Kia EV3 parece perfeito em tudo. Menos numa coisa

A Kia declara quase 600 km de autonomia para o EV3. Consegue?

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Não seria honesto dizer que a minha expetativa em relação ao Kia EV3 era a mesma que tenho sempre que começo um novo ensaio. A aventura eletrificada da marca sul-coreana já começou há uns bons anos e tenho tido a sorte de a poder acompanhar de perto toda a sua evolução.

Atualmente, o EV9 mostrou que a Kia sabe construir elétricos grandes e o novo EV3 pretende mostrar que a marca também consegue produzir os mais pequenos — ou melhor, compactos.

Com 4,3 m de comprimento, espaço digno de um segmento acima e mais de 500 km de autonomia prometida, o Kia EV3 parece uma proposta pensada perfeitamente à medida do mercado europeu.

Entre o que está no papel e o que se sente ao volante, no entanto, vai sempre alguma distância. Depois de já ter passado por diversas mãos, em diferentes versões aqui na Razão Automóvel, foi finalmente a minha vez de lhe tirar as medidas. Testei versão com a maior autonomia e com um nível de equipamento intermédio.

Sem problemas de espaço

Ponto forte: espaço. Muito espaço. A posição de condução é boa e tudo parece visualmente arejado, os assentos são confortáveis e na fila de trás há centímetros que se não se esperavam num carro destas dimensões. É talvez o mais espaçoso do segmento.

A ergonomia também é boa e os botões físicos não desapareceram por completo, felizmente. O comando da caixa está na coluna da direção, há uma plataforma extraível no apoio de braços e o assento do «pendura» pode até ser rebatido para servir de mesa.

Três ecrãs (12,3”, 5”, 12,3”) integram-se bem no painel, mas o do meio — dedicado à climatização — fica escondido atrás do volante. Nem tudo é perfeito, mas há comandos físicos suficientes para compensar. Além disso, há também tomadas USB e saídas de ventilação.

O rei da autonomia

O valor de autonomia prometido são 563 km (ciclo combinado WLTP) para o Kia EV3 equipado com a bateria grande (81,4 kWh). E neste ensaio, o computador de bordo mostrou uma média final de 16,7 kWh/100 km numa utilização, sobretudo, extraurbana.

Feitas as contas, podemos apontar para uma autonomia real a rondar os 490 km, com o ar condicionado ligado e condução despreocupada. Muito bom. Se não sair da cidade, alcançar mais de 600 km com uma única carga de bateria não será uma tarefa difícil.

No Kia EV3, a arquitetura do sistema é de 400 V e não de 800 V, como acontece com o EV6 e o EV9. Ainda assim, é possível usar carregamentos rápidos até uma potência máxima de 128 kW e os em corrente alternada, até um máximo de 11 kW.

O motor de 150 kW (204 cv) não permite prestações de desportivo — nem é esse o objetivo —, mas os 283 Nm de binário oferecem acelerações rápidas ao jeito dos carros elétricos. A aceleração oficial dos 0 aos 100 km/h demora apenas 7,9s.

As patilhas existentes atrás do volante permitem ajustar o nível de regeneração em três patamares, ou deixar o sistema em automático, que vai ajustando o nível de regeneração tendo em conta a distância para o carro da frente. No Kia EV3 há ainda a função i-Pedal, que permite conduzir a maior parte do tempo usando apenas o pedal do acelerador e que é capaz de parar o carro.

Os valores indicados pelo computador de bordo para a autonomia prevista são realistas e permitem dispensar qualquer tipo de ansiedade. Até porque além de um valor médio, é também indicado um valor máximo e mínimo, caso queiramos tirar todo o partido do motor elétrico.

A eterna questão do preço

O Kia EV3 pretende ser uma escolha racional no mundo dos automóveis elétricos e todos os argumentos parecem fazer sentido. Só falha mesmo na promessa do preço.

Em Portugal, o mais pequeno dos Kia elétricos tem um preço base de 36 800 euros — com campanha. No entanto, a versão Tech que ensaiei já passa dos 45 mil euros com despesas, a escolha da pintura e sem a tal campanha — com esta, o preço pode descer para os 41 800 euros.

Bom e bem feito, sim. Barato? Nesta versão nem tanto…