Primeiro Contacto Primeiras impressões ao volante do Bentley mais potente de sempre

Revelação em junho

Primeiras impressões ao volante do Bentley mais potente de sempre

Esta é a primeira e exclusiva experiência ao volante do renovado Bentley Continental GT, ainda camuflado, com a inédita motorização híbrida plug-in..

protótipo camuflado do Bentley Continental GT em pista, frente
© Bentley

Foi há bem pouco tempo que a marca inglesa anunciou o fim de vida do seu muito apreciado motor de 12 cilindros em W. O seu lugar será tomado por um inédito propulsor V8 eletrificado e o primeiro a usá-lo será a nova geração do Bentley Continental GT.

Não falta muito tempo para ser revelado — última semana de junho —, e é significativo ser o Continental GT a estrear o novo grupo motriz Ultra Performance Hybrid, como a Bentley lhe chama.

Todas as gerações do Bentley Continental GT
© Bentley Foto de família com as três primeiras gerações do Bentley Continental GT, incluindo várias versões especiais, como o de competição (canto inferior direito), que competiu na categoria GT3 no WEC.

Afinal, após a compra da Bentley pelo Grupo Volkswagen em 1998, o Continental GT foi o primeiro modelo novo lançado, já corria o ano de 2003 — a marca não lançava um automóvel verdadeiramente novo há muito, muito tempo. O impacto foi imediato e transformou-se num enorme sucesso.

Era o Grand Tourer mais rápido da sua classe, ao mesmo tempo que conseguia transportar quatro pessoas e respetiva bagagem de fim de semana, confortavelmente. No primeiro ano completo de produção atingia as 7500 unidades, que subiriam até às 10 mil unidades em 2007 — antes do Continental GT ter sido lançado, a Bentley mal chegava às 1000 unidades anuais.

O Continental GT é atualmente o segundo modelo mais vendido da Bentley (um em cada três) à escala global, atrás do SUV Bentayga (44% do total das vendas). Na Europa, curiosamente, é o GT o mais vendido, com 42% de quota.

“A nossa equipa esteve muito empenhada no desenvolvimento do novo carro nestes últimos cinco anos, em áreas como o design, o sistema de propulsão e novas tecnologias para o chassis.”

Matthias Rabe, vice-presidente de I&D da Bentley

Saem quatro cilindros, entra propulsão elétrica

A aristocrática marca britânica prepara-se agora para revelar a quarta geração do Continental GT, ainda baseada na atual que, por sua vez, é tecnicamente muito próxima do Porsche Panamera. Modelo com o qual partilha o V8 e o módulo híbrido plug-in, ainda que o Panamera não seja tão potente.

Estão previstas evoluções no design (será o primeiro Bentley sem duplas óticas frontais desde os anos 50), no equipamento e na propulsão. Neste último aspeto, contudo, podemos falar de revolução, devido à inédita combinação de hidrocarbonetos e eletrões — é a primeira vez que tal acontece no Continental GT.

Cadeia cinemática híbrida
© Bentley Aqui podemos ver o 4.0 V8 biturbo, seguido da caixa de dupla embraiagem que integra o motor elétrico.

Os motores W12 fazem agora parte do museu da Bentley, e o V8 de 4,0 l foi reformulado, deixando de contar com o sistema de desativação de cilindros em andamento, uma vez que agora o sistema híbrido conseguirá desligar por completo o V8.

Além disso, a pressão de injeção de gasolina subiu de 200 bar para 350 bar, o que ajuda a tornar a combustão mais limpa; a máquina elétrica evita a utilização de turbos mais complexos para combater o turbo-lag e permite que se alcancem temperaturas mais elevadas, o que uma vez mais beneficia a redução de emissões.

Por si só, o 4.0 V8 biturbo entrega 600 cv e 800 Nm, mas a este juntam-se os 190 cv e 450 Nm do motor elétrico — integrado na caixa automática de dupla embraiagem e oito relações. Quando combinamos os dois motores obtemos 782 cv e 1000 Nm: este é o Bentley mais potente da história. O anterior W12 «ficava-se» pelos 659 cv e 900 Nm.

Talvez não surpreenda, por isso, que a nova motorização seja associada à versão Speed. O impacto do grupo motriz híbrido na massa do novo Continental GT é elevado — 2,5 toneladas, cerca de 200 kg mais que o anterior W12 —, mas o nome Speed é justificado com uma velocidade máxima de 335 km/h e com os 3,2s necessários para acelerar dos 0 aos 100 km/h.

protótipo camuflado do bentley continental gt, frente 3/4
© Bentley

Como se compara com o anterior W12? Só a velocidade de ponta é idêntica, com o V8 híbrido plug-in a cortar 0,4s nos 0 aos 100 km/h, e promete retomas de velocidade bem mais rápidas, cortesia do maior binário e da sua disponibilidade. Às 1000 rpm estão disponíveis 800 Nm (600 Nm no W12) e o pico de binário está disponível num planalto mais prolongado: 1000 Nm disponíveis entre as 2000 rpm e as 5000 rpm contra 900 Nm entre as 4000 rpm e as 5000 rpm.

O mais potente de sempre, mas também o mais económico

Sendo um híbrido plug-in, por outro lado, anuncia um consumo médio de escassos 2,1 l/100 km e emissões de CO2 de apenas 36 g/km — outro recorde para o fabricante de Crewe, mas obtido apenas com a bateria cheia, claro.

Por falar nesta, é de iões de lítio e tem 25,9 kWh de capacidade bruta (24,6 kWh líquidos) e permitirá ao Continental GT Speed percorrer até 80 km em modo puramente elétrico. A bateria está montada atrás do eixo traseiro, o que ajudou a conseguir uma repartição de massas quase equitativa entre a frente e a traseira. Por outro lado, obrigou a reduzir o tamanho do depósito de combustível em 10 l e a capacidade da bagageira (por anunciar).

protótipo camuflado do bentley continental gt, traseira 3/4
© Bentley Uma carga completa demora 2,75 horas, só estando disponível um carregador de 11 kW (corrente alternada). Pouco para um automóvel de luxo. Há, no entanto, um modo de carga onde o motor V8 assume o papel de gerador, mas, previsivelmente, prejudica a eficiência energética.

Suspensão mais sofisticada

O novo Bentley Continental GT está recheado de acabamentos e revestimentos de luxo no sumptuoso habitáculo — o painel de bordo e consola central parecem ser praticamente iguais à anterior geração, o que surpreendeu —, mas é também servido por recursos tecnológicos muito avançados que ajudam a dissimular as suas enormes dimensões e peso.

Há tração às quatro rodas, quatro rodas direcionais, vetorização de binário, diferencial autoblocante traseiro eletrónico, diferencial central (reparte binário entre os dois eixos), e barras estabilizadoras ativas (48 V).

A novidade maior está, porém, nos amortecedores de duas válvulas (uma para controlar a extensão e a outra a compressão) que são aqui introduzidos com o propósito de ampliar os atributos em termos de conforto, mas também em condução desportiva.

protótipo camuflado do bentley continental gt em pista, perfil
© Bentley

Entre o amortecimento mais suave e firme há maior amplitude, o que minimiza o compromisso entre o isolamento da superfície do asfalto e o controlo de movimentos da carroçaria. Pode chegar a uma situação extrema em que o amortecedor apenas atua na compressão ou na extensão, dependendo do tipo de estrada e condução.

Em pista com Álvaro Parente

Para a experiência de quatro voltas no circuito de Castelloli, a norte de Barcelona, a presença de Álvaro Parente — piloto português de talento comprovado e atualmente a disputar a 24H Series com a Porsche — como co-piloto, foi mais importante do que os modos de condução do novo Bentley Continental GT.

Joaquim Oliveira a conduzir Bentley Continental gT
© Bentley O contacto foi breve, mas revelador.

Afinal o tempo era pouco para uma adaptação adequada ao traçado e ao carro, que foi conduzido sempre em modo Sport (há ainda o modo Hybrid e EV) durante a curta experiência dinâmica.

Com um asfalto muito regular, que não colocou desafios à nova suspensão, deu para perceber que mesmo com uma massa tão pesada lançada a perto de 200 km/h — o máximo atingido na curta reta da meta —, a carroçaria oscila pouco, tanto longitudinal como transversalmente, daí resultando vantagens em condução muito desportiva.

Deu igualmente para notar que os 200 kg adicionais são anulados pelo rendimento acrescido do motor elétrico e se os números no papel já o demonstravam, a inexistência de atraso na resposta do turbo é totalmente convincente.

Ao contrário da durabilidade dos travões, que, mesmo sendo carbo-cerâmicos, terão dificuldade em resistir a sessões de condução rápida em pista, um cenário para o qual o Continental GT não foi talhado nesta configuração.

© Bentley

E mesmo a tentar geri-los “com pinças” — nunca melhor dito —, e a travar aos 200 m e aos 250 m antes do ponto de corda para entrada em curva, a preocupação do piloto profissional para eu pisar suavemente o pedal da esquerda foi sempre mais do que evidente.

Veredito? Vai ter de esperar

O som (natural) do V8 está mais vibrante e com mais frequências graves do que nunca e acaba por alinhar pela mesma bitola de contrastes deste Grand Tourer. Afinal são 782 cv que pode gastar pouco mais de dois litros aos 100 km, e que tanto pode soltar roncos tenebrosamente assustadores como deslizar de pantufas sem emitir quaisquer ruídos, além do dos pneus em contacto com o asfalto.

Um veredito final terá de aguardar por um teste mais completo, em estrada, à nova geração do Bentley Continental GT e a sua inédita motorização híbrida. As primeiras impressões são, no entanto, muito positivas.