Crónicas África em Leiria. Conduzimos a Renault 4L que fez o Rally Safari Classic

Para não mais esquecer

África em Leiria. Conduzimos a Renault 4L que fez o Rally Safari Classic

Poucos dias depois de terem chegado de África, fomos conhecer as Renault 4L que participaram no East African Safari Classic Rally.

Renault 4L Rally Safari

Como é que se responde a um convite para ir conduzir uma das duas Renault 4L que participaram (e terminaram) no rali mais difícil do mundo? Com um pronto e inequívoco SIM. E foi precisamente isso que fiz.

A Renault Portugal convidou um grupo de jornalistas da imprensa especializada para conhecer de perto e conduzirem estas duas 4L no Gravel Test Center em Leiria e ainda conhecerem os protagonistas desta aventura.

António Pinto dos Santos, que soma diversas participações em provas do WRC ao volante desta Renault 4L com as «cores» do xisto da Aldeia Histórica do Piódão, foi quem imaginou esta «loucura».

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Renault 4L Rally Safari
O parque de assistência improvisado no Gravel Test Center em Leiria.

Depois seguiu-se o convite a outro nome histórico do panorama automobilístico nacional, Pedro Matos Chaves, bicampeão de ralis e ex-piloto de Fórmula 1, que aceitou conduzir a segunda 4L, apelidada de zebra por motivos óbvios.

E a altura não podia ter sido melhor, já que esta aventura serviu também para assinalar os 60 anos do icónico modelo, que depois de todos estes anos continua a ser o modelo mais vendido da história da Renault.

Pedro Matos Chaves Renault 4L East African Safari Classic Rally
Pedro Matos Chaves no East African Safari Classic Rally. Geoff Mayes

À prova de tudo

Mas antes de vos contar como foi conduzir uma Renault 4L tão especial, importa recordar o desafio que as trouxe até aqui. É que em África, no Quénia, estas duas 4L «tugas» percorreram quase 5000 quilómetros por alguns dos troços mais desafiantes do planeta.

O “East African Safari Classic Rally” realiza-se desde 2003 e é o maior e mais duro rali de automóveis clássicos do mundo. E é também uma das mais prestigiantes do género. Basta ver que na edição deste ano alinhou um tal de Ken Block, ao volante de um Porsche 911.

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Mas curiosamente (ou não), quem reuniu mais interesse foram as duplas Pedro Matos Chaves/Marco Barbosa e António Pinto dos Santos/Nuno Rodrigues da Silva e as duas 4L nacionais. Ninguém parecia acreditar que estas duas 4L iriam chegar ao fim.

Renault 4L Rally Safari
Pedro Matos Chaves e António Pinto dos Santos vieram carregados de histórias…

Como nos contaram Pedro Matos Chaves e António Pinto dos Santos, cada vez que apareciam no parque fechado no final das etapas era uma festa, toda a “caravana” do “East African Safari Classic Rally” começou a torcer pelo ícone francês.

Renault 4L Rally Safari
O merecido prémio.

E praticamente de série…

Qualquer que seja o ângulo em que se olhe para o que a “Team Renault 4L 60th Anniversary — Portugal” fez, o resultado é sempre o mesmo: foi impressionante e dificilmente se vai repetir. Mas o feito ganha ainda mais valor quando percebemos que as duas 4L utilizadas estavam quase de série.

Renault 4L Rally Safari

O pequeno motor com 34 cv não foi mexido, tal como a caixa de quatro velocidades com a tradicional alavanca posicionada no tabliê ou o volante que nos recorda, a cada curva, que não há aqui qualquer assistência, só mesmo os nossos braços.

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As diferenças que existem concentram-se, sobretudo, na segurança e proteção dos orgãos mecânicos: proteções na dianteira e no carter, bancos de competição e a gaiola de segurança. Mas também podemos ver as luzes auxiliares na dianteira, o snorkel e os pneus cardados.

Renault 4L Rally Safari

E os pneus foram mesmo um dos maiores desafios de toda esta aventura. Como nos lembrou Pinto dos Santos, é impossível arranjar pneus off-road novos com a medida da 4L, que monta jantes de 13”. “Só conseguimos arranjar pneus recauchutados”, disse-nos o piloto da 4L número 69.

A suspensão também representou um desafio. Se inicialmente a equipa optou por montar amortecedores de competição, rapidamente perceberam que estes estavam constantemente a partir. Como resolveram o problema? Voltando a equipar as 4L com os amortecedores de série.

Todos estes detalhes nos lembram que estamos perante um veículo praticamente indestrutível. Mas para os mais céticos, aqui vai mais um dado que acredito que vai acabar com todas as vossas dúvidas: as duas 4L chegaram a Leiria praticamente no estado em que saíram do contentor que as trouxe de África.

A odisseia nas picadas africanas acabou em meados de fevereiro, mas as 4L só chegaram ao nosso país, de barco, no início de junho. “Quando as fomos buscar ao contentor demos à chave e elas funcionaram logo”, confessou-nos, também surpreendido, Pedro Matos Chaves.

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E não foi só aí que a 4L surpreendeu o antigo piloto de Fórmula 1, que lembra que estas 4L passaram em terrenos de “areia e fesh fesh (mais fino do que a areia normal, quase como se fosse uma espécie de pó)” onde “qualquer automóvel convencional teria ficado atolado e sufocado” e que uma delas, a sua, foi capaz de “fazer 88 km com um amortecedor partido”.

Chegou a minha vez

Ouvir Pedro Matos Chaves e António Pintos dos Santos falarem da experiência que foi este rali e ver as fantásticas imagens pessoais que partilharam comigo (uma delas, tirada de dentro da 4L, mostrava um elefante gigante a ocupar parte da estrada onde era suposto a prova passar) levou-me imediatamente para as picadas africanas, a imaginar como seria fazer tamanha loucura.

Renault 4L Rally Safari
Leiria não é África, mas não perdi a oportunidade de «pilotar» esta muito especial 4L.

Provavelmente isso nunca vai acontecer, mas estava a minutos de poder testar uma destas máquinas num percurso também ele muito interessante. E aqui, abro um parênteses para vos dizer que o Gravel Test Center em Leiria foi, para mim, a segunda maior surpresa do dia, depois das 4L.

Tocou-me conduzir a 4L com o número 68, a que foi conduzida por Pedro Matos Chaves. E fi-lo com Marco Barbosa ao lado, a alertar-me para as curvas mais fechadas e para me recordar que não precisava de ser tão cauteloso com a Zebra… E foi espetacular!

Entrar não foi fácil, porque o habitáculo é «acanhado», muito por culpa da roll bar exigida pela FIA. Colocar os cintos de competição também não. Mas depois disso foi exatamente como estar numa 4L dita «normal»: foi acelerar e andar. Sem medos.

Renault 4L Rally Safari
Aí está ela, a Renault 4L Zebra.

Consegue ser divertida

Já tive oportunidade de conduzir uma Renault 4L em estrada (podem ver ou rever o vídeo em baixo) e de presenciar o adornar típico deste tipo de modelos.

Mas curiosamente, na terra até conseguimos usar isso a nosso favor e rapidamente percebemos que a melhor forma de controlar esta 4L é mesmo usando o acelerador e «jogar» com as transferências de massa nas curvas.

Escusado será dizer que tudo parece amplificado e que mesmo quando seguimos a 60 km/h parece que seguimos bem mais rápido. E a verdade é que em prova as velocidades nunca andaram muito acima disto, tal a dureza do terreno, para tentar proteger ao máximo o material.

Nunca senti hesitações do motor, desde que a caixa seja bem explorada, nem dificuldades de tração. Só foi necessário «apontar» bem as rodas dianteiras e tentar escapar ao máximo às valas mais fundas. E a 4L fez o resto, deixando-me bem melhor na «fotografia» do que eu estava à espera.

Renault 4L Rally Safari
E depois de conduzir, chegou a vez de andar à pendura com Pinto dos Santos.

Mas depois veio o mestre

Achava eu que tinha conseguido andar relativamente bem com esta 4L até que chegou a vez de ir à pendura com António Pinto dos Santos, que participou em 11 ralis do Campeonato do Mundo entre 1992 e 2000, e terminou todos, como ele orgulhosamente nos lembrou: “acabei todas os ralis que fiz. Nunca abandonei”.

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O piloto natural de Coimbra conhece a sua 4L como ninguém e isso ficou bem visível nesta demonstração. Muitas vezes se fala da relação homem/máquina, mas nunca senti que isso fizesse tanto sentido como aqui. Esta 4L é mesmo uma extensão de Pinto dos Santos.

E agora, o que se segue?

Depois de conduzir esta 4L e de ouvir as histórias que tanto Pinto dos Santos como Pedro Matos Chaves tinham para contar, não parava de pensar numa coisa: “o que se faz depois de uma loucura como estas?”.

E claro, não consegui sair de Leiria sem perguntar isso mesmo ao piloto da 4L número 69, que “tem 110 000 quilómetros feitos em prova”, que me confirmou que a participação no Dakar Classic já está nos seus planos, ainda que só lá para 2025.

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A obrigatória foto de grupo.

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