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Setor automóvel nacional

Presidente da Mobinov fala em desafios e não em declínio do setor automóvel nacional

Em antecipação à conferência "Global Mobility 2022" entrevistámos Jorge Rosa, o presidente da Mobinov, uma das organizadoras do evento.

Jorge Rosa, diretor da Mobinov numa fábrica

Será já nos próximos dias 5 e 6 de setembro, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, que acontece a Global Mobility 2022, uma conferência dedicada ao setor automóvel organizada pela ACAP (Associação Automóvel de Portugal), AFIA (Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel) e pela Mobinov, um cluster que agrega vários «atores» da indústria automóvel nacional.

Uma conferência que pretende envolver toda a comunidade da indústria automóvel nacional para discutir os tópicos relevantes de um setor que representa quase 8% do PIB português, e que passa pela sua maior mudança de paradigma de sempre.

A Razão Automóvel teve oportunidade de entrevistar precisamente Jorge Rosa, presidente da Mobinov, que ajudou-nos a perceber como funciona este cluster e quais os desafios que se apresentam ao setor automóvel nacional.

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Símbolo da Mobinov

Um setor focado nas exportações

Jorge Rosa começa por caracterizar o setor automóvel nacional, referindo: “estamos a falar de quatro construtores e de um ecossistema de 1100 empresas que produzem componentes para um setor que representa 7,4% do PIB, 90 mil postos de trabalho e que vê 99% do volume de negócios destinar-se à exportação”.

Já a Mobinov é, na sua definição, “uma plataforma que reúne os dois grandes blocos da área industrial: os construtores e os fabricantes de componentes. Além disso, conta ainda com um conjunto de empresas e de entidades que são, de alguma forma, subsidiárias desta área industrial do setor automóvel em Portugal”.

Jorge Rosa diz que a Mobinov aproxima os fornecedores e os construtores, estando o seu foco, sobretudo, no apoio às empresas de menor dimensão, como por exemplo, no acesso a programas de financiamento do Estado Português ou na sua internacionalização.

Com vários projetos em curso, houve um que mereceu o destaque do presidente da Mobinov: a definição do que será “o veículo do futuro”, que culminará na revelação de um protótipo em 2023.

É um projeto crucial para “os fornecedores de componentes terem a possibilidade de desenvolver ou pôr em prática as tecnologias mais avançadas” com Jorge Rosa a ver este projeto como “um passo fundamental para muitos fornecedores do setor automóvel no sentido de se adequarem a estas novas exigências e às novas tecnologias”.

Resposta do Governo adequada

Quando questionado sobre se é necessário mais apoios do Estado e do Governo, o presidente da Mobinov reconhece que “é evidente que qualquer área da economia quer mais apoio”, mas ressalva que “o Governo português tem estado atento, conhece os desafios, conhece os riscos e tem tido muita abertura na discussão destas matérias“.

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Segundo Jorge Rosa, a primeira resposta dada pelo executivo liderado por António Costa à crise provocada pela pandemia “que teve a ver sobretudo com o stop and go das fábricas, e que ainda hoje se verifica” foi muito boa e reforça afirmando que “foi, digamos, a razão pela qual conseguimos manter as unidades fabris em atividade em Portugal até este momento.”

"Não há notícia por esse facto de que tenham fechado empresas e, portanto, eu considero que foi adequada a resposta num primeiro momento."

Jorge Rosa, presidente da Mobinov
Mitsubishi Fuso Canter linha de produção no Tramagal
A fábrica da Mitsubishi Fuso no Tramagal foi inaugurada em 1980 e continua a contribuir para o setor automóvel nacional.

Um setor com desafios, mas não em declínio

Se a opinião acerca da atuação do Governo até é positiva, o mesmo não acontece em relação ao relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que carateriza o setor automóvel português como uma indústria “em risco de declínio”.

O presidente da Mobinov responde que “com todo o respeito pela OIT, não concordamos com todo o conteúdo do estudo que foi produzido”. Isto porque “exclui empresas fundamentais e que fazem parte de um ecossistema de 1100 empresas, algumas delas exportadores importantíssimos, que por uma ou outra razão não fazem parte daquele estudo”.

Ainda assim, o presidente da Mobinov reconhece “que há riscos” e destaca os desafios na área dos recursos humanos como aqueles que talvez careçam de maior atenção, aproveitando para relembrar que este será um dos temas em destaque na conferência “Global Mobility 2022”.

Os desafios passam por “readequar as pessoas que temos no setor às novas necessidades e aos novos desafios tecnológicos e por atrair e reter pessoas que estão a «fugir» para outras áreas”, sendo este, no seu entender, um problema que não é exclusivo do setor automóvel, mas sim um problema demográfico que se traduz na falta de mão de obra generalizada.

Mais que «ameaça», Espanha é oportunidade

Confiante de que, a seu tempo, “as fábricas instaladas em Portugal terão as suas soluções no domínio dos automóveis elétricos“, Jorge Rosa não vê o investimento do Grupo Volkswagen e da Ford em Espanha como uma «ameaça» ao setor automóvel nacional.

Como nos explicou, “Espanha é o segundo produtor europeu de veículos e a nossa proximidade com Espanha é uma vantagem”. Sem o confirmar, ficou a ideia de que considera que Portugal pode desempenhar um papel importante no campo da produção de componentes para os muitos modelos que serão produzidos no país vizinho.

Para que tal aconteça, o presidente da Mobinov alerta que é preciso um maior investimento no campo dos transportes, principalmente na ferrovia, solução crucial para aproximar Portugal do resto da Europa e para reduzir a pegada ecológica associada à produção e transporte dos componentes fabricados no nosso país.

Crises são oportunidades

Apesar de não ver como uma ameaça a aposta dos construtores automóveis em Espanha, o presidente da Mobinov não esconde que a instalação de mais um construtor no nosso país seria uma grande notícia para o setor automóvel nacional.

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Para tal, refere que seria necessário adotar a mesma estratégia usada aquando da criação da Autoeuropa “criar condições financeiras e apoios. Potenciar a rede de fornecedores que temos”.

Volkswagen Autoeuropa sede
A estratégia para fixar a Autoeuropa em Palmela poderia ser usada novamente para fixar mais um construtor no nosso país.

Por fim, Jorge Rosa vê a crise dos chips como uma oportunidade para Portugal aproveitar, afirmando que “num momento em que os construtores estão a redefinir a sua cadeia de abastecimentos, minimizando riscos, minimizando a dependência de mercados mais complexos, este é o momento de Portugal se posicionar e de atrair determinado tipo de investimentos“.

Para o fazer, o presidente da Mobinov reconhece que é preciso apoio do Estado, mas também capacidade de influenciar os construtores e de mostrar que “Portugal é uma alternativa para as marcas, sendo um país europeu e com custos ainda relativamente controlados”.

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O último dos… Citroën 2CV feitos «falava» português