Glórias do Passado
O desportivo da Mercedes-Benz que «respirava» pela estrela
Só veria a luz do dia em 2003, mas, eventualmente, só hoje é que o mundo está à altura de entender o verdadeiro significado do Mercedes-Benz SLR McLaren.

Corria o ano de 1999 quando a Mercedes-Benz decidiu finalmente fazer aquilo que todos pediam há vários anos: anunciar o lançamento de um desejado superdesportivo que culminaria no inesquecível SLR McLaren.
Com a capacidade técnica e financeira que todos reconhecem à Mercedes-Benz, poucos entendiam porque é que a marca alemã não apostava no lançamento de um superdesportivo. A espera ia finalmente acabar.
Para deixar meio mundo de «água na boca», a marca apresentou nesse mesmo ano o concept Vision SLR. Um protótipo com carroçaria roadster de linhas dramáticas e com um nome que propositadamente fazia automaticamente recordar icónicos modelos de outros tempos.
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Para este regresso ao campeonato dos superdesportivos, abandonado desde os tempos do 300 SL Gullwing (asas de gaivota), a marca alemã recorreu ao que de melhor tinha ao seu dispor.
O motor ficou a cargo da AMG, que emprestou o seu conhecido 5.5 V8, alimentado por um compressor volumétrico, capaz de desenvolver 626 cv.
O chassis, esse ficou a cargo da McLaren. Recordamos que na época, a marca alemã e a marca inglesa tinham um programa de Fórmula 1 em conjunto.
Assim, de modo a aproveitar todo know-how da marca inglesa no manuseio da fibra de carbono, este novo superdesportivo viria a ser produzido em Woking (Reino Unido), nas instalações da McLaren.
Nascia o Mercedes-Benz SLR McLaren
Em 2003 começava a produção do Mercedes-Benz SLR McLaren, um superdesportivo que contrariava todas as convenções da época. O motor, em vez de assumir a tradicional posição central traseira, encontrava-se numa posição central dianteira — a mais de um metro da grelha e a mais de meio metro do eixo dianteiro!

No desenvolvimento do SLR, a Mercedes-Benz tinha duas obsessões. A primeira era a posição do motor — tinha de assumir uma posição dianteira em homenagem ao ADN da marca, que se mantém até hoje no AMG GT . A segunda era a agilidade, foi por isso que o motor ficou numa posição tão recuada.
Dito isto, como podem facilmente entender, a posição recuada da cabine do SLR, mais do que uma imposição estilística, foi antes o resultado destas duas obsessões.

Um automóvel especial, muito especial
Além de assumir algumas decisões técnicas algo controversas, o SLR McLaren vivia também de soluções estéticas arrojadas.
“Quem o conduz atualmente já não diz que ele é difícil de inserir em curva, diz que ele tem carácter — enfim, como as coisas mudam.”
As saídas de escape laterais, as «guelras» no perfil da carroçaria para arrefecer o motor, o botão de ignição na manete da caixa de velocidades — sublime! —, as jantes em forma de turbina que ajudavam a arrefecer os travões, e o aileron traseiro (capaz de assumir um ângulo de 65º nas travagens), eram elementos estéticos muito arrojados para a época.

Enfim, um automóvel moderno cheio de reminiscências do passado. Simplesmente fabuloso!
Abrindo o compartimento do motor, ficávamos a saber que o poderoso motor 5.5 V8 Kompressor da AMG respirava através do logótipo da marca. Simplesmente, a admissão de ar mais apaixonante de sempre. Dava um livro.

Apesar de todas estas características, o Mercedes-Benz SLR McLaren não cumpria as expectativas que o mundo colocou nele.
VEJAM TAMBÉM: Conhece Manny Khoshbin, o colecionador de Mercedes-Benz SLR McLarenNão era a derradeira máquina de performance que o mundo esperava. Enquanto superdesportivo ficava uns furos atrás da concorrência, e enquanto GT era demasiado exigente de conduzir.

Resultado? A marca não chegou a produzir nem sequer metade das 3500 unidades que tinha previsto.
O mundo não estava preparado
Se não li isto em qualquer lado, então foi alguém que me disse um dia que “ter razão antes de tempo também é estar errado”. Quanto a mim, a Mercedes-Benz teve razão antes de tempo.

Olhando para trás, o SLR McLaren hoje parece-me um automóvel muito mais interessante e apaixonante do que era aquando do seu lançamento. Foi um dos últimos nascido numa era onde a liberdade criativa ainda imperava. Caramba, a admissão do motor era na estrela do capô!
É graças a detalhes como este, entre outros, que o modelo que outrora tinha uma procura abaixo do esperado, hoje valoriza a olhos vistos no mercado de futuros clássicos.
Até os defeitos que outrora eram apontados ao SLR hoje são virtudes. Quem o conduz atualmente já não diz que ele é difícil de inserir em curva, diz que ele tem carácter — enfim, como as coisas mudam.
E como sabem, carácter é algo que falta a muitos bons automóveis hoje em dia. Quanto ao seu design, esse continua tão belo (quiçá até mais) quanto no dia em que foi apresentado.

Naturalmente, a Mercedes-Benz nunca mais caiu na «asneira» de querer oferecer um automóvel tão «especial». Basta olhar para os modelos atuais da marca alemã. Frente ao SLR McLaren, o Mercedes-Benz SLS ou o novo Mercedes-AMG GT são muito mais comuns. Se é que se pode chamar comum a um automóvel com mais de 600 cv.
Só mais um apontamento…
O texto devia acabar no parágrafo anterior, mas depois lembrei-me da versão SLR Stirling Moss (na imagem abaixo), uma versão que presta homenagem ao ex-piloto de Fórmula 1 com o mesmo nome.
As semelhanças entre o SLR e o Sir Stirling Moss podiam acabar aqui, na partilha do nome. Mas quanto a mim são mais profundas.

Stirling Moss é eventualmente um dos melhores pilotos de Fórmula 1 de todos os tempos sem nenhum título mundial (o melhor que conseguiu foi ficar em 2.º lugar consecutivamente, no campeonato de Fórmula 1 entre 1955 e 1958).
O Mercedes-Benz SLR McLaren também pode nunca ter sido número 1, mas não é por isso que deixará de ficar na história como um dos melhores Mercedes de todos os tempos. Nem tudo são números e resultados.

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