Motores
GR Corolla vs GR Yaris. De onde vieram os 43 cv a mais?
O GR Corolla está equipado com o mesmo G16E-GTS do GR Yaris, mas declara mais 43 cv de potência. Como é que esse ganho foi conseguido?

O novo Toyota GR Corolla é um dos carros do momento e a excitação é compreensível, mesmo sabendo que, muito provavelmente e infelizmente, não o veremos neste lado do Atlântico.
Afinal trata-se de um hot hatch com mais de 300 cv, tração às quatro rodas e caixa manual, que invoca o «espírito» das máquinas de ralis que nos faziam sonhar nos anos 90 e viragem do século.
E dado a proximidade com o excecional GR Yaris — um verdadeiro especial de homologação —, as expectativas só poderiam disparar em direção à estratosfera.
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Apenas três cilindros?
No entanto, este agressivo conjunto vem com um motor invulgar: o G16E-GTS. Um três cilindros em linha turbocomprimido com pouco mais de 1600 cm3 não seria, provavelmente, a primeira escolha para equipar um hot hatch deste calibre — os potenciais rivais, como o Volkswagen Golf R, recorrem a blocos maiores de quatro cilindros e 2,0 l de capacidade.
Mas apesar do défice do número de cilindros e cilindrada já vimos o potencial deste furioso três cilindros no GR Yaris — que podem recordar no vídeo abaixo — e por isso sabemos que, apesar de pequeno, o «poder de fogo» está lá todo e recomenda-se.
https://youtu.be/4KsXlhd09BE
Só que o GR Corolla é maior e mais pesado — 1474 kg contra 1355 kg (EU), praticamente 120 kg mais —, e por isso os engenheiros da Toyota Gazoo Racing concentraram-se em extrair ainda mais potência do G16E-GTS para compensar o lastro adicional.
O resultado? Um aumento expressivo de potência de 43 cv, subindo dos 261 cv no GR Yaris para os 304 cv no GR Corolla.
Os 304 cv declarados fazem ainda do GR Corolla o três cilindros mais potente do mundo, «roubando» o título ao GR Yaris — isto enquanto não chega à produção o Tiny Friendly Giant do Koenigsegg Gemera, com colossais 600 cv extraídos de um pequeno 2,0 l.

E o acréscimo de potência também garante ao GR Corolla uma relação peso-potência ligeiramente mais favorável que a do GR Yaris: 4,84 kg/cv contra 5,19 kg/cv.
Outros números a destacar? Não só os muitos elevados 188 cv/l de potência específica, como o facto de cada cilindro do G16E-GTS no GR Corolla debitar mais de 100 cv colocando-o em paridade com o… W16 tetraturbo do Bugatti Chiron!
A verdade é que não existem muitos motores a superar estes números e quando os há, o mais certo é equiparem máquinas mais exóticas que um «simples» hot hatch — exceção feita ao também fenomenal M 139 da AMG —, o que mostra o quão especial é este G16E-GTS.
Como adicionaram 43 cv?
Bem… «chipá-lo» não seria o suficiente. As modificações ao G16E-GTS foram mais profundas, não só para continuar a estar em conformidade com as normas antipoluição e antirruído, como para garantir a durabilidade e fiabilidade mecânica pela qual a Toyota é reconhecida. E para mais numa máquina que foi feita para ser «abusada».

Essas modificações não são aparentes, como podemos ver na tabela abaixo. Tudo parece permanecer igual entre as duas versões do tricilíndrico, à exceção dos valores de potência e binário.
G16E-GTS | ||
---|---|---|
GR Yaris | GR Corolla | |
Material Bloco/Cabeça | Alumínio/Alumínio | |
Cilindros/Cilindrada | 3 cilindros em linha/1618 cm3 | |
Diâmetro/Curso | 87,5 mm/89,7 mm | |
Potência | 261 cv às 6500 rpm | 304 cv às 6500 rpm |
Binário | 360 Nm entre as 3000-4600 rpm | 370 Nm entre as 3000-5550 rpm |
Taxa de Compressão | 10,5:1 | |
Distribuição | 2 a.c.c.; 4 válvulas por cilindro; 12 válvulas | |
Alimentação | Injeção mista: direta e indireta; Turbocompressor; Intercooler | |
Turbocompressor | IHI VB43 (turbo de rolamento de esferas) |
A Toyota também não «ajudou» muito neste exercício do «descubra as diferenças», mas prometeu dar informação mais detalhada com o aproximar da data de comercialização do GR Corolla na América do Norte. Contudo, já sabemos algumas coisas.
O principal «suspeito» para o aumento de potência teria de passar sempre pelo turbocompressor. O GR Corolla vem, ao que tudo indica, com o mesmo turbo de rolamento de esferas integrado nos coletores de escape do GR Yaris, mas, de acordo com declarações da Toyota Gazoo Racing à Top Gear, a pressão de sobrealimentação é 10% superior. Ora sabendo que o GR Yaris tem 1,4 bar de pressão, o GR Corolla deverá ter à volta de 1,54 bar.

Não se ficou por aí. O G16E-GTS do GR Corolla ganhou novos pistões, mais fortes, cortesia de uma liga metálica distinta (não especificada). Também as válvulas de escape cresceram e foram reforçadas e complementadas com molas mais firmes. O radiador de óleo foi também majorado para melhor lidar com os novos números.
A rematar este cocktail temos o sistema de escape com três saídas, um tópico no qual já nos debruçámos na Razão Automóvel — sigam a ligação abaixo. Este permite uma menor contrapressão dos gases de escape, o que melhora a «respiração» do tricilíndrico e contribui para o aumento de potência.
O que fica igual?
Tal como no GR Yaris, o tricilíndrico do GR Corolla conta com pistões refrigerados por jatos de óleo, veios da árvore de cames ocos, portas de admissão parcialmente maquinadas e tem duplo sistema de injeção de combustível (injeção direta e indireta).
A verdade é que o ponto de partida para o motor do GR Corolla já era, em si, bastante elevado e se a Toyota tivesse decidido mantê-lo em tudo igual acho que ninguém criticaria.
Mas não perderam a oportunidade de explorar ainda mais o potencial deste pequeno grande motor que, apesar de ainda muito recente, promete ser um dos grandes — e últimos? — motores de combustão da década.
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