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Renault Cacia: “O futuro da fábrica depende das pessoas”

Falámos com José Vicente de Los Mozos, Diretor Mundial para a Indústria do Grupo Renault e Diretor Geral do Grupo Renault em Portugal e Espanha, sobre o futuro da Renault Cacia.

40_Anos_Cacia

“O futuro da fábrica de Cacia depende das pessoas”. A afirmação forte foi feita por José Vicente de Los Mozos, Diretor Mundial para a Indústria do Grupo Renault e Diretor Geral do Grupo Renault em Portugal e Espanha.

Estivemos à conversa com o gestor espanhol nas instalações da Renault em Cacia, na sequência do evento que assinalou os 40 anos da fábrica da zona de Aveiro, e abordámos o futuro da indústria automóvel na Europa, que está obrigatoriamente ligado ao futuro da unidade de produção da marca francesa no nosso país.

José Vicente de Los Mozos salientou os desafios que a indústria enfrenta, a começar logo pela crise atual de semicondutores, que “não afeta só a indústria automóvel, mas sim todo o mundo”.

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Presidente da República na Renault Cacia (3)

“Infelizmente não temos fábricas de semicondutores na Europa. Dependemos da Ásia e dos Estados Unidos. E tendo em conta a nova cadeia de valor do automóvel, produzir componentes elétricos na Europa é muito importante para o futuro industrial da União Europeia”, acrescentou o gestor espanhol, que acredita que “esta crise vai continuar no futuro, em 2022”.

A escassez de chips tem afetado o fluxo de produção de várias fábricas de automóveis e de componentes um pouco por todo o mundo. E lança um novo desafio à capacidade de resposta por parte das unidades de produção, já que o mercado se encontra mais volátil do que nunca. Isto leva a que existam períodos de paragem e que logo de seguida possam surgir picos de encomendas.

Para Los Mozos, a resposta passa por “aumentar a flexibilidade (de horários) e a competitividade” e garante que já o fez saber à direção da fábrica de Cacia e também aos trabalhadores: “Se queremos ser competitivos temos que ser flexíveis. Acho que eles perceberam e espero nos próximos meses ter um acordo neste sentido”.

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Motores a combustão não podem acabar em 2035

Relativamente ao futuro, é certo que quando a Comunidade Europeia fala na possibilidade da proibição dos motores de combustão a partir de 2035, é certo que isso gera um pouco de medo acerca do futuro. Mas é muito importante que percebam que estamos comprometidos com a transição energética, mas precisamos de tempo. É muito importante que os veículos eletrificados (híbridos) se continuem a produzir para lá de 2035.

José Vicente de Los Mozos, Diretor Mundial para a Indústria do Grupo Renault e Diretor Geral do Grupo Renault em Portugal e Espanha

“Este tema é muito importante e nós já falamos hoje com o Presidente da República, também já falamos com o governo francês, italiano e espanhol. Todos os países onde temos operações”, referiu o gestor espanhol, cuja opinião está naturalmente em linha com aquilo que já tinha sido defendido por Luca de Meo, diretor executivo do Grupo Renault, e Gilles Le Borgne, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento no Grupo Renault.

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Durante o Salão de Munique de 2021, Gilles Le Borgne foi muito claro relativamente à posição do grupo francês, em declarações aos britânicos da Autocar:

"Precisamos de tempo para nos adaptarmos. Mudar as nossas fábricas para estas novas tecnologias não é simples e adaptar os nossos trabalhadores a elas vai levar tempo. Este prazo (2035) seria difícil para nós — e mais difícil ainda quando acrescentamos a cadeia de fornecedores à equação."

Gilles Le Borgne diretor de Pesquisa e Desenvolvimento no Grupo Renault
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Los Mozos também pede mais tempo, mas explica que “a partir daqui, cada momento é um momento de oportunidade. Esta fábrica tem um know-how muito importante e sempre que há oportunidades consegue reinventar-se.”

“Estamos a olhar para a nova cadeia de valor dos carros elétricos e que coisas podemos fazer aqui. E é por isso que o know-how técnico de Cacia é importante. Trata-se de perceber como com soluções não muito caras conseguimos fazer essas peças. Temos algumas ideias mas ainda é cedo para torná-las públicas”.

“Já fazemos componentes para híbridos e vamos desenvolver o plano Renaulution Portugal para ver o que vamos fazer no futuro”, contou-nos o Diretor Geral do Grupo Renault em Portugal, antes de dizer, de forma peremptória: “o futuro (da fábrica) depende das pessoas de Cacia”.

Presidente da República na Renault Cacia (3)
Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na visita à fábrica da Renault Cacia.

Cacia é importante, mas…

“A direção da fábrica e os trabalhadores têm que trabalhar juntos sobre quatro premissas: atividade, trabalho, competitividade e flexibilidade. A partir daí é preciso trabalhar juntos para encontrar um equilíbrio”, começou por dizer o gestor espanhol, que sublinhou a importância desta fábrica, que é a segunda maior unidade industrial de construtores de automóveis em Portugal, apenas superada pela Autoeuropa, e uma das unidades mais importantes da zona onde está localizada, em Aveiro.

Para o Grupo Renault esta fábrica é importante, assim como Portugal é importante. Fomos líderes durante 23 anos e queremos liderar a mobilidade neste país. Por isso é muito importante que nos considerem um construtor nacional, porque temos uma fábrica cá. E às vezes não somos considerados um construtor nacional. É muito importante que todas as instituições considerem o Grupo Renault e as suas marcas, como a Renault, a Alpine, a Dacia e a Mobilize, que se começa a desenvolver, como marcas com ADN português.

José Vicente de Los Mozos, Diretor Mundial para a Indústria do Grupo Renault e Diretor Geral do Grupo Renault em Portugal e Espanha
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Questionado sobre se o momento conturbado que o país atravessa em termos políticos pode afetar o futuro da Renault Cacia, Los Mozos voltou a ser taxativo: “Isso é um assunto de Portugal, não afeta. O que afeta o futuro é os funcionários não perceberem que é preciso melhorar a flexibilidade e a competitividade desta fábrica. Isso sim pode afetar o futuro. O resto não é importante. Vivemos momentos de grande volatilidade no mundo, mas nós temos que estar focados em nós, em trabalhar e em levar o grupo para a frente com o Renaulution, sob a liderança de Luca de Meo”.

40_Anos_Cacia

É preciso ajudar o setor automóvel

Depois de reconhecer a importância da fábrica de Cacia e de Portugal para o Grupo Renault, Los Mozos salientou que é importante que o governo português também reconheça isso e “ajude mais as empresas do setor automóvel”.

O importante é que Portugal ajude mais as empresas do setor automóvel. Quando vemos as ajudas que existem para automóveis elétricos percebemos que são menores do que em países como França, Espanha, Alemanha e muitos outros. Se queremos que as empresas invistam no setor automóvel, Portugal tem de ser um país amigo dos automóveis. E é preciso apoiar.

E lança um desafio: “Façamos um plano de apoio automóvel, trabalhemos no futuro do setor automóvel. O que podemos fazer amanhã nesta fábrica? O futuro não depende só de nós, é necessário o apoio do governo português. Esta fábrica é importante para o Grupo Renault e para Portugal”.

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