Ensaio Como é viver com uma Ford Ranger Raptor

Desde 83 391 euros

Como é viver com uma Ford Ranger Raptor

Esta é a Ford Ranger mais Raptor de sempre. E isso diz tudo acerca desta pick-up. Aliás, acerca deste desportivo para usar fora de estrada.

Ford Ranger Raptor V6 3.0 EcoBoost

9/10
Esta é a Ford Ranger mais Raptor de sempre.

Prós

  • Factor “wow” (ninguém fica indiferente)
  • Suspensão melhorada
  • Imagem robusta e agressiva
  • Desempenho off-road

Contras

  • Preço (fiscalidade portuguesa)
  • Consumos do motor V6
  • Nem sempre conseguimos explorar todo o seu potencial

Depois de ter surpreendido na primeira geração, a Ford Performance não quis fazer por menos e foi ainda mais além na nova Ranger Raptor, que aterrou recentemente na Europa com um motor 3.0 V6 biturbo a gasolina com 292 cv.

A fórmula base é essencialmente a mesma da geração anterior. Mas tudo foi aprimorado para que o resultado final fosse ainda mais espetacular. E não há outra forma de o dizer (desculpem o spoiler numa fase tão embrionária do ensaio): esta é a Ford Ranger mais impressionante de sempre.

Que a Ford Ranger Raptor é um verdadeiro «monstro» fora de estrada, isso não é surpresa. Mas como é viver com esta pick-up? É uma tarefa apenas difícil ou simplesmente impossível? A resposta está nas linhas que se seguem.

Grande? Não, enorme!

Os números nunca mentem e basta olhar para as dimensões da Ford Ranger Raptor para percebermos que esta não é uma pick-up qualquer: são 5,36 m de comprimento, 2,03 m de largura e 1,93 m de altura.

Ford Ranger Raptor estacionamento
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel É difícil estacionar e não ficar com o “nariz” de fora

E antes que perguntem, eu digo já: não, nem todas as garagens servem para a Raptor e os estacionamentos raramente são largos o suficiente para que os quatro pneus não fiquem em cima das linhas brancas.

E nem se atrevam a entrar numa estrada mais estreita e que não conheçam bem. Não quero imaginar o que seria ter que fazer (aliás, tentar) uma inversão de marcha a meio.

Dito isto, não vos quero mentir: conduzir a Raptor pode ser algo intimidante de início. Mas essa sensação dura 10 minutos. Se calhar menos. Porque a verdade é que se tivermos em conta o seu enorme porte atlético, conduzir esta pick-up é uma tarefa até bem fácil.

Ford Ranger Raptor estacionamento
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel Imponente. É assim que a Ford Ranger Raptor se mostra ao mundo

E mesmo nas manobras aparentemente mais complicadas temos sempre o suporte de sensores de estacionamento e de câmaras, tanto à frente como atrás.

Imagem a condizer

Se ouvirem o «ronco» do motor V6 biturbo, nem há conversa. Vão sempre saber que se trata de uma Ranger Raptor. Mas mesmo que o seis cilindros esteja «adormecido», existem muitos outros elementos que denunciam a natureza deste modelo, a começar logo nos para-choques específicos, na grelha imponente com as letras “FORD” e nos grafismos próprios.

Ford Ranger Raptor
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel Os autocolantes “Raptor” são opcionais e custam 743 euros. Mas eu diria que são obrigatórios…

A juntar a isso ainda temos as proteções a negro em torno das cavas das rodas, que reforçam a largura e a imponência deste modelo, o arco (também a negro) montado logo atrás da cabine dupla e claro, as duas ponteiras de escape de dimensões generosas.

Habitáculo à prova de quase tudo. Tal como se pede

No interior, a Ford Ranger Raptor destaca-se por contar com vários apontamentos em laranja, bancos desportivos específicos e com um volante com pespontos a laranja e com a inscrição “RAPTOR” na parte inferior do aro.

Ford Ranger Raptor
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel Atrás do volante encontramos patilhas em magnésio que nos permitem controlar a transmissão de forma manual

Olhando para o habitáculo, os materiais não impressionam, mas houve uma evolução tremenda (mesmo!) face à anterior geração. São bons o suficiente para nos fazerem sentir bem a bordo deste modelo e são muito adequados para uma proposta robusta e aventureira como é esta pick-up.

Senti, em algumas ocasiões, que os comandos físicos no habitáculo não têm uma grande precisão. Mas a montagem surge em bom plano e mesmo quando saí de estrada e fui explorar as aptidões off road desta pick-up nunca detetei ruídos parasitas.

Já atrás, na segunda fila, o espaço não é tão amplo como seria de esperar e uma vez lá sentados, sentimos rapidamente que as costas do banco são demasiado inclinadas (mais inclinados do que num SUV).

Dito isto, os lugares traseiros não são incómodos e podem ser usados inclusive em viagens mais longas. E o acesso é sempre cómodo, por culpa da abertura muito ampla das portas. Contudo, o espaço para as pernas é curto, mais curto do que em muitos SUV médios.

Ranger Raptor lugares traseiros
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel Nos bancos traseiros, o espaço para as pernas não é grande e a inclinação das “costas” é substancial

Espaço para tudo?

Como seria de esperar, a zona de carga traseira é ampla e muito versátil. Tem 1,22 m de largura máxima, 53 cm de altura e, mais impressionante ainda, tem 1,56 m de comprimento se a medirmos com a pequena porta traseira aberta.

Quando equipada com o Pack Exterior Raptor opcional, a caixa de carga ganha um tratamento com um material rugoso negro que é muito fácil de limpar e recebe uma cobertura elétrica que pode ser accionada a partir do comando da chave.

Ford Ranger caixa traseira
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel Existem dois pontos de iluminação na caixa de carga bem como duas tomadas de corrente: uma de 12 V e outra de 240 V

Durante os dias que passei com a Raptor dei por mim a colocar a caixa de transporte da minha cadela e até duas bicicletas na caixa traseira desta pick-up. É essa versatilidade um dos motivos pelo qual este tipo de carroçaria até faz sentido.

Mas se a usarem para «missões» mais mundanas, como por exemplo transportar os sacos das compras ou um pequeno móvel comprado numa determinada loja sueca, então o melhor é mesmo usarem um dos muitos pontos de suporte que existem na caixa para prender esses objetos.

Caso contrário vão acabar invariavelmente por ter que subir para o deck da Ford Ranger para conseguir chegar a tudo. A partir do chão, mesmo todo esticado e tendo 1,83 m, é uma missão impossível chegar a mais de meio.

Ranger Raptor perfil
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel Com o Pack Exterior Raptor (1860 euros) recebemos uma cobertura elétrica para a caixa de carga que pode ser accionada a partir do comando da chave.

Um desportivo diferente

Vamos começar pela peça mais importante deste puzzle, que é como quem diz, pelo motor. Afinal essa é uma das principais novidades desta segunda geração da pick-up. Enquanto a primeira Ranger Raptor tinha apenas um motor Diesel, agora também passou a contar com um super motor a gasolina.

Ford Ranger V6 motor
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel Um super V6 biturbo a gasolina. Que bem que sabe escrever isto…

Debaixo do capô encontramos um bloco 3.0 V6 EcoBoost, com dois turbocompressores, que produz 292 cv e 491 Nm de binário máximo. Valores que são entregues às quatro rodas através de uma caixa automática com 10 velocidades.

No verão arrancam as entregas da versão Diesel EcoBlue de quatro cilindros e 2.0 l turbo com 205 cv e 500 Nm, que já pode ser encomendada.

Mas voltemos ao bloco 3.0 V6 EcoBoost. Este é precisamente o motor que encontramos no Ford Bronco Raptor, mas que aí entrega mais de 400 cv de potência.

Na Ranger Raptor «europeia» surge algo «castrado» por culpa das emissões, mas acreditem que potência é coisa que não falta a esta pick-up. A prová-lo está o facto de conseguirmos acelerar até aos 100 km/h em 7,9s, independentemente do piso (velocidade máxima está fixada nos 180 km/h).

bancos dianteiros raptor
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel Os bancos dianteiros são confortáveis e oferecem um bom suporte lateral

Um valor que pode não impressionar no papel, mas no chamado mundo real a conversa é bem diferente: afinal estamos perante um «monstro» com mais de 2,5 toneladas (2529 kg). E como disse acima, este registo pode ser alcançado em qualquer piso: na gravilha, por exemplo, é impressionante a forma como a Raptor «esgravata» e consegue colocar todo o binário no chão.

Antes de avançarmos, convido-vos a ver (ou rever) o salto — às quatro rodas — que o Diogo Teixeira fez no primeiro contacto ao volante desta Ranger Raptor. Acreditem em mim: é impressionante.

Competente no asfalto. Mas…

Fora da terra, no asfalto, a Ford Ranger Raptor não está no seu terreno natural. É certo que a suspensão é mais confortável do que eu podia imaginar, que a agilidade surpreende e que a caixa automática de 10 velocidades até consegue ser bastante suave. Mas os pneus rugosos, indicados para todo o terreno, dão sinal de si assim que subimos o ritmo.

Mas mais importante do que isso, no alcatrão dei por mim a ter, invariavelmente, a sensação de que só estava a usar 20% das capacidades deste modelo. Só quando me mandei para fora de estrada, então sim, começámos — eu e a Range Raptor — a falar a mesma língua.

Ranger consola central
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel O comando rotativo na consola central permite-nos alternar entre os quatro modos de tração disponível: 4A, 2WD (tração traseira), 4H e 4L

Um desportivo para os maus caminhos

Tive oportunidade de testar a Ranger Raptor em dois tipos de terreno distintos: um mais rápido e outro lento e muito técnico. E sinceramente, ela surpreendeu-me nos dois.

O primeiro desafio foi um estradão de terra — e alguma gravilha — com várias curvas intermédias, com excelente visibilidade, que se revelaram perfeitas para provocar a traseira desta pick-up, com o modo 2H (tração apenas às rodas traseiras) da transmissão engatado e com o ESC desligado.

Ranger Raptor fora estrada
© Miguel Dias / Razão Automóvel

Depois, seguiram-se uma meia dúzia de quilómetros totalmente desimpedidos e que convidavam a subir o ritmo e aqui, só havia uma coisa a fazer, ativar o modo Baja. E que diferença este modo faz.

O acelerador fica bem mais sensível, o som do escape ganha volume e drama e os amortecedores Fox Live Valve (com controlo eletrónico) mostram porque são tão importantes.

Ranger Raptor Painel instrumentos
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel Com o sistema de escape em modo Baja a Ranger Raptor parece saída diretamente da competição. É impressionante

A estabilidade e o conforto com que passamos por cima de irregularidades é notável e a ideia com que ficamos é que tudo fica ainda melhor e mais afinado à medida que aumentamos a velocidade e a assertividade com que fazemos todas as nossas ações.

Depois disso seguiu-se uma secção mais lenta e bem mais técnica, onde tive oportunidade de fazer alguns cruzamentos de eixos, para testar o bloqueio dos três diferenciais e até a função Trail Control, que permite programar uma velocidade (entre os 2 km/h e os 18 km/h) constante para irmos avançando, de forma cautelosa, por cima de alguns obstáculos.

Ford Ranger Raptor fora estrada
© Miguel Dias / Razão Automóvel Pneus cobertos de terra: a única «decoração» que faz sentido com este Ford Ranger Raptor

Consumos obrigam a esperar pelo Diesel?

A competência da Ranger Raptor é inabalável, sobretudo quando a levamos para fora de estrada. Mas será que isso também se verifica quando falamos dos consumos? Bem, sim e não.

Como seria de esperar, os consumos são elevados quando resolvemos explorar tudo aquilo que esta pick-up tem para oferecer. Quando o fiz, os consumos andaram sempre acima dos 16 l/100 km. Já em cidade, recorrendo ao modo “Normal” e com acelerações pontuais, raramente consegui ficar abaixo dos 19 l/100 km.

Descubra o seu próximo carro:

Em autoestrada, onde também tive oportunidade de cumprir cerca de duas centenas de quilómetros, tudo depende daquilo que estiverem dispostos a fazer. A uma velocidade média de 120 km/h vão conseguir andar em torno dos 13,5 l/100 km. Mas a 90 km/h este número «cai» para os 10 l/100 km.

Ranger Raptor
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel Apesar dos consumos altos, o depósito de combustível de 80 litros deixa-nos ir a quase todo o lado sem precisar de reabastecer

Não são os consumos mais baixos, mas depois de ver o que esta pick-up é capaz de fazer, fica difícil criticá-los. A boa notícia é que temos direito a um depósito de combustível com 80 litros, pelo que é possível conseguir uma autonomia decente.

Quanto custa?

Já ouvi muita gente a «acusar» a Ford Ranger Raptor de não ser uma proposta racional. E agora, pergunto eu: alguma vez houve alguma coisa de racional num desportivo? Não.

Comprar um desportivo é — e sempre será — um exercício toldado pela emoção. E se querem a minha opinião: é precisamente isso que os torna tão especiais. E esta pick-up não foge a isso.

É dramática, espetacular e muito radical. E eu não mudava nada. A lista de virtudes é extensa — já as mencionei todas ao longo do texto — e os pontos negativos são quase insignificantes, tirando o preço, que no nosso país arranca nos 83 391 euros, fruto da nossa fiscalidade.

Os consumos, como vimos acima, também são um contra, mas para quem tem mais de 80 mil euros para gastar num desportivo tão dramático quanto este, admito que isso possa até nem ser um problema.

Ford Ranger Raptor
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel Não há frente mais “Raptor” do que esta

E acabo este teste com a pergunta com que o comecei: como é viver com a nova Ford Ranger Raptor V6 com 292 cv? É possível? Claro que é.

Eu estive quase uma semana com esta pick-up e fiz a minha vida normal: fui às compras, fui trabalhar para o meio de Lisboa (e estacionei na rua) e fiz uma viagem maior em autoestrada. E não tive qualquer dificuldade em fazê-lo.

Mas faz sentido? Depende. Há formas mais racionais de enfrentar os desafios do dia a dia, mas não são tão divertidas.

Ford Ranger Raptor frente
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel

Dito isto, a nova Ranger Raptor é a melhor geração de sempre da pick-up mais radical que a Ford vende na Europa e dá-nos uma liberdade que já começa a ser pouco comum sentir.

Veredito

Ford Ranger Raptor V6 3.0 EcoBoost

9/10

Numa altura em que só parece haver espaço para o “politicamente correto”, a Ford Ranger Raptor é uma lufada de ar fresco. É irreverente, dramática e espetacular. E esses são os adjetivos que queremos ver associados a um desportivo. Porque é exatamente isso que esta pick-up é: um desportivo que gosta de brincar na lama. Podem acusá-la de não ser racional. Mas a última vez que confirmei não havia mal nenhum em comprar um automóvel apenas com base na emoção.

Prós

  • Factor “wow” (ninguém fica indiferente)
  • Suspensão melhorada
  • Imagem robusta e agressiva
  • Desempenho off-road

Contras

  • Preço (fiscalidade portuguesa)
  • Consumos do motor V6
  • Nem sempre conseguimos explorar todo o seu potencial

Especificações técnicas

Versão base:83.391€

IUC: 57€

Classificação Euro NCAP: 5/5

87.243€

Preço unidade ensaiada

  • Arquitectura:6 cilindros em V
  • Capacidade: 2956 cm³
  • Posição:Dianteiro longitudinal
  • Carregamento: Injeção direta. Turbo. Intercooler
  • Distribuição: 2 a.c.c.; 4 válv. por cilindro (24 válv.)
  • Potência: 292 cv às 5500 rpm
  • Binário: 491 Nm às 2300 rpm

  • Tracção: Integral
  • Caixa de velocidades:  Automática de 10 vel.

  • Largura: 5360 mm
  • Comprimento: 2028 mm
  • Altura: 1926 mm
  • Distância entre os eixos: 3270 mm
  • Jantes / Pneus: 285/70 R17
  • Peso: 2529 kg

  • Média de consumo: 13,8 l/100 km
  • Emissões CO2: 315 g/km
  • Velocidade máxima: 180 km/h
  • Aceleração máxima: >7,9s

    Tem:

    • Acender de luzes automático
    • Degrau lateral em alumínio fundido Raptor
    • Faróis LED Matrix
    • Pára-brisas termo eléctrico
    • Portão traseiro com mecanismo de fácil elevação/descida
    • Protecção metálica da parte inferior da carroçaria
    • Vidros privacidade
    • Ar Condicionado Bizona
    • Bancos de condutor e passageiros ajustável em 10 posições
    • Câmara 360 graus
    • Carregador sem fios
    • Ecrã multifuncional 12”
    • Equipamento de som premium B&O com 10 colunas
    • Gancho de reboque com 13 Pin recolhido ao alto
    • Inversor de potência 400W
    • Jantes de liga leve 17”
    • Tomada de 12V na parte traseira
    • Volante de pele aquecido exclusivo Raptor
    • Bloqueio do diferencial traseiro
    • Controlo de cruzeiro adaptativo inteligente
    • Detetor de ângulos mortos no reboque
    • Sistema de estacionamento automatizado avançado
    • Suspenção performance

Pintura Cinzento Metálico — 454 €
Autocolantes Raptor — 743 €
Pack Exterior Raptor — 1860 €
Porcas Anti-Roubo Pneu Sobressalente — 74 €.

Sabe esta resposta?
Em que ano foi revelado o Ford Escort RS Cosworth?
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Pode encontrar a resposta aqui:

A radical asa traseira (de origem) que o Ford Escort RS Cosworth não teve