Opinião Todos os portugueses deviam ter um carro elétrico

Elétricos

Todos os portugueses deviam ter um carro elétrico

Os carros elétricos são mais eficientes, mais rápidos, mais agradáveis de conduzir e mais baratos de manter. Mas os portugueses são «teimosos».

Tesla Model X Plaid
© Razão Automóvel

Todos os portugueses deviam ter um carro elétrico. Os decisores europeus têm exatamente a mesma opinião. Tanto que já marcaram o fim de qualquer outra alternativa. Não deixem de ter em conta a ironia deste texto.

Em 2035 será proibida a produção de carros com motor a combustão — e notícias como esta parecem-me mais uma distração que outra coisa. Até lá, ainda podemos contar com normas de emissões ainda mais restritivas — a famigerada e polémica Euro 7 — obrigando a investimentos avultados numa tecnologia que vai morrer. Se faz sentido? Nenhum.

O único caminho, dizem-nos, são os 100% elétricos. Mais eficientes, mais rápidos, mais silenciosos, mais agradáveis de conduzir e baratos de manter. Perante tantas vantagens, chegamos à conclusão de que os portugueses é que são uns teimosos de todo o tamanho. E quem diz os portugueses diz os europeus.

carros mais vendidos na europa 2023
© JATO Nesta lista, referente às vendas do mês de janeiro de 2023, não consta nenhum carro elétrico. Apesar dos incentivos.

Todos teimam, inexplicavelmente, continuar a comprar carros com motor a gasolina. Os que podem, claro. Porque há dois milhões de portugueses tão teimosos que não mudam de carro há mais de 20 anos.

É a epítome da teimosia ou será falta de capacidade financeira?

Uma coisa é certa: os nossos carros estão cada vez mais velhos. A idade média do parque automóvel português está a chegar aos 14 anos. E a maioria dos portugueses já não tem sequer capacidade para trocar de automóvel, quanto mais aspirar a trocar por um elétrico. Este é o país real: um país de carros velhos que sonha com elétricos.

Talvez valesse a pena começar precisamente por aí: por trocar de carro. Se estivéssemos a olhar para o problema das emissões de forma séria, começávamos esta empreitada pelo início: tirar os carros mais velhos das estradas, baixar a idade média do parque automóvel e consequentemente baixar as emissões.

Sem qualquer ironia afirmo: acredito que um dia todos os portugueses vão ter um carro elétrico. É inevitável. As vantagens da tecnologia irão prevalecer. O preço dos carros vai baixar, a infraestrutura de carregamento vai melhorar e todos vão poder usufruir das vantagens da mobilidade elétrica.

mix vendas carros europa
Apesar de todos os incentivos, os elétricos ainda só representam 12% do mix de vendas na Europa. O caminho ainda é longo. FONTE: ACEA

Enquanto esse dia não chega, devemos continuar a olhar para as nossas verdadeiras necessidades: carros mais recentes e eficientes. É que para muitos portugueses a necessidade é muito simples: ir do ponto A ao ponto B.

Num país onde os transportes públicos por vezes parecem uma anedota conseguir chegar ao trabalho não devia ser uma piada de mau gosto.

Atacar o automóvel e provocar mudanças tão abruptas num setor que é responsável pela mobilidade de milhões de pessoas e que emprega 15 milhões de pessoas não é prudente. Por isso estamos seguramente de acordo quando afirmamos que todos os portugueses deviam ter um carro elétrico na garagem. Só não lhes peçam para ser agora.

É uma empreitada que deve mobilizar todos, mas não a todo custo.

O nosso bolso não aguenta, a infraestrutura também não e o direito à mobilidade individual deve ser preservado. O mercado dará as respostas certas como sempre deu — aliás, como está a dar. Da minha parte, cá estarei para defender esta transição energética com o mesmo afinco com que defendo o direito à mobilidade individual. Afastando-me dos que só conseguem ver carros elétricos à frente e dos que só querem ver os motores a combustão pelas costas.