando comparado com os restantes i10, o N Line adiciona uma bem vinda dose de atitude visual — em destaque o para-choques com luzes diurnas em LED de desenho específico — e vistosas jantes de 16″. Facilmente passaria por um rival do Volkswagen up! GTI, mas não, não é.

Mesmo sendo o mais potente e rápido da gama — 100 cv e 10,5s nos 0 aos 100 km/h —, e até vir com um amortecimento específico (mais firme), falta “um bocadinho assim” para ser um genuíno pocket rocket. Sobretudo no campo dinâmico.

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Nas estradas mais enroladas onde os carros mais pequenos costumam brilhar, o i10 N Line começa por cativar pela motricidade e resposta imediata do eixo dianteiro às mudanças de direção, e pela muito boa mordacidade dos travões e do seu muito bom calibrado pedal — dá enorme confiança quando nos apoiamos neles.

Porém a estes ritmos tipo “faca nos dentes” rapidamente descobrimos as limitações do diminuto i10. O eixo dianteiro começa a parecer incisivo demais, muito por culpa da direção, excessivamente leve (sobretudo nos primeiros graus de atuação) e sem oferecer muito tacto. Junte-se o adornar em curva mais que o habitual e um asfalto longe do ideal, e acabamos por agitar desconfortavelmente o pequeno i10, como se lhe tivéssemos a pedir mais do que ele consegue oferecer.

Fica a faltar aquela camada adicional de eficácia dinâmica que outros pocket rockets possuem, como também senti a falta de um eixo traseiro mais cooperativo, não só para ajudar a apontar a frente para o interior da curva, como para aumentar o nível de interatividade e até o de… divertimento.

É preciso levantar o pé um pouco para que a ação dos comandos e chassis fiquem em mais sintonia e o i10 N Line passe a fluir melhor sobre a estrada, mantendo um ritmo despachado. Não é, portanto, um pocket rocket, mas…

Hyundai i10 N Line
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel
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…é, surpreendentemente, um competente estradista

Uma qualidade que acabei por descobrir, inadvertidamente, quando tive de despachar mais de 300 km praticamente ininterruptos durante a minha custódia do Hyundai i10 N Line. Citadinos não costumam ser bons estradistas, mas como o João Delfim Tomé tinha constatado no seu primeiro contacto com o novo i10, este citadino mais parece vir de um segmento acima.

O N Line não é diferente e para mais temos voluntariosos 100 cv ao nosso dispor — 100 cv que fazem milagres! Iria mais longe até e deveria ser decretado: “Doravante, todos os citadinos têm de ter, no mínimo, 100 cv”.

Não só os 100 cv e a disponibilidade dos 172 Nm (às 1500 rpm) garantem uma performance convincente aos poucos mais de 1000 kg do i10 N Line (com condutor a bordo) — mais do que os 10,5s deixam adivinhar —, como acabam por casar mesmo muito bem com outras qualidades já reconhecidas dos restantes i10, pouco usuais entre os citadinos, nomeadamente a sua postura fora do ambiente urbano.

Hyundai i10 N Line
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel

Um “arsenal” que permite enfrentar com confiança qualquer tirada mais longa em autoestrada ou ultrapassar, sem grandes receios, aquele camião na nacional, sempre com níveis bastante aceitáveis de insonorização e conforto.

Em autoestrada revelou-se mais estável e refinado do que estava à espera, mesmo que a banda sonora do 1.0 T-GDI não seja a mais musical — rouca, mas mais “voz de bagaço” do que um Brian Adams ou Bonnie Tyler. Em nacionais, apenas algumas irregularidades mais abruptas agitaram o pequeno i10, mas os bancos não “massacraram” o corpo mesmo após várias horas — têm, porém, uma clara falta de apoio lateral e para as pernas.

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Despachado, mas de apetite moderado

Mesmo com a agulha do velocímetro (analógico) a ir várias vezes acima dos 120 km/h em autoestrada e com reduções mais intempestivas e acelerador esmagado para algumas ultrapassagens em nacionais, os mais de 300 km resultaram em 5,5 l/100 km — nada mal…

Hyundai i10 N Line
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel

O que o i10 N Line demonstrou é que consumos comedidos não tem de ser sinónimo de pachorrento. Durante o tempo que esteve comigo, o mais potente e rápido dos i10 registou consumos entre um pouco acima dos quatro litros e menos de sete, dependendo do contexto. Sim, gasta mais que os i10 de 67 cv — não tanto mais como à partida seria de imaginar —, mas o acréscimo de disponibilidade e performance mais que compensa a diferença.

Pequeno por fora…

… grande por dentro. Estreito, curto, mas alto, olhando de fora dificilmente suspeitaríamos que houvesse tanto espaço por dentro do i10. Mesmo atrás, é possível duas pessoas viajarem confortavelmente, com espaço em abundância para cabeça e pernas. Ao não ter um túnel de transmissão, “apertar” um terceiro ocupante não é, também, uma missão impossível.

Banco dianteiro
Confortáveis, mas sem apoio suficiente. © Thom V. Esveld / Razão Automóvel

O excelente aproveitamento de espaço continua na bagageira, com os 252 l anunciados a estarem entre os melhores do segmento. Não é, talvez, o melhor carro para efetuar mudanças, mas é suficiente para, e porque não, aproveitar as surpreendentes capacidades estradistas do i10 N Line e fazer umas mini-férias.

Peca apenas pelo degrau de acesso entre a abertura da bagageira e do piso e por outro degrau entre o piso e quando rebatemos os bancos — outros i10 têm um piso amovível capaz de nivelar o piso com tudo o resto, mas o N Line não o tem.

Bagageira
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel
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É o carro certo para mim?

Mesmo nesta mais aguerrida versão N Line, o Hyundai i10 continua a ser uma das referências entre os citadinos. Para lá da manobrabilidade inata e do excelente aproveitamento de espaço interno, o N Line adiciona uma muito bem vinda dose de performance, graças aos 100 cv do 1.0 T-GDI. Isto sem penalizar muito os consumos relativamente ao mais modesto 1.0 MPi de 67 cv.

São esses 100 cv que em muito contribuem para as inesperadas qualidades do i10 N Line quando saímos da sua zona de conforto, ou seja, quando saímos dos limites da cidade. Quem diria que um pequeno citadino poderia ser um estradista competente? A meu ver, este é o i10 a ter.

Não é, infelizmente, um pocket rocket mais acessível, como ao início parecia ser, mas para quem procure um carro para o dia a dia, bastante despachado, o i10 N Line revela-se muito compensador.

Os 17 100 euros pedidos parecem algo elevados à partida e as três estrelas Euro NCAP podem-nos deixar um pouco de pé atrás (a ausência de alguns assistentes à condução mais sofisticados prejudicou a classificação final), mas entre escolher um i10 N Line ou um modelo de segmento acima — por valor idêntico conseguimos aceder às versões mais acessíveis de vários utilitários —, e caso o espaço absoluto não seja uma total necessidade, este polivalente e despachado citadino torna-se bastante tentador.

Testámos o Hyundai i10 N Line. Mini “pocket rocket” ou será algo distinto?

Hyundai i10 N Line

7/10

NOTA: 7,5. Não é um pequeno pocket rocket, como deu a entender à primeira vista e para muita pena minha, mas qualidades e argumentos não faltam ao Hyundai i10 N Line. Além daquelas que já tínhamos constatado na nova geração, o N Line ao vir com 100 cv garante um agradável incremento de performance e dá-lhe uma polivalência de utilização que não costuma estar ao alcance de citadinos como ele — um citadino com qualidades estradistas? Quem diria… Se o espaço não é uma prioridade absoluta — apesar de ser um dos mais espaçosos citadinos — o i10 N Line é uma opção preferível aos utilitários de igual preço.

Prós

  • 100 cv bastante animados
  • Qualidades estradistas
  • Espaço atrás generoso

Contras

  • Direção leve em demasia
  • Bancos têm falta de apoio

Versão base:€17.100

IUC: €103

Classificação Euro NCAP: 3/5

€17.100

Preço unidade ensaiada

  • Arquitectura:3 cilindros em linha
  • Capacidade: 998 cm3 cm³
  • Posição:Dianteira Transversal
  • Carregamento: Injeção direta, turbo, intercooler
  • Distribuição: 2 a.c.c.; 4 válv. por cilindro (12 válv.)
  • Potência: 100 cv às 4500 rpm
  • Binário: 172 Nm às 1500 rpm

  • Tracção: Dianteira
  • Caixa de velocidades:  Manual de 5 velocidades

  • Largura: 3675 mm
  • Comprimento: 1680 mm
  • Altura: 1483 mm
  • Distância entre os eixos: 2425 mm
  • Bagageira: 252-1050 l
  • Jantes / Pneus: 195/45 R16
  • Peso: 1024 kg (EU)

  • Média de consumo: 5,2 l/100 km
  • Emissões CO2: 119 g/km
  • Velocidade máxima: 185 km/h
  • Aceleração máxima: >10,5s

    Tem:

    • Alerta de arranque do veículo dianteiro (LVDA)
    • Android Auto e Apple Carplay
    • Ar condicionado manual
    • Dupla Ponteira de escape
    • Ecrã Touchscreen 8"
    • Jantes 16" em Liga Leve
    • Luzes de circulação diurnas LED
    • Sistema de manutenção à faixa de rodagem (LKA)
    • Travagem Autónoma de Emergência (FCA)
    • Volante e alavanca da caixa de velocidades com logótipo N