Notícias Vai mudar alguma coisa? Carlos Tavares responde ao «salvar» do motor de combustão pela UE

Fórum Freedom of Mobility

Vai mudar alguma coisa? Carlos Tavares responde ao «salvar» do motor de combustão pela UE

Carlos Tavares, que tem sido crítico da transição energética, comentou o acordo entre a UE e a Alemanha para manter «vivo» o motor de combustão.

Carlos Tavares, CEO Stellantis
© Stellantis

Vivem-se tempos conturbados em Bruxelas, depois de nos últimos dias (e depois de semanas de discussão) a União Europeia e a Alemanha terem chegado a acordo para permitir que o motor de combustão continue após 2035, desde que utilize combustíveis sintéticos neutros em carbono.

Questionado acerca do que isso poderá representar para a indústria, durante o Fórum Freedom of Mobility, Carlos Tavares (diretor executivo da Stellantis) foi peremptório, dizendo que “não mudou nada” na trajetória de eletrificação da Stellantis.

“No caso da Stellantis, estaremos absolutamente prontos a tempo de entregar essa mobilidade eletrificada. Isso é claro”, disse, antes de apontar o dedo aos decisores: “A decisão sobre esse ponto devia ter sido tomada mais cedo, talvez em 2014 ou 2015”.

Carlos Tavares com Emmanuel Macron
Carlos Tavares e Emmanuel Macron no Salão de Paris de 2022

Recorde-se que no mais recente esboço da União Europeia foi permitido que o motor de combustão interna continue «vivos» após 2035, desde que utilizem combustíveis sintéticos neutros em carbono.

“Acho que os combustíveis sintéticos vão ser outra tecnologia que vai ser desenvolvida. Mas no final do dia o que precisamos é de uma mobilidade segura, limpa e acessível. O futuro vai dizer se encontrámos ou não a solução para a acessibilidade. A solução para uma mobilidade limpa existe se a energia for renovável. Mas a acessibilidade ainda tem de ser demonstrada, muito por culpa da escassez das matérias primas”, alertou Carlos Tavares, numa conversa que durou cerca de duas horas e contou com um painel de seis elementos.

O problema do lítio

“Sabemos que precisamos de lítio. Neste momento existem 1,3 mil milhões de automóveis no planeta com um motor de combustão interna. Temos que substituir isso por mobilidade limpa. E isso vai necessitar de muito lítio”, disse Tavares, antes de deixar um alerta: “Não só o lítio pode não ser suficiente como a concentração de mineração de lítio pode vir a criar outros problemas geopolíticos”.

Entre as questões levantadas por Carlos Tavares está o facto de alguns governos estarem a instituir requisitos para obter matérias primas internamente ou até mesmo limitar o acesso a alguns parceiros comerciais. E isso, de acordo com o português que lidera os rumos da Stellantis, “aumenta os custos” dos automóveis elétricos.

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Uma só solução não é solução?

Relativamente ao facto de os decisores estarem a colocar as fichas todas na mesma solução, Tavares também lançou um olhar crítico:

As nossas sociedades estão a perder muito potencial por não terem regulamentos tecnologicamente neutros. É uma grande perda de criatividade do poder científico ao decidir antecipadamente impor uma tecnologia única em vez de adotarmos regras neutras em termos tecnológicos que ajudaria a criar uma competição saudável.

Carlos Tavares, diretor executivo da Stellantis

Mas contas feitas, e independentemente deste recuar de posição por parte da UE, Carlos Tavares foi peremptório ao admitir que isso não vai mudar nada.

Gama Stellantis
© Stellantis A atual gama de modelos eletrificados da Stellantis

“Se acho que vai mudar alguma coisa? Não. Estaremos prontos para a eletrificação antes da proibição, em 2035, mas temos de reconhecer que esta é uma transformação profunda da indústria”.